Jack Teotônio

Minha cabeça estava inerte nas coisas do meu trabalho, não me lembrava que havia combinado de ir ao pub junto com Tayler, até que meu alarme do meu celular tocou, ainda bem que eu havia me lembrado de colocar o alarme para tocar.

Me vesti rapidamente, coloquei uma camisa social branca e uma calça jeans —para muitos parece que eu não ia me sentir confortável, mas muito pelo contrário—, penteei meu cabelo da mesma forma de sempre. Eu iria para um pub, mas parecia que eu iria para uma reunião de trabalho ou algo do tipo.

Tayler me conhecia e sabia meu jeito de se vestir, ele não ia se incomodar com isso, me parece que eu não posso passar mau impressão vestido socialmente e esse é meu objetivo.

Pego meu celular e envio uma mensagem para Tayler:

Jack Teotônio [20:24]: Já estou indo para o pub. Não chegue atrasado, não quero ficar com cara de taxo te esperando.

Tayler Martins [20:25]: Será que você não pode se atrasar nem um minuto, cara?
Tayler Martins [20:25]: Sempre certinho...

Não gasto meu tempo respondendo sua mensagem, já sou acostumado com suas piadinhas. Pego a chave do carro e vou para o elevador, não demoro muito para chegar no pub, que por sinal, estava uma fuzaca só, estaciono o carro na primeira vaga que encontro. Passo pelas pessoas e vou em direção a uma mesa vaga com dois lugares, peço um refrigerante para não ficar olhando para o nada e me pego reclamando mentalmente da irresponsabilidade de Tayler.

Jack Teotônio [20:38]: Tayler???
Jack Teotônio [20:39]: Onde você estar? Estou te esperando a oito minutos...
Jack Teotônio [20:40]: Não seja irresponsável, inconsequente e imaturo.

Tayler Martins [20:43]: Eu estou chegando maninho, tenha calma. Agora tenho que ir. Não quero levar uma multa por mexer no celular ao dirigir.

Sopro por ter aceitado o convite de Tayler, poderia estar em casa em meio aos meus livros e corrigindo as provas. Teria que me virar em trinta pessoas amanhã. Eu que sou o irresponsável, não Tayler.

Olho para os jovens imaturos ao meu redor, me pergunto o que vim fazer aqui mesmo. Estou perdido em meus devaneios quando alguém me chama:

–JACK! -olho na direção do som e vejo Tayler acompanhado de duas garotas.

–Tayler! -vocifero.- Você não me disse que isso ia ser um encontro duplo...

–Ei engomadinho! Quem disse que isso aqui é um encontro? -Uma morena acompanhante de Tayler pergunta.- Eu vim aqui para beber e me divertir. Eles dois que querem se pegar. Se não quer ficar aqui: tchau, tchau -ela se senta na cadeira.

Olho para ela boquiaberto. Ir para casa era o que eu mais queria e era o que ia fazer até sentir Tayler me segurar.

–Ei Scarlett, eu não o avisei que vocês viriam. Não se altere, gatinha -Scarlett revira os olhos olhando para ele, chamando o garçom e pedindo uma cerveja.

–Cara, eu vou para casa. Tenho muitas provas para corrigir, sem falar que tu estragou minha noite. Custava falar, Tayler? -digo.

–Jack, né? -pergunta a outra acompanhante e eu assinto.- Não liga para a inconsequente da Scarlett, ela é boca aberta mesmo.

–Ei! Não fale assim de mim! E aliás, parem de insisti para esse cara ficar, já não fui com a cara dele.

–Scarlett! Ele é o amigo de Tayler, será que você pode tentar cooperar-Replica a moça.

Agora quero ficar, quero estragar a noite dessa menininha, assim como ela estragou a minha. Me sento ao lado dela e peço uma cerveja.

–Jack, essa é a Liger -disse Tayler apontado para a menina que ele estava abraçando.- e essa é sua prima Scarlett. Scarlett e Liger, esse é meu amigo Jack.

