and all i need is to be struck by your electric love

***

Narrado por Julian.

Acabei tendo que usar meu smoking, afinal. Depois que Rosália me entregou seu convite, desistir simplesmente não era mais uma opção. Estávamos todos numa fase de fazer qualquer coisa para tentar agradá-la, ainda nos sentindo mal pela sua situação. Ver Nathan e eu nos preparando para o baile parecia animá-la um pouco.

Ela até riu quando meu pai apertou demais a gravata borboleta de Nathan, fazendo-o engasgar e agitar os braços freneticamente. Por sorte, ele se recuperou disso. Após esse desastre, eu decidi ir me arrumar sozinho no meu quarto e enfrentar minha própria gravata.

Diante do espelho, eu percebi que não estava nada mal. Na verdade, eu estava ótimo. Meu cabelo castanho escuro caía delicadamente de um lado, em vez do habitual ninho de pássaros. Minha pele estava perfeita, radicante, mantendo sua palidez característica. De alguma forma, o smoking realçava meu físico magro, dando a impressão de que eu até mesmo tinha algum corpo.

Embora todo esse processo de me arrumar para um baile que nem era meu fosse surpreendentemente agradável, uma nuvem escura pairava sobre minha cabeça: Liam Parker, que provavelmente me encurralaria se tivesse chance.

Me pego pensando, se fosse qualquer outra pessoa, talvez eu ficasse lisonjeado com a atenção. Afinal, eu não era exatamente o cara mais popular ou bonito, capaz de rejeitar facilmente qualquer interesse romântico. Na verdade, se qualquer outro cara me desse atenção como Liam, eu ficaria em êxtase. No entanto, Liam era cinco anos mais velho, um tanto pegajoso, estranho, e sua voz me dava arrepios. Não quero parecer superficial, mas não o achava atraente e não conseguia ignorar esses detalhes. Ser gay e tímido não significa que devo me contentar com qualquer pessoa que demonstre interesse. Mas também não esperava que alguém como Romeo Montgomery ou qualquer cara incrivelmente bonito desta cidade olhasse para mim. Sou realista e sei que não sou uma versão masculina da Cinderela. No entanto, também não queria ficar com alguém que me assustava.

Refletindo sobre isso, senti uma leve dor de cabeça e decidi ir até a varanda. Abri as portas francesas e saí para pegar ar fresco. O crepúsculo pintava o céu com tons de laranja, rosa e roxo. Algumas estrelas já cintilavam, e a lua fazia um esforço tímido para aparecer.

Ouvi minha mãe gritar meu nome do pé da escada.

— Julian! Foto! — ela exclamou animada. Eu suspirei, resignado.

Havia algo especial no ar naquela noite, algo que me fazia sentir bem comigo mesmo. Antes de voltar, fechei as portas da varanda e dei uma última olhada no espelho. Permiti-me sorrir. Eu parecia bem, sentia-me bem, e havia magia no ar. Quem se importava com Liam? Eu estava decidido a me divertir no baile, com ou sem ele por perto.

***

Narrado por Romeo.

Caminhava pela calçada naquela noite, inquieto com minhas escolhas. Vestia um smoking preto, com uma máscara pendurada desajeitadamente na cabeça, fazendo meu cabelo parecer desalinhado. Ao meu lado, Ben avançava confiante, exibindo seu impecável smoking e carregando sua máscara displicentemente.

— Cara, tem certeza disso? — questionei, hesitante.

Ben sorriu presunçosamente.

— Claro que tenho. Duvida da minha habilidade com as mulheres?

Revirei os olhos, relutante em admitir que ele tinha razão. Ben era bom com elas, enquanto eu me sentia inseguro.

— Com garotas em geral, não. — admiti. — Mas duvido que funcione igual com as da Capuleto, especialmente com toda a atenção que dão a qualquer Montéquio que ousa aparecer no baile deles.

Ben suspirou, desapontado com minha falta de fé.

— Estaremos usando máscaras. — explicou ele pacientemente, balançando a sua na minha direção. — Elas não precisam saber que somos da Montéquio. Só precisam saber que somos caras atraentes que perderam os convites.

Sorri, mas ainda não estava convencido.

— E que nomes usaremos? Eles conhecem todo mundo do último ano; vão perceber que não somos estudantes só pela voz.

Ben deu de ombros, determinado

— Confia em mim. Eles serão como marionetes nas minhas mãos, prometo.

Concordei, optando por não comentar mais.

— E quanto a Hayley? — perguntei de repente.

— Ela será apenas meu par para o baile, não minha namorada. — respondeu Ben, sem rodeios. Samantha desistiu de ir com ele depois que Hayley jogou pudim em seu cabelo durante o intervalo. Ben considerou o gesto de Hayley válido e a convidou no lugar de Samantha.

— Não entendo por que as garotas te amam tanto. — comentei, sarcástico. Hayley estava com o coração partido, mas isso não era novidade. Ben sempre frustrava suas esperanças nos últimos três anos, e se ela ainda não havia aprendido a lição, não havia muito que eu pudesse fazer. Embora, secretamente, eu suspeitasse que Ben gostava dela; ele simplesmente odiava admitir e deixar o orgulho de lado.

— Estamos chegando. — Ben anunciou, e eu olhei à frente, percebendo que estávamos a meio quarteirão da Escola Capuleto.

Carros estavam estacionados por toda parte, luzes brilhantes, portas abertas. Alunos de smoking e vestidos de gala, todos mascarados, subiam os degraus da entrada principal. Ben e eu ajustamos nossas máscaras, trocamos olhares apreensivos e, por fim, encolhemos os ombros e avançamos em direção ao edifício.

