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XXVI - Ποζιλίπο

Franzi o cenho, sentindo minha cabeça latejar e minha boca seca. Não abro os olhos, com medo do que poderia me deparar, com medo de ter sido tudo um sonho, ou pior. Alguém toca em meu rosto, me fazendo abrir rapidamente os olhos por impulso, tentando me erguer, o que apenas faz uma dor aguda subir do meu tronco e se espalhar pelo resto do meu corpo.

— Ela acordou! — Alguém fala, um pouco baixo demais mas de forma ainda audível. Ou eu que não estava ouvindo bem o suficiente.

    Tudo parecia desfocado, como se houvesse uma névoa posta sobre meus olhos, provocada pela dor que me fazia puxar o ar com força, os últimos acontecimentos preenchendo a minha cabeça de uma vez só, me recordando do golpe que havia levado do homem na arena, do gladiador que havia ferido Bayek. O homem que eu havia matado, e que não tinha sido o único. O pensamento fez meu estômago revirar, mas não havia nada nele para que eu vomitasse.

— Senhora, por favor, não é recomendável que se levante, você ainda está muito ferida. — Fala uma garota, não muito mais nova que eu, me estendendo uma taça com água.

    Aceito a água, não percebendo com quanta sede estava antes de sentir o conteúdo me refrescar. Ela enche mais uma vez o objeto, tocando com cautela em minha testa antes de murmurar para outra mulher bem mais velha que ela que eu não tinha mais febre, o que me fez apertar os olhos. Há quanto tempo eu estava ali? Quem eram elas? Onde eu estava? Antes que eu pudesse fazer essas perguntas, a senhora ergue as vestes que eu usava, revelando uma cicatriz quase do tamanho da minha mão, ainda com costura, na altura da minha cintura.

— A ferida já está melhor, também. — Ela diz, voltando a abaixar o tecido.

— Por quanto tempo eu estou aqui? — Pergunto, estranhando a dificuldade com que as palavras saíram da minha boca, como se houvesse areia em minha garganta.

— Faz 3 luas já, eu já estava questionando se você iria realmente acordar. — Ela responde.

    Antes que eu pudesse formular outra pergunta, minha atenção se desvia para o quarto onde eu estava, amplamente iluminado com altas janelas e até mesmo com um lustre. Haviam poltronas, cortinas longas adornando as laterais das janelas, uma escrivaninha repleta de materiais aparentemente intocados, e duas portas, uma ampla á minha frente e uma lateral um pouco distante á minha esquerda. Com calma e auxilio das mulheres, eu consigo me sentar na larga cama onde eu estava.

    Uma cama de verdade. Faziam anos desde que eu não havia dormido em uma, e nunca pensei que fosse voltar a fazê-lo. Haviam diversas almofadas dispostas ao meu redor, e eu não seria capaz de imaginar sobre quantas peles eu deveria estar dormindo durante esse tempo. Prendo o fôlego, onde quer que eu estivesse, era um lugar de pessoas muito ricas. Minha juventude em Atenas havia sido cercada de abundância, mas nada comparado a isso. E depois de tantos anos servindo como uma escrava... Eu nem conseguiria sonhar com algo assim.

— Já que ela acordou, eu vou chamar o senhor Cassius, ele deve estar em seu tablinium. — A mulher mais velha avisa para a mais nova, e pelo seu tom deduzi que as duas deveriam ser criadas da casa.

    Ela atravessa a porta, me deixando a sós com a jovem que assim como a outra, se vestiam com vestes muito melhores e mais confortáveis que as que eu obtive todo o tempo que havia trabalhado no palácio, sendo obrigada a estar á disposição do imperador que agora estava morto. Morto pelas minhas próprias mãos. Engoli em seco, afundando a cabeça contra o travesseiro macio. Ainda não conseguia acreditar que eu realmente havia conseguido.

    A porta se abre novamente, e junto da mulher reconheço o homem que havia me indicado a saída daquele labirinto infernal. Ele murmura algo para a mulher, que eu não consigo compreender o que era, e cautelosamente se aproxima de mim. Ele não era muito alto, mas era visivelmente forte como um soldado tinha de ser graças ao rígido treinamento romano. Seu corte de cabelo também estava de acordo com o protocolo que eu acabei por me habituar ao longo dos anos, sendo cortado rente a nuca, mas diferente da maioria, ele possuía a fronte um pouco mais comprida, relevando as ondulações suaves de seus fios castanhos, alguns tons mais escuros que seus olhos, que eram quase verdes de tão claros.

