XIV - Πτώση
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Aviso: Gatilho
Abuso sexual
Pedofilia
Luto
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Meu corpo doía como se todos os ataques relembrados na serie de pesadelos que tive ontem a noite. Em compensação, quando cheguei ao quarto de Drusilla, esta parecia bem melhor. Havia cor novamente em suas bochechas e seus lábios novamente se encontravam rosados. Ela agora conseguia abrir os olhos e conversar. Em silencio e com a ajuda de Aba, cuidamos de sua alimentação e a fazíamos beber agua constantemente. Os corredores retornaram a sussurrar que a irmã do imperador iria se recuperar, mas Aba ainda possuía seu estranho olhar sombrio, e de certa forma me lembrava do corvo que aparecera na minha janela ontem a noite. Eu diria que foi outro pesadelo, se eu tivesse conseguido voltar a dormir depois.
Caligula ficava o máximo de tempo ali, ao lado da irmã. Apesar de tudo que ele havia feito com ela, a forma que a machucava e os soluços que podiam ser ouvidos do corredor, e as marcas em sua pele clara... Ela o fitava com um olhar sereno, e lhe acariciava os cabelos dourados e finos. O imperador parecia exausto, e um misto de medo e preocupação tomava seus olhos inconstantes. De certa forma, parecia que ela o havia perdoado pelo mau que lhe fizera.
Um soldado então aparece na porta, dizendo que a presença do homem era requisitada junto aos senadores. O rosto de Caio então se transforma em uma carranca e todos já esperavam ele berrar algo para o homem, mas a palma da mão de Drusilla toca seu rosto em um afago, e diz para ele ir com um sorriso fraco em seus lábios. Ele então assente, deixa um beijo quase terno em seu lábio superior e sai. A irmã do imperador então me fita, e pareceu se constatar de algo. Não sei exatamente o que, mas a fez desviar seu olhar de mim. Me questiono se havia algo em comum em nosso olhar, no olhar das mulheres que foram feridas por homens próximos.
A porta então abriu-se novamente, mas quem entrou foi Agrippina, a outra imã de Caligula. Tinha o rosto mais harmónico que o do irmão, mas Drusilla possuía mais atributos graciosos. Os olhos de sua irmã eram mais escuros que os outros dois, mas algo neles me lembrava da loucura que pairava nos do Imperador, assim como ela possuía os mesmos lábios finos, e os cabelos cacheados, porém escuros como os da irmã na cama. Ela olha para nós, em seguida para a irmã, e ordena que a gente saia do quarto, disse que poderia cuidar da irmã sem nós.
Saio então do quarto e logo Aba desaparece pelos corredores. Suspiro levemente, gostaria de saber mais sobre a pequena garota, porém era impossível a seguir. Decido então retornar ao meu quarto, mas no caminho estava o maldito Cneu, com os braços cruzados e um ombro apoiado na parede. Volto meu olhar para o chão e caminho como se não o tivesse visto, torcendo para ser igualmente ignorada, o que não acontece. Ele agarra meu braço, aquele que eu segurava a bengala, mas não o puxa. Seus dedos, entretanto, se fecharam em meu pulso com uma força que eu sabia que nada adiantaria tentar o puxar de volta.
- Lucio não está mais aqui para protegê-la. - Ele diz - Então é melhor você me responder dessa vez, servus. -
O encaro, e tento puxar meu pulso de volta. Sim, Lucio não estava mais aqui, ou poderia me reclamar para o manter afastado, o que significava que eu sozinha deveria me defender do general, e do que quer que ele fizesse comigo. Ele me segura mais firme, seu aperto doía, e ele trás meu corpo para junto ao seu, e segura em meu queixo com a outra mão, mas algo em seu olhar muda, e ele ri.