***

Narrado por Julian.

Nathan e eu chegamos à escola assim que o local começava a se encher de estudantes ansiosos. Alguns permaneciam em seus carros, aproveitando as bebidas alcoólicas "emprestadas" dos pais, enquanto outros já adentravam o ginásio. Nathan, sem par, havia insistido em me oferecer seu segundo convite nos últimos dias, sugerindo que eu convidasse algum garoto da minha turma. A cada menção, eu o encarava incrédulo, como se ele tivesse enlouquecido, e ele logo desistia.

Juntos, entramos no ginásio e nos aproximamos da mesa de recepção, onde uma garota conferia os convites e marcava nomes na lista. Ela era uma das típicas integrantes do comitê de formatura, dedicadas a tornar o baile o evento social mais importante do ensino médio.

— Oi, Julia. — Nathan cumprimentou alegremente, entregando seu ingresso. A garota de óculos, que eu mal reconhecia, respondeu:

— Olá, Nate. — ela consultou a lista e marcou o nome dele.

Nathan hesitou por um momento.

— Vejo você lá dentre?

— Claro, prometo que não serei invisível. — ela brincou timidamente.

— Então, pode me guardar uma dança? — Nathan pediu, surpreendendo-a.

— Ah, sim, claro. — ela respondeu com um sorriso fraco antes de se virar para mim. — E você, convite?

Entreguei o convite de Rosália, e Julia franziu a testa, confusa.

— Desculpe, deve ser sua máscara, não consigo te reconhecer. — disse Julia. — Qual é seu nome?

— O convite está em nome de Rosália Laurent. — respondi, ciente do risco de ser expulso.

— Ah... — Julia murmurou, duvidosa. Porém, Nathan colocou o braço em volta de mim e disse:

— Vamos lá, Rosália. — Julia riu e riscou o nome de Rosália da lista.

***

Narrado por Romeo.

— É ela! — exclamei para Ben, animado.

— Sério, cara? Sua garota parece um cara, ou é impressão minha? — Ben comentou, e eu o acotovelei. Ouvimos Rosália entregando o convite à recepcionista, e seu par a abraçou, levando-a para dentro.

— Por que ela está de smoking? — Ben perguntou. — E o cabelo dela está curto. Talvez ela seja lésbica, cara.

— Não pode ser, aquele cara é o par dela? — questionei-me. Ela parecia diferente. O cabelo era mais longo antes, e ela parecia mais feminina. — Seja qual for a situação, ela está claramente passando por um momento difícil. Pode ser uma crise de identidade. — argumentei, determinado a prosseguir.

Ben balançou a cabeça, preocupado.

— Tem certeza de que quer se meter nisso? — dei de ombros.

— Tenho que tentar. Não consigo tirá-la da cabeça.

Ben aceitou minha loucura e se dirigiu à recepção com uma confiança que eu sabia ser falsa.

— Olá, rapazes. — a garota bonita nos cumprimentou. — Convites?

Ben iniciou sua tática de sedução, sentando-se na borda da mesa e inclinando-se para ela com um olhar malicioso.

— Então, infelizmente, perdemos nossos convites. — ele disse, tentando se safar. Mas sua técnica falhou.

— Sem problema. — a garota respondeu, impassível. — Tenho uma lista de nomes aqui. Desculpem, não reconheço vocês com as máscaras. Quem são vocês mesmo?

— Engraçado, também não consigo te reconhecer, e você nem está de máscara! Você está linda nesse vestido, não deveria estar aqui cuidando dos convites. — Ben tentou com um elogio fraco, mas conseguiu arrancar um sorriso dela.

— Obrigada. — ela disse. — Sou Julia. E vocês são...?

Suspirei, isso não estava nos levando a lugar nenhum.

Ben deve ter percebido minha impaciência, pois se afastou de mim. O olhar de Julia o seguiu, e assim que percebi que ninguém prestava atenção em mim, aproveitei para deslizar para dentro do ginásio.

***

Narrado por Julian.

— É muito injusto da sua parte não ter convidado ninguém. — repreendi Nathan assim que entramos, certificando-me de que Julia não podia nos ouvir. — Há garotas como ela que não foram convidadas e podem se sentir mal. Você é bom com as garotas e se importa com elas.

— Eu pedi para Julia dançar comigo, não foi? — Nathan se defendeu, nos levando até a mesa de refrescos.

Estava prestes a responder quando minha atenção foi atraída por alguém que acabara de entrar. Mesmo com máscara, percebi o quão bonito ele era e tive uma sensação de déjà vu, mas não conseguia lembrar de onde o tinha visto.

— Quem é aquele? — perguntei a Nathan antes de me conter. Ele seguiu meu olhar e riu.

— Definitivamente o oposto de Liam, não acha? — observou ele, me fazendo corar.

— Não é isso. — protestei, embora fosse verdade. O rapaz era magro, mas musculoso, com cabelos escuros que caíam sobre o rosto, mãos grandes e alto. Balancei a cabeça aos pensamentos. — Só acho que o reconheço de algum lugar.

— Claro que sim. — Nathan respondeu naturalmente. —

Aquele é... — mas foi interrompido quando o agarrei pelo braço e o coloquei na minha frente.

— O que... — ele gaguejou.

Liam acabara de entrar no ginásio, logo atrás do garoto misterioso, e estava vindo diretamente na minha direção.