–Desculpe pela minha prima -disse Liger me dando a mão e eu a segurando logo em seguida.

–Sem problemas. Estou acostumado a lidar com adolescentes rebeldes -digo dando uma alfinetada em Scarlett.

–Homem insuportável! -Diz ela.- Tayler anda tão mal acompanhado.

–Digo o mesmo em relação a Liger -falo um pouco estressado.

Dou um gole da minha cerveja e uma música do coldplay começa a tocar. Uma das minhas bandas preferidas, conheço algumas músicas e uma delas é essa que está tocando, canto um pedacinho do refrão, enquanto Tayler tenta puxar algum assunto. Deveria ter ido embora!

Olho para o lado e me deparo com minhas alunas favoritas entrando no pub, assim que elas me viram, vieram até mim com um longo sorriso.

–Teotônio! -Yanne exclama sorridente, olhei para a ponta do seu cabelo e a mesma estava azul, ela costuma trocar a cor dele quase todo mês.

–Que prazer te encontrar aqui, Jack -Safrina diz.

–Olá Tayler -cumprimentou Ahny dando um sorriso para todos da mesa.

–Olá meninas, essa é Liger e essa é Scarlett. Scarlett e Liger essa são as meninas -apresenta Tayler.

–Não queremos estragar o encontro de vocês ou o que esteja acontecendo aqui...

–Obrigada por não achar que isso é um encontro, já gosto de você -disse Scarlett interrompendo Ahny, ela é mesmo a mal educada.

–Também gostei de você -ela olhou pra mim de solaio.- Agora vamos deixá-los em paz.

Elas vão saindo em quase uma filinha, me dá vontade de rir. Ella se agacha e diz no meu ouvido, antes de sair:

–Não faça besteira garotão, sabemos que não precisa de esforço para fazer isso! -Concordo sem dizer que já fiz besteira, sabia que elas iam me atormentar a segunda-feira inteira pra mim contar como foi o encontro, isso se eu tiver a sorte de elas não se lembrarem do WhatsApp.

–Quem são elas? -Perguntou Liger.

–São minhas alunas da faculdade.

–Vugo, melhores amigas dele -sorrio pelo nome dado por Tayler, nunca fui bom em fazer amizades.

–Gostei da de cabelo longo, ela é bem sucinta e direta, me parece sincera -falou Scarlett.

–O nome dela é Ahny, ela é minha aluna a um ano e realmente ela é a mais sincera entre as meninas. As vezes ela é sincera até de mais -digo com um sorrisinho torto.

–Uma vez ela me disse que minha profissão não estava surtindo efeito para mim mesmo, acreditam? -tento não rir da super alto estima de Tayler, mas Ahny tinha razão, Tayler estava muito magrelo a alguns meses.- Nessas mesmas palavras, sem tirar uma letrinha. Desde então venho tentando melhorar.

–Você estar perfeito pra mim -disse Liger, lá vai eu segurar vela.

A noite passava tão divagar, Tayler e Liger estavam no maior amaço, Scarlett bebia uma atrás da outra. Xingo meu amigo mentalmente e às vezes em um sussurro que, por causa da música alta, ele não escutava, xingo ele por me fazer prestar esse papel!

Scarlett dança na pista, rebolando suas curvas sensualmente, realmente ela leva jeito pra isso, seu cabelo encaracolado —no preto mais profundo e natural— indo de um lado para o outro, muitos param para olhá-la, alguns falam com ela, mas ela se mantem sozinha, parece que hoje ela só quer dançar. Vejo Safrina se aproximar dela e reviro os olhos, eu sei o que ela quer: puxar assunto e descobrir alguma coisa. Vejo as duas conversando enquanto dançam. O que elas tanto falam?

