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XXXV - λάκκο

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Aviso: Gatilho
Luto
Ritos fúnebres
Mutilações/Feridas
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Eu havia dispensado todos. Mesmo com a insistência de Vaia, eu reforcei que queria ficar sozinha. Eu tinha que fazer isso sozinha, afinal, a culpa era toda minha. Se não fosse para me proteger, Cassius não teria feito isso. Eu não tinha duvidas de que Protogeles estava por trás daquilo. Mais uma vez, eu havia perdido tudo que tinha por causa daquele desgraçado. Eu havia perdido muitas coisas importantes ao longo da vida, mas pela primeira vez, eu tinha tudo, muito além do que poderia sonhar possuir, e em pouco tempo assisti o que possuía de mais valioso ser arrancado de mim.

    Limpar todo o sangue do corpo de Cassius foi tortuoso, nada tirava da minha cabeça o momento em que Protogeles o atingiu. Eu sabia que ele havia feito aquilo para me machucar, me deixar sem nada mais uma vez. Vaia voltou a entrar no quarto, desta vez acompanhada de sacerdotes que iriam prosseguir com o rito. Ela tentou me convencer a sair, mas me recusei. Eu não queria pensar em nada que viria a seguir depois que eu atravessasse aquela porta e tivesse que me despedir dele, para sempre desta vez.

    Um dos sacerdotes se aproxima de mim, e pergunta o que ele iria vestir. Me levantei e rapidamente encontrei sua armadura da guarda, entregando ao homem. Quando eles terminaram de vesti-lo, pedi por mais uns instantes antes que descessem com o corpo dele. Quando fecharam a porta, eu me aproximei de Cassius novamente. A expressão dele era serena, quase como se estivesse dormindo. Estiquei minha mão até seus cabelos, que sempre teimavam em cair sobre seu rosto, os afastando carinhosamente.

    Algo dentro de mim se partiu, a dor que sentia era física quando deixei mais um soluço escapar, fechando meus olhos e sendo inundada por lembranças aleatórias das inúmeras vezes que eu fiz aquele gesto. Saber que aqueles momentos não iriam mais se repetir, que eu não teria mais seus braços ao meu redor nas noites chuvosas, e nem poderia admirar o tom castanho de seus olhos banhados pelo sol. Eu não ouviria sua voz suave e nem teria mais o calor de seus beijos. Eu nunca mais teria momentos alegres ao lado dele, e nem iríamos nos casar.

    Eu estava feliz com seus planos, mas agora que eu sabia que eles jamais iriam se cumprir, eu sentia dor. Doía como se tivessem partido todos os meus ossos, ou talvez nem isso se comparasse ao que eu sentia. Eu não estava pronta para dar adeus a ele, ao que ele havia me tornado e a nossa vida, juntos. Eu ainda estava com o amuleto dele, e agora o fitando, me questionei se deveria devolvê-lo ou não.

— Ele quis que você ficasse com isso. — A voz de Zeyad me fez ter um sobressalto, eu nem havia percebido que ele havia entrado.

    Assenti, sem levantar os olhos para o encarar. Senti sua mão repousar em meu ombro antes dele se voltar para Cassius, murmurando algo que eu não me atentei, provavelmente em sua língua natal. Mais uma vez os sacerdotes entraram, e o homem voltou a se virar para mim.

— Vou ajudar a levá-lo. Cuide de seus ferimentos, Aurora. Vaia irá lhe guiar para a Columbaria¹. — Ele disse, e logo a mulher também apareceu, me ajudando a me levantar.

    A segui sem muita escolha, e também sem forças para protestar. Ao sair do quarto e perceber o silencio da casa, a ausência imediata de Cassius, o choro voltou. A senhora me abraçou, e continuou a seguir comigo até o meu quarto. Eu nem havia percebido que havia me ferido até Vaia começar a me limpar, também absorta em seus próprios pensamentos. Ela trançou meus cabelos para trás, os prendendo antes de me ajudar a vestir a túnica branca e a colocar seu manto também branco na minha cabeça.

    Naquele momento, odiei o branco, seu significado. O branco representava tudo, inclusive a vida e a morte. Era a cor que usávamos no nascimento e na morte. Eu queria arrancar aquela túnica, mesmo que aquilo não alterasse o fato de que o ciclo de Cassius havia se encerrado, e tampouco faria com que a culpa deixasse de ser minha pelo que aconteceu. Deveria ter sido eu, desde aquele dia em Atenas era para ter sido eu.

