Problemas de confiança
Faltava pouco mais de vinte e sete por cento pra concluir a transação quando a porta abriu de uma vez, me fazendo pular da cadeira.
-O que faz aqui McCann? –ele disse me encarando desconfiado.
Fiquei sem ação temendo que ele se aproxima-se e visse o computador.
-Saia da minha cadeira muleque! –esbravejou gesticulando pra que eu saísse da cadeira. Fechei o notebook e levantei indo em direção ao sofá. Ele permaneceu me encarando como quem dizia "Eu sei o que você esta aprontando cara".
-E então o que você estava aqui no meu escritório? –disse intimidador.
Pensei em uma resposta rápida por mais estúpida que fosse já seria o suficiente pra mim.
-Eu vim procurar alguma pista sobre o Haviier. –respondi sem acreditar no que eu dizia. Sério, aquilo era o melhor que eu podia fazer?
-Ah por for rapaz o que você acha que iria encontrar? O GPS que tem no dente dele? –ele riu debochado sentando no braço do sofá próximo a mim.
-Eu só queria uma forma de ajudar. –ele parou de rir e me lançou um olhar desconfiado novamente.
-Eu encontrei o corpo do Haviier hoje mais cedo. Não há o que procurar e o mais engraçado de tudo isso é que a minha intuição diz que você tem algo a ver com isso.
Filho da Puta! Como conseguiu encontrar o corpo? O penhasco não era um dos lugares mais frequentados do País, tinha algo bem errado rolando por ali.
-E como eu teria algo a ver com a morte do Haviier? Eu nem sequer o vi na noite em que ele voltou na casa.
-Essa é outra pergunta que eu não me canso de fazer, como uma pessoa consegue ser tão transparente?
-E desde quando no mundo do crime é ruim ser transparente?
Ele oscilou entre um sorriso sarcástico e um olhar raivoso. Ele não parecia tão desequilibrado quanto Scooter disse que ele havia estado nos três últimos dias. Ele parecia ter nascido de novo, um pouco mais esperto pelo jeito. Parecia mais vivo e diabólico que o normal. Não diria que me assustava, mas o velho parecia pior do que sempre foi.
-Vamos logo ao ponto McCann, o que você estava fazendo no meu computador?
-Já disse, eu estava procurando por pistas do Haviier.
-Eu não gosto de mentiras. –ele virou o corpo apoiando um braço no encosto do sofá e com a outra apontou o dedo na minha cara.
-E eu não gosto de receber ordens de filho da puta nenhum –eu havia pensado em uma resposta limpa, mas não foi bem o que a minha boca disse.
O velho rangeu os dentes puxando a gola da minha cabeça.
-Depois de tanto tempo dessa casa você já deveria saber que deve mostrar respeito a mim,moleque –rosnou como um cachorro pronto pra atacar e eu não estava diferente.
O estrondo da porta se abrindo foi seguido pelo grito agudo da Melody chamando pelo Bishop.
-Isaac –ela disse gritou assustada. O velho saiu de cima de mim na mesma hora.
-O que você faz aqui menina? –ele a repreendeu.
-Eu vim pedir uma coisa.
-O que?
Ela me encarou por alguns segundos pensando em uma resposta.
-Quero um par de botas novas.
-Um par de botas ? –ele esbravejou –Você me atrapalhou por um par de botas? Por que você não resolveu isso Scooter, é pra isso que você ainda ta aqui.
-Eu disse que queria falar direto com você, por que as botas são muito caras e só vendem em...Londres.
-Que seja, compra logo a porra dessa bota e some da minha frente. –resmungou voltando a me encarar.
-McCann!-Scooter chamou a minha atenção indicando que eu saísse da sala. –Leva a Melody até o quarto e depois cuida da compra da tal bota.
Não pensei duas vezes e saí dali levando Melody, ela fez dezenas de perguntas no trajeto até seu quarto, mas eu ainda estava em choque por quase ser pego. Eu não imaginava que isso pudesse acontecer, pelo menos não a essa altura do campeonato. Depois de derrubar todas as peças do tabuleiro o Rei acorda e tenta defender o reino. Velho desgraçado.
Passei a porta do quarto e a fechei.
