Capítulo 23 - Parte II
-Fica calada e não faça nenhuma besteira ou já sabe o que vai acontecer com você não é mesmo? -Ele adverte e sai pela porta pisando duro. Escuto o barulho da chave sendo girada. Ele me trancou aqui dentro, merda!
Tento me levantar, mas meu corpo inteiro dói pela quantidade de socos que levei. Quando finalmente consigo ficar de pé, sinto uma terrível tontura e acabo caindo novamente na cama.
-Vamos Clara, você consegue! -Respiro fundo várias vezes e novamente coloco os pés no chão. Tenho que ser rápida, não sei quanto tempo ele vai demorar. Caminho pelo quarto em busca que algo para cortar a corda nos meus braços, mas o filho da puta pensou em todos os detalhes! Fico de costas para o guarda-roupas e consigo abrir a porta com certa dificuldade. Merda! Está vazio! Chuto a porta com raiva e quase caio no chão totalmente esgotada. Eu não vou me render! Não vou!
Caminho mais uma vez, procuro em todas as gavetas, debaixo da cama, inclusive arrasto a cama um pouquinho, mas é em vão.
-Merda, merda, merda! O que eu vou fazer? -Levanto a cabeça e algumas lágrimas caem novamente pelo meu rosto. Cansada de lutar, encosto no guarda-roupas e estou quase desistindo quando sinto uma corrente de ar fresca tocar a minha pele dolorida. -De onde veio isso? -Procuro por todos os lados, mas não acho nem um buraquinho nem nada, até que algo me ocorre. Junto todas as forças que restam no meu corpo e consigo empurrar o guarda-roupas de uma só vez. Quando vejo o que ele escondia, uma felicidade insana invade o meu corpo. Uma janela. O maldito estava usando o móvel para esconder uma janela! Tento abrir como uma louca, mas a porcaria está completamente emperrada, que droga! Não consigo jogar nada contra a janela porque meus braços estão amarrados... a não ser que...
-Isso é loucura, Clara! -Digo a mim mesma, mas é a única saída! Só estou a um andar de distância do chão. Me aproximo da janela para ver o que tem em baixo e o único que vejo é um gramado malcuidado.
A distância da janela ao chão deve ser de uns quatro metros. A casa não é tão grande. Caminho lentamente até a parede oposta à janela e respiro fundo criando coragem para fazer essa loucura. É a minha última saída. Minha maior preocupação, é o bebe que levo dentro da barriga, mas se eu ficar, ele vai sofrer de qualquer jeito, então ou eu me arrisco e posso morrer, ou fico com a certeza de que morrerei.
-Eu não posso fazer isso! -Balanço a cabeça. No que diabos estou pensando? Não! Eu não vou ser covarde. Vamos Clara, você consegue! Respiro fundo uma última vez e pego impulso para correr o mais rápido que posso.
Quando estou por dar o primeiro passo, escuto o barulho da chave novamente, ele voltou. É agora ou nunca Clara!
Corro tão rápido que minhas pernas chegam a vibrar com o choque contra o piso. Estou quase chegando na janela, então viro o meu corpo para que minhas costas quebrem o vidro. Ao cair, vejo o rosto furioso do homem que se diz meu pai e escuto os seus gritos de ódio sobre como sou uma vadia e mais um monte de coisas.
Caio com tudo no chão e uma dor lancinante recobre o meu corpo. Sinto minha pele rasgando com os muitos cacos de vidro da janela, mas essa dor é mascarada pela sensação de liberdade. Me levanto debilmente e começo a caminhar até o portão de entrada o mais rápido que posso. Corro pelo asfalto somente de calcinha e blusa e toda ensanguentada, não encontro uma alma viva para pedir ajuda e meu desespero volta com força.
E se ele me encontrar e me levar de volta para aquela casa?
Aumento a minha velocidade me segurando para não chorar de dor pelos cacos de vidro se enfiando cada vez mais fundo nos meus pés até que um carro para do meu lado.
-Socorro! -Grito e uma mulher desce totalmente desconcertada do veículo.
-Meu deus! O que aconteceu com você? -Pergunta atônita e eu apenas balanço a cabeça.
-Me leva para longe daqui por favor! -Suplico sentindo minha voz falhar e sentindo finalmente a dor por tudo o que passei hoje.
-Claro! Vem vou te levar para o hospital mais próximo! -A mulher abre a porta e me ajuda a entrar no carro. Ela dirige em silencio porem rapidamente pelas ruas e percebo que eu estava realmente muito longe da cidade, porque demoramos quase meia hora para chegar no hospital.
Ela abre a porta e me ajuda a sair do carro.
-Vem, se segura em mim, vou te levar até a entrada, não quero te deixar sozinha para pedir ajuda. -Diz e eu obedeço totalmente agradecida.
-Me desculpa por sujar o seu carro de sangue... -Respondo com a voz fraca.
-Oh meu bem, não precisa se preocupar com isso. -Ela balança a cabeça efusivamente enquanto em ajuda a chegar até a entrada me distraindo com perguntas para que eu não desmaie. -Como você se chama?
-Maria Clara... -Decido não dizer o meu sobrenome, porque com certeza ela reconheceria e não sei se isso seria bom ou ruim.
-Bom Clara, eu meu chamo Joan e prometo que vai ficar tudo bem com você Okay?
Apenas balanço a cabeça já sem forças para continuar.
Quando finalmente chegamos na porta do hospital, uma enfermeira nos vê e age rapidamente, chamando uma equipe que imediatamente começa a me revisar e me colocam em uma maca. É o último que recordo, pois a dor invade o meu corpo e novamente atendo ao pedido da escuridão que me chama tentadoramente.
-Como ela está doutor?
-Está estável, ela sofreu fraturas em duas costelas e tem múltiplas lacerações pelo corpo, perdeu muito sangue então tivemos que fazer uma transfusão de emergência...
-O-o que aconteceu? -Minha boca está seca, então minha voz sai completamente rouca, e sinto um sabor horrível, como se tivesse comido terra.
-Minha filha, você acordou! -Mamãe se coloca do meu lado e me abraça totalmente aflita. -Eu fiquei tão assustada!
-Mãe... agua... -Peço e ela corre até uma mesinha, enche um copo com agua fria e volta, colocando um canudinho na minha boca.
-Bebe devagar meu bem...
Obedeço e tomo pequenos goles do liquido, sentindo o frescor na minha garganta.
-Como ele está mamãe? -Pergunto e ela olha para o médico com uma expressão desconcertada. -Mãe? -Tento me levantar, mas a dor me impede e o médico briga comigo dizendo que não posso me esforçar por causa das costelas quebradas. Toco o meu estômago e sinto que meu abdômen está completamente enfaixado. Lágrimas começam a cair dos seus olhos e imediatamente começo a chorar junto com ela.
-Eu sinto muito meu bem... porque você não me contou? -Me abraça e um grito escapa pela minha garganta. Por que comigo? O que eu fiz para merecer isso?
Começo a chorar desconsolada e escuto o aparelhinho conectado ao meu dedo apitar cada vez mais rápido. Uma dor se instala no meu peito como se estivessem espremendo o meu coração.
-Sara! Traz o desfibrilador! -Escuto alguém gritando, mas a dor continua lá. De repente tudo fica escuro novamente e o último que escuto é o lamento desesperado de mamãe.
POR LÉO
-Como ela teve coragem de fazer isso comigo? Eu sabia que ela não gostava de mim, só estava procurando o que todas querem: fama! -Esmurro mais uma vez a porta já toda arrebentada do estúdio. Rafael me olha com a mesma expressão no rosto de vinte minutos atrás.
Se eu soubesse o que iria encontrar aqui, sequer teria vindo. Mas não, quando Clara mandou aquela maldita mensagem dizendo que queria conversar comigo que era urgente, eu dirigi como um louco para chegar o mais rápido possível! Como sou burro!
Me sento no sofá e apoio a cabeça em ambas mãos. Meu peito dói só de lembrar da cena que vi. Os dois se beijando... Clara tocando o seu rosto, como tocava o meu. Ela ainda teve coragem de querer se "explicar" para mim, mesmo sabendo que eu vi tudo, porra! Eu estava preparando uma maldita surpresa para ela hoje, para pedi-la em namoro, será que não posso ser mais idiota?
Porra!
Chuto a mesinha de centro que cai e o vidro se espatifa no chão.
-Calma aí o Rocky Balboa, o Jhon já está puto com você pelo estrago que fez na porta... -Rafael se senta do meu lado e continua falando e falando como uma matraca.
-Rafael, você não entende... eu... eu... merda!
-Eu entendo sim, e muito..., mas você deveria tê-la escutado, ouvido a sua versão da história, os dois lados da moeda...
-Cara juro que se você fizer mais uma comparação dessas eu vou usar a sua cara como saco de pancadas. -Rosno e ele cai na risada sabendo que eu nunca faria isso, e se o fizesse ele me arrebentaria na porrada.
-Léo, vai para casa, se acalma e depois conversa com ela, talvez você entendeu tudo errado. -Meu amigo se levanta e começa a caminhar até a porta.
-Na verdade eu vou é perguntar para aquele idiota do Marcelo! Vou socar a cara dele até ele ficar irreconhecível! -Passo correndo por Rafael, mas sou puxado pelo colarinho.
-Ah mas não vai fazer isso, não mesmo. -Ele me arrasta até a saída e eu me deixo ser levado. Talvez ele tenha razão, talvez tudo não passou de um engano...
-Pode me soltar, Rafa... -Peço e ele me olha com a sobrancelha levantada, em dúvida. -Vamos cara, sabe que não vou bater em ninguém... -Ele finalmente me solta e caminhamos lado a lado.
Vou fazer o que ele disse, irei até a minha casa, tomarei um banho demorado, e depois ligarei para Clara e escutarei sua explicação, somente após isso, vou reagir de acordo ao que ela me disser.
Quando estou já na saída, quase chegando ao meu carro, Marcelo se aproxima de mim, com um sorriso idiota na cara.
-Os beijos da Clara sempre foram doces... e agora não é diferente. -Provoca e eu balanço a cabeça sem dizer nada. Tiro a chave do bolso e aperto o botão para desbloquear o meu carro. Não vou cair na conversa desse babaca, mas isso não vai ficar assim, vou conversar pessoalmente com Jhon sobre esse idiota. -Será que ela é tão apertadinha como na primeira vez que transamos? O que eu sei é que ela era uma fera na cama... -Agora isso sim eu não vou permitir.
-Você toca no nome dela mais uma vez e eu arrebento essa sua cara. -Digo sem nem ao menos me incomodar em olhar para ele.
-Ah cara, vocês se merecem, sério... mas saiba que eu sempre serei a sua primeira foda. E que foda deliciosa! -Isso foi tudo.
Dou um soco bem dado nele e o garoto se estatela no chão. Aproveito para subir em cima dele e começo a socar ainda mais a sua cara. Ele consegue se defender e acaba me fazendo cair, como consequência, levo alguns socos no rosto e peitoral. A dor e a raiva me impulsam e eu consigo me livrar do seu aperto, dando uma joelhada nas suas costelas e o fazendo cair outra vez. Quando estou quase subindo nele para continuar, sou puxado por dois pares de braços musculosos e jogado para longe do babaca que agora está quase desmaiado e todo ensanguentado no chão.
-Você ficou louco cara! -Rafael grita e me empurra para dentro do meu carro. Estou tão furioso que esmurro o volante algumas vezes e posso até sentir alguns ossos dos dedos quebrando. -Vá para casa Léo, e torça para não ser processado! -Fecha a porta com força a eu respiro fundo antes de ligar o motor e sair derrapando estrada afora.
Depois de tomar banho e constatar que realmente quebrei alguns dedos da mão, decido ligar para Clara e esclarecer de uma vez por todas esse assunto.
Procuro o seu contato no meu telefone e quando o encontro, aperto o botão ligar.
"Esta chamada está sendo encaminhada para a caixa postal, deixe sua mensagem após o sinal, biiip."
Merda. Será que ela não quer falar comigo agora? Tento novamente e nada. Fico assim por alguns minutos até que desisto. Vou esperar até que ela queira conversar comigo. Talvez ela esteja brava também.
Deito na cama e tento mexer minha mão direita. Sinto uma dor horrível. Porra, como dói!
Me levanto e vou até a cozinha pegar uma bolsa de gelo para colocar em cima e ver se desincha um pouco pelo menos.
-Você deveria ir ao hospital, menino. -Patrícia, uma de minhas governantas me diz ao observar o estado da minha mão por baixo do gelo.
-Não deve ser nada, -minto -Quem sabe o gelo faça melhorar. -Não quero ir para lugar nenhum agora, só quero deitar na minha cama e esquecer de tudo o que aconteceu hoje.
-Rapaz, essa mão sua está quebrada, coitado de quem recebeu o soco... -Essa mulher adivinha tudo sempre.
-É ele ficou bem ferrado, se quer saber. -Solto uma risadinha orgulhosa e ela me olha feio. Desfaço a risada na mesma hora.
-Só espero que tenha sido por uma boa razão, agora você irá para o hospital ou eu vou te levar à força. -Ameaça e eu obedeço porque sei que essa mulher é capaz de fazer isso mesmo se eu não resistir.
Tento convencê-la de que irei dirigindo, mas ela não deixa, alegando que posso acabar causando algum acidente, então chamo um dos seguranças para me levar.
