Carta na manga
Depois que longos minutos quebrando a cabeça por causa daquela garota eu cheguei a única e lógica razão pela qual ela não havia falado comigo, ela era a enteado do Bishop. Por que se fosse qualquer outra vagabunda ela teria dado moral pra mim no mesmo instante, a imagem do rosto dela sendo banhado pela luz da lua me deixava atordoado.
Foquei meu pensamento nas câmeras e escutas que estavam no quarto. Eu não poderia tirá-las dali, mas teria que deixá-las de alguma forma cega. Abri a maleta tirando vários objetos que eu usaria para isso, peguei um manual que Nolan havia deixado, nunca fui muito bom com câmeras. Seguindo o Manual eu desconectei alguns cabos e a luz vermelha que piscava parou, ou seja, as imagens estavam congeladas. Desliguei a escuta e vasculhei o quarto atrás de mais alguma coisa, mas como pensado já não havia mais nada.
Meu celular tocou, tirei do bolso e atendi me jogando na cama.
-Alô!
-JB, bom saber que você ainda esta vivo
-Da próxima vez que você aparecer aqui nessa porra eu juro que te deixo alejado seu idiota. –resmunguei ouvindo as gargalhados do Ryan do outro lado da linha.
-Pelo jeito você esta melhor do que eu pensei!
-Só que não!
-Já instalou as escutas?
-Não, eu vou fazer isso logo amanhã de manhã, hoje só deu tempo de conhecer a casa e tirar as câmeras do quarto que eu estou.
-E o Bishop?
-Caiu feito um patinho, ele até me convidou pra trabalhar pra ele, esta mais fácil do que eu pensei.
-Esse velho é tão previsível –rimos.
-Antes que eu me esqueça, se eu te pegar no meu carro de novo você ta fudido.
-Calma aê, foi a única chave que eu achei!
-Sem desculpas esfarrapadas, vocês devem estar fazendo a maior farra enquanto eu não to ai né!
-Até parece Justin, nós temos mais o que fazer do que folhear as suas revistas pornôs
-Cala a boca, você sabe que eu não preciso dessas merdas de pornôs.
-Desculpa aê cafetão. –ouvi passos no corredor.
-Espera, ta vindo alguém.
Bateram na porta e eu abri fitando a empregada ruiva.
-Senhor McCann, o jantar esta servido. –ela sorriu e virou de costas antes que eu disse-se algo e sumiu no corredor.
-Senhor McCann! –Ryan falou na tentativa falha de imitar a voz da mulher.
-Sua voz ficou igualzinha a dela –debochei.
-Teu cú palhaço. –respondeu irritado.
-Tenho que ir tchau.
-Vai lá filar a broca que eu vou comer uma gatinha ali.
Ignorei as idiotices dele e segui para a sala de jantar, era uma mesa enorme e vários homens estavam sentados. A maioria de terno e discutindo sobre assuntos aleatórios. Me sentei sem chamar atenção. A empregada me serviu e eu percebi o olhar do mesmo cara que havia buscado Bishop no galpão, pesando sobre mim. Ele me encarava e eu o encarava de volta tentando entender o que ele queria. Hora ou outra Bishop citava o meu nome como se estivesse exibindo um troféu, mal sabia ele que eu era o seu pior pesadelo. O jantar foi retirado e os “magnatas” foram tomar café na sala. Eu estava prestes a voltar ao quarto quando o tal homem me parou.
-Eu to de olho em você garoto!
-Em mim? Ta achando que eu sou viado, não vai rolar cara.
-Não se faça de desentendido, tem algo de errado com você e eu vou descobrir o que é!
-Connor? –Braun chamou atrás dele. –Amanhã cedo você vai levar o garoto pro tiro ao alvo.
-Meu tipo de tiro ao alvo? –os dois riram.
-Tanto faz.
-Prepare-se McCann amanhã a gente vai se divertir muito. –deu dois tapinhas nas minhas costas e saiu.
Já mencionei o quanto eu detesto quando as pessoas nessa casa falam as coisas e simplesmente saem andando.
(...)
Fui acordado pelas batidas fortes na porta, levantei irritado abrindo a porta num puxão.
-Porra eu não posso mais dormir? –gritei logo lembrando que eu não estava mais em casa e pior quem estava na minha frente era o Connor.
-Abaixa a bola pivete, você não ta em casa! –resmungou sério –Esteja lá embaixo em dois minutos.
Me vesti e desci, ser acordado sem dúvida alguma me deixa de mau humor. Encontrei aquele imbecil no hall da entrada.
-Hora de treinar a pontaria garoto.
-McCann –falei o mais alto possível.
-Tanto faz.
Seguimos por uma porta que dava no fundo do casarão, se não fosse pelas árvores mais ao fundo seria um campo limpo. Ele parou em baixo de uma das arvores e me entregou uma 38.
-Tiro ao alvo em árvore? Sério que vocês ainda fazem isso?
