Capítulo 3
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O tempo parou, eu estava olhando para o corpo de minha mãe deitado no balcão, e nele já não havia mais vida. Minha mente estava uma confusão, como em poucas horas eu estava na cozinha rindo com ela e agora eu não tenho mais ninguém.
A senhora Claudete se aproximou de mim e colocou o braço em volta dos meus ombros, um minuto ou uma hora se passaram eu não sei dizer. Eu estava ali sentada, não tinha mais lágrimas em meus olhos, apenas um vazio no coração.
Ron estava do meu lado e as vezes colocava a mão em meu ombro, segurava minha mão, ou então me abraçava, quando eu começava a querer chorar, ele sabia que não tinha nada que ele pudesse fazer ou dizer naquela hora, que me fizesse me sentir melhor, ele mesmo já tinha passado por isso quando sua avó faleceu.
As pessoas da aldeia entravam aos poucos em minha casa, se dirigiam a mim dizendo palavras de conforto, mas eu só conseguia olhar para o balcão vazio e gelado onde minha mãe estava.
Dona Claudete tinha dado a notícia de sua morte as pessoas da vila, e em algum momento que eu não sei qual, o corpo de minha mãe foi levado do balcão para ser preparado para o funeral. Claudete não deixou que eu fosse junto, disse que eu tinha que descansar, pois logo de manhã eu teria que partir.
Dona Claudete entrou na minha casa, falando que o corpo de minha mãe já estava pronto para o funeral, mas antes de irmos ela pediu para que eu fosse com ela até meu quarto. Como não tinha forças para me levantar, Ron me ajudou a subir as escadas e assim sentar na minha cama.
Claudete pediu para que ele saísse, mas Ron se recusou, ela o olhou, como se avaliasse se Ron seria digno de escutar o que ela iria dizer. A senhora respirou fundo, e com o rosto cansado começou a falar.
- Lia eu conheço sua mãe há muito tempo, e ela enfrentou muitas coisas para conseguir te criar. Sua mãe nunca me contou toda a sua história, acho que doía demais falar no passado. A alguns anos, quando você ainda era menina, ela me falou que se alguma coisa acontecesse com ela, eu lhe desse esta carta e esse baú de madeira. Eu não sei o que está aí dentro e nem o que está escrito, apenas você deve ver e ler.
- Porque ela se foi. Porque ela ficava falando de um mal, e de que eu não era quem eu penso que sou, Claudete o que aconteceu com minha mãe? E agora, você vem me entregar uma carta e um baú, como se ela adivinhasse que iria morrer!
Claudete respirou fundo e me olhou, Ron estava sentado numa cadeira no canto do quarto, mas ainda assim escutava em silêncio a nossa conversa.
- Preste atenção Lia, o funeral de sua mãe vai ser no primeiro raio de sol, nessa hora, você vai precisar partir, quem atacou sua mãe vai voltar para tentar te matar Lia.
- Espera, a senhora sabe quem matou minha mãe? Porque isso tudo? E porque diabos eu tenho que ir embora se minha vida é aqui?!
A tristeza estava dando lugar a raiva, não conseguia entender o porque de ter que ir embora correndo, queria saber quem tinha feito uma coisa dessas com minha família, e o porque.
A senhora Claudete não estava me dando respostas, mas sim ordens, e eu já estava ficando irritada com essa situação, e o silêncio da velha.
- Claudete, se você quer que eu vá embora, é melhor começar a me explicar o porquê. Pois se eu não tiver um bom motivo, eu não vou perder o funeral de minha mãe, e muito menos abandonar o único lugar que eu conheço e chamo de lar.
- Lia, sua mãe e você não pertencem ao nosso mundo, vocês são especiais. Eu não sei o que vocês são, sua mãe nunca me disse, mas eu sei que ela temia algo, ou alguém, muito ruim. Se você não conheceu sua origem, é porque sua mãe estava fugindo dessa pessoa ou ser.
- Isso não é motivo suficiente, eu posso enfrentá-lo! Ainda mais com a ajuda do vilarejo.
- Você não pode. Se sua mãe não conseguiu, você sem treino não é páreo para o Raruk.
- Quem é Raruk?
- É quem matou sua mãe, eu não sei muito sobre ele, só sei que sua mãe o encontrou uma vez e quase morreu, e desde então, ela vem se escondendo com você. Lia, eu não sei o que ele faz, mas as feridas de sua mãe foram graves, ela perdeu sangue, mas o que a matou era uma coisa diferente, foi como se ela estivesse sido ferida por dentro.