    Quando chegamos ao lugar, ele estava mais cheio do que eu imaginei. Zeyad rapidamente surgiu em meio a tantas pessoas, ficando ao meu lado. Me senti intimidada em meio a tantos estranhos, e ele deve ter reparado, pois seus olhos correram novamente para a multidão antes de se voltarem para mim.

— A maioria são membros da guarda pretoriana, que lutaram conosco na arena, e outras pessoas que também se juntaram a nós, amigos dele. —Ele falou.

    Suspirei, fitando o banquete que provavelmente havia sido preparado por Hannele. Sabia que era uma parte importante do rito, e que eu deveria participar. Eu já havia sido egoísta demais, e aquelas pessoas também haviam perdido um amigo. Virei o rosto para olhar Zeyad, que estava visivelmente abatido, aborrecido e cansado, mas mesmo assim cumprimentava as pessoas que passavam por nós.

— Eu quem deveria estar coordenando tudo... Isso. — Suspirei. Eu nem ao menos conseguia cumprir meus papeis básicos, era o mínimo que eu devia a ele.

— Você está cansada, e acabou de perder seu companheiro. — Zeyad balançou a cabeça. — Deixe-me cuidar disso para você. Sabe, Cassius me fez prometer que eu a ajudaria no que fosse preciso se não estivesse ao alcance dele. —

    O fitei por um longo tempo, balançando a cabeça em seguida e deixando uma risada amarga e dolorida sair pela minha garganta. É claro que ele faria isso, principalmente Zeyad sendo uma das pessoas que ele mais confiava. Voltei a olhar para o caixão esculpido, e as lagrimas voltaram a escorrer livremente pelo meu rosto. Cassius quem havia prometido que iria estar ao meu lado, e tudo que eu queria era que ele estivesse ali para cumprir todas aquelas promessas que ele havia feito. Não por elas, mas pelo que a presença dele significava para mim.

— Você deveria comer alguma coisa. — Zeyad comentou.

— Não estou com fome, nem com sede. — Suspirei.

Haq ². Eu vou fazer o laudatio³, então. — Ele disse, e eu o segurei pelas mangas folgadas do robe que ele usava por cima da túnica.

— Não, deixe que eu faço. — Respondo.

— Você tem certeza? — Ele me olhou, preocupado.

— Eu devo isso a ele, Zeyad. — Respondo, e ele meneia a cabeça antes de gesticular para que eu fosse em frente.

    Eu sabia pouco sobre os protocolos desses discursos, e tampouco seria capaz de me recordar, minha mente parecia estar embaralhada e era difícil raciocinar, mas eu devia isso a ele, e era para ele que eu estava fazendo isso, me forçando a despejar tudo que eu quis lhe dizer naquela arena e quando saíssemos dela, coisa que nunca fizemos. Ele havia perdido a vida ali, e eu não sabia qual pedaço de mim eu havia deixado ali desta vez.

— Cassius salvou a minha vida em muitos aspectos. Ele sempre foi fiel às suas crenças, e tudo que fez, foi pensando que era o ideal como seu juramento lhe exigia que fosse, como pretor, sempre colocando Roma à frente. Ele era um herói, tal qual Aquiles para mim, que cresceu entre mulheres até Odisseu lhe convocar para a guerra de Ilium, onde ele conheceu Patroclus nos campos de batalha e se apaixonou. Quando seu amor morreu, Aquiles tornou o mar vermelho com o sangue dos inimigos, se voltando contra os troianos de forma que Cassius estaria disposto a fazer para proteger o que ele acreditava. — Soltei o ar, não desviando os olhos do caixão à minha frente. — Que sua passagem seja tranquila até o Elisíos, que é para onde almas determinadas como a sua vão, meu amor. E que possamos nos reencontrar no fim deste meu ciclo, e nos próximos. —

     Zeyad conseguiu me oferecer um pequeno sorriso, e balançou a cabeça em aprovação, voltando para o meu lado. Deixei meus ombros caírem e soltei o ar, baixando meus olhos para o amuleto de Cassius enrolado na minha mão. Não tive coragem de soltá-lo, mas também não queria por ele em meu pescoço. Era como se no momento em que eu fizesse isso eu confirmasse que não poderia devolvê-lo para ele. Que ele não iria voltar para mim.

