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XIX - ορφικός

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Aviso: Gatilho
Agressão
Luto
Crise de ansiedade
Tentativa de Suicídio
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Pensei em fazer uma prece pela alma de Bayek, mas não me sentia capaz. Os deuses não iriam me ouvir. Eles nunca o fizeram, mesmo quando eu rezava até perder a voz, como quando meu pai anunciou meu casamento. Eu fiz oferendas, afundei meus joelhos contra o mármore de seus templos, cuidei de seus altares, e, agora que eu precisava deles, não conseguia sentir sua presença.

- Onde estão vocês, ó deuses? - Falei em voz alta, erguendo meu olhar para o nada.

    Como eu poderia rezar se não chegava a eles? Se não iria adiantar coisa alguma? Minha voz seria perdida ao vento, minhas preces não chegariam a eles. Eu estava sozinha. Senti um aperto em meu peito, e pisquei algumas vezes para afastar as lagrimas. Afinal, onde estavam meus deuses?

    Não podia afirmar que eles não estavam em Roma, pois já não estavam comigo quando ainda estava em casa. Não estavam comigo naquele quarto, nem naquele julgamento. Não adiantaria pedir por ele ou por mim. A pouca esperança que eu tinha, era de que eles estavam com ele, onde quer que ele estivesse.

    Encaro a parede a minha direita e suspiro, apoiando minha cabeça contra a pedra arenosa. Fecho meus olhos e respiro fundo, apertando meus punhos e tentando abafar a sensação de solidão que preenchia minha cabeça. Não sabia quase nada sobre o Egito, ou sobre seus deuses. Não sabia onde Bayek poderia estar, se eles possuíam um lugar de descanso para seus mortos.

    Não sabia onde ele estava, nem meus deuses. Ou porque eles me abandonaram. Sim, eles me abandonaram, permitiram que aquele maldito casamento ocorresse, permitiram que eu perdesse minha liberdade e meu lugar como grega, na minha terra. Deixaram que eu fosse trazida para esse lugar estranho, forçada a aprender a língua deles, a servir um imperador louco para então morrer diante de uma multidão.

    Eu amei os deuses, lhes servi com dedicação, e quando precisei, eles me voltaram as costas. Tudo isso era culpa deles também. Todo o meu sofrimento, tudo que eu pedi para eles me pouparem. Os deuses haviam escolhido ficar do lado dos homens. Athena escolheu ficar ao lado de Andrik, deixou que ele fizesse aquilo comigo. Porque ela permitiu que ele fizesse aquilo comigo? Os deuses também escolheram Caligula, mesmo apesar de suas ações.

    Eles escolheram ficar contra mim, e o sentimento de abandono e solidão transbordou por meus olhos. Eu não entendia porque haviam me deixado. Porque se recusavam a me ajudar. A me condenar a estar onde estava agora, para morrer de forma tão cruel. E, na espera da minha morte, eu não tinha a quem rogar por misericórdia. Eu estava completamente só.    

    Volto meu olhar para a adaga de Bayek, enrolada em seu tecido azul. A tiro do tecido e a aperto em minhas mãos tremulas, voltando sua ponta contra meu ventre. Sinto meu peito acelerar, minha respiração se tornar mais pesada. Trinco os dentes, voltando a olhar para cima. Eu não lhes daria essa satisfação, não. Afasto a arma do meu corpo, batendo com ela contra a parede e deixando que caia no chão. Eu não iria fazer isso agora, seria estúpido.

    Eu não daria nem aos deuses nem a Caligula a satisfação de morrer assim. Me levanto para buscar a adaga, limpando a areia de sua lamina, que ficou intacta. Volto a enrolar a mesma no tecido, que percebi ter um cheiro de sândalo, vinho e sangue misturados. Me deito e aperto o objeto contra meu peito, soltando o ar.

    Sabia meu destino, sabia como ia acabar, e mesmo assim, sentia-me perdida. Eu sabia que não tinha como ir para outro lugar, que não havia saída, não havia sequer para quem rezar, e mesmo assim, eu queria algo para me agarrar, mesmo sabendo que era tarde demais. Eu estava com raiva, mas também estava com medo.

    Não havia salvação para mim, não havia escapatória. Agora, nem sequer alguém para conversar. Bayek não parecia temer seu fim. Ele sabia tanto quanto eu que esse dia chegaria, entretanto aparentava estar conformado e em paz com isso. Eu gostaria de saber como, como eu poderia me acalmar, como eu poderia ficar em paz com isso. Mesmo sem entender porque eu queria tanto isso, porque eu queria viver.

    Não fazia sentido, afinal. Para ser honesta, era até mesmo cômico esse desejo de viver, afinal, eu nunca tive uma vida exatamente. Eu era uma mulher, o que eu poderia querer? O que eu teria? Enquanto livre eu ainda era obrigada a abaixar a cabeça para as ordens do meu pai, e aprender a servir para o resto da minha vida um homem estranho. E agora, como escrava, eu teria muito menos perspectiva. Viver era um desejo tolo.

