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Não seria sua primeira vez ali, mas poderia muito bem ser a última!

Do alto da escadaria, Esther fechou os olhos fazendo uma oração pedindo para Deus a proteger, suplicando para guardarem-na e a seus irmãos em Cristo naquele momento. 

— Mas que seja feita a tua vontade, amém — sussurrou antes de passar pelo portal.

O som da porta pesada se fechando a fez dar um pulo, as batidas do seu coração ressoavam nos tímpanos a deixando surda para qualquer outro barulho a sua volta, as pessoas a cumprimentavam, mas pareciam mudas para ela.

Hoje a saudade de casa bateu mais forte, quando a garota viu a foto do seu irmão gêmeo sentiu o coração apertando-se da dor da distância. Faziam exatamente dois anos que cortara o contato com eles, ela tinha medo do que poderia acontecer aos seus pais e irmãos caso alguma carta fosse encontrada.

Também pensava muito em como eles estavam, como andava o casamento da sua irmã mais velha, a saúde dos pais, os trabalhos missionários do primogênito e se seu irmão gêmeo finalmente encontrou seu lugar no mundo.

Puxando uma longa respiração, a garota apertou o véu no rosto e ajoelhou-se no meio da sala.

Faziam cinco anos desde que largara tudo no Brasil para atuar como missionária nos países perseguidos, levar o evangelho a quem nunca nem ao menos ouviu sobre Cristo.

Só Deus sabia o quanto ela sentiu medo desse chamado, o quanto quis fugir da vontade dEle. Esther não era das moças mais corajosas, sua principal tentativa de fuga foi entrar em pedagogia, pois pensava que, como professora, não tinha como Deus a mandar para um lugar longe no meio de outros povos.

Ledo engano.

O curso lhe dera sabedoria para ensinar, hoje ela conhecia técnicas para exemplificar a pregação do evangelho a todos os povos. E o fato de sempre amar idiomas também contribuiu para isso, ela tinha facilidade em aprender novas línguas.

Esther se admirava em como Deus moldou seu caminho para chegar até ali.

— Sejam bem-vindos, irmãos — um homem sussurrou —, hoje quem vai falar conosco é a irmã Esther.

Sentando para ficar mais confortável, ela novamente respirou fundo antes de começar a balbuciar sobre o evangelho.

Daquele ambiente ela era a única que já leu a Bíblia inteira, a única a ter tido algum contato com ela completa. Até mesmo Amil, o líder, nunca teve essa oportunidade.

Esther agradecia grandemente por essa honra, mas seu coração doía quando pensava nos cristãos do Ocidente, nas milhares de Bíblias empoeiradas nas prateleiras, enquanto que aqueles homens e mulheres ansiavam por qualquer contato.

— Porque um menino nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz.

A jovem começou a citar Isaías 9 e não conteve a emoção em sua voz ao falar do filho de Deus. Desde pequena era apaixonada por Cristologia, falar sobre a vinda do Messias era a sua maior paixão, e ainda mais nessa noite, quando há milhares de anos nascia o Redentor de toda a humanidade.

Quando ela iria começar a aplicação, a falar sobre a luz do mundo, contar sobre a necessidade do seu nascimento para que nós pecadores fossemos salvos, uma forte batida soou na porta de metal.

Agarrando-se ao lenço, Esther fechou os olhos assustada, porém nem uma única palavra saiu da boca de ninguém ali, todos sabiam da necessidade de ficarem quietos para não serem presos e torturados.

Amil, temendo o que viria, levantou-se orando por coragem e caminhou até a porta. O abrigo era no subterrâneo, e ele ouvia passos descendo das escadas de pedra que levavam até ali.

Fazendo um sinal de silêncio, ele se aproximou, mas não precisou nem ao menos abri-la, pois a porta foi arrombada e o cristão jogado contra a parede.

A garganta de Esther se fechou ao ver os homens entrando, os lenços enrolados nos cabelos e as enormes armas em suas cinturas e mãos. Ali ela soube que seria seu último dia de vida, e orava para Cristo fazê-la perseverar mesmo enquanto fosse torturada até a morte.

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