    Ele possuía belos traços, mas nada grosseiro ou muito marcado como o restante dos soldados normalmente tinha, com lábios desenhados que destacavam uma longa cicatriz que chegava até o seu queixo, sendo ressaltada na pele branca bronzeada provavelmente pelos treinamentos ao ar livre. Seu rosto estava livre de pelos, o que destacava também a popular cicatriz que todo soldado possuía no queixo, por conta do elmo.

— Eu não sei se você ainda se recorda de mim, mas de qualquer maneira, não fomos devidamente apresentados. Meu nome é Cassius, Cassius Chaerea. Como você está se sentindo? — Ele pergunta após se apresentar, me fazendo o reconhecer não só dos túneis, mas em diversos momentos enquanto ainda trabalhávamos para o mesmo homem.

    Ele era o líder da guarda pretoriana, responsável pessoal pela segurança do imperador, apesar de muitas vezes não estar presente no palácio. Era muito sussurrado nos corredores sobre como o trabalho da guarda de manter a segurança de Caligula não se limitava apenas a estar do lado dele, iminente a qualquer risco. Curiosamente, raramente haviam pretores enquanto Protogeles estava com ele, e quase todo momento em que eu estava a disposição do imperador, ele estava lá.

— Eu me chamo Aurora. — Respondo. — Você é o chefe pretor. —

— Sim, eu sei. Ouvi o julgamento, você trabalhava no palácio, e conseguiu chegar perto do imperador o suficiente para o atingir em cheio. Estou impressionado. —

— Eu servia a ele diretamente desde o falecimento de sua irmã, Drusilla. — Suspiro, balançando a cabeça. — E eu não aproximei dele porque quis. Ele me agarrou, eu apenas... Me defendi. Apesar da maioria de vocês homens não entenderem isso. —

— Sinto muito, eu deveria ter imaginado. Infelizmente, apenas versões e versões chegaram a mim, e quando você o matou... Imaginei que era sua intenção desde o início. — Ele franze levemente o cenho, aproximando as sobrancelhas. — De qualquer maneira, eu só lamento não ter lhe encontrado antes em algum turno, principalmente este. Eu adoraria ter visto aquele miserável ter o que merece, ele sempre quer tomar as coisas á força. —

    Ergo as sobrancelhas, surpresa com o que ouvia, principalmente por estar ouvindo diretamente da boca do maior responsável pela segurança do homem que eu havia matado naquele túnel imundo e escuro, longe de todos. Ali, Caligula estava o mais distante possível da deturpada figura de deus que ele proclamava ser.

— Obrigada. — Digo, captando novamente a atenção daqueles olhos castanhos. — Obrigada por ter me ajudado, de verdade. Você salvou a minha vida, estou em dívida contigo por isso. —

— Não diga isso. — Ele balança a cabeça negativamente. — Eu que agradeço a você, em nome de todo o povo. Você salvou a vida de todos nós das mãos daquele tirano. —

    Ele inclina a cabeça, apoiando uma mão sobre o peito, e sua expressão mostrava que ele realmente estava grato pelo que eu havia feito. Desvio meu olhar para o pingente pendurado em seu peito, uma miniatura do estandarte de Roma, mas uma variação que apenas os devotos de Ares, ou melhor dizendo, Marte, usavam. Ele era realmente um devoto, e havia testemunhado quando a vontade do deus se fez através de mim.

— Ah! E o seu animal está bem. Curioso, poucas vezes vi pessoas possuindo uma cobra como animal de estimação, mas ele não atacou a ninguém, se demonstrou bastante tranquilo. Criatura interessante. — Ele abre um meio sorriso, coçando a têmpora. — Qual o nome dele? É um macho pelo que o curandeiro me disse. —

— Bayek. — Respondo, olhando rapidamente para as minhas feridas visíveis. Infelizmente ele não havia dado a mesma sorte que eu. — A adaga que eu carregava..? —

    Ergo rapidamente o olhar para o homem, sentindo meu peito disparar. A adaga era tudo que eu tinha do guerreiro que havia conhecido naquela prisão, da pessoa que me fez acreditar que minhas ações eram uma demonstração de força, o único homem até então que ao invés de me julgar, havia ficado admirado pelo que eu havia feito. Bayek fora o único que me fizera sentir orgulho do meu passado, e quem eu era. Aurora, a mulher que matou o imperador.

