Sem saída
Boa leitura!!
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Estava ferrado.
Em todos aqueles anos, o que havia feito de bom? Talvez ser um bom filho e terminar o ensino médio pudesse definir algo. Sim, nunca havia trazido transtornos maiores se não uma nota baixa aqui e uma vontade de faltar aula ali. Respeitava os pais e prezava por tudo que tinha e desejava. Ainda estava prestes a encarar uma luta mais difícil para entrar na universidade e finalmente cursar o que queria. Uma vida pela frente. A mesma que passava em câmera lenta por sua mente naquele momento.
Nunca havia sido chamado atenção daquele modo. Um "vamos conversar" embrulhava seu estômago, porque por mais que tentasse acreditar que não tinha a menor ideia de que se tratava o assunto, tinha exatamente certeza do que se tratava.
Virou-se com calma, calculando o tempo que levaria para correr até a porta e fugir dali. Entretanto, seu pai parecia ter a capacidade de ver além de si, trancando a porta assim que entrou na casa.
— Hayoung, onde você está? — seu pai perguntou, esperando que ela viesse logo. Pela primeira vez sentiu que ele realmente não estava brincando, como costumava fazer para sempre amenizar o clima. Estava sério, o que dificultava sua compreensão perante as expressões.
Quando sua mãe adentrou a sala, tudo que conseguiu foi engolir em seco. Ela parecia receosa. Assim que ela ficou ao lado de seu pai, o viu cruzar os braços.
— Você prefere explicar ou eu devo pedir uma explicação para cada dúvida que eu tenho? — o Jeon disse firme. Não sabia o que fazer. E se explicasse e acabasse dizendo algo que não era nem sobre o que seu pai se referia? Não podia arriscar.
— Eu prefiro que o senhor pergunte — respondeu, sem sair do lugar. Sentia que o segundo degrau da escada em que estava desabaria. Que afundaria em um buraco negro. Parecia a melhor solução agora.
— Se quer assim... — ele inspirou fundo, como se buscasse paciência. — Comece explicando sobre as aulas extras que você estava tendo.
Certo, não era de todo ruim. Eram apenas aulas extras na qual estudava. E tinha um tempo com seu professor. Tudo nos conformes.
— Eu já expliquei pra vocês. Meu professor de química se ofereceu para me ajudar na matéria porque eu era péssimo nela. E eu aceitei porque precisava de ajuda. Nos encontrávamos na casa dele, e passávamos a tarde estudando — falou, tentando disfarçar a mão que já tremia, apertando-a uma na outra. — Eu disse isso pra você, pai.
— E aquele rapaz hoje era o seu professor? — seu pai franziu a testa. — Ele parecia bem novo.
— Ele passou cedo na faculdade. É muito inteligente — sentiu orgulho de Taehyung por segundos, antes que o nervosismo retornasse. — Não entendo porque está me perguntando isso...
— Vocês pareceram bem íntimos hoje. Inclusive quando estavam no carro do seu... professor — seu pai frisou a última palavra, e Jungkook sentiu o corpo estremecer. Ele havia visto?
— Do que está falando? — tentou agir normalmente, olhando de seu pai para sua mãe. O silêncio tomou a sala por segundos que pareceram horas. Sentia o suor se formar na testa, deixando-o ainda mais ansioso.
— Eu vi quando você saiu do carro, e não estava tão arrumado como estava antes. Se me entende.
Mal sabia o que responder. Parecia que qualquer palavra o levaria a um passo em falso. Não respondeu, porque a ideia lhe pareceu estúpida demais. Não podia se afundar ainda mais.
— Então você concorda que estava dentro do carro com aquele rapaz fazendo o que não devia, Jungkook? — seu pai deu um passo para frente, encarando-o. Sentiu o coração falhar batidas.