- Ainda podemos enfrentá-lo!
- Por favor Lia, escute o último desejo de sua mãe, ela me pediu para falar que era para você aprender a se defender, aprender a arte antiga, descobrir quem você é.
- Eu posso aprender o que quer que isso signifique aqui.
- Sua mãe te conhecia bem, disse que você não iria embora, e que se isso acontecesse era para eu te falar do sonho, do seu sonho. Ela disse que você entenderia, vá atrás do sonho Lia e fique viva.
Eu olhei com espanto para a senhora, nunca tinha contado daquele sonho para ninguém, minha mãe já tinha me escutado chorar e gritar de noite, mas eu nunca consegui lhe contar o que eu via, como ela poderia saber o que era.
Algo estava errado, mas um pressentimento me chamava, decidi que iria partir no amanhecer, não apenas porque era o que minha mãe queria, mas também para encontrar quem tinha feito isso com ela. Eu jurei naquele momento que iria fazê-lo pagar.
- Muito bem Claudete eu vou partir, mas para onde eu tenho que ir?
- Siga seu coração, eu não tenho instruções Lia, sua mãe quando queria era bem misteriosa, e acredito que você encontrará mais respostas na carta e nas coisas que ela lhe deixou.
- Tenho que preparar algumas coisas para levar comigo.
- Não precisa, eu já arrumei, está tudo na bolsa que deixei na sala. O vilarejo mais perto é Gerda, fica logo depois do bosque, comece por lá menina. Agora não temos muito tempo, se despeça de sua antiga vida e vá em busca do sonho Lia.
Ron se levantou como um furacão e veio para perto de mim, dava para ver que ele estava atordoado.
- Vocês só podem estar de brincadeira! Estão falando coisas sem sentido, como seguir um sonho e fugir de uma pessoa que não sabemos quem é! E agora você Claudete quer mandar Lia sozinha, em busca de sei lá o que, com um assassino a solta. Me diga que você não está falando sério em ir embora Lia?
- Ron, se acalme eu passei por muitas coisas e você não sabe de tudo, eu preciso ir, é para o meu bem.
- Você disse que nunca me abandonaria Lia.
- Eu não estou abandonando...
- Está sim!
Ficamos nos encarando, avaliando quem era mais teimoso. Meu rosto começou a esquentar, receber ordens de Ron era a última coisa que eu precisava, e ele não sabia de todos os fatos, e nem fora ele que acabara de perder a mãe bruscamente assassinada.
- Então está decidido, já que você vai seguir um sonho maluco, eu vou com você.
- Ron você não pode! E a convocação?
- Para os infernos com a convocação! Eu vou com você, - Ele se virou para Claudete- e se a senhora disser que eu não posso ir com ela, eu esqueço que é uma velha, e a amarro no quarto até fugirmos!
A senhora Claudete encarou meu amigo e deu um sorriso fraco.
- Eu nunca faria isso Ron, Lia pode precisar de ajuda nessa nova jornada. Vamos meninos, o funeral já vai começar e vocês precisam estar prontos para partirem.
Na hora de irmos embora dei um abraço forte em Claudete, não sabia se a veria de novo algum dia. Ron saiu pela porta do meu quarto, quando eu estava saindo parei e me virei, fui até Claudete e pedi para que minha mãe não fosse enterrada e sim queimada.
A senhora me olhou com surpresa mas assentiu, não soube de onde veio esse desejo, mas sabia que era o certo a se fazer naquele momento. Na sala, peguei minha mochila e guardei a carta e o pequeno baú dentro, quando estivesse longe dali leria com calma o que minha mãe queria me dizer.
Claudete deu a ordem para que levassem o corpo para o campo, onde o mesmo seria queimado numa pira, os moradores estranharam o pedido, mas não questionaram, quando estavam para levar minha mãe para o campo eu parei e a olhei uma última vez.
Ela parecia dormir envolta num pano branco, pedi para que esperassem um minuto, olhei ao redor e vi um canteiro de flores, fui até lá e arranquei uma rosa amarela, sei que a flor preferida de minha mãe era a rosa, tanto que em sua capa de veludo uma rosa negra estava bordada.
Acabei pegando a capa para ter algo dela comigo, e que agora eu a estava usando para me proteger do frio. Coloquei a rosa em seu peito, dei um beijo na sua testa e me despedi silenciosamente dela.
Ron e eu fomos no caminho oposto dos aldeões, já estava quase amanhecendo quando chegamos na entrada do bosque. Parei e olhei para trás, vi surgir nas colinas os primeiros raios do amanhecer, e ao longe a fogueira queimava no campo aberto.
