Guardada a sete chaves
Eles não encontraram nada, então continuei o trajeto seguindo uma estrada de ladrilhos que fazia algumas curvas entre esculturas de árvores em um grande jardim. Estacionei o carro em frente a casa. A lua ainda permanecia intacta, deixando aquela mansão com cara de castelo das trevas, que por sua vez era gigante, com torres enormes nas laterais e janelas que me lembravam casas medievais. Esse Isaac Bishop é mais estranho do que eu imaginei.
-McCann ! -Bishop gritou da porta da casa, me fazendo imaginar como ele chegou tão rápido ali. -Anda logo!
Segui para dentro da casa, que agora sim tinha o visual medieval mais vivo do que nunca. Até os móveis pareciam ser de outro século. Alguns quadros da corte antiga nas paredes, espadas...excentricidade passou e ficou por aqui. Passei o olho pela sala, ele já estava sentado com um copo de bebida na mão falando sobre o tal atentado há pouco.
-E foi esse rapaz que me salvou! -apontou pra mim e os olhares dos outros caras me encontraram, por um segundo eu tive a impressão de conhecer um deles...a impressão passou e eu tive certeza de quem era. O homem que me arrancou de dentro daquele galpão.
-Salvador da pátria então rapaz -ele riu me estendendo a mão.-Eu sou Haviier (ráviér) -apertei sua mão.
-Eu sou Romeu, Romeu McCann -ele sorriu me olhando um pouco mais.
-Engraçado, nós já nos conhecemos? Tenha a impressão de já ter te visto. -engoli em seco e voltei a sorrir, caralho ele não podia me reconhecer, não aqui e agora.
-Provavelmente não...as pessoas costumam dizer que eu pareço com um cantor famoso -respondi tentando ser engraçado, e por mais incrível que pareça eles riram.
Bishop fez um sinal para que eu me senta-se e assim fiz. O mesmo cara que dirigia a Ferrari agora me olhava como se desconfiasse até do jeito que eu respiro.
-Braun, leve o nosso convidado para um dos quartos de hospedes -Ele me lançou um sorriso cordial e eu segui o tal Braun. Eram dezenas de corredores e todos com câmeras de longo alcance, mais alguns corredores e Braun me deixou na porta de um dos quartos.
- Se for esperto, saia dessa casa amanhã mesmo -ele sussurrou e antes que eu pudesse responder ele abriu a porta me empurrou lá dentro e sumiu.
Observei o quarto e em segundos pude perceber duas câmeras e uma escuta, na cabeceira da cama. Infelizmente hoje eu não poderia fazer nada, mas amanhã mesmo eu daria um jeito de tirar aquelas coisas dali. Saí dali fazendo o mesmo caminho de volta. Já não tinha ninguém naquela sala, saí encontrando meu carro no mesmo lugar. Um dos seguranças se aproximou.
-O senhor tem que tirar esse carro da porta da casa. -disse autoritário.
-Onde é o estacionamento, ou garagem?
-Ali -ele apontou para um local onde haviam alguns carros parados. Entrei no carro e segui para o estacionamento. Saltei do mesmo levando minha mochila, depois de alguns passos, percebi que uma pessoa estava parada na janela da torre lateral olhando para a lua. Me aproximei do pé da tal torre observando melhor quem era. Eu não via seu rosto, mas tinha certeza de que era uma mulher e por sinal muito bonita. Um segurança mais a frente me encarou e antes que eu arranja-se encrenca, dei o fora dali. Voltei ao quarto e tentei dormir. Mas parecia impossível dormir sabendo que o homem que matou a minha mãe estava a metros de mim. Depois de longos minutos arquitetando tudo o que faria naquele dia, acabei pegando no sono...com um olho aberto e outro fechado, claro.
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Acordei com barulhos de tiro no lado de fora da casa, em segundos me pus de pé olhando pela janela, era só um idiota fazendo tiro ao alvo numa árvore. Me vesti e saí do quarto, percebendo a movimentação na casa. Caminhei calmamente pelo corredor observando as pessoas que por ali circulavam. Uma mulher ruiva de certa idade me parou no meio do corredor.
-Senhor McCann? -ela usava um uniforme vermelho de empregada.
-Sou eu. -respondi .
-Me acompanhe, o senhor Bishop gostaria de falar com o senhor -eu a segui por vários corredores até pararmos a frente de um porta marrom. Ela deu duas batidas e abriu. Era um escritório, ele estava sentado atrás de uma mesa, tragando um charuto.
-Bom dia rapaz! -disse vago, olhando pela janela.
-Bom dia -respondi me sentando, mesmo sem ser convidado.
-Vou direto ao ponto -ele se virou me fitando -Você salvou a minha vida ontem, então presumo que não saiba quem realmente eu sou. -deu um longo suspiro e prosseguiu. -Eu sou Isaac Bichop e tenho tráfico de drogas e mulheres na minha mão, não brinco em serviço. -sorriu vangloriando suas palavras -Você mostrou ser inteligente ao me ajudar ontem a noite, e eu gosto muito de pessoas inteligentes trabalhando pra mim.-ficou me encarando a espera de alguma palavra minha.
-Esta me convidando pra trabalhar com você? -assim que falei percebi um sorriso aparecer em seu rosto.
-Não vai querer que eu convoque uma reunião e te apresente a minha família né garoto. -riu sem humor -Até conquistar a minha confiança você vai estar em treinamento Braun e Connor vão te ensinar tudo o que precisa saber.
-Quem é Connor? -ele riu.
-Você vai descobrir. -deixou o charuto no cinzeiro e me estendeu a mão -Bem-vindo ao mundo de Isaac Bishop! -apertei sua mão.
(...)
Tomei café e saí da casa pra dar um role na casa. Encontrei Braun sentado embaixo de umas árvores do jardim e me aproximei. Eu preciso conquistar a confiança dele aqui dentro.
-Você deveria ter sido esperto enquanto podia. -falou enquanto eu me sentava ao seu lado.
-Talvez eu tenha ficado exatamente por que sou esperto.
-Isso é um caminho sem volta rapaz, você vai acabar saindo daqui dentro de um saco preto -praguejou arrancando algumas raízes do chão.
-Eu não tenho medo de morrer. -ele riu debochado.
-Mas deveria.
Ele se calou me deixando pensativo, por que ele sendo um dos homens do Bishop estaria me dizendo isso? Eu sei muito bem em que mato estou me enfiando, não sou tão otário assim. Alguns seguranças formaram um cordão protetor em volta de uma pessoa que passava pela estrada de ladrilhos em frente a casa, eu poderia ver nitidamente que era uma mulher.
-Quem é ela? -perguntei curioso. Braun me fuzilou com os olhos.
-Nem pense em mexer com a enteada do Isaac, ela é guardada a sete chaves aqui.
-Enteada? Mas por que ela é guardada a sete chaves?
-Não é da sua conta, mas se quiser continuar vivo fique bem longe dela -falou bravo e se levantou.
Eu ainda não entendia o porquê dessa garota ser guardada a sete chaves aqui, mas pela reação do Braun ela seria uma carta na manga pra minha vingança.
-Vai precisar que eu te levante ou vai levantar sozinho garoto? -Braun me chamou atenção e eu levantei. Detesto quando me chamam de garoto, se soubessem da metade do que fiz e já vivi, a última coisa que fariam seria me chamar de garoto.
-Aonde nós vamos? -perguntei o seguindo.
-Bishop pediu pra eu te mostrar a casa, já que fez a idiotice de aceitar ficar.
-Você fala como seu eu tivesse cometido o maior erro da minha vida -resmunguei entrando num dos corredores.
-Só não diga que eu não te avisei.
-Se aqui é tão ruim por que ainda esta aqui? -perguntei e ele me encarou.
-Primeira regra -ela alterou o tom de voz -Se ainda quiser a sua língua é melhor manter ela dentro da boca.
