8. Bom Demais Para Ser Verdade
POV Ana Carla
" Tudo pode ser um propósito
Se você permitir..."
- O que você disse? - Rebeca repetiu, mais surpresa do que da primeira vez.
- Ele me ofereceu um emprego. - Respondi, tentando manter a calma, mas sentindo meu coração disparado no peito.
- Assim... do nada? - Ela me olhou incrédula, como se esperasse que eu estivesse brincando.
- Não foi "do nada", Beca... - Tentei justificar, mas ela arqueou as sobrancelhas, cética.
- Ah, claro que não foi, antes ele deixou o almoço espalhado no chão do seu apartamento.
Fiz uma careta, olhando feio para Rebeca, mas ela não se afetou, como sempre. Rebeca nunca se deixava abalar pelas minhas reações. Em vez disso, ela apenas cruzou os braços e esperou que eu continuasse.
Me virei para olhar Elena, que dormia tranquilamente no lugar onde Robert esteve deitado boa parte da tarde.
Ela parecia tão em paz, e eu me peguei perguntando se estava prestes a tomar a decisão certa, não só por mim, mas por ela.
Robert tinha sido tão estranho naquela tarde, mal deitando ali na cama, alegando que precisava descansar até que seu assessor viesse buscá-lo.
Eu ainda não conseguia tirar da cabeça o jeito como ele parecia tão... frágil.
- Eu vou ser muito louca se aceitar? - Perguntei, quase num sussurro, mais para mim mesma do que para Rebeca.
Acariciei os cachos de Elena, sentindo um aperto no peito.
Ela era a razão de tudo, de cada decisão que eu tomava, e a ideia de melhorar nossa vida com essa oportunidade parecia irresistível, mas ao mesmo tempo assustadora.
Um sorriso triste escapou dos meus lábios.
Rