Capítulo 24
POR LÉO
-Não... –Sussurro enquanto vejo os médicos tentando reanimar a Clara, mas sem nenhum sucesso. O seu corpo sobe e desce com os choques proporcionados pelo desfibrilador e meu desespero vai aumentando cada vez mais. –Vamos meu amor, reage por favor! Não faça isso comigo! –Suplico em silencio e sinto as lagrimas descendo pelo meu rosto e caindo no piso frio de porcelanato.
Quase quinze minutos se passam e nada, a linha verde no monitor conectado a ela continua reta, indicando que seu coração ainda está parado.
Depois de mais alguns minutos e sem ter nenhum resultado, o médico levanta a manga do jaleco e olha a hora no relógio. Eu sei muito bem o que isso significa.
Começo a esmurrar a janela com o a mão engessada para chamar a sua atenção, pequenos trincos começam a aparecer pelo vidro com a força que estou impondo, a dor na minha mão não chega nem aos pés da dor que estou sentindo no meu peito.
Quando o médico finalmente olha para mim, eu suplico que ele tente mais uma vez, com gestos descontrolados.
-Por favor... –Sussurro e ele balança a cabeça cansado. Meu coração começa a bater tão rápido que sinto que vai sair pela minha garganta. –Por favor! –Grito e ele se aproxima novamente da maca e gira um botão no desfibrilador e as enfermeiras recomeçam o procedimento de reanimação. –Pai, se você está me escutando, por favor, não deixe ela morrer, é o único que te peço... não deixa ela morrer...
Não consigo mais olhar para essa cena. Me sento no chão e derramo mais lágrimas, formando uma pequena poça aos meus pés.
De repente, Maggie se senta ao meu lado e me abraça, chorando junto comigo. Alguns minutos depois Priscila se junta a nós em um só lamento.
-Ela vai conseguir... ela é forte, eu prometo...-Digo para as duas, sem deixar transparecer o medo que toma conta do meu ser.
-Não sei o que vou fazer sem ela, Léo... ela é o único que me resta! –Maggie diz soluçando e minha vontade é de matar a pessoa que fez isso com minha Clara.
-Ela vai resistir Maggie! A Clara é a pessoa mais forte que eu conheço, não desistamos dela! –Me levanto em um supetão e observo novamente os médicos fazendo o seu trabalho. –Vamos meu amor, resiste, vamos...-Suplico a todos os deuses que nos ajudem.
De repente o médico olha para o monitor e eu acompanho o seu olhar, a linha verde começa a apresentar pequenas variações e de repente os números que antes estavam em zero, começam a subir lentamente. –Maggie, olha! –A levanto com a mão boa e ela cola o rosto no vidro assim como Priscila.
-Isso meu amor! Você consegue meu bebê! –Ela diz com um sorriso triste no rosto enquanto a melhor amiga de Clara continua calada.
O médico abaixa a máscara e olha para mim. Ele balança levemente a cabeça, não sei se em agradecimento ou em uma forma de dizer que ela está fora de perigo. Eu faço o mesmo movimento e ele se vira para terminar o procedimento. Observo o monitor por mais alguns minutos com medo de que algo possa acontecer novamente, até que o médico abre a porta e coloca a cabeça para fora.
-Quem são os pais da paciente? –Pergunta.
-Nós somos! –Todos nos assustamos com a voz grossa de Josué. Maggie corre para o lado do noivo e o abraça em busca de consolo.
O médico olha para o casal com a sobrancelha levantada, mas não diz nada, para o seu bem.
-Muito bem, -ele massageia o pescoço, completamente esgotado -a paciente está estável no momento, mas teremos que a levar para a UTI para que fique em observação por alguns dias.
-Ela vai ficar bem doutor? –A voz de Maggie sai engasgada e Josué a abraça apertado claramente afetado com tudo isso.
-Sim, senhora. Ela vai ficar bem. –Ele olha para mim e balança a cabeça como fez a minutos atrás. –Mas eu preciso que todos se dirijam até a sala de espera, para que possamos realizar o traslado.