- Você contou a ele, não? - Um brilho de satisfação percorre seus olhos escuros - Não devia confiar nele -
- Engraçado - O respondo, afastando sua mão do meu rosto - Foi a mesma coisa que ele me disse sobre você -
- Ele lhe vendeu ao imperador - Ele me solta
- Farias o mesmo - Retruco, e ele dá de ombros, estreitando os olhos antes de me acertar um tapa na face
Recuo, sentindo meu rosto arder e o gosto de sangue do meu lábio que se cortou invadiu minha boca. Cubro meu rosto com uma mão, me escorando na parede quando ele avança novamente contra mim e murmura:
- Não és uma mulher livre, muito menos em sua terra para falar assim. E mesmo que fosses, mulheres não devem responder aos homens quando não se é autorizado. -
Meu rosto ardia, e a pele parecia latejar contra a palma da minha mão, ali encostada protetoramente. Passo minha língua pelo lábio cortado, o que apenas faz a região arder enquanto o gosto de sangue preenchia minha boca. Passos então preenchem o corredor, e eu e o general nos viramos no mesmo instante em que o imperador para entre nós. Seus olhos azuis brilham em curiosidade enquanto ele parecia avaliar e deduzir o que havia se passado. O homem então lhe direciona uma reverencia, e eu faço o mesmo, um tanto desajeitada e insegura para afastar a mão do rosto.
- Senhor, eu posso explicar... - Começa o homem, mas Caligula o interrompe
- Cneu, se está fodendo com uma escrava minha, deve pagar por isso. E de qualquer forma, me deves 10 moedas de ouro por tê-la danificado. - Coro, porque sempre acham que eu estou dormindo com alguém como ele?
- N-Não é isso senhor... - O general arregala os olhos, mais pelo preço que lhe seria cobrado do que pela insinuação - Esta escrava está conspirando contra o senhor, junto ao seu dono, Lucio -
Arregalo os olhos, sentindo meu peito disparar e contenho a vontade de gritar, ou atirar alguma coisa na direção do maldito general. Os olhos azuis do imperador pareciam me avaliar e a situação. Ele abre um sorriso felino e me encolho levemente, enquanto ele voltava a encarar Cneu, que parecia acreditar na própria mentira. Talvez essa então fosse a disputa dos dois, talvez o homem diante de mim sempre estivera cobiçando o cargo de Senador de Lucio. E eu era seu meio para chegar a ele.
- General... Essa escrava não serve ele, serve a mim. Como ela estaria conspirando algo enquanto cuida de Drusilla? - Ele então se vira para mim, o rosto duro - E o que você está fazendo não estando no quarto dela? -
- A senhora Agrippina me dispensou, maiestas¹ - Respondo
Os olhos do imperador então pareceram escurecer, o inchaço misterioso em seu pescoço pareceu se ressaltar e ele então passa por nós em passos duros e apressados, na direção do quarto da irmã. Engoli em seco, e quando me virei o general havia desaparecido também. Solto o ar, caminhando na direção dos dormitórios quando um grito sufocado me despertou a atenção. Me viro na direção do som, arregalando os olhos ao ver que se tratava de Aba, que se debatia para se livrar das mãos de um soldado, que lhe apertava o peito e o braço.
Sinto meu estômago se revirar, podia ouvir a risada do homem que parecia se divertir com a luta da pequena garota. Caminho na direção deles, sentindo o sangue esquentar sobre a minha pele e meu peito bater acelerado conforme eu me aproximava, e o parecia não me notar. Minha mão suava, o que tornava a bengala um pouco escorregadia, mas isso não me impediu de em um impulso a enterrar no pé do homem, que imediatamente largou a pequena, e eu rapidamente a puxei para meus braços e ela logo firmou seus braços ao meu redor. O homem me encarou com ódio e se aproximou de nós. Recuei, ele estreitou os olhos, me olhando de cima a baixo.
- Deveria lhe fazer tomar o lugar dela, mas sua perna defeituosa me dá nojo - Ele rosna
Ele então se afasta, e eu me abaixo para ficar da altura de Aba, segurando seu rosto. Ela era apenas uma criança, mais nova do que eu quando fui prometida em casamento... Balanço a cabeça negativamente para repelir as lagrimas, mas quando volto a fita-la, ela parecia calma. Algo como gratidão se refletia naqueles olhos que pareciam ser antigos demais para ela.
