Capítulo 19: promessas incertas. **
I don't need no help punishing myself
***
Narrado por Julian.
O beijo de Romeo deixou meu corpo vibrando, como se cada célula tivesse sido eletrificada por seu toque. Ficamos abraçados do lado de fora da minha casa, saboreando a presença um do outro como se tivéssemos sido separados por anos, não horas. Eu adorava o modo como seus olhos sempre me hipnotizavam. Eu o amava e amava tê-lo só para mim.
Mas a realidade se fazia presente, a noite já avançada era só um lembrete. O medo de sermos pegos pairava sobre mim como uma nuvem sombria. Odiava ter que esconder nossos momentos juntos. Embora contar aos meus pais não fosse meu maior medo, se Tyler ou alguém da escola nos visse seria um desastre. Afinal, meu príncipe encantado era o maior rival do meu primo.
Romeo ainda estava um pouco embriagado, e eu me vi em um dilema. Chamar Ben para buscá-lo não parecia uma opção viável – provavelmente ele estaria tão ou mais bêbado que Romeo. Nathan estava dormindo, e acordá-lo para resolver mais dos meus problemas não parecia justo. Como eu também não sabia dirigir, a única opção sensata era deixar Romeo passar a noite aqui, com a condição de que ele partisse cedo pela manhã.
Às vezes, sinto que minha vida é uma série dramática clichê da Netflix, onde o protagonista gay nunca tem um momento de paz e o final feliz com seu amado é o prêmio mais difícil de conquistar.
Suspirei, afastando esses pensamentos e voltando à realidade. Decidi que o melhor seria convidá-lo a ficar.
— Romeo. — comecei, hesitante. — Que tal você dormir aqui esta noite?
Seus olhos se arregalaram em surpresa, seguidos por um sorriso que iluminou seu rosto inteiro. Claramente adorou a ideai.
— Você adoraria, não é, seu bobo? — zombei.
— Se isso significa passar mais tempo com você, abraçados e nos beijando... eu adoraria.
Respondeu ele, me fazendo sorrir.
— Eu te amo, Romeo.
— Mais do que você ama chocolate, as estrelas à noite e Lana Del Rey? — ele brincou, e eu revirei os olhos, lembrando-me de seu estado embriagado.
— Sim, seu bobo. Agora vem, vamos entrar. — peguei sua mão e o puxei em direção à porta, mas logo parei. — E, por favor, não faça barulho.
Ele respondeu com outro beijo doce e ligeiro antes de entrarmos. Subimos as escadas em silêncio, com Romeo cambaleando ocasionalmente. Eu o segurava pela cintura, rindo baixinho de seus tropeços enquanto meu coração se apertava de preocupação. Temendo vê-lo se machucar.
No meu quarto, comecei a tirar suas roupas que cheiravam a suor e álcool. Romeo, meio sonolento, zombou da minha atitude.
— Que menino pervertido...
— Como se fosse novidade para mim te ver pelado. — retruquei, rindo.
Ele se acomodou na cama como um anjo adormecido, e eu não resisti em dar-lhe um beijo na testa. Mal tive tempo de respirar quando ouvi uma batida na porta. Meu coração quase parou, mas relaxei ao ouvir a voz de Rose.
— Julian... — ela sussurrou quando abri a porta. — Só passei para ver se você está bem. Você e Romeo conversaram?
Em resposta, abri mais a porta, revelando Romeo dormindo em minha cama. Rose soltou um pequeno "Oh!" de surpresa.
— Ele estava um pouco bêbado para ir para casa. — expliquei brevemente.
Rose assentiu, compreensiva.
— Entendo. Bem, vou deixar você descansar. Boa noite, Julian.
Depois que ela saiu, voltei para a cama.
— Bom, agora somos só nós dois. — disse, admirando Romeo adormecido. Tê-lo ali, na minha cama, era algo que eu só ousava sonhar, e agora era real. — Ou só eu, na verdade. — murmurei.
— Ei, ainda estou aqui. — a voz abafada de Romeo soou quando me deitei ao seu lado. Ele me puxou para seus braços, meu lugar favorito no mundo todo.