Depois da alteração de humor dele eu preferi continuar calado. Já estávamos no 3 terceiro corredor de quartos, aquela porra parecia duras horas. Depois de subir mais alguns lances de escadas, nós chegamos a um andar aonde todas a portas eram pretas, eu estava louco para perguntar o que era mas preferi esperar o Braun se pronunciar.
-Esse andar é o andar de comando da casa, os seguranças costumam ficar aqui -apontou para a última porta do corredor -Aquela é a sala das câmeras e escultas da casa, só entre se for chamado, os caras lá dentro não gostam de penetras.
Caminhamos por mais alguns corredores do mesmo andar, havia sala de tudo o que é possível naquela fortaleza. Subimos para o andar da torre esquerda. Assim que ele abriu a porta eu fiquei extasiado, eu nunca tinha visto tantas armas juntas, tudo bem que eu também mexia com isso, mas aquilo era inacreditável. Um andar inteiro reservado para um arsenal.
-Se continuar babando vou ter que pegar um pano, o chefe te da um tiro se sujar as armas dele com a sua baba -revirei os olhos ignorando o sarcasmo do Braun.
Ele me mostrou prateleira por prateleira e a quem elas pertenciam, a cada segundo eu me perguntava como ele poderia ter um arsenal desses em casa e nunca ter sido pego pelo sistema.
-Como o Bishop passou pelo sistema?
-O Governador é um borra botas, então ele ameaçou matar a cidade inteira se o nome dele caísse no sistema por causa das armas. -Ele fechou a porta da sala -Aqui é tudo na base do acordo ou bala McCann vai se acostumando. -ri baixo tentando não chamar atenção. Era tão estúpido dizer aqui pra mim, o prefeito de Detroit ta na minha mão a tanto tempo que ele até já aprendeu o caminho até a minha casa.
Já fazia uma horas que ele estava de guia turístico nos intermináveis corredores daquela casa.
-Ainda falta muito? -paciência não é uma das minhas virtudes.
-Estamos na torre direita, não tem muita coisa aqui. -subi três degraus e entramos num corredor pouco iluminado.
-Aqui é um lugar restrito McCann, pense duas vezes antes de subir aqui ou entrar em qualquer dessas portas.
-O que tem de mais aqui?
-Nada que seja do seu interesse. -apontou para a saída. -Depois não diga que não te avisei.
(...)
Já era tarde quando cruzei aquele enorme jardim em direção ao meu carro, como havia poucos seguranças a paisana resolvi pegar uma maleta preta que continha algumas escultas, câmeras e mais algumas coisas que eu precisaria. Fechei a porta atento ao meu redor, quando meus olhos pousaram no portão da casa percebi um carro parado, era a minha Ferrari prata, eu a reconheceria até no inferno. Quem era o filho da puta que tinha pegado o meu carro pra vir até aqui. Me escondi atrás de uma das árvores perto do portão. Mas que diabos o Ryan fazia aqui? Os seguranças estavam no portão conversando com ele. Sai de trás da árvore e levantei o dedo do meio o mais alto o possível, aquele panaca tinha que dar o fora daqui. Ele me olhou de relance fazendo um comprimento leve com a cabeça. Dei as costas o ouvindo cantar pneu, se o meu carro tiver um arranhão eu capo aquele vagabundo. Continuei caminhando até me deparar com aquela figura na varanda de uma das torres observando a lua. Mas quem diabos era? Me aproximei ao pé da torre.
Era uma garota, eu não conseguia enxergar seu rosto, mas ela parecia ter traços marcantes. Levantou a cabeça deixando a luz a lua banhar sua pele. Ela me intrigava.
-Quem é você? -perguntei tentando não chamar a atenção dos seguranças a paisana. Ela me fitou assustada.
-Você não deveria estar falando comigo.
-Por que não? -perguntei forçando um sorriso.
-Por que não. -disse antes de sumir entre as janelas da varanda que ela havia fechado.
Por que ela não podia falar comigo? alias por que eu não poderia falar com ela? Talvez ela fosse a enteada do Bishop, eu não sei, mas tenho a intenção de descobrir.
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