Capítulo 6: encantador. **
i wish, i wish, i wish i found love
***
Narrado por Julian.
Pisquei várias vezes, tentando processar a sugestão de Romeo. Minha mente girava, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir.
— Desculpe? — perguntei, a confusão evidente em minha voz.
Romeo hesitou por um momento, sua confiança habitual vacilando brevemente antes de se recompor.
— Um encontro. — ele esclareceu, sua voz firme apesar do nervosismo que percebi em seus olhos. — Você sabe, sair juntos, comer algo, conversar.
Senti meu ceticismo crescer.
— Um encontro? — repeti, minha voz carregada de desconfiança. — Isso é algum tipo de brincadeira ou aposta entre amigos?
— Não! — Romeo exclamou, parecendo genuinamente ofendido. Seus olhos se suavizaram um pouco quando ele continuou. — Olha, eu sei que os Montéquios e os Capuletos tiveram suas diferenças no passado, mas nunca foi pessoal.
— Não estou falando de rivalidade. — retruquei secamente. — Estou mais preocupado com a possibilidade de um crime de ódio.
Percebi que minhas palavras soaram dramáticas, mas desde que me descobri gay, situações como essa me deixavam apreensivo. Meus piores pesadelos eram feitos disso: ser convidado para sair por algum cara e acabar em um desastre digno do filme "Carrie, a Estranha".
Romeo me olhou com uma mistura de confusão e frustração.
— Se eu quisesse te punir por ser quem você é, não acha que eu já teria feito isso logo após o beijo?
Dei de ombros, sentindo-me subitamente vulnerável.
— Como eu poderia saber?
***
Narrado por Romeo.
As coisas não estavam indo como eu esperava, e definitivamente não como Ben havia prometido. Meu amigo, convencido e egocêntrico, acreditava que gestos românticos nunca falhavam. No entanto, ele só tinha experiência com garotas e não compreendia os sentimentos de um adolescente gay, sobrecarregado pelo mundo e desgastado pelo cinismo de homens com três vezes a sua idade.
— Você não acha que Tyler se vingaria de mim se eu fizesse algo para te machucar ou te humilhar? — argumentei, tentando mostrar a Julian que minhas intenções eram genuínas.
Estava prestes a mencionar as ameaças que Tyler já havia feito contra mim, mas me lembrei do conselho de Ben sobre ser romântico. Considerando que Ben costumava brincar com os corações de algumas garotas, ele não parecia o melhor conselheiro nessa situação.
Julian me olhou com uma expressão enigmática.
— O pior já foi feito. — ele respondeu com um toque de amargura em sua voz. Percebi que ele estava sendo cuidadoso, diferente de como estava antes do beijo. A defensiva em sua postura era palpável.
— Está bem. — cedi, sentindo que precisava mudar de tática. — Mas não é como se eu fosse o único correndo riscos aqui. Você também tem munição para se vingar, se quiser.
Fiz uma pausa, percebendo como isso tinha se tornado uma espécie de negociação de guerra.
— Conversamos a noite toda, e o cara com quem você estava na varanda sabia que era eu. Você poderia espalhar que nos beijamos, o que me afetaria bastante e arruinaria as coisas com Tyler. — acrescentei rapidamente. — Mas acredito que você não faria isso de propósito. Eu só quero te conhecer melhor.
— Por quê? — Julian perguntou, sua voz uma mistura de curiosidade e desconfiança.
Respirei fundo, decidindo ser honesto.
— Antes de te beijar, eu disse que estava começando a gostar de você. E enquanto conversávamos a noite toda, percebi que realmente quis dizer aquilo. — fiz uma pausa, reunindo coragem para continuar. — E sobre o beijo... foi um dos melhores que já tive. Você sentiu isso também, não é?
Olhei para ele com esperança, rezando para que não fosse necessário ser mais explícito. Para meu alívio, Julian pareceu entender.
Abaixando os olhos, ele murmurou com relutância:
— Sim, eu senti.
Um sorriso de alívio se espalhou pelo meu rosto.
— Ótimo. — disse, sentindo minha confiança retornar. — Então, amanhã às seis?
Julian me encarou por um momento, seus olhos procurando algo nos meus. Lentamente, um sorriso começou a se formar em seu rosto.