-Eu não quero deixa-la, doutor... –Maggie insiste, mas eu me aproximo dela. Sei que eles precisam do caminho liberado e que nenhum de nós vai deixá-los fazer o seu serviço tranquilo.
-Maggie, eles precisam de espaço, quando ela já estiver no quarto, ele vai nos avisar para que possamos visita-la, não é mesmo doutor? –Ele concorda e com a ajuda de Josué, levamos as duas mulheres para a sala de espera.
Ao chegar lá, praticamente me jogo em uma cadeira e Priscila se senta ao meu lado, em busca de consolo. A abraço e prometo que tudo vai ficar bem, pela milésima vez hoje.
Alguns minutos se passam, e de repente sinto meu celular vibrar no meu bolso. Desbloqueio o aparelho e leio a mensagem que Rafael acaba de mandar.
"Está tudo bem com você? Fui até a sua casa e sua empregada me disse que você havia ido ao hospital. "
Explico brevemente o que aconteceu, com quem estou e aperto enviar. Devem passar quase dez minutos, e não obtenho nenhuma resposta.
De repente, vejo seu moicano roxo se aproximando cada vez mais. Me levanto para cumprimenta-lo, mas para a minha surpresa, ele vai direto ao encontro de Priscila e ela o abraça apertado, começando a chorar novamente.
-Ela vai ficar bem, shhh, tranquila. –Sussurra no seu ouvido e ela balança a cabeça em concordância, sem conseguir dizer nenhuma palavra. –Shhh, eu estou aqui, já estou aqui... –Beija sua cabeça e a leva até a cadeira, se sentando ao seu lado e passando o braço pelo seu ombro.
-Como ela está? –Seu olhar se foca em mim e eu levanto uma sobrancelha para o meu amigo. –Não é hora para isso... –Me repreende e eu me sento do seu outro lado, esfregando as mãos no meu rosto.
-O médico disse que ela está estável, mas a levaram para a UTI para que fique em observação por alguns dias. –Minha voz sai cansada e rouca, talvez de tanto chorar.
-Ela vai ficar bem brother. –Me tranquiliza e eu balanço a cabeça. –O que aconteceu? –Pergunta e eu percebo que realmente não sei como Clara foi parar nessa situação.
Me levanto e caminho até aonde Maggie e Josué se encontram abraçados. Agora que o vejo bem, ele tem um curativo na testa e outro no pescoço.
-Eu sei que não é o melhor momento, mas preciso saber o que aconteceu com ela Josué... –Ele me olha triste e um arrepio percorre todo o meu corpo.
-Eu me lembro que depois que ela saiu do carro, eu fui estacionar para espera-la. Ao sair do carro senti um golpe na minha cabeça e tudo ficou escuro. Acordei algumas horas depois em um terreno abandonado, voltei correndo até a gravadora, mas o carro já não estava mais lá. Me disseram que Clara havia saído a mais de três horas. Tentei ligar no seu celular e dava apagado, fui até as suas duas casas, mas ela não estava lá. A procurei por mais algumas horas e não a encontrei, foi quando parei para abastecer, que vi a notícia em uma televisão. A repórter dizia que Clara havia dado entrada em um hospital, em estado crítico e que segundo a moça que a trouxe até aqui, havia a encontrado correndo no asfalto somente de blusa e calcinha, descalça e toda ensanguentada.
-Filho da puta! –Grito e daria outro murro na parede, se minha mão já não estivesse quebrada. –Quem fez isso com ela? –Rosno. Eu vou te encontrar seu desgraçado, e você vai pagar caro por isso.
-Ainda não sabemos, eu já liguei para a polícia e conversei com a moça que a trouxe até aqui, ela foi junto com os policiais até o local onde a encontrou para que possam investigar e talvez descobrir aonde ela foi mantida em cativeiro. Eles ficaram de me ligar quando já tivessem um resultado, mas até agora não recebi nenhuma novidade.
-Mas que porra! Quando eu encontrar esse canalha, eu juro que o mato!
