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V - σκλαβιά


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Aviso: Gatilho
Agressão física
Menção à abusos
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Não sei quantas horas, ou até mesmo quantos dias se passaram comigo ali, trancada naquele quarto escuro encolhida na cama. Eu tinha me permitido alguns instantes de sono, até os pesadelos voltarem a me atormentar, cada vez piores, cada vez mais reais, quase como alucinações. Era como se eu já estivesse nos campos de punição de Hades¹ sendo atormentada pelo espirito de Andrik e as pragas do meu pai.

    A porta então se abriu e a luz fez meus olhos arderem. Fecho-os e cubro meu rosto, ouvindo passos para dentro do cómodo e me encolho, aos poucos me adaptando a claridade que ainda não era muita quando meu pai me agarra pelo meu cotovelo e me puxa, então agarrando meu braço e me tirando da cama aos tropeços sem dizer uma palavra, e então me arrastando para fora. Eu estava fraca demais para reagir, sem forças para tampouco falar algo.

    Ao sair do quarto cerro os olhos, enxergando manchas pretas e borrões enquanto era arrastada pelos corredores. Não por resistir, mas por estar fraca demais para andar. Ele então me arrasta pelas escadas, eu tropeçando e quase caindo a cada degrau, incapaz de me sustentar nas próprias pernas, mesmo que agora conseguindo ver as coisas normalmente. Olho ao redor, procurando a minha mãe por todo lugar mas não a vejo. Talvez ela tenha preferido ficar em seus aposentos, ou meu pai tenha a proibido de sair. Eu queria vê-la, correr para seus braços e abraça-la como se fosse a ultima vez, porque talvez fosse, eu poderia não vê-la nunca mais.

    O pensamento me fez chorar, ainda mais por haver uma grande possibilidade de se tornar realidade. Ouço meu pai grunhir, e ele então me vira para si e me acerta outro tapa, me fazendo ofegar antes de deixar escapar um soluço. Minha vida parecia ter se tornado um pesadelo interminável, só que eu não podia acordar, não era um sonho.

- Não ouse chorar. Você não é digna de pena - Ele diz

    Abaixo meu olhar para meus pés e fungo, tentando controlar o choro enquanto ele voltava a me arrastar, desta vez para fora de casa. Olho ao redor assustada, haviam dois criados atras do meu pai, os mais altos e mais fortes. Ambos homens. Eles me encaravam alertas, como se eu pudesse oferecer algum tipo de ameaça. Como se eu tivesse sequer chance. Na rua, muitas pessoas me encaravam feio, cuspiam no chão quando meu pai passava me arrastando, mas o olhar delas era direcionado a mim.

    Era como se todos soubessem o que eu havia feito, e me condenassem por isso. Eu queria chorar, gritar para todos que não era minha culpa, que fora um acidente... Eu queria provar que estava sem escolhas, eu queria dizer a verdade e mostrar que eles estavam errados e eu não era um monstro... Mas eu não tinha forças para fazer nada disso, e nem meios enquanto tropeçava pelas ruas de Atenas meus pés doendo e algumas unhas quebradas por causa do choque contra as pedras, meu sangue se misturando a areia que acumulava em meus dedos.

    Fomos nos aproximando do centro, onde já haviam homens reunidos na Ágora² , sentados nas largas arquibancadas e aguardando minha chegada. Engulo em seco. Andrik era um deles, e por isso não havia como esperar misericórdia alguma da parte deles em meu julgamento. Eu não sabia como funcionavam as leis, mas duvidava que elas fossem flexíveis com casos como o meu, com mulheres ou assassinato, mesmo que para se defender. Meu destino mais uma vez estava nas mãos dos homens, homens que não se importavam com as mulheres.

    Meu pai sobe os primeiros degraus comigo, e me solta ali, no meio de um largo pátio circular de pedra ao redor de um semicírculo onde os homens estavam sentados. Todos estavam bem vestidos, com olhares duros na minha direção e em silencio. Haviam alguns homens próximos de mim, um que me encarava e anotava coisas em um papiro com um pincel de osso, e outro diante de um palanque que deveria ser o mais importante dali, a voz final. E guardas armados com lanças e espadas em suas bainhas impedindo qualquer tentativa de fuga que eu quisesse fazer. Abraço meu corpo, encolhendo meus ombros quando meu pai aponta para mim

- Esta mulher traiçoeira teve a coragem e a audácia de derramar o sangue de um de nós! - Ele diz - Eu denuncio Aurora pela morte de Andrik, um de nossos mais jovens e importantes conselheiros. Ela confessou o ato ao ir na minha casa pedindo que eu a ajudasse a encobrir tal crueldade. E prestando meu dever de cidadão eu a trago aqui para que seu julgamento ocorra e a justiça seja feita em nome da família do rapaz -

- Stravos - Um homem chama meu pai, um brilho de curiosidade em seus olhos - Ela não é sua filha? -

- Não mais - Ele cerra os dentes - Julguem-na sem pensar em mim, esta mulher não me significa nada -

    Arfo, as palavras me cortando como facas, e o medo que me dominava era percebido por cada pessoa dali, e todos pareciam saborear isso enquanto me olhavam como uma presa encurralada, ao mesmo tempo que ódio e indignação estampava suas feições. Nenhum falou mais nada enquanto meu pai se retirava para o que parecia ser seu lugar e se sentava. Capto na multidão um olhar mais intenso sobre mim e gelo ao ver Andrik me encarando. Quer dizer, não ele, mas alguém que deduzo ser seu irmão. Ele parecia ser mais velho, e tinha os cabelos mais longos, mas seu olhar era idêntico ao que tomara as feições do meu marido quando me batera.