Escutei a antiga canção do último adeus, que os aldeões entoavam enquanto se despediam da minha mãe, de sua curandeira e de uma amiga especial. A floresta também estava calada, os pássaros não estavam cantando e o vento não estava soprando, como se todo o lugar estivesse de luto por minha mãe.
Ron me tocou no braço, eu me virei, respirei fundo e comecei a seguir a trilha do bosque, seja o que for o que me esperava, eu estava indo de encontro ao meu destino.
Apesar da manhã estar com céu azul, os raios do sol não estavam quentes, Ron e eu já tínhamos caminhado uma boa parte da trilha do bosque que levava até o vilarejo de Gerda, nenhum de nós dois falou nada durante o caminho.
Não sei o que Ron estava pensando, ele me ajudava quando o caminho se tornava difícil, como uma subida na montanha, passar por árvores caídas ou então subir pedras.
Estava perdida em meus próprios devaneios, a vida que eu conhecia não existia mais, minha mãe estava morta, e eu fugia de algo que não sabia o que era. Pelo menos eu tinha o meu melhor amigo para me confortar, e lembrar que nem tudo tinha se perdido.
O dia ia passando enquanto seguíamos nosso caminho em silêncio. A trilha começou a ficar mais estreita, altas árvores já cobriam os raios do sol que mal chegavam ao chão de terra, ali as flores do campo já não brotavam como no resto do bosque.
Ao longe escutamos o som de água caindo, não sabia onde estávamos, nunca tinha saído de casa para me aventurar nas trilhas, por isso deixei Ron guiar o caminho.
Andamos mais uns vinte minutos e a mata começou a ficar muito densa. Ron olhou para mim e disse que a trilha deveria ter se fechado, mas que tinha um outro caminho pelo rio, que ficava na parte oeste do bosque.
Nós perderíamos um bom tempo para cruzar o bosque e chegar no próximo vilarejo, provavelmente só chegaríamos a noite, mas não tínhamos muitas opções, era ir pelo lado oeste ou então perder quase um dia de viagem abrindo caminho pela mata fechada, sem saber se estávamos indo na direção certa.
O caminho até o rio era mais aberto e eu conseguia ver o céu. As árvores ainda eram muito altas, mas não ficavam tão juntas, o sol alcançava o meu rosto, os pássaros cantavam e o vento passeava acariciando minhas costas como um amigo que dá conforto.
Era quase hora do almoço e nossos estômagos começaram a roncar, Ron e eu achamos uma clareira, onde um riacho passava e decidimos parar. Como tínhamos saído às pressas por tudo que aconteceu, não lembramos de trazer comida e por isso tivemos que nos virar, pois o caminho até o vilarejo ainda era grande.
Ron como aprendiz de ferreiro sabia como construir armas, e por isso ficou encarregado de construir algo, para pegar os peixes que estavam no riacho, pois em todo o nosso caminho não vimos nenhum cervo, e eu iria cozinhar ou melhor tentar.
Colocamos a bolsa com meus pertences na grama perto do riacho, fiquei sentada observando a água correr, enquanto Ron se embrenhava em algum lugar da mata, para achar alguma coisa que ele pudesse usar para pegar os peixes.
Olhar a água correr me acalmou, pelo menos em parte, nunca soube explicar mas ficar em contato com a água e a natureza, sempre me dera uma sensação boa de paz.
Observava o rio enquanto os pássaros que estavam tímidos resolveram cantar, olhei para cima e vi um bando de aves vermelhos voando para os ninhos que tinham feito perto do rio.
Estava tão distraída, que não reparei Ron chegar com um galho não muito grosso, mas que se o afiasse com uma faca poderia se tornar uma lança, e foi exatamente que ele fez.
Enquanto Ron estava no riacho fazendo a lança para poder pescar o nosso almoço, fui procurar alguns galhos para fazer uma fogueira, e se tivesse sorte acharia algumas ervas para temperar o peixe.
Procurei ficar no limite da clareira, não queria me perder na mata que eu não conhecia. Não precisei ir muito longe para achar alguns galhos para a fogueira, mas as ervas estavam mais difíceis de encontrar, andei mais um pouco ao redor da clareira e quando estava prestes a desistir e voltar para o riacho, algo me chamou a atenção entre as árvores, um cheiro familiar.
Adentrei um pouco mais no bosque procurando de onde vinha o cheiro, andei uns dez passos para dentro do bosque quando me deparei com várias rosas vermelhas, era o cheiro delas que eu tinha sentido.