— Certo. Amanhã às seis.
***
Narrado por Julian.
Minha vida deu uma guinada de 180 graus em menos de 24 horas.
Ontem, eu era apenas mais um garoto aleatório com um stalker peculiar e amigos um ano mais velhos. Hoje, embora externamente eu pareça o mesmo, estou prestes a encontrar o cara mais atraente da cidade. E, surpreendentemente, tenho esperança de que isso não terminará em desastre.
Tomei precauções, é claro. Nathan está de sobreaviso, com instruções para acionar Tyler se eu não der sinal de vida em uma hora. Tyler, apesar de ser um idiota insuportável, é minha melhor aposta em situações críticas. Ele não hesitaria em caçar Romeo e possivelmente sua família inteira, dependendo do seu nível de fúria.
Espero, do fundo do coração, que não seja necessário.
O convite de Romeo pelo Facebook esta manhã me pegou de surpresa. Seu plano: nos encontrarmos no lago da cidade, um local isolado e praticamente abandonado. A escolha me deixou apreensivo - perfeito para uma emboscada, pensei com um arrepio. Mas, considerando nossa situação - escolas rivais, ambos no armário (bem, eu com certeza; quanto a Romeo, ainda não tenho certeza) - um encontro convencional estava fora de cogitação.
Ainda assim, não pude evitar o frio na barriga ao me dirigir ao local.
***
Narrado por Romeo.
Sei que estou apressando as coisas, mas manter esse encontro em segredo é crucial. Ben e Mat ainda estão no escuro, embora eu suspeite que Julian tenha compartilhado algo com o cara da varanda.
Percebi o receio de Julian quanto a possíveis preconceitos da minha parte. Ele não precisa se preocupar. Nossa cidade é surpreendentemente tolerante - as pessoas geralmente mantêm suas opiniões para si. Se há algum preconceito, é mais relacionado à rivalidade escolar do que qualquer outra coisa.
Mas entendo perfeitamente por que Julian ainda não se assumiu. Numa cidade pequena como a nossa, obcecada com a vida dos adolescentes, seria como detonar uma bomba. Mesmo sem reações negativas diretas, a pressão seria intensa. Sei que enfrentarei o mesmo dilema quando finalmente entender melhor meus próprios sentimentos.
***
Narrado por Julian.
— Oi. — balbuciei, parando a alguns passos de Romeo. Ele estava de costas, contemplando o lago, mas se virou rapidamente ao ouvir minha voz.
Seu sorriso deslumbrante dissipou parte da minha tensão.
— Oi. — respondeu ele, dando um passo hesitante em minha direção. — Como você está?
Examinei-o discretamente, em busca de qualquer sinal de perigo. Sua camiseta branca de mangas curtas revelava braços bem definidos e uma pele levemente bronzeada. Nada que sugerisse más intenções.
— Estou bem. — respondi, tentando parecer mais confiante do que me sentia. A luz do entardecer realçava suas feições, tornando difícil manter o foco na conversa. — E você?
— Bem... um pouco nervoso, na verdade. — ele admitiu com um sorriso tímido que fez meu coração acelerar. — Nunca fiz isso antes. Digo, com outro garoto.
— Também estou nervoso. — confessei, tentando retribuir o sorriso. — A menos que você conte fugir de Liam como um encontro.
Romeo relaxou visivelmente com minha tentativa de piada boba.
— Aquele cara é realmente estranho. Já pensou em denunciá-lo? O que ele faz é praticamente assédio.
Lancei-lhe um olhar irônico.
— Diferente de invadir o jardim de alguém e se recusar a sair sem marcar um encontro?
Ele pareceu surpreso por um instante, mas logo caiu na risada.
— Gosto de como você inspira perseverança.
— Sorte a minha. — retruquei, sentindo o gelo entre nós derreter.
— Vamos. — disse ele, indicando o caminho. — Meu carro está aqui perto.
No trajeto para St. Peters - a cidade vizinha, conversamos sobre nossas aspirações futuras. Romeo mencionou seus planos de estudar na UCLA.
— Califórnia? — exclamei, impressionado.
Ele assentiu, sorrindo.
— Pena que não posso ir mais longe, mesmo que tente.