— Cassius foi um exemplo de homem, do tipo que as historias devem ser contadas por muitos e muitos anos, anunciada pelos Venti⁴. Defendeu Roma de forma que muitos não puderam assistir, lutando batalhas que muitas vezes não são anunciadas. Possuía uma lealdade muito além do que meros homens representam, e eu sei que seu coração está mais leve que a rishat alhaqiqa⁵, pois ele sempre agiu de boa fé, seguindo princípios que muitos esqueceram, dos tempos da Loba e dos irmãos. — Zeyad falou, fazendo com que eu me virasse para ele, assim como os demais. — Que sua alma seja recebida com alegria por aqueles que lutaram ao seu lado, meu sadiq⁶. —

    Esfreguei meus braços, reencontrando Vaia que rapidamente veio até mim, trocando olhares com Zeyad antes de voltar a insistir para que eu comesse ou bebesse algo. Recusei mais uma vez, assistindo os sacerdotes retornarem para perto do caixão. Balancei a cabeça, não querendo assistir àquilo, mesmo sabendo que devia a Cassius.

    O rito fúnebre se encerrou depois de tortuosas horas, e Zeyad se posicionou como anfitrião se despedindo das pessoas até que restamos apenas eu, Hannele, Vaia e ele. Fitei a sepultura, ainda me recusando a acreditar que Cassius estava ali e que eu estava sozinha novamente.

— Vamos para casa, Aurora. Você precisa descansar. — Vaia disse, apoiando as mãos em meus ombros.

— Podem ir. — Balancei a cabeça. — Eu vou ficar aqui. —

— Vocês podem passar a noite em minha casa, todas vocês. — Zeyad disse. — Vocês precisam mesmo descansar. Todos nós. —

— Eu não vou embora. — Tornei a mirar a sepultura. — Eu quero ficar a sós com ele, Zeyad. —

    Ele assentiu, compreensivo, e então murmurou algo para as outras duas mulheres que concordaram e seguiram com ele para casa, deixando o ambiente recair no silêncio. Um silêncio agonizante que preenchia tudo ao redor, tornando ainda mais sombria a penumbra que começava a dominar o lugar, agora que havia anoitecido. Deslizei a mão pelo mármore frio, e um arrepio percorreu meu corpo fazendo com que o choro retornasse. Frio, tudo estava e tudo permaneceria frio sem o calor de Cassius, sem a luz refletida em seus olhos castanhos, selados para sempre.

    Me apoiei sobre a pedra gelada, deixando as lágrimas escorrerem. Finalmente sozinha com ele, eu pude liberar toda a dor que estava sentindo. Cassius havia me dado uma vida, dias alegres e noites seguras. Estava aterrorizada em saber que teria que passar o resto dos meus dias na ausência do homem que amei. Como ele pôde se entregar assim? Saber que eu o havia perdido, e que a culpa era minha, que ele havia dado a vida por mim, estava muito além do que eu era capaz de suportar.

— A gente ia se casar. — Murmurei. Falar estava sendo ainda mais difícil do que pensei, como se minha garganta estivesse se rasgando como um tecido velho. — E então a gente iria sair daqui, recomeçar. —

    Apertei o amuleto na minha mão, voltando a soluçar. Todos aqueles planos que não seriam cumpridos, todas as promessas de que ele estaria ali comigo. Eu havia me reerguido, e então tudo desmoronou sobre nós dois. A dor que eu sentia era como se os céus tivessem desabado sobre meus ombros, e eu tivesse que assistir eles o esmagarem. As peças que havíamos assistido, as tardes em que eu tocava as músicas que ele selecionava, o dia em que Cassius me pediu em casamento... Tudo tornava aquele momento ainda mais insuportável.

    Eu não estava pronta para perdê-lo, talvez nunca estivesse, e naquele momento tudo que eu conseguia fazer era chorar ajoelhada à sua sepultura, até que meu corpo cedesse ao cansaço da mente e de todos os eventos que ocorreram de uma vez.

    Estava novamente no topo daquela colina, diante do mastro da águia. Mas desta vez, não havia nenhum lobo o guardando. Silêncio. Um silêncio esmagador, que eu sentia a necessidade de romper antes que enlouquecesse, gritando em plenos pulmões e sentindo todo meu corpo arder, queimando com a dor, com a raiva, com o desespero.