Se era sorte ou coincidência, não sabia dizer, mas do lado das rosas se encontrava um pé de hortelã. Colhi um pouco da erva e retirei com cuidado, uma das rosas para levar junto comigo.
No riacho, Ron estava dentro da água com as calças dobradas e os cabelos caindo no rosto, suas botas marrons escuras estavam do lado da minha bolsa, juntamente com sua camisa branca. Ele tinha forrado uma parte da grama com folhas maiores, onde estava colocando os peixes, ou melhor, tentava, pois até agora só tinha pescado um pequeno peixinho.
Fui para perto dele e comecei a arrumar os galhos para fazer a fogueira, não sabia que fazer fogo era tão difícil, demorei um tempo para que alguma brasa colaborasse comigo.
Quando finalmente consegui acender, Ron estava saindo do rio com uns quatro peixes na folha que ele tinha separado, ele não estava muito contente com sua pescaria, se sentou perto de mim colocando a lança ao seu lado no chão, e começou a limpar os peixes com sua faca.
Apesar da comida ser apenas peixe, me dei conta de como eu estava faminta, e pela minha reação ao devorar o peixe, consegui arrancar um sorriso do rosto de meu amigo, que até então estava muito sério.
Aquele simples almoço foi um momento de descontração e alegria em meio a tanta confusão. Quando terminamos de comer, já deveria ter se passado pelo menos uma hora, pois o sol já não estava tão alto. Apaguei a fogueira enquanto Ron pegava a bolsa e a lança que tinha feito, para podermos continuar com a caminhada.
Quando chegamos perto do rio, nos demos conta que perdemos mais tempo do que deveríamos na clareira pois o sol já estava se pondo, e se continuássemos nesse ritmo, não chegaríamos essa noite em Gerda.
Apesar de termos chegado ao rio, encontramos um grande problema, que era atravessa-lo Ron olhava confuso para a outra margem, pois ele jurava que ali tinha uma ponte.
Resolvemos caminhar ao longo da margem para ver se achávamos outra passagem, ou um lugar mais raso, que desse para descermos o penhasco, e atravessar para o outro lado sem que correnteza nos levasse.
Após andar um pouco avistei uma corda, me aproximei da beirada e vi a nossa ponte, ou pelo menos o que restou dela. A ponte do rio Bravo se encontrava em péssimo estado, algumas madeiras do piso estavam faltando, quebradas ou soltas, as cordas que prendiam a ponte do lado esquerdo estavam soltas, e algumas que amarravam o corrimão ao chão de tábuas, estavam arrebentadas.
O lado direito parecia estar mais seguro, mas mesmo assim atravessar a ponte era um risco e desconforto que não fiquei feliz em enfrentar, até porque, não tinha certeza se aquela velha ponte aguentaria uma pessoa passando para o outro lado, e a queda de três metros em águas congelantes e turbulentas não melhorava o cenário.
- Essa ponte não vai aguentar a gente Ron...
- Acho que essa ponte não aguenta nem uma brisa, quanto mais uma pessoa.
Ron ficou pensativo, coçou a cabeça e estreitou os olhos.
- Já está praticamente de noite Lia, como essa ponte é furada, só temos a opção de contornar o rio, mas isso vai levar pelo menos mais dois dias, e estou com um pressentimento que ficar durante muito tempo nesse bosque não é o ideal.
- Como assim dois dias!!!
- Ou encaramos a ponte e chegamos amanhã de manhã em Gerda, ou contornamos o rio. Eu não vou pisar nisso ai, não quero morrer afogado e congelado.
Fiquei relutante em passar mais dias no bosque, até porque o assassino de minha mãe fugiu para cá. Entretanto Ron estava certo, não podíamos nos arriscar na ponte, depois de discutirmos qual seria o melhor caminho para contornar o rio começamos a andar.
A noite já tinha caído o que dificultava andar pelo bosque, pois não enxergávamos onde pisávamos mesmo estando com uma tocha acessa. Ron para me distrair começou a contar histórias assustadoras sobre fantasmas, pessoas que desapareciam a noite no bosque e monstros que sequestravam crianças.
Estávamos andando já tinha um bom tempo, o céu estava muito escuro, e quase não avançamos na trilha. Ron estava contando um conto de monstro quando ele imitou o rugido da fera, meu amigo parou e ficou olhando para nada.
- Ron você não vai me assustar, acho melhor procurarmos algum lugar para dormir e o rugido ficou igual.
- Lia não fui eu que fiz esse barulho...
- Claro claro.