Depois que a música acaba Scarlett volta para a mesa cambaleando, por impulso, me levanto para segura-la e trazê-la a mesa. Ela não reclama, está bêbada de mais para saber quem a segura, com certeza se soubesse que sou eu, me daria um tapa. A sento na cadeira, ela se contorce com uma cara feia.

–Liger -diz pra prima que se levantava da cadeira junto com Tayler, presumo que eles iriam para a pista de dança- eu não me sinto bem, estou tonta -ela faz uma pausa- muito tonta.

A olho, ela está com a cabeça baixa e presumo que com uma careta no rosto, sua mão está sobre sua barriga, suas pernas douradas estão muito amostra, o vestido vermelho curto subiu um pouco mais, acho que ela não percebeu que suas pernas estavam tão expostas.

–Disse que não era para beber muito, Scarlett!

–Mas eu não bebi muito desgraça! -Falou ela se embolando com as palavras.

–Teimosa! Tayler, me desculpe mais acho que tenho que levá-la para o hospital, sinto muito.

Tayler me olha e eu já sei o que ele vai sugerir.

–Não vou levá-la para o hospital, Tayler -digo sereno.

–Vamos cara, eu fico te devendo uma. Não estrague minha noite! -Disse ele, quase implorando.

Jack de professor para babá, em somente uma noite. Eu sabia que essa noite não ia ser das melhores, desde de a hora que eu estacionei meu carro. Sopro instintivamente e digo a pontando para ele e olhando no seus olhos:

–Tudo bem! Tudo bem! Mas você fica me devendo uma, garanhão.

–Liger, Jack pode levar Scarlett, o que acha?

–Não sei, não. Mal o conheço. E minha prima é uma complicação só -ela olhou para Tayler, ainda se decidindo, escuto o gemido de dor vindo de Scarlett e, finalmente, Liger se decide:- Tudo bem! Mas tenha paciência com ela, cuidado para ela não vomitar seu carro, quando ela fica assim, sai vomitando tudo.

Devia ter ido embora.

Os dois somem pelo meio da multidão e eu levanto Scarlett da cadeira e digo próximo do ouvido dela por causa do som alto:

–Vou te levar pro hospital. Não banque a difícil, não dificulte as coisas, eu agradeceria se fizesse isso.

Ela não responde, então presumo que esteja bêbada o suficiente para não entender nada do que acontece. A puxo para fora do pub e a levo para meu carro, coloco o sinto de segurança nela, entro no carro e vou o mais rápido possível para o hospital ao escutar sua fala:

–Quero vomitar, Jack. Põe o pé nesse acelerador antes que eu vomite teu carro inteiro.

Chego no hospital e tiro Scarlett o mais rápido possível, antes que ela vomite meu carro novinho. Praguejo ao segura-la nos braços, Tayler me paga!

Estamos próximos da porta quando escuto um barulho de vomito e sinto um líquido na minha camisa branca. Olho para baixo.

Scarlett me vomitou!

–Scarlett! -Digo.- Estávamos chegando, por que não esperou?

–Desde quando se guarda vomito? -Mesmo bêbada, ela continua provocante- Você devia me agradecer por não vomitar no seu carro.

Muito petulante mesmo.

Entro no hospital apreçado e todo ensopado de vomito, chamo a enfermeira para me ajudar e ela leva Scarlett para uma sala, eu a acompanho tirando a blusa, não vou ficar vomitado!

Ao chegar na quarto hospitalar a enfermeira injeta uma agulha no braço da bêbada, a mesma faz uma cara de choro e fala:

–Não sabia que poderia ficar mais gostoso -coro com o elogio.

–Deve estar delirando.

–Cê tá louco? Não gosto de você, mas não sou sega!

–Enfermeira? -Ela me olha- Você não poderia injetar um sonífero, não? -digo brincando.

–Rarararara! Estou rindo para caramba! -Ironiza Scarlett.- Cale a boca que estou com dor de cabeça.

–Não devia ter bebido muito.

–Não precisa repetir o que eu já sei, mauricinho.

—
(E)

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