— Eu não concordei com nada — tentou, mas sua voz saiu tão fraca e sem confiança alguma que fez seu pai sorrir desacreditado. Ele já sabia. Eles já sabiam. Sua mãe apenas escutava, mas podia ver que ela queria uma confirmação. Algo que realmente comprovasse que os pensamentos não eram apenas meras ilusões. Engoliu. Não sabia mais o que fazer. A sala ficou em um silêncio ensurdecedor novamente.
Quando pensou em dizer algo — que para falar a verdade nem sabia o que seria — sua mãe o interrompeu.
— Desde quando, querido? — ela tentou soar o mais gentil possível, mas mal conseguia com a voz saindo firme.
Jungkook mordeu o interior da bochecha, tentando manter para si a vontade de chorar. Por medo, nervosismo, não sabia. Mas o corpo todo se incomodava com as perguntas e o julgamento oculto. Eles já sabiam, relembrou-se. Não adiantava mais fingir algo.
— Já faz um tempo...
— Eu disse! — seu pai reclamou alto, e por alguns segundos Jungkook preocupou-se. Nunca o havia visto nervoso. Na verdade, seus pais mal discutiam. Sempre foram totalmente tranquilos quanto a isso. Perguntou-se pela primeira vez se só não havia visto aquilo por nunca ter dado um real motivo. Inspirou fundo, tentando manter a calma. — Jungkook, venha bem aqui.
Sentiu o corpo tremer. Sua mãe continuava impassível ao lado dele. Só queria voltar para o quarto e ficar lá até a tensão abaixar.
Percebeu que estava demorando. Desceu do primeiro degrau, depois do segundo. Caminhou lentamente até seu pai, parando a meio metro dele. Suas mãos ainda estavam juntas, sendo machucadas pelas unhas medianas.
— Pare de apertar as mãos, Jungkook. Qual o problema, está com medo? — a rispidez o fez pressionar a língua contra o interior da bochecha. Parou os movimentos, deixando as mãos ao lado do corpo.
Vacilou ao olhar rapidamente para sua mãe, buscando apoio. Ela desviou o olhar. Ficou desacreditado. E antes que pudesse dizer algo, a voz suave ressoou no silêncio.
— Estou indo para o meu quarto.
Simples assim.
Sua mãe disse antes de sair calmamente da sala, indo para o quarto dela. Simplesmente o deixara sozinho para arcar com a possível consequência de ter se envolvido com o seu professor. A ideia o deu ânsia. Ao encarar seu pai novamente, sentiu ainda mais receio. O suspiro pesado, a expressão carrancuda, os ombros tensos. Ele parecia decidir o que faria.
— E agora, Jungkook. Como fazemos?
Não sabia. Na verdade, não tinha mais nem ideia do que pensar ou dizer. Só queria que tudo aquilo terminasse. Queria poder falar com Taehyung naquele momento, ter algum apoio, qualquer coisa. Novamente, resposta alguma deixou seus lábios.
— Então é verdade. Tem se envolvido com o seu professor — seu progenitor ditou, a voz saindo mais calma. Ele suspirou. — Interessante.
Interessante? Mas o que diabos aquilo soaria interessante quando justo ele estava irritado? Não aguentou a boca fechada.
— Como pode achar interessante se o senhor mesmo está brigando comigo por isso? — grunhiu desacreditado. A expressão surpresa do seu pai o deixou ainda mais descrente.
— Eu briguei com você? — ele colocou a mão no queixo, pensando. — Não me lembro de ter feito isso.
Jungkook pretendia reclamar, perguntar porque seu pai estava tentando deixá-lo ainda mais nervoso do que já estava, quando o viu rir alto.
Negou desacreditado. Toda aquela cena fez seu corpo estremecer levemente, ainda mais temeroso. Era quase como se ele estivesse brincando consigo.
— Jungkook, olhe para mim — o pedido foi feito sem demoras. Podia sentir seu pai lê-lo com facilidade. Talvez fosse muito transparente. — Por que eu brigaria com você?
Pensou, mesmo que a resposta já estivesse na ponta da língua.