    Ao seu lado, estava o pai dele, cujos traços estavam possuídos por um rubor quase sobrenatural enquanto me encarava, e ao perceber que eu o fitava, murmurou uma praga na minha direção. Olho para o escriba, que anotava em silencio alguma coisa em seu papiro antes de olhar para meus pés quando o homem no centro de todos e de pé se pronuncia

- Vamos começar o julgamento - Sua voz era grave e sem emoção, mas não tive coragem de olhar em seus olhos

    Minhas bochechas esquentaram ao sentir tantos olhares sobre mim, e lagrimas solitárias escorriam por meu rosto, e rapidamente o seco, fungando e sentindo meu rosto arder onde eu havia tocado. Eu estava tão machucada, suja. Eu me sentia suja. Por dentro, por fora. Eu ainda sentia como se o suor de Andrik estivesse sobre mim, grudado ao meu corpo como os grãos de areia em meu vestido e pés. Meus cabelos deviam estar como um ninho de serpentes, e todos me encaravam com nojo, e não só pelo meu estado deplorável mas também por saberem o que eu havia feito. Parecia que havia sangue em minhas mãos, sangue dele. Mas o único sangue que manchara meu corpo, era o meu próprio.

- Stavros, quando isso aconteceu? - O homem pergunta

- Três noites atrás, parece - Ele diz sem hesitar

- E quando ela foi lhe procurar? - As perguntas continuam

- No fim da noite há dois dias - Sussurros preenchem o local, mas eu não era capaz de entender o que diziam

- E porque não a trouxe de uma vez aqui? O que fez durante esse tempo? - Ele prossegue e outros assentem, querendo saber

- Fui alertar seus padrinhos, e os de Andrik assim como sua família, e assumir os custos da tragédia - Ele prossegue firme, como se quisesse cessar qualquer duvida sobre a atitude dele.

- E o que fez com ela? - O homem repete a pergunta

- A mantive trancada para que não fugisse - Ele responde. Era como se fosse um estranho

- E ela lhe contou como agiu? - O homem questiona após afirmar sobre a resposta do meu pai

- Não, apenas disse que - Ele ri. Nessa hora eu solucei. Ele ria da minha desgraça - Ele a estava machucando e ela queria afasta-lo. Disse ter sido um acidente enquanto tentava se defender -

- Se defender do que, exatamente? - O homem questiona intrigado

- De sexo - Meu pai responde, e a arquibancada explode em gargalhadas, antes de gritar xingamentos. O homem não reage, apenas faz um sinal para que se calassem

- Então... ela o matou durante o sexo? - Ele interpela

- Eu fui na casa do meu filho - O pai de Andrik se levanta, e todos se viram para ele - Ela o acertou na cabeça com um cálice, e o deixou sangrar até a morte. E seu corpo estava da forma que ela cometeu o ato, sem o mínimo respeito, os olhos ainda abertos -

    Mais gritos, mais xingamentos. Dedos eram apontados para mim. Todos se exaltaram ali, exceto o escriba que anotava tudo e o homem que me encarava quando erguia o punho fechado, pedindo que se acalmassem enquanto eu me encolhia

- Stavros e Lacchus, vocês juram pelo Rio Estige estarem falando a verdade diante de todos? - O homem indaga

- Claro, eu juro - Meu pai responde e Lacchus, pai de Andrik o segue

- Eu também presto aqui meu juramento - Ele afirma

- Você, mulher, confirma isso? - Os homens protestam, afirmando que eu não deveria ter o direito de falar

- Foi um acidente... Eu juro. Pela deusa, pelo Rio Estige, eu só queria afasta-lo eu... não tive a intenção - Solto o ar e assinto - Mas sim, eu confirmo -

    Todos os tipos de nomes, maldições e pragas foram atiradas na minha direção, junto com objetos como pedras e sapatos. Me encolho no meu lugar enquanto o homem que ficava no meio gritava por silencio, e dois guardas se aproximam de mim e seguram meus braços, como se eu tivesse feito algo, ou pudesse vir a fazer.