    Despertei erguendo a cabeça em um movimento rápido, o que a fez doer. O som de passos pesados romperam o silêncio, cada vez mais próximos. Me levantei, procurando a origem do som, mesmo com tudo escuro e a minha vista doendo de tanto chorar.

— Ele foi um bom guerreiro. Cumpriu seu propósito. — A voz grave, ancestral e familiar ecoou atrás de mim, fazendo com que eu me virasse. Ares. — Um dos homens mais fiéis a mim que eu já vi. —

    Seus olhos ainda queimavam como chamas, fixas na lápide de Cassius. Meu coração ainda batia dolorosamente, eu não conseguia me mover, reverenciá-lo. Me sentia fraca demais para aquilo, mas também raiva, frustração. Cassius não merecia aquele fim.

— Por que você não o salvou? — Perguntei, e o deus abriu um sorriso triste.

— Tem coisas que não estão nem mesmo ao meu alcance. Eu adiei o inevitável o máximo que pude, mas era o destino dele. — Ele espalmou uma mão sobre a pedra. — Nem mesmo os deuses podem contrariar as Moiras. —

    Destino. Ninguém podia ir contra ele, mas ainda havia algo em mim que gritava um erro, algo que não estava certo e que despertou uma raiva em minha alma que eu nem sabia que eu possuía, que superava tudo que eu cheguei a sentir pelo imperador. Ergui o olhar novamente para encarar o deus, tomada por um ímpeto desejo.

— Eu quero me vingar. Protogeles, ele é o culpado de tudo isso, a fonte de todos esses males. — Cerrei minhas mãos em punhos. — Eu quero matá-lo. —

    A fala fez com que o deus sorrisse, desta vez de uma forma cruel e um brilho de diversão atravessou seus olhos, mas eu não conseguia me desprender daquela vontade, e estava determinada a caçar o desgraçado por todos os mundos existentes se necessários. Queria fazê-lo sofrer, arrancar tudo que ele possuía, fazer com que ele assistisse seu mundo queimar e se transformar em cinzas assim como ele havia feito comigo. Me recordei do sorriso que ele abriu ao acertar Cassius, e cerrei os dentes, contendo um grunhido, o que só fez o sorriso de Ares se ampliasse.

— Você pode ter Protogeles, e eu posso ajudá-la com isso. Não será uma tarefa fácil enfrentar aquela criatura. — Ares disse, fazendo com que os olhos amarelos e assustadoramente felinos do homem pairassem na minha mente. — Mas eu preciso que você faça uma coisa antes para mim. —

— O que você deseja? — Perguntei.

    Não que eu estivesse realmente me importando com a tarefa, não se eu tivesse como me vingar. Vingar Cassius. Destruir o monstro que manchou a imagem de Cassius como pretor, e arrancou sua vida. Desde que eu tivesse aquele demônio ao meu alcance, eu não me importava.

— Preciso que você encontre uma pessoa, e a traga para Roma. Preciso que você encontre o novo líder do império. — Ele diz. — Preciso que você vá para Esparta e retorne com ele. —

— E como eu saberei quem é o escolhido? — Perguntei.

— Isso será simples. — O deus respondeu, retirando uma espada prateada de suas costas. — A espada reconhecerá meu filho. —

    Engoli em seco, mas assenti, recebendo a espada de fio duplo, comprida e com um cabo similar à espada de bronze que eu havia recebido antes. Nunca pensei que cogitaria retornar à Grécia, e nem sabia como faria isso, mas eu iria fazer. Por Cassius, por nós. Pelo que ele acreditava e defendia. Por Roma.

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Glossário
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✵ 1 - Columbaria - Sepultura, local onde era realizado os enterros. (Latim)

✵ 2 - Haq - Certo/está bem (árabe)

✵ 3 - Laudatio - Lamúrio, discurso realizado nos enterros romanos pagãos. (Latim)

✵ 4 - Venti - espíritos de vento, tradição romana. (Latim)

✵ 5 - Rishat alhaqiqa - Pluma da verdade, utilizada pela deusa Maat para pesar a consciência do morto nas tradições egípcias. Nas histórias, a pena servia como peso na balança, e do outro lado era pesado o coração do morto. (Árabe)

✵ 6 - Sadiq - Amigo (árabe)

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