Ron me olhou sério e vi que ele não estava brincando, se ele não fez aquele barulho o que havia feito. Ficamos em silêncio e parados observando o nada, até que o som voltou a se repetir, algo estava familiar naquele rugido, foi então que eu o vi no meio das árvores, nas sombras mais profundas do bosque aqueles olhos amarelos e um capuz preto nos observava, era o Raruk.
- Ron corre!!!
Começamos a correr na direção oposta do barulho, quando vimos estávamos indo em direção a ponte, o Raruk estava se aproximando, foi então que percebemos que nossa única chance era atravessar a ponte do rio Bravo.
Meu corpo estava queimando e latejando com o esforço de correr, Ron se esforçava para acompanhar o meu ritmo, o Raruk estava cada vez mais perto e não podíamos diminuir o passo.
Chegamos perto da ponte, e nessa hora a criatura pulou na nossa frente, vestindo um manto negro que escondia o que estava por baixo, paramos congelados, pois ele bloqueava o nosso caminho.
O inimigo nos encarava e um frio tomou conta do lugar, parecia que todo o calor e vida tinham sumido, Ron jogou a mochila e pegou a lança, num piscar de olhos vi meu amigo se jogar num embate contra algo que não conhecíamos.
O Raruk era muito rápido, mas Ron não deixou a desejar, desferindo golpes violentos com sua lança. Ron quase acertou o estranho na cabeça e nessa hora o seu capuz caiu, revelando um ser humano desfigurado.
O monstro tinha olhos amarelos que lembravam os de uma cobra, uma pele meio esverdeada, que parecia ser dura e lembrava a de um lagarto, sua cabeça era raspada, suas mãos eram garras.
A criatura usava uma espécie de armadura negra, ela nos encarou e pareceu sorrir, nessa hora um cheiro podre tomou conta do lugar, como o hálito do monstro.
Ron não se intimidou pela aparência asquerosa do monstro e continuou a lutar contra a criatura, que tentava a qualquer custo passar por ele e chegar até mim.
O monstro era um excelente lutador, em determinado momento da luta, meu amigo mandou eu correr e atravessar a ponte, sai em disparada, quando consegui alcançar o início da ponte o monstro soltou um rugido furioso, partindo com tudo para cima de Ron.
Eu já estava na metade do caminho quando a garra da criatura rasgou o braço de Ron, parei imediatamente, pois Ron não estava conseguindo mexer o braço, algo naquele golpe tinha paralisado seu braço direito, meu amigo conseguiu se afastar do monstro com um chute, mas continuou caído no chão.
Não podia ficar parada e ver a criatura matar Ron, voltei correndo e joguei a lança que estava caída no chão, ela acertou o ombro do Raruk em cheio.
Aproveitei esse momento de distração da criatura para ajudar Ron a se levantar e correr em direção a ponte. Quando alcançamos as cordas, o monstro estava quase se livrando da lança para continuar vindo atrás de nós, ele já estava no início da ponte, bem mais perto do que eu gostaria.
Percebi que não íamos conseguir atravessar a tempo, só tinha uma coisa a se fazer, peguei a faca da cintura de Ron e cortei as cordas, a ponte estremeceu e desabou, o Raruk rugiu, e nós caímos em direção ao rio.
A queda da ponte foi rápida e violenta, a água estava fria como gelo, mas pelo menos caímos numa área onde a profundidade era boa, e com isso conseguimos evitar as pedras.
A correnteza estava fazendo jus ao nome do rio, fomos sendo carregados rio abaixo, Ron não conseguia nadar, parecia que todo o seu lado estava sofrendo paralisia.
Estava tentando ajuda-lo, mas as águas estavam muito turbulentas, e por mais que tentasse nadar segurando Ron, não estávamos chegamos nem perto da margem.
O rio começou a ficar mais turbulento conforme íamos sendo carregados, Ron que já estava fraco desmaiou e acabou se soltando de mim, briguei contra a correnteza para tentar acha-lo, mas meu amigo submergiu nas águas.
O avistei um pouco mais a frente de mim, mas não consegui alcança-lo antes que ele afundasse de novo, aquela parte do rio estava parecendo uma cachoeira e por isso eu estava sendo jogada de um lado para o outro.
Minhas forças já estavam quase no fim quando vi Ron mais uma vez desmaiado sendo levado pelas águas, tentei nadar até ele novamente, mas o rio estava contra mim, me afastando cada vez mais.
Resolvi mergulhar para tentar alcança-lo mais uma vez, porém a correnteza me pegou em cheio, me jogando contra uma pedra onde bati com a cabeça, e assim, tudo ficou preto.
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