- Quietos! Ela é culpada, e perante nós e aos deuses confessou. Agora é a hora de definir sua punição - Ele diz

    As mais variáveis ideia surgiram, como apedrejamento, chicotadas e afogamentos. Alguns exigiam que eu fosse torturada, outros exigiam que eu fosse despira e amarrada a um tronco em praça publica para que assim eu aprendesse a ser comida sem malcriação. Me encolho com a ideia, horrorizada e começo a chorar. Alguns apoiavam a sugestão, e o grupo cresceu ao me ver chorando. Outros diziam que nem os animais iriam me querer, me chamando de nojenta, puta feia e outras coisas semelhantes.

    Havia uma euforia em todos eles enquanto discutiam e argumentavam sobre a punição ideal, como animais ouriçados pelo cheiro de sangue. Eles queriam me fazer sofrer, ainda mais do que eu já tinha sofrido. Eu duvidava que Andrik tivesse sofrido mais do que alguns instantes de dor, e esses homens queriam retribuir com cada minuto que minha vida durasse, e se assegurar de que eu pagasse pelos meus erros, que eles alegavam ter uma justificativa insignificante, o desespero e a dor não contavam quando era com mulheres. Não quando era um deles.

    Olho para o escriba mais uma vez, ele estava concentrado em anotar todas as sugestões para que o outro homem as avaliasse e decidisse. Todos ali tinham voz, e todos tinham ideias, suas mentes viajavam para as mais profundas partes do submundo, citando punições grotescas com um prazer cruel, como se fossem o próprio Orco³ sugerindo torturas para os espíritos mais cruéis que alcançaram o reino dos mortos. Talvez lá fosse o próximo lugar que eu iria parar, para sofrer a danação eterna como julgavam que eu merecia.

    Mentalmente, rezei para Athena me ajudar, mas não tinha muitas esperanças desta vez. Talvez os deuses só atendessem aos homens, ou estavam do lado deles. Talvez Andrik tivesse a simpatia de alguns, enquanto eu parecia ser odiada por cada um deles. Ninguém ali pareceu acreditar em mim, não apenas quando disse que fora um acidente, um mal entendido, mas também pareciam duvidar completamente da minha dor e medo. Ninguém se questionava sobre as origens das minhas marcas, e se alguém o fez, deve pensar que eu tinha as merecido.

    Mulheres são vis e cruéis, por isso não podem participar daqui. São sujas, ardilosas e só fazem o mal. Diziam alguns, e mais concordavam. Como se houvesse escolha para alguma de nós. Mais dedos apontados para mim, gestos obscenos e xingamentos. Ouvindo eles parecia que meu maior erro foi ter nascido mulher. O curioso é que eles serviam a cidade de uma deusa, uma mulher que era guerreira e sábia, mas eles haviam se esquecido disso. Eles haviam se esquecido que foram gerados do ventre de uma, mas eu não; e meu pensamento justamente estava na minha mãe. Ela perdera a filha, talvez estivesse trancada como eu no quarto, com fome e sede

    Cubro meu rosto, meu peito se apertando em medo. Eu nunca mais a veria, provavelmente nunca mais veria nada, talvez nem saísse daquele lugar, e fosse morta ali mesmo. Eu até preferia, era mais reconfortante do que a ideia de continuar viva e exposta da forma que alguns queriam. Eu não queria que minha mãe me visse assim, sofresse ainda mais. Era melhor que ela simplesmente se conformasse com a minha morte sem ter que vivência-la.

    De repente, silencio se fez no local, e eu desperto dos meus pensamentos seguindo o olhar dos demais, enquanto o irmão de Andrik se levanta em silencio, seus olhos como laminas de gelo cravadas em mim. Todos o olham com expectativa, enquanto meu estômago se revirava e me abraço com mais força, temendo o que poderia vir a seguir. Eu não sabia o que ele queria, mas certamente não seria coisa boa, ele não mostrava nenhum traço de piedade, ele em muito parecia seu irmão, e provavelmente na crueldade e frieza também. Engoli em seco, eu morreria em suas mãos, ele vingaria seu irmão da pior forma que sua mente permitisse.

- Ela matou meu irmão - Sua voz parece reverberar por toda a Polis⁴ - Sabem porque?! -

    Os outros gritam barbaridades, e o instigam a continuar. Seu olhar era o único cravado em mim, enquanto os outros aguardavam ansiosos por suas palavras, por sua sentença final. Pelo meu fim. Até eu o olhava com medo e expectativa. Eu queria por um fim aquilo, e a multidão se silenciou novamente

- Ela matou meu irmão - Ele continua - Por desobediência - A multidão concorda e ele prossegue, agora olhando para o homem que estava no centro - Não quero que ela morra. - Os homens exclamam, e eu engulo em seco, o pior ainda estava por vir - Eu quero que ela aprenda a obedecer. - A multidão concorda e aplausos são feitos enquanto o velho assente, lhe dando a permissão silenciosa para aplicar minha sentença final: - Eu quero que ela seja reduzida a uma escrava. -

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Glossário
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✵ 1 - Hades - Senhor dos mortos e dono do submundo grego

✵ 2 - Ágora - Praça principal (grego)

✵ 3 - Orco - Deus grego que habita os campos das punições no submundo e tortura as almas condenadas.

✵ 4 - Polis - Cidade (grego)

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