— Por eu estar saindo com um... homem — murmurou a última palavra. Seu pai riu ainda mais. Talvez a raiva tivesse mexido com os neurônios dele, era a solução mais plausível.
— Aí está! — ele bateu as mãos, a palma ecoando pelo cômodo silencioso. — É por isso que eu lhe chamei a atenção.
Jungkook não entendeu. Sua expressão fez seu pai colocar a mão em seu ombro em um aperto quase inexistente.
— Você deveria ter nos falado antes, Jungkook. Bem antes. Não é fácil descobrir algo que o nosso próprio filho faz as escondidas. Pensamos muitas coisas ao mesmo tempo, e nada parecia fazer sentido enquanto não temos uma explicação. Mas você acabou de dizê-la — a voz saiu firme, mas o corpo de Jungkook relaxou com a resposta do pai. — Mesmo que eu não tenha gostado da ideia — ele franziu o nariz, suspirando em seguida. — Mas é a sua vida. Se você acha que isso vai fazer você feliz, então que seja.
Mal percebeu quando a lágrima escorreu por seu rosto. Limpou depressa, mordendo lábio inferior. Seu pai sorriu de forma carinhosa.
— Vá para o seu quarto. Estou sendo explicativo com você agora, mas ainda estou digerindo isso também — deu dois tapas fracos no ombro do mais novo, afastando-se. — E é bom que esse seu professor venha aqui falar comigo.
Quando os passos finalmente cessaram, Jungkook colocou a mão na boca e fechou os olhos. Podia sentir as batidas fortes contra o peito, a respiração nervosa, além das lágrimas que escorriam sem prensas. O medo de não ser aceito, o medo de perder Taehyung, tudo pareceu acumular de uma só vez. Puxou a respiração com força, tirando a mão da boca enquanto deixava o ar sair por ela. Tentou se acalmar, limpando as lágrimas. Mal podia acreditar no que havia acontecido.
Juntou as forças que ainda tinha, saindo da sala e subindo os degraus para o seu quarto. Precisava descansar.
Entretanto, a primeira coisa que fez ao fechar a porta do quarto foi procurar pelo celular. Assim que o achou, abriu o chat de mensagens com Taehyung.
Jungkook:
Já estou em casa
Você já chegou?
Deixou o celular sobre a cama, passando as mãos pelas madeixas escuras. Resolveu tomar um banho, na esperança que a água levasse aquele resto de medo impregnado em sua pele. Escovou os dentes após, e quando terminou, vestiu roupas leves.
Pegou o celular novamente ao sentar na cama, observando as novas mensagens de Taehyung.
Taehyung:
Cheguei já faz um tempo
Seus pais viram alguma coisa?
[Foto]
Você estava tão bonito na sua formatura. Vou guardar essa foto a sete chaves
Jungkook não sabia no que reparava. Na foto que Taehyung havia tirado de si sem perceber, ou na pergunta que ele havia feito. Passou a digitar o que achava melhor.
Jungkook:
Não acredito que tirou essa foto ㅠㅠ
7 anos de azar se ficar com ela no celular
Então... os meus me viram saindo do carro e quando eu cheguei em casa, meu pai começou a fazer perguntas sobre você e outras coisas. Ele já sabia
Taehyung:
Então vou mandar revelar e colocar num quadro, e então apago do celular ㅋㅋ
Eu sabia que isso poderia acontecer... eles brigaram muito? Me desculpe por isso
Jungkook:
Na verdade, depois ele disse que estava tudo bem, mas que eu deveria ter dito isso antes. Fiquei com medo, de verdade
Não sei como conseguiria levar as coisas sem você ou sem o apoio dos meus pais
Taehyung:
Fico tão feliz que tenha dado tudo certo. Isso me deixou com o coração na mão
Se o caso ficasse mais sério, eu iria te trazer para morar comigo
Jungkook:
Meu pai também disse que quer falar com você
Não precisa deixar o caso ficar sério pra me levar pra morar junto, oras
Taehyung:
Então eu irei falar com ele amanhã
E pedirei para você vir passar um tempo comigo, e se ele deixar e você quiser, a casa já é sua
Jungkook:
ㅋㅋㅋㅋㅋㅋㅋㅋㅋㅋ
Hyung, você é rápido
Mas eu acho uma ótima ideia, assim resolvemos logo isso tudo
Taehyung:
Então vou passar na escola amanhã as nove. Me encontre lá, certo?