-Tragam o defunto! –gritou me ignorando.
Um dos seguranças veio trazendo um homem com um saco preto no rosto, o encostou na costa de uma árvore e o amarrou.
-Esse é o seu alvo!
-Ele ta morto? –perguntei levantando a arma.
-Não, mas você vai terminar de mata-lo. Quero três tiros garoto. –ficou ao meu lado. –Perna, peito e cabeça.
Não vou me fazer de puritano e dizer que isso é a coisa mais terrível que vi, pois não era, mas ainda parecia cruel. Eu não sabia quem era e nem por que estava ali, eu não via seu rosto, e sabia que ninguém mais o veria. Apertei o gatilho três vezes, cada tiro aonde Connor havia ordenado.
-Boa pontaria McCann –fez um sinal com a cabeça. –Agora repete.
No mesmo tempo que eu me sentia o fodão por acertar tiro por tiro e ouvir Connor dizer que eu estava indo bem, eu me sentia estranho por estar treinando em um cadáver. Aquele “treinamento” me fez Lembrar o dia em que o meu pai, Will, me levou pra comprar a minha primeira arma.
Flashback on
-Vamos lá garotão, não é todo dia que a gente faz 14 anos –Will pigarreou pulando do carro e saindo do carro acompanhado por Justin.
-Eu posso escolher qualquer uma? –Justin se debruçou sobre a vitrine da loja que haviam acabado de entrar.
-Claro que pode! –Will deus dois tapinhas encorajadores nas costas de Justin.
O garoto passou os olhos atentos até encontrar a arma que fez seus olhos brilharem, o dono da loja tirou-a da vitrine e entregou ao garoto. Era uma pistola Taurus PT 100 banhada em ouro.
-É linda –os olhos do garoto brilharam.
-Antes de levar vamos fazer um teste –O dono da loja os levou até os fundos do estabelecimento. Lá havia uma sala própria para treinos de tiro, idêntica a que Justin havia ido com Will meses atrás quando aprendeu a atirar.
Justin colocou o óculos e o tapa ouvido. Apontou a arma na direção do boneco no meio da sala.
Antes de tomar distância Will aconselhou Justin.
-Mire pequeno e erre pequeno.
Ele deu um passo pra trás e Justin apertou o gatilho, primeiro tiro fora do alvo, segundo tiro na costela do boneco, terceiro tiro certeiro na cabeça do boneco.
Ele abaixou a arma com um sorriso no rosto.
-Muito bem garoto! Agora vamos batizar a sua arma! –Will gritou se aproximando de Justin.
-Que tal Sun, por que ela é dourada como o sol. –Will sorriu em aprovação.
Flashback off
-Até que você não atira tão mal assim McCann! –Os seguranças soltaram o homem da árvore o seu corpo esburacado caiu. Agora ele era apenas mais um homem ao chão.
-Quem era ele? –perguntei entregando o seu 38 de volta.
-Um traidor –me lançou um olhar intimidador –É isso que acontece com os traidores aqui dentro.
-Justo! –tentei parecer compreensível.
(...)
Abri a maleta preta dentro do quarto tirando uma micro câmera e uma escuta minúscula. Guardei-as dentro do bolso da calça e saí do quarto. Passei pelo corredor que dava até a sala e vi Bishop sentando conversando com Haviier. Seria o meu momento de sorte, entrar no seu escritório e instalar meus brinquedinhos. Fiz o percurso até o escritório dele sem chamar atenção, tentei passar nos pontos das câmeras até chegar à porta. Debrucei o corpo sobre a porta e a forcei tentando não fazer barulho. Fechei a porta atrás de mim observando o escritório, ele parecia mais excêntrico desde a última vez que entrei aqui. Tirei a micro câmera do bolso e a posicionei entre os livros de uma prateleira na lateral do escritório, mas imagens capturariam tudo de perfil.
Tirei as escuta do bolso e comecei a instalar embaixo da mesa, senti meus dedos coçarem quando vi um notebook em cima da mesa, sem dúvida alguma ele seria uma mão na roda pra mim. Tentei me concentrar e terminar logo com a instalação do microfone, aquela porra não queria se fixar embaixo da mesa.
Assim que dei um empurrão prendendo ele de vês embaixo da mesa, a porta foi forçada. Não pensei duas vezes e me joguei em baixo da mesa. Passos e mais passos em volta da mesa, eu tava com o coração pra sair pela boca.
-Isaac meu camarada, nós temos que pegar aquelas drogas logo, quero um carro novo –uma voz que eu já conhecia resmungou, era Haviier.
-Muita calma nessa hora –Bishop gargalhou –Você vai ter seu carro meu camarada, mas eu quero as coisas bem feitas, você sabe que eu detesto erros.
-Os homens daqui fazem isso tão bem quanto respirar, não seja tão cuidadoso com essas coisas. –De baixo da mesa eu podia ver a sombra de Haviier se movendo e encostado na frente da mesa. –Além do mais se algo der errado, não é você que se ferra na história mesmo.