- Você está bem? - Pergunto
- Estou, obrigada - A solto um pouco incerta, e ela me lança um sorriso indiferente - Sabe, ele não foi o primeiro, e nem será o ultimo -
Pressiono meus lábios, sentindo um peso cair sobre meu peito. Era só uma menina ainda, incapaz de se defender e um tanto conformada com a situação. Outra mulher passa, e nos diz que o imperador quer que retornemos ao quarto de Drusilla. Começo a andar com Aba, não sentindo mais a necessidade de usar a bengala, mas a carregando comigo. Aba então fita o objeto, murmurando.
- Você tem sorte, eles a evitam por causa da sua perna - Ela suspira, parecia tão cansada - Eu queria ter uma cicatriz assim para me invalidar também. Já cheguei a tentar... Mas não deu certo -
Paro de andar por um instante, a olhando por completo desejando poder fazer algo, mas ela silenciosamente dá de ombros com indiferença. Desvio meu olhar, me sentindo mal de ter algo que os afaste conhecendo a dor dela. O desespero para parar com aquilo. Engulo em seco, entrando com ela no quarto da irmã do imperador e sinto um frio me subir pelas costas. Havia algo de errado com Drusilla.
Ela estava mais vermelha que antes, não simplesmente corada, e tremia como se estivesse prestes a convulsionar. Os cantos de sua boca e as bolsas abaixo dos olhos estavam escuras e secas, seus olhos estavam amarelados e a íris escura. O imperador estava ajoelhado a sua frente, mas a pobre jovem parecia nem sentir seu toque. Me viro para Aba, e lhe peço para buscar lefkó gaïdouránkatho² e rapidamente a pequena desaparece nos corredores. Quando a mesma volta, começo a preparar um chá para a jovem efêmera e suspiro. A erva que havia pedido para que a menina buscasse era conhecida por suas propriedades curativas quase magicas. Quase todas as doenças conhecidas de causas naturais se curavam com facilidade com ela.
Isso, se o que há com Drusilla for algo natural.
Pressiono meus lábios, servindo o chá e então ajudando a irmã do imperador a tomá-lo, enquanto o mesmo a ajudava a se sentar na cama, lhe dirigindo palavras doces enquanto pedia que a mesma bebesse o chá. Eu não queria pensar que a própria irmã de Drusilla poderia ter feito algo, mas a piora da outra não era algo natural. Ela já conversava, estava descansando e já recuperava a cor, não era para ela estar assim.
A noite foi passando, e olhar para a garota era perturbador. Ela tinha espasmos, e as vezes gritava coisas sem sentido, tentando se mover na cama porém sem forças para isso, geralmente envolvendo o próprio imperador, o quanto ele a estava machucando. Sua voz estava rouca, quase desaparecida, e o imperador engolia em seco. Algo me sussurrava que não era uma simples alucinação. Era uma lembrança. Ela estava cada vez mais agitada e seus movimentos tornavam-se selvagens. Quando o delírio aparentou passar, ela menos ainda parecia estar entre nós, incapaz de focar no irmão diante dela. Ela suava muito, sua camisola estava tão encharcada que tornara-se transparente. O canto de sua boca escorria saliva, e ela não parecia sentir nada ao mesmo tempo que parecia sentir tudo.
Seus olhos se reviravam, e Caligula lhe escovava os cabelos, chorando e lhe sussurrando palavras carinhosas, que pareciam não ser ouvidos pela mulher que gritava até perder a voz. Seu olhar se perdeu, e seus movimentos foram cessando conforme seu corpo pareceu ser lançado para trás, e começar a ofegar, como se fosse difícil respirar. O imperador começou a chamar-lhe pelo nome, e a garota então desmaiou. Caligula começou a berrar por ela, lhe sacudir impetuosamente mas nada adiantou. O corpo de Drusilla amoleceu em seus braços, e a cor rosada que havia lhe dominado foi se desfazendo do seu corpo.
O mundo pareceu desacelerar, e Caligula urrava como um animal ferido e descontrolado. Ele se levanta, erguendo o corpo inerte da irmã nos braços, a cabeça dela pendia como se fosse uma boneca de pano. Seguro a mão de Aba, sentindo uma dor se instalar no meu peito, unida a uma sensação de alivio. Ao menos a alma dessa pobre mulher finalmente poderia descansar, livre dos abusos do irmão. Em contrapartida, o imperador se lamentava como se sua alma acabasse de chegar ao tártaro.