E também vamos sair pra lanchar depois se tudo correr bem
Jungkook:
Estarei lá <3
Hyung, preciso ir dormir. Mesmo que meu pai tenha dito que está tudo bem, ele quase me matou do coração até chegar nessa conclusão
Até amanhã, boa noite <3
Taehyung:
Tudo bem, meu amor
Durma bem e boa noite
<3
Saiu do chat e bloqueou a tela do celular com um sorriso grande nos lábios. Taehyung conseguia deixá-lo bem em pouco tempo. Colocou ele sobre a mesinha ao lado e se deitou confortavelmente na cama. Entretanto, antes que realmente dormisse, algumas batidas não porta ressoaram. A voz doce de Hayoung tomou o ambiente.
Levantou da cama e foi até a porta, abrindo-a. Em silêncio, voltou até a cama, observando sua mãe acompanhá-lo e sentar-se na cama também.
— Espero que não esteja zangado comigo e com o seu pai — Hayoung iniciou, os olhos atentos ao brilho do celular que recebia uma notificação. — Não queríamos assustar você.
— Conseguiram só um pouco — Jungkook sorriu, omitindo de fato toda a complexidade que foi o seu medo. — Mas por que?
Hayoung suspirou, olhando para o mais novo.
— Você não costuma ficar sem dizer as coisas pra gente. Na verdade, você sempre diz tudo. Até mesmo assuntos tão bobos como notas baixas e matérias que não gosta — ela iniciou, tocando gentilmente em sua mão na cama. — É claro que ficamos magoados com você por isso. Porque você estava tão feliz ao lado do seu professor... qual mesmo o nome dele?
— Taehyung. O nome dele é Taehyung — disse tentando conter o entusiasmo. Sua mãe continuou.
— Isso. Você estava tão feliz com ele ao lado que foi difícil não percebermos algo. E depois quando você simplesmente sumiu e depois saiu de dentro do carro do seu professor, tivemos ainda mais certeza do que havia acontecido. E bem, nós resolvemos dar um susto em você pra compensar — Hayoung riu maldosa, fazendo Jungkook engolir em seco. Seus pais eram bem vingativos. — Bem, é claro que o seu pai entrou mais no personagem. Se eu continuasse na sala, começaria a sorrir e tudo iria por água abaixo.
— Eu pensei que estava decepcionada comigo — confessou.
— Claro que não, Jungkook. Não pense isso. Eu e seu pai mais que tudo desejamos a sua felicidade. E se Taehyung te faz feliz, então estamos felizes — ela sorriu gentil, deslizando a mão por sua bochecha com calma e delicadeza. Sorriu, porque sua mãe nunca deixara de tratá-lo daquele modo único.
— Obrigado, mãe. Por me apoiar — disse, segurando a mão da progenitora e deixando um beijo delicado contra a costa da mão dela. — Obrigado.
— Não precisa agradecer, querido — Hayoung levantou da cama, sorrindo para Jungkook antes de caminhar para fora do quarto. — Boa noite.
— Boa noite, mãe — Jungkook viu a porta ser fechada, e buscou pelo celular no criado. Abriu a notificação, vendo que era do seu professor.
Taehyung:
Eu amo você.
<3
Sorriu, deixando o celular cair e quase acertar seu rosto. Em meio há alguns pedidos de agradecimento por não ter se machucado, sentiu o coração aquecido, o sono batendo-lhe a porta.
Pegou o celular novamente — e com firmeza —, digitando.
Jungkook:
Eu amo você ainda mais
<3
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