-Você ta louco, as câmeras estão ligados e se alguém te ver entrando aqui ... –puxei seu corpo pra perto do meu a beijando o sentindo seus doces lábios me acalmar. Ela riu acariciando a minha nuca. –Você poderia ser menos louco sabia.
-Amar você é a maior causa da minha loucura.
-Sendo assim eu espero que você enlouqueça mais ainda. –seus lábios tocaram os meus mais uma vez.
Encostei minha testa na dela olhando seus olhos. Ela provavelmente era a única coisa pura que eu já tinha tido em toda a minha vida.
-Eu não sou o tipo de pessoa que confia nos outros, na verdade eu não confio nem na minha sombra.
-Acho que você precisa de um psicólogo –ela disse rindo.
-É sério, um dos motivos que me fazem te amar é o fato de que eu posso confiar em você. –ela acariciou o meu rosto.
-Também confio em você, eu confio a minha vida a você. –ela deu um sorriso fraco. –Então, vê se não se mata ou me deixa morrer.
-A sua fé em mim é tão encorajadora. –roubei mais um beijo e soltei seu corpo voltando na direção da porta.
-Hey Justin! –me virei a encarando.
-Fica longe do Bishop –pediu.
Saí do quarto caminhando rapidamente pelos corredores da casa, meu celular tocou enquanto descia as escadas.
-Romeu? –no primeiro momento eu não reconheci quem era, mas depois de uma risada chapada foi fácil identificar o individuo.
-Resolveu dar noticia de vida? –Lil não ligava a mais de um mês.
-Fala como se tivesse lamentado a minha ausência.
-Não lamentei mesmo. –cheguei a sala de estar checando se o velho não estava por lá.
-Você não acredita o que eu vi rondando os arredores de Detroit.
-Não seria quem?
-Eu não considero os Bripz alguém.
-Bripz? –engasguei meio atordoado com o que ele dizia. Fazia tanto tempo que eu não ouvia aquele nome, e muitos menos a tatuagem deles. A mesma que a mulher usava no hospital.
Os Bripz não eram só uma gangue, eles eram a gangue que dominava toda Michigan a mais de dez ano atrás. Eles a perderam pro Will e outros magnatas que os tiraram das cidades com poder político. Lembro que eu pedia sempre pro Tio Will me contar a história, como ele chegou atirando em todos eles e pegou Detroit pra si, como a gangue havia jurado vingança. Eles disseram que voltariam e pegariam tudo de volta, mas depois de dez anos quem acreditaria que isso pudesse acontecer.
Com tantos problemas pra resolver a última coisa que eu precisava era de um bando de ratos tentando invadir a minha cidade.
-Romeeeu? –Lil cantarolou do outro lado me chamando a atenção.
-Eles estão muito perto?
-Eu acho que sim, faz tempo que eu os vi. Eu to bem longe de casa cara.
-E só agora pensou em me avisar.
-Só agora eu pude te avisar, eu tenho o que fazer sabia.
-Ta que seja. –respondi bravo.
-Tenho que ir, em breve eu entro em contato.
-Ta bom... –saí de dentro da casa indo em direção ao jardim pra esfriar a cabeça.
-Vou te dar um conselho irmão, procura logo o Shawn e descobre o que ta rolando com as gangues.
-Vou tentar.-desliguei o celular.
Caminhei elo jardim quase que andando em círculos atrás de uma resposta, o dia que era pra ser de gloria virou uma bola de neve de problemas. Eu teria que convencer Bishop de que o que aconteceu mais cedo foi sem querer e ainda teria que arrumar um pesticida contra Bripz.
Enquanto andava pelas arvores do jardim avistei Braun sentado na mesma árvore em que eu o havia encontrado quando cheguei na casa. Ele estava pensativo.
-O que ta pegando? –por um segundo ele olhou pra mim e depois desviou o olhar na direção da casa.
-Bishop ta desconfiado e muito bravo com você. –disse vago.
-Eu sei, eu perdi a paciência e acabei desafiando a autoridade do chefe, mas eu vou falar com ele e tudo ai se resolver.
-Falar com ele? –ele riu irônico. –Se eu fosse você eu sairia por aquela porta agora mesmo e não olhava pra trás.
-Só por que eu falei merda pra ele? Ah por favor eu conserto isso fácil.