— Aquela lâmina? Eu a guardei para você, não se preocupe. — Ele se inclina, abrindo uma gaveta próxima a cama e tirando a arma de lá, me fazendo soltar um suspiro aliviado.

— Obrigada. Ela é importante para mim. — Respondo, enquanto ele voltava a guardar a mesma no lugar.

— Acredito, é uma bela adaga. — Ele assente, se virando para a criada mais jovem, que ainda estava ali. — Hannele, por favor, vá buscar o animal. Ela deve estar querendo revê-lo. —

    Assinto suavemente, relaxada pela criatura ter ficado bem. Ainda me intrigava como ele havia alcançado a passagem onde eu estava, mas estava feliz de poder me manter na companhia do animal que também de certa forma, me fazia sentir a presença do meu querido amigo. A jovem, que agora eu descobri se chamar Hannele, desapareceu com passos suaves pela porta, me deixando sozinha com Cassius, que permanecia a uma distância respeitosa de mim.

— Como estão as coisas? — Pergunto, baixinho, mas mesmo assim acabo atraindo a atenção dele. — Quero dizer, Roma. Desde que... Eu o matei. —

    Suspiro, desviando o olhar para minhas mãos, que também tinham alguns pequenos ralados. Não me envergonhava, muito menos me arrependia de ter matado Caligula. Ele era um homem desprezível, que não se importava com ninguém além de si mesmo, que só trouxe miséria a Roma, feriu a própria família e havia ofendido até os deuses. O que eu fiz havia sido honroso, ainda mais por ter sido um chamado do próprio deus patrono do império. Esse não era o problema; eu só não queria me acostumar a aquilo, não queria que fosse natural. Não queria fazer descaso do que é matar alguém, da mesma forma que ele fazia.

— As coisas estão bem intensas, não irei mentir. Não chegaram á conclusão de como de fato o imperador morreu, ou quem o matou. — Abro a boca para contestar, mas ele prossegue. — Ninguém a viu depois do caos dos leões. Não sabem se você o perseguiu ou fugiu, aproveitando o momento para se libertar. E nenhuma testemunha, verdadeira ou falsa, se apresentou ainda. —

— Você viu. — Sussurro, o encarando.

— Sim, mas porque eu a entregaria para aqueles que querem arrancar a cabeça de quem fez isso? Sou fiel a Roma, não a estes políticos que tornaram o senado em um verdadeiro caos. Roma e sua política, muito antes de Júlio César já era assim, homens ambiciosos não vendo as coisas pela razão, mas pelo poder. — Ele suspira, desanimado. — Por isso eu escolhi seguir os fundamentos do nosso deus, e não o dos homens. —

    Ele segura no próprio amuleto, o levando rapidamente aos lábios e o soltando em seguida. Me recordo de ter visto a mesma cena no Ginásio, no instante em que Caligula havia afirmado ser um deus, e todos o saudavam. Deduzi que o gesto deveria ser um hábito do homem a minha frente.

— Ainda assim, você não deveria me acolher em sua casa. Você é o chefe da guarda pretoriana e a principal testemunha do que realmente ocorreu! — Digo, evitando dar atenção as possíveis consequências que poderiam recair sobre ele por conta disso.

— Justamente por ser o chefe da guarda mais honrada do império que eu tenho como dever proteger a salvadora da cidade. É uma honra a ter em minha casa, por favor, sinta-se acolhida e fique pelo tempo que precisar, como minha convidada de honra. O que você precisar, poderá pedir para Hannele, ou para Vaia, e elas irão atender a sua vontade. —

    Ele diz, fazendo meu coração se apertar um pouco em angústia. Ele estava se colocando em perigo ao decidir isso, mas eu também não podia recusar, afinal, para onde iria? Não tenho casa, não tenho para onde retornar, não tenho ninguém a quem recorrer. Suspiro, mesmo que ainda achando a ideia imprudente, e assinto, cedendo a seu pedido.

— Está bem, eu aceito o seu convite, Cassius. — Respondo, e ele me oferece um pequeno sorriso. — Obrigada mais uma vez, por tudo que está fazendo. —

— Tenho fé em meu patrono, Aurora. Acredito que nada é por acaso, e que estava em meu destino lhe ajudar. — Ele dá um passo para trás no instante em que Hannele retorna, com Bayek confortavelmente repousado em seus braços. — Agora, com licença, devo retornar ao meu trabalho. —

    Ele sai do cômodo, e a jovem de pele clara e pontilhada de sardas, que de certa forma me recordava Arayna, a filha de Lucio, que eu não via a muitos anos, se aproxima com o animal, cuidadosamente o pousando na cama. Com cautela, a cobra rastejou até meu ombro, se enrolando ao meu lado e pousando a cabeça em meu colo. Aproximo minha mão dela, abrindo um sorriso quando sua língua bifurcada desliza por meus dedos, e acaricio suas escamas, voltando a afundar meu corpo.