— Achei que você já estava dormindo. — murmurei contra seu peito.
— Só estava descansando os olhos. — ele brincou, beijando o topo da minha cabeça.
O calor de sua pele contra a minha me deixava em chamas. Não resisti e o puxei para outro beijo rápido.
— Sabe. — Romeo começou, sua voz mais séria. — Tenho pensado em nós e em tudo que aconteceu desde que ficamos juntos. Nada disso é justo, as brigas, a rivalidade, Mat perder a chance de entrar na universidade. Mas o mais injusto é não podermos viver nossas vidas, amando um ao outro livremente.
Meu coração se apertou. Eu sabia onde essa conversa estava indo, e não estava pronto para enfrentá-la.
— Romeo... — tentei interrompê-lo, mas ele continuou. E eu podia sentir as lágrimas se formarem.
— Nunca pensei que amaria outro garoto, mas nunca descartei essa possibilidade. Te encontrar foi a melhor coisa que me aconteceu. Não me importo com o que digam na escola ou nesta cidade. Só me importo com você, Julian.
— Eu te amo mais do que jamais pensei ser possível. Mas não quero que você mude seus planos, seu futuro por minha causa. Você está terminando o colegial, logo estará em uma ótima universidade. Tirar isso de você seria injusto. Eu até pensei em acabar com tudo, naquele momento no lago, estava determinado a fazer isso, não porque não te amo, mas para evitar mais problemas. Talvez eu não seja o amor da sua vida, só o amor de um momento...
Minhas palavras saíram com lágrimas nos olhos, sentindo o peso se dissolver.
Romeo, então, se sentou lentamente na cama, seus olhos brilhando com uma intensidade que me deixou sem palavras.
— Julian. — ele disse, segurando meu rosto entre suas mãos. — Não consigo mais me ver sem você. Estou oficialmente desistindo de tudo para ficar com você.
Suas palavras me deixaram sem fôlego. Tudo entre nós sempre foi tão abrupto e intenso – a maneira como nos conhecemos, como nos apaixonamos. Eu não sentia insegurança, porque sabia que era recíproco e verdadeiro. Mas eu sabia que havia um preço a ser pago, sempre tem.
— Mas, Romeo, você não pode... — tentei argumentar.
— Julian, desde que você me ame de volta, eu posso. — ele insistiu, seus olhos brilhando com determinação.
O amor e o sacrifício nunca pareceram tão familiares.
Romeo deitou-se novamente, me puxando para seus braços, e eu acariciei seus cabelos, quando ele começou a detalhar sua ideia de fugirmos juntos, de irmos para a cidade vizinha onde sua tia morava. Parte de mim queria abraçar essa loucura, essa promessa de liberdade e amor sem obstáculos. Mas outra parte se contorcia dentro de mim com a culpa do segredo que eu guardava – o acordo com Liam, o sacrifício que eu teria que fazer.
— Você não precisa aceitar minha proposta agora. — ele continuou. — Pense até o baile da Montéquio. Alias, quero que você vá comigo.
Eu demorei para processar tudo. Pensei em meus pais, na escola, nas consequências... mas talvez não fosse tão louco quanto parecia.
— Ah, eu... tudo bem, podemos fazer isso. — respondi finalmente, minha voz trêmula.
O sorriso que iluminou o rosto de Romeo quase dissipou minhas dúvidas. Quase.
— Eu te amo, Julian. Eu te amo para sempre. — ele declarou, me puxando para outro beijo apaixonado.
— Eu também te amo, Romeo, para sempre. — respondi, minhas palavras carregadas de verdade e também de culpa.
Passamos o resto da noite nos braços um do outro, sem mais conversas sobre planos malucos ou futuros incertos. Enquanto Romeo dormia pacificamente, eu permanecia acordado, dividido entre a felicidade de tê-lo ao meu lado e o peso do segredo que guardava.
Ver Romeo feliz me fazia feliz, e talvez isso fosse o suficiente. Mas enquanto o sol começava a nascer, trazendo consigo a promessa de um novo dia, eu não podia evitar me perguntar: até quando poderíamos viver nessa bolha de amor e segredos antes que a realidade cruel nos alcançasse?
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