Ele clamava pelos deuses, em seguida os insultava, implorando e exigindo que sua amada Drusilla retornasse. Ele caminha com a mulher em seus braços, e todos os seguem, inclusive eu, com receio do que o homem poderia fazer. Ele então cai de joelhos na sala do trono, aninhando a irmã em seus braços e soluçando. Ninguém se atreveu a cruzar a porta ou lhe dirigir uma palavra. Ele parecia distante, inerte em seus pensamentos e lamurias enquanto acariciava o rosto pálido da única criatura que lhe despertou alguma coisa que lhe fazia bem. Não que fosse saudável ou seguro, mas ele sempre pareceu incapaz de perceber o sofrimento que a causava.
As pessoas então começam a se afastar, e faço o mesmo abrindo passagem para um senhor que trajava uma túnica dalmática³. Ele caminhava a passos lentos mas determinados, adentrando no salão e se aproximando do Imperador. Para os demais, inclusive eu, na porta parecia haver se formado uma barreira invisível, impedindo qualquer um de penetrar o espaço de Caligula e o corpo de sua irmã. A principio, o homem não pareceu notar a presença do mais velho ali, até que este o tocou no ombro, o fazendo erguer o rosto e fita-lo, mas parecia não perceber o que lhe ocorria.
- Solte-a, meu jovem. Deixe que a alma de Drusilla repouse - O homem lhe diz, sua voz calma e reconfortante, mas que pareceu incomoda ao outro.
- Não! E-ela não está morta! Ela só... Ela apenas desmaiou. Ela vai acordar - O imperador responde, sua voz diminuindo a cada palavra proferida enquanto ele voltava a olhar para sua irmã, lhe alisando os cabelos - Os deuses não podem fazer isso comigo... Não podem me tirar Drusilla. Não podem! -
Ele berra, fazendo o sacerdote recuar um passo, mas então ele se abaixa para perto de Caligula e lhe sussurra algo que não pude ouvir, mas que convence o imperador a deixar a irmã repousar. O que pareceu contrariar o sacerdote foi quando o outro se dirigiu ao trono e aninhou o corpo da amada em seu colo, beijando-lhe o rosto e afirmando que ficaria a noite com ela até que a mesma despertasse.
Aba estava parada ao meu lado, seu olhar parecia distante. Seguro em sua mão, a despertando dos próprios pensamentos e a fazendo me olhar. Começo a recuar com ela, achava melhor estarmos longe quando o Imperador finalmente percebesse as pessoas paradas na porta o olhando chocados. Logo outros foram se retirando aos poucos, como se temessem o mesmo. Meu peito estava apertado, não sabia como seria o comportamento de Caligula agora que a única pessoa que preservava o mínimo da sua sanidade havia partido.
- Você não acha melhor dormir comigo hoje? Assim nenhum homem vai lhe achar ou importunar - Me viro para a pequena garota, aflita com o que poderia estar passando por sua cabeça nesse momento
- Eu agradeço, mas duvido que algum deles faça isso hoje. - Ela responde
Assinto, desejando lhe abraçar e lhe afastar de todos esses males, mas nada mais parecia a chocar. De qualquer maneira, fomos caminhando juntas para os dormitórios. Aba mantinha seus olhos perdidos, como se estivesse vendo algo diante de si que eu não conseguia. Suspiro, pousando uma mão em seus cachos pequenos e fofos, mas de certa forma um pouco ásperos.
- O que tanto lhe aflige, Aba? - Lhe pergunto, me abaixando para a olhar - Você já trabalhava para Drusilla, está chateada por isso? -
- Não é por isso. - Seus olhos que naquele momento eu tive a certeza de que eram feitos de bronze derretido me fitaram, impassíveis - O que me perturba é que é só o começo. -
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Glossário
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✵ 1 - Maiestas - Majestade (Latim)
✵ 2 - Lefkó gaïdouránkatho - Cardo Branco (também chamado de Cardo-Santo) é uma erva que foi a cura até da peste negra, propriedades curativas dignas de um deus (grego)
✵ 3 - Dalmática - Com mangas e designada apenas a sacerdotes (latim)
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