    Logo a outra criada, Vaia, entra trazendo consigo uma bandeja com comida. Não havia percebido o quanto estava com fome até aquele momento, lhe agradecendo antes de aceitar a sopa de batatas, galinha e hortelã. Havia muito também que não comia algo que não fossem os pães duros e velhos da prisão, e a sensação de comida quente e fresca me fez se sentir bem melhor.

    Reparei também em Vaia, uma mulher já próxima da meia idade, mas que possuía uma beleza cativante. Ela possuía uma pele escura, em um tom de oliva, e cachos que pouco se formavam agora em tons de castanho, mas que já foram superados pelo número de fios brancos. Seu rosto tinha traços destacados, principalmente no queixo. Seus olhos castanhos não eram tão claros como os de Cassius, mas também eram notórios, dando harmonia ao rosto que já era marcado pela idade.

— Vocês se chamam Hannele e Vaia, correto? — Pergunto, atraindo a atenção das duas.

— Sim, senhora. Eu me chamo Vaia, e ela se chama Hannele. — A mais velha diz, apontando dela para outra e eu assinto.

— Por favor, não precisam me chamar de senhora. — Respondo, um pouco constrangida. Até pouco tempo atrás, eu estava em um patamar inferior ao delas, visto que claramente não eram escravas. — Obrigada por terem cuidado de mim. —

— Foram apenas as ordens do mestre Cassius, minha jovem. — Vaia responde.

— Nosso mestre é muito generoso. — Hannele comenta, me oferecendo outro copo de água.

— Você não é a primeira pessoa ferida que ele me trouxe para cuidar. — Vaia diz, verificando alguns outros ferimentos que eu possuía, inclusive minha perna que incrivelmente não havia se tornado um incomodo hoje.

— Não? Então além de pretor, ele também é um grande anfitrião? — Pergunto, curiosa em saber mais do homem que se dispôs a me ajudar.

— Meu mestre é um homem de fé, jovem. — Vaia se afasta quando fica satisfeita com o trabalho que fez comigo. — Ele faz o que o coração dele manda, ás vezes aparenta ser literalmente. Agora descanse, você ainda precisa se recuperar desses machucados. —

    Assinto, tendo aquilo como um encerramento da conversa enquanto Hannele me oferece um pouco de vinho com papoulas, para me ajudar a adormecer. Agradeço uma última vez, me acomodando na confortável cama com cuidado, em pouco tempo me entregando ao sono.

    Novamente me encontrava em uma defensionem¹, cercada pela stipant ² de lobos. Os animais começaram a seguir em uma direção, e me recordando das palavras de Bayek em outro sonho, decidi acompanhá-los. Conforme ia andando, tinha a impressão de que haviam cada vez menos lobos ao meu redor.

    Quando me deparei com um pequeno cume, havia apenas um dos animais ao meu lado, e logo este também desapareceu. Olho ao redor, procurando qualquer tipo de sinal, qualquer coisa, e então me deparo com um dos lobos, de pelagem castanha, deitado no gramado. Ao lado dele, havia um grande bastão que ele parecia estar guardando. Quando ergui meu rosto, sobre o reflexo do sol, reconheci a dourada águia com os escritos SPQR, que possuía a bandeira com os louros de Roma atada aos seus pés.

    Conhecia já as histórias de origem do império, sobre Lupa, a loba sagrada, mãe de Roma e sua guardiã. E aqui estava eu, diante de outro lobo, representando o guardião que vigiava o estandarte que simbolizava a honra do Estado. A honra de Ares. De certa forma, aquilo me trouxe um certo conforto. O lugar ainda estava protegido, independente da queda do imperador. Caminhei até o ameaçador animal, mas não senti medo, muito pelo contrario. Me sentia tão segura quanto a águia de ouro que ele preservava.

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Glossário
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✵ 1 - Defensionem - Clareira, área ampla e aberta no meio de um bosque ou floresta. (Latim)

✵ 2 - Stipant - Matilha, seja de lobos ou cães. (Latim)

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