-Como se as suas lindas palavras de desculpas fossem arrancar as desconfianças do velho. –ele levantou me encarando frente a frente –Eu conversei com ele e ele acha que você pode ter algum vinculo com a morte do Haviier.
-Ele não tem como provar.
-Mas ele sabe pensar, é só juntar um e dois e dele chega a você num piscar de olhos.
-Isso não vai acontecer, calma cara. –revirei os olhos enquanto ele ficava tenso.
-Não seja tão prepotente, ele ta armando alguma coisa pra você. E o pior de tudo é que ele ta escondendo coisa que mim. –ele fechou o punho e eu dei um passo pra trás antes que ele me fizesse de alvo. –Aquele velho filho da puta ta tramando algo e ta escondendo de mim. Ele não ta só desconfiado de você o meu ta na reta também.
-Aonde você quer chegar com isso tudo?
-Que tal pra fora dos portões da casa? Você tem que sair daqui ainda hoje.
-Não vou sair –disse sério o encarando.
-Será que não consegue entender que se você ficar, ele vai te matar e você não vai ter nem como se defender?
-Eu disse não Scooter, eu não vou fugir dessa casa. Eu dei um duro do caralho pra entrar aqui e agora que eu to quase fazendo o cheque mate eu vou dar o fora e deixar aquele desgraçado vencer.
-Já que não é por você, faz isso pela Melody.
-A Melody é um dos motivos pelo qual eu não vou desistir. –Braun ergueu os braços irritado.
-Mas que porra, como consegue ser tão teimoso. Vai embora e depois volta pra buscar a Melody.
-Você mesmo disse que e o Bishop ta desconfiado de você, eu não vou deixar ela desprotegida aqui. Se for pra sair eu levo ela comigo pela porta da frente.
-Ele mata os dois. –murmurou passando a mão na cabeça.
-Vale arriscar. –ele me encarou como se fosse avançar no meu pescoço.
-Você é um completo imbecil –resmungou me deixando irritado.
-Imbecil por que? –esbravejei , eu já estava bem cansado. –Por que eu tenho coragem de fazer o que você não fez? Só por que eu prefiro arriscar tira-la dali do que ser um puto de um frouxo e assistir aquele velho desgraçado fazer o que quer com ela? Eu sou um imbecil por que eu quero fazer o que você não teve coragem de fazer? Fala porra!
Recebi um soco forte na boca e dei alguns passos pra trás meio tonto.
-Não sabe o que ta falando moleque –rosnou. Recuperei os sentidos e o acertei logo caindo no chão e rolando no chão aos socos.
-Eu nunca vou deixar a Melody sofrer o que a mãe dela sofreu. –soltei seu corpo no chão e me afastei cuspindo um pouco de sangue. –E pela última vez, não me chame de moleque.
***
Melody's P.O.V
Já era noite quando Scooter entrou atordoado no meu quarto. Estava diferente desde a última vez que o vi, dessa vez ele tinha um olho roxo e o nariz avermelhado como aquém havia levado um soco.
-Anotou a placa do caminhão que te atropelou? –brinquei fechando a porta assim que ele passou.
-Você tem que tirar seu namoradinho da casa. –despejou sem mais delongas.
-Como assim?
-Não tem muito o que explicar Melody. Você tem que tirar o Romeu daqui antes que o velho surte e mate ele. Aquele moleque filho da puta é a sua única chance.
-O que você espera que eu faça, nem sei sobre o que você esta falando. –me sentei na beirada da cama confusa.
-Escuta bem o que vai fazer –ele começou a andar de um lado pro outro na sala –Você vai até o Bishop e vai dizer que ouviu McCann conversando com uns caras estranhos no hospital.
-Vai acontecer o que se eu disser isso?
-Ele vai expulsar o ele daqui.
-Você te certeza que ele só vai fazer isso? –perguntei hesitante pois sabia do que o Bishop era capaz.
-Não, nós vamos ter que arriscar antes que ele descubra algo perigoso.
-Eu não posso trair a confiança dele Scooter –choraminguei indo até a varanda e observando o movimento.
-Você prefere trair a confiança dele ou deixa-lo morrer?
-Você não sabe o que ta me pedindo Scooter –agora era eu quem andava de um lado pro outro atordoada. –Ele vai me odiar pra sempre se eu disser algo, essa vingança é a razão pela qual ele respira.