    Solto o ar, deslizando o polegar pelo bordado do tecido, contornando seu relevo. Eu tinha vinte ciclos já, e parecia que não havia vivido nada. Tudo que eu lembro foi de fazer coisas que eram ditas que eu deveria fazer, de obedecer a ordens. Toda a minha vida não foi vivida por mim, e sim por alguém que achou ser dono dela. Mesmo antes de eu me tornar uma escrava, eu já estava presa a outras obrigações.

    Talvez a culpa de eu estar aqui seja de não ter cumprido todas elas. Não que eu me arrependesse de certas atitudes. Mas talvez seja por isso que os deuses se recusam a me ajudar. Eu não cumpri com as tradições, me rebelei contra minha família, meu marido e posteriormente contra o imperador. Isso me fazia culpada o bastante, mas ainda assim não conseguia me arrepender, e não teria como pedir misericórdia por algo que eu não iria me desculpar por ter feito.

    A única coisa que eu me arrependia foi de ter magoado e prejudicado minha mãe. Eu sabia que ela levaria a culpa de certa maneira pelo que eu fiz. Só não sabia como ela teria pago por minhas ações. As vezes tinha sonhos estranhos com ela, e sentia sua falta. Não havia como ela saber onde eu estava, ou sequer se eu estava viva. Provavelmente ela nunca saberá que eu morri aqui, mas meu peito se apertou e eu desejei poder lhe dizer adeus. Eu sentia falta dela.

    Passo as mãos rapidamente no rosto para secá-lo quando o barulho do portão ecoa pelo corredor, e me apresso a segurar a adaga de Bayek e prendê-la nas costas da minha túnica com o tecido, engolindo em seco e me escorando na parede. O som de passos vai se intensificando junto a claridade do corredor, e logo um soldado para na frente da minha porta e aponta para o que quer que estivesse ainda nas sombras.

- Ela está nessa cela, senhor. - O homem diz.

    O homem não obteve resposta, mas em poucos passos uma figura de capuz para diante da minha cela. Avanço lentamente até estar na metade da cela, e então o homem ergue suas mãos retirando o capuz. Aperto meus punhos, contendo o desejo de agarrar a adaga presa nas minhas costas e avançar contra ele. Não foi difícil reconhecer aqueles longos cabelos negros e aqueles brilhantes e malditos olhos amarelos em um rosto coberto por cicatrizes.

- Protogeles. - Digo entredentes. - O que faz aqui? -

- Senhor, sua escrava imunda. - Ele corrige. - Não ouse falar assim comigo. -

- Ou o que? - Estreito os olhos, avançando mais um passo na sua direção, me controlando para não levar a mão para a arma. - Eu já estou morta. -

- Se esqueceu que ainda pode sangrar, sua puta? - Ele rosna.

- Que diferença faria agora? - Dou mais um passo adiante.

- Eu posso me assegurar que fará. - Ele retruca.

- Não foi para isso que veio. O que quer? -

- Vim ter o prazer de te anunciar que sua condenação será em duas luas. - Ele abre um sorriso.

    Me contenho para não recuar, sentindo minha respiração falhar. Agora eu sabia, então. Eu só tinha mais duas luas. Duas luas onde eu não poderia fazer nada, ver ou falar com ninguém. Na minha posição, não poderia sequer escrever para a minha mãe, sei que não entregariam. E sem Bayek aqui, não teria nem com quem passar meus últimos instantes conversando. Balanço a cabeça, me libertando do choque, e volto a encarar o homem a minha frente.

- Não precisava se dar ao trabalho. - Respondo.

- Ah, mas eu não perderia a chance de a ver digerir seu pouco tempo. Eu que escolhi, inclusive. Antes que você conseguisse dar um jeito de fugir da condenação e se matasse. Iria tirar toda a graça. -

- Não passou pela sua cabeça que se eu quisesse desistir e me entregar a morte, eu já não teria feito isso? - Estreito mais os olhos, ficando diante das barras de ferro e o encaro. Aqueles olhos amarelos não me assustavam mais. - Você não faz ideia do que eu suportei para chegar até aqui. -

- Suportar? O que uma mulher acha que sabe de fardo, dor? - Ele ri, depois retribui o olhar com uma expressão de desprezo. - Não seja tão insolente. -

    Pressiono meus lábios uns nos outros, disposta a conter certas frases na minha garganta e continuo a encara-lo, percebendo que isso o incomodava. Ergo meu rosto, o encarando de frente, e percebo quando ele trinca o maxilar, agarrando uma das barras com a mão e apertando com força, mas não me movo. Ele não podia me assustar.