— Parece perfeito. — comentei, uma ponta de inveja em minha voz.
— E você? Já pensou no que quer estudar?
Dei de ombros.
— Ainda não tenho ideia. Não sou muito bom em nada específico.
Romeo franziu as sobrancelhas por um momento.
— A UCLA tem um ótimo programa para estudantes LGBT. Talvez você devesse dar uma olhada.
Joguei um guardanapo nele, rindo.
— Talvez você devesse tentar também, já que é novato nisso.
— Você tem mais experiência que eu. Ponto para você. — ele concedeu com uma careta cômica. — Mas sério, deve haver algo que você goste de fazer. O que te interessa?
— Ler, assistir séries, dar umas voltas... coisas normais. Tenho dezesseis anos, sou naturalmente apático. — brinquei.
Romeo pareceu pensativo por um momento.
— Já considerou Direito? Você poderia lidar com casos de assédio, enfrentar caras como Liam.
Ri da sugestão, achando a ideia um tanto exagerada. A lei raramente punia pessoas como Liam, afinal. Mas mais tarde naquela noite, deitado em minha cama, a ideia continuou a rondar meus pensamentos.
Talvez Romeo tivesse visto algo em mim que eu ainda não havia percebido.
***
Narrado por Romeo.
— Não vou deixar você ir para casa daqui do lago sozinho. — afirmei com determinação, minha voz não deixando espaço para argumentação.
Tínhamos discutido isso desde que saímos do restaurante. A tensão entre nós era palpável, crescendo a cada momento. Cada vez que olhava para Julian, sentia uma atração magnética, lutando contra o desejo de parar o carro para que pudéssemos nos beijar ali mesmo.
— Mas já está tarde, e a sua casa fica longe daqui. — insisti, embora minha resistência estivesse enfraquecendo.
— Eu sei, mas se alguém nos ver, estamos ferrados. — ele retrucou, olhando ansiosamente através do para-brisa, procurando por qualquer sinal de perigo.
Revirei os olhos, um sorriso brincando em meus lábios.
— Deixar você em casa é muito mais fácil de explicar do que se fôssemos vistos juntos. Você poderia dizer que estava pedindo carona, e eu parei antes de perceber que você era um Capuleto.
— Encantador. — ele respondeu, não conseguindo conter um sorriso irônico.
Quando parei em frente à casa de Julian, senti um misto de alívio e decepção. Parte de mim queria que a noite nunca acabasse.
— Hm, obrigado pelo jantar e pela conversa. — Julian murmurou, sentindo-se subitamente tímido.
— De nada. — respondi com um sorriso, tentando parecer mais confiante do que realmente estava. — Eu me diverti muito.
— Eu também... — ele hesitou, brincando com o cinto de segurança antes de tirá-lo.
— Então, hm... acho que nos veremos por aí?
Eu apontei para meu celular no painel.
— Eu tenho o seu número agora. — eu o lembrei, meu sorriso se alargando.
— Verdade. — Julian abriu a porta e balançou as pernas para fora, antes de se virar, tomado por uma súbita onda de coragem. — Ah, mais uma coisa.
Julian se inclinou e me beijou de repente, surpreendendo a nós dois. Deixei escapar um som de surpresa antes de envolver meus braços ao redor do seu pescoço, puxando-o para mais perto. O beijo foi intenso, apaixonado, nossas línguas dançando em perfeita sincronia. Nenhum de nós querendo ceder o controle.
Quando finalmente nos separamos, ambos ofegantes, nossas testas quase se tocando, senti meu coração batendo freneticamente.
Abri os olhos para encontrar Julian me olhando com uma intensidade que me deixou sem fôlego. Sorri, sentindo-me mais confiante do que nunca.
— É melhor você me enviar uma mensagem. — Julian sugeriu, antes de sair do carro e fechar a porta.
***
Narrado por Julian.
Caminhei pelo jardim em direção à minha casa, minha mente repassando cada momento do encontro, sonhando com a possibilidade de outro. No entanto, meus pensamentos foram abruptamente interrompidos quando parei em frente à varanda e me deparei com meu primo Tyler, em estado de choque, um cigarro esquecido entre seus dedos.
O mundo pareceu congelar naquele instante, e eu soube que nada seria o mesmo dali em diante.
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