Há um hospital bem perto de ondo moro, então não demoraremos muito para chegar. No caminho vou pensando em muitas coisas, em como tudo aconteceu, o beijo que vi, e a raiva que senti ao ver Clara sendo tocada por outro. Balanço a cabeça e tento pensar em outra coisa, não quero acabar quebrando as duas mãos em um dia.
-Chegamos senhor Moura, quer que lhe acompanhe? -Não, obrigado Estevão, pode estacionar e me esperar lá por favor, não devo demorar. -Digo enquanto saio do carro e caminho até a entrada do hospital.
Vou até a recepção e a moça me olha espantada.
-Meu Deus! Você é...
-Sim, Léo Moura, então eu preciso de um médico, acho que quebrei a minha mão. -A corto antes que ela acabe fazendo algum escândalo. Simplesmente esqueci que era famoso e nem me preocupei em me disfarçar. As vezes gostaria de não ser reconhecido uma vez na minha vida.
-Oh sinto muito! Vou chamar um médico agora mesmo senhor Moura! -Ela sai correndo quase tropeçando nos próprios pés e volta alguns segundos depois arrastando a um pobre coitado pelo jaleco.
-Aqui, esse é o doutor Bueno, ele vai te atender. -Praticamente empurra o homem para cima de mim.
-Obrigado. -Agradeço e acompanho o médico que caminha sem dizer nada.
-Então parece que andou se metendo em confusão hoje hein? -Brinca quando chegamos no seu consultório.
-Sim, mas ele mereceu. -Respiro fundo de dor quando ele examina minha mão roxa.
-Parece que está quebrada mesmo, mas vamos tirar o raio x para confirmar. Coloque sua mão aqui por favor e não se mexa até eu dizer que já pode fazê-lo. -Faço o que ele diz e fico parado igual uma estátua por alguns minutos esperando o seu sinal. -Tudo bem, já terminei, irei revelar o exame e já volto.
-Tudo bem, obrigado.
Me sento na cadeira e espero. Odeio hospitais e qualquer tipo de clínica, não porque tenha medo de agulhas ou de médicos, mas porque me faz lembrar da minha mãe. Pego o meu celular e vejo alguns vídeos na internet para passar o tempo até que ele volte.
Alguns minutos depois a porta se abre e o médico entra com um lamina parecida a um negativo de fotografia.
-Bom, acho que você já sabia disso, mas infelizmente você quebrou dois metacarpos e duas falanges, teremos que engessar. -Merda! -Por sorte não precisaremos te aplicar uma anestesia geral, então se puder me acompanhar, já pedi para que preparem o gesso. -Me levanto e suspiro, não tem outro jeito.
Depois de quase vinte minutos, saio da sala com a mão engessada e vários pedidos de fotos. Caminho rápido até a saída para escapar de mais algum fã, quando acabo trombando em alguém.
-Me desculpa, eu não te vi... -Começo, mas paro no mesmo instante que reconheço a pessoa. -Priscila? Está tudo bem? -Ela me olha assustada e eu tenho que balançar o seu corpo para que a garota reaja e me responda. -Priscila?
-A Clara, ela... eu... a Maggie me ligou e eu não...
-Aconteceu algo com a Clara? Por favor me diz! -Uma sensação ruim se apodera do meu corpo e sinto minhas pernas bambas.
-Sim, ela foi sequestrada, mas conseguiu escapar, só que a Maggie me disse que ela estava muito mal e...
-Em qual quarto ela está? -Quase grito assustando a garota ainda mais, então abaixo um pouco a voz. -Aonde ela está Priscila?
-Acho que no quatrocentos e cinquenta... -Nem espero que ela termine de dizer, saio correndo em busca do maldito quarto. Por favor, que ela esteja bem, por favor!
Levo alguns minutos para achar o andar e outros minutos para finalmente encontrar o quarto. Quando chego perto, vejo que uma enfermeira segura Maggie que tenta desesperadamente passar pela porta.
-Clara! Meu anjo, não me deixa! -Choraminga e eu corro ainda mais até que paro do seu lado.
Meu mundo cai completamente quando vejo a cena que acontece do outro lado do vidro transparente.
NOTA DO AUTOR
Meus amores, a segunda parte está ai como prometi... Estou tão, mas tão triste, serio... coitadinha da nossa querida Clarinha, ela não merecia nada disso, mas afinal, ninguém merece não é?
Aguardem, porque os próximos capítulos serão muito tensos também, e já estamos chegando na reta final, ahhhhhh meu Deus! Não consigo acreditar nisso! Bom, vou deixar vocês em paz, não se esqueçam de comentar e votar please!! Quem sabe assim eu resolva fazer um cap bônus pra vcs! ;)
Bjinhoooos BF
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