-Mas uma carga perdida é muito pra mim, você sabe não é só pelo dinheiro.
-Ah claro, pra sustentar o seu vícios –eles gargalharam. Essa havia sido a conversa mais patética que eu ouvi em meses.
-Connor vai comandar a próxima transação, ele esta mostrando ser um homem de confiança.
-E o McCann…?
-O que tem ele?
-Vai junto na próxima ação?
-Mas é claro, é bom ele ir se acostumando com os negócios por aqui, se ele quiser ficar claro.
-E você acha que ele vai desistir? –Bishop riu.
-Tenho quase toda a certeza, Connor me disse que ele ficou assustado com um difundo que eles usaram pra tiro ao alvo. –Haviier riu –Ele é só um garoto brincando de bandido, logo logo ele desiste.
Meus pêsames Bishop, a palavra desistir não existe no meu vocabulário.
Depois de quase meia hora conversando eles saíram do escritório, saí debaixo daquela mesa e cruzei os corredores até o quarto podendo finalmente respirar aliviado. Eles estão muito enganados se acham que eu vou desistir, eu não saio dessa casa sem me vingar daquele desgraçado. Chutei a quina da cama pra descontar um pouco da minha raiva, não bastava entrar no escritório os filhos da puta ainda falavam de mim nas costas.
Peguei o notebook que estava dentro da maleta que veio as escutas, conectei a câmera e a escuta que eu havia colocado no escritório. A imagem estava um pouco embaçada e eu não conseguia ouvir som algum, não havia ninguém na sala. Fechei o notebook e saí do quarto levando a chave do carro.
Abri a porta do carro e tirei um maço de cigarros do porta-luvas, a tensão tinha me dominado e aquilo seria a única coisa a me acalmar. Pisei fundo no acelerador assim que passei pelos portões, dei uma tragada forte, liberando um perfeito anel de fumaça enquanto eu voava no asfalto até a cidade vizinha, Detroit a minha casa.
Depois de meia hora na estrada, estacionei no jardim de casa e entrei. Fui direto pro meu escritório dando de cara com Lil sentado na minha cadeira, ele segurava uma garrafa de bebida na mão direita e acariciava o corpo de vadia loira (e gostosa) em seu colo.
-O gato sai e o rato faz a festa! –disse entrando.
-E ai Justin! –ele fez um sinal com a mão ocupada –Gata esse é o meu irmãozinho Justin –apontou pra mim –E essa é a...a...qual é o seu nome mesmo gata? –A garota levantou do colo de Lil e andou até mim, parando escorada no meu ombro.
-Eu sou Raquel –deu um sorriso sexy molhando os lábios.
-Qual é Raquel, eu pensei que a gente tivesse curtindo uma –Lil reclamou batendo a mão na mesa.
-Desculpa Twist, mas o patrão tem a preferência. –eles se entreolharam e eu pude ver o momento dele pular no pescoço dela.
-Da o fora vadia! –disse calmo enquanto ela saia batendo a porta do escritório. –E você, vaza da minha cadeira.
-Cadeira do Will, meu tio –resmungou levantando.
-Eu pensei que nós estivéssemos conversados sobre isso Lil.
-Tanto Faz, to pouco fudendo pra você e a por.. –Ryan entrou empurrando a porta e se sentou na minha frente.
-Interrompi alguma coisa? –perguntou rindo.
-Tinha que ser –ouvi Lil sussurrar enquanto puxava a cadeira e me sentava. Como era bom me sentir no poder e não como mais um subordinado do Bishop.
-Cadê o Nolan? –perguntei abrindo uma das gavetas encontrando um pacote com um pó branco.
-Ta vindo. –Olhei pra cara de pau do Lil, quantas vezes eu já não tinha dito pra aquele imbecil não deixar as porcarias dele jogadas no meu escritório, mas só aprende na base do esporo. Nolan entrou na sala e os três se sentaram na minha frente. Despejei tudo o que eu tinha visto e ouvido dentro da casa, sem deixar faltar um detalhe, nome por nome e todas as caras que eu via por ali, o meu tour e pontos que achei importantes.
-Além disso –respirei fundo –Tem uma mulher, uma garota eu não seu bem quem ela é, mas ela vive trancada naquela casa.
-Carta na manga? –Nolan disse como se lesse meus pensamentos.
-Exatamente, eu estava pensando em usá-la pra algo, mas o que?
-Você pode usa-la pra conseguir alguma informação. –Lil deitou a cabeça pra trás, a situação dele não era das melhores –Morando naquela casa sem dúvida ela sabe de alguma coisa.
Eles falavam e falavam, mas o que realmente havia me interessado tinha sido a ideia de Lil, eu precisava de informações e se ela tivesse essas informações seria bem fácil pega-las. Eu não mediria esforços para ter o que eu queria na palma das minhas mãos.
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