-Ele vai parar de respirar de você não fazer algo, você é a única que pode.
-Por que eu ?
-Bishop vai ferrar comigo se desconfiar que eu tenha algo a ver com ele. Você é a nossa carta branca aqui. –Abaixei a cabeça pensando no que ele dizia. Era trair ou esperar ele morrer, o que seria menos odioso aos olhos dele? Eu não tinha ideia do que fazer, definitivamente era a primeira vez que eu tinha que escolher algo mais importante que a cor da blusa que eu usaria no dia.
As mãos do Scooter tocaram os meus ombros me causando certa tensão.
-Você vai ajudar ou vai deixar o seu namoradinho se ferrar?
Pensei, pensei, pensei e sem mais opções decidi.
-Eu vou. –Antes mesmo de sair do quarto eu podia sentir meu coração saindo pela boca.
Justin's P.O.V.
Alguém batendo feito um louco na porta do quarto me acordou. Eu havia dormido depois de limpar os machucados que a brincadeira com o Scooter havia me rendido. Puxei uma camiseta na beirada da cama e calcei o tênis.
-Já vai –gritei me levantando.
Abri a porta dando de cara com uma comissão a minha frente.
-Reunião na sala de estar agora –um dos seguranças a minha frente falou. Fechei a porta do quarto e o segui até a sala, lá estavam Bishop, Scooter, Melody e alguns seguranças.
Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas sentia que não era nada de bom.
-Repete Melody, repete o que você disse pra mim. –Bishop apontou pra mim.
-No hospital eu ouvi... –ela tava nervosa, quase chorando.
-O que ta acontecendo aqui? –perguntei confuso.
-A deixe terminar McCann, onde foi parar seu cavalheirismo. –o velho disse se divertindo com o que acontecia ou viria por acontecer.
A encarei, mas ela evitava contato visual.
-Ouvi uma conversa que Romeu teve com uns caras no hospital, ele disse pros caras que ia tomar o seu lugar. – o velho emitiu um som de reprovação e levantou me encarando.
Eu estava meio extasiado com o que estava acontecendo. Ela tinha acabado de enfiar uma faca nas minhas costelas.
-Eu realmente não consigo acreditar que fui traído por... –a minha cabeça rodava e o meu sangue fervia como uma panela de pressão enquanto o velho cacareja na minha frente. –Pegue suas coisas e suma da minha casa, você tem sorte de ter me salvado tantas vezes se não hoje eu mandava você pra uma cova e não embora.
-Mas...não! –disse pra mim mesmo encarando a Melody. –Ela ta mentindo –disse tentando me defender.
-A minha ninfetinha não mente, agora dê o fora antes que eu me arrependa de deixar você ir vivo e inteiro.
Scooter me puxou pelo braço sendo seguido por outros três seguranças. Entrei no quarto acompanhado por ele enquanto os seguranças esperavam do lado de fora.
Chutei a primeira coisa que via na frente.
-Diz pra mim que isso não ta acontecendo. –esbravejei.
-Calma ta, e sobre a Melody eu queria que você soube-se –Puxei uma mala de baixo da cama e joguei as minhas poucas coisa dentro da mesma.
-Eu não quero saber sobre a Melody, depois de hoje ela nem precisa lembrar que eu existo, por que eu não pretendo lembrar dela.
-Você ta falando isso por que ta com raiva. –puxei a mala do chão encarando ele.
-Cala a porra da sua boca –gritei querendo voltar a socar a cara dele. –Você acabou de ferrar com a sua única chance de tirar a Melody viva daqui.
-Do que você ta falando?
-Acabou –disse abrindo a porta e saindo. –Boa sorte, espero que não esteja mais aqui quando eu voltar por que eu não vou deixar um em pé.
Os seguranças me arrastaram casa a fora enquanto eu gritava mandando aqueles desgraçados me deixarem em paz. A raiva que brotava dentro de mim parecia me fazer explodir a qualquer instante. Nem mesmo o que eu sentia pela Melody superava aquilo, na verdade não chegava nem perto. Eu nunca fui de confiar de alguém e quando pela primeira vez confio eu acabo traído.
A vingança é prazerosa,e faz com que a pessoa que nos causou mal se arrependa do que nos fez. No final tudo terá valido a pena.
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