-Você vai ter que entrar na fila então, filho. –Josué diz e me olha com uma fúria no olhar que me causa medo. Aquiesço e sinto que por mais que ele não vá muito com a minha cara, nesse momento criamos um laço, pelo ódio que ambos sentimos desse homem que fez isso com Clara. –Ah, vocês terão que ter cuidado ao sair do hospital, porque há um monte de repórteres e paparazzis do lado de fora, esperando um furo de reportagem.
-Tudo bem, eu não pretendo sair daqui tão cedo de qualquer forma. –Respondo e ele concorda, um brilho de orgulho passando nos seus olhos negros.
Volto a me sentar do lado do Rafa, e pergunto como ele conseguiu passar pelos repórteres sem ser impedido.
-Eu entrei pelos fundos, havia uma enfermeira fumando do lado de fora, quando ela me viu, quase desmaiou, mas eu expliquei a situação e ela me deixou entrar sem problemas, quando quiser sair sem ser visto, me avisa que eu te levo.
-Tudo bem, obrigado cara. –Agradeço e entramos em um silencio profundo à espera de novidades sobre Clara.
-Aqui, podem se servir... –Coloco a bandeja com os copos de café em cima da mesinha de centro e cada um pega o seu copo. Estamos a mais de duas horas esperando e nada, ninguém aparece para dar nenhuma notícia de como Clara está. Maggie tentou conversar com o médico várias vezes, mas as enfermeiras a impediram. Elas disseram que ele estava a examinando, vendo como andavam as suas costelas quebradas e refazendo os pontos que se romperam por causa da reanimação.
Estou uma pilha de nervos, Rafael me disse várias vezes que eu precisava comer alguma coisa, mas eu não consigo. Não tenho fome, eu só preciso saber como ela está, preciso vê-la, e tocar o seu rosto, saber que ela está bem.
-Bom, a paciente já pode receber visitas, só poderá entrar uma pessoa por vez. –O médico aparece de repente e todos nos levantamos em expectativa.
Maggie caminha até o médico e pede para que a levem até o quarto da filha.
Minha vontade é de acompanha-la, nem que seja para ficar do lado de fora, mas sei que ela deve querer algo de privacidade.
Josué a acompanha até o corredor, e volta alguns minutos depois.
-Como ela está? –Não consigo me segurar e fico ainda mais puto com a expressão macabra que seu rosto adquire.
-Eu não a vi muito bem, somente quando a porta abriu para que Maggie entre, mas o rosto dela... ele bateu nela... covarde! –Agora quem soca a parede é ele, e posso garantir que o estrago é muito maior do que se fosse um soco meu. A minha vontade é de procurar em cada canto do país até encontra-lo e depois bater tanto nele que seu rosto fique irreconhecível quando o encontrarem. –Tenho um amigo dentro da polícia, ele vai me dizer quando o encontrarem, e vai me deixar ter uma "conversa" com o vagabundo... –Estou percebendo que com Josué não se brinca, mas eu gostei de ouvir isso, quem dera eu pudesse ter essa conversa com ele também.
Estou impaciente, quero entrar e ver como Clara está, preciso sentir o seu cheiro, preciso tocar o seu rosto e saber que tudo vai ficar bem.
Quase meia hora se passa, quando Maggie aparece totalmente destruída e corre para os braços do noivo que a recebe com um abraço apertado, como das outras vezes.
-Meu bebê, ele quase matou o meu bebê! Aquele filho da mãe, não sei como nos encontrou! –Do que diabos ela está falando?
-Maggie... o que aconteceu? Posso vê-la? –Me aproximo dos dois e ela olha para mim com pena.
-Oh, querido... eu sinto muito...
-Não estou entendendo Maggie... –Uma sensação horrível se apodera do meu corpo ao ver a expressão da mulher no rosto.
-A Clara, ela me pediu para te dar um recado... –Não estou gostando disso, não mesmo. –Ela... ela disse que não quer mais te ver, e pediu que você não a procure, nem ligue... ela precisa de um tempo.
-Como assim Maggie? –Sinto que mais uma vez meu mundo inteiro se desmorona.
-Ela me disse que quer terminar com você, Léo.
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