- Pare de me encarar como se você fosse digna, você não passa de uma servente! - Ele eleva sua voz. - Não deveria me surpreender com seu desrespeito depois do que você ousou fazer ao imperador! -

- Não sou digna do que? De encarar nos olhos a vadia do imperador, Protogeles? - Respondo, aproximando-me um pouco mais, saboreando cada palavra proferida. - E, você não deveria mesmo se surpreender, pois eu faria de novo, e faria pior. -

    Em um rápido movimento, ele agarra meus cabelos e me puxa contra a grade, me empurrando de volta para trás e acertando um tapa com força na minha cara, me fazendo trombar para a esquerda. Ele agarra meus cabelos de novo, me puxando de volta contra as grades e então agarro a adaga de Bayek e cravo-a no braço de Protogeles, a puxando de volta comigo e recuo alguns passos, o suficiente para que suas mãos não me alcançassem.

- Como ousa?! Sua puta imunda! Sua cachorra! - Ele bate contra as grades, antes de agarrar o próprio braço, seu sangue escorrendo entre seus dedos.

    O gosto de sangue também preenche minha boca, e passo minha língua sobre o lábio cortado, guardando a lamina e cuspindo no chão, manchando a areia com vermelho. Ergo lentamente o rosto, voltando a olhar em seus olhos, sentindo meu rosto ardendo e queimando. Minha nuca doía onde ele agarrara meus cabelos, mas não era um incomodo por agora.

- Luta como uma selvagem! É isso que você é! Uma cachorra selvagem! - Ele continua a gritar, mas subitamente se cala quando eu dou um passo a frente, fazendo ele recuar um passo.

- Um dia, Protogeles, eu não sei como, mas eu juro. Eu juro pelo Rio Estige, que eu irei matá-lo. - Digo com a voz dura e baixa.

    Minha expressão devia expor todo o ódio que corria por meu corpo naquele instante, fazendo com que meu peito disparasse e meu sangue fervesse. Minhas mãos estavam levemente tremulas e minha respiração pesada, mas o gosto de ver sua garganta subir e descer, e o brilho misterioso de seus olhos vacilar quando ele engoliu em seco, tornou ainda mais prazeroso o momento.

- Eu deveria mandar cortar sua língua, mulher. - Ele se recompõe.

- Pode cortar. Mas eu não irei retirar minhas palavras. - Respondo.

- De qualquer forma, você estará morta em duas luas. - Ele diz.

- E você poderia estar morto nesse momento. Poderia rasgar sua garganta agora. - Respondo.

- Boa sorte com isso. - Ele diz, mas pude perceber sua respiração vacilar.

    Infelizmente, eu não seria rápida o bastante para investir contra as grades e acertá-lo de uma vez. E isso poderia me matar de imediato, ou pior, a adaga de Bayek, me deixando sem defesas. Também poderia arremessa-la, mas poderia errar, especialmente com essas grades. Não havia como atacá-lo, por mais que eu desejasse ver aqueles olhos amarelos perderem o brilho.

    Encaro então a ferida que ele voltara a segurar, seu sangue escorrendo por seu braço e manchando o manto escuro, pingando no chão e abro um sorriso sem exibir os dentes, com uma satisfação genuína por ter sido a responsável por aquilo. Ele não se esqueceria daquilo, ele ficaria marcado enquanto vivesse pela minha raiva, pela minha promessa. E eu iria mata-lo.

    Ele morde o próprio lábio inferior, apertando com força o braço ferido, me encarando com raiva. Devolvi o olhar. E ele percebeu, percebeu que eu não iria recuar, que ele não era mais capaz de me intimidar. Não havia como me ameaçar, não havia nada que ele pudesse usar contra mim.

- Você não tem poder sobre mim, vadia. - Digo. - Seu erro foi me enviar para cá, me dizer que eu tenho tão pouco tempo de vida. Você não pode assustar alguém que não tem mais nada a perder, seu tolo. -

    Ele avança mais uma vez contra a grade, emitindo um grunhido de ódio. Mantenho meu olhar cravado no dele. Não sabia o que ele possuía que fazia com que tivesse tais olhos, os boatos no palácio é que ele descendia de demônios que habitavam o oriente. Não fazia diferença agora. A raiva dele era inútil contra mim. Eu não iria recuar, e se ele quisesse que eu o fizesse, ele teria que entrar na minha cela para fazê-lo, e provavelmente sairia como um homem morto. Sorri levemente, e isso o irritou ainda mais. Aqui, eu estava completamente livre. Nada me alcançava, ninguém tinha poder sobre mim.

- Muito bem. - Ele rosna. - Já que é tão corajosa, você não vai sofrer uma simples condenação. Você vai lutar. Eu quero ver sua coragem se vai se manter quando enfrentar os gladiadores. -

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Olá pessoal! Como vocês estão? Já me perdoaram pela morte do Bayek? E então, o que tem achado até aqui? E a mudança na postura da Aurora? Como vocês acham que vai ser daqui pra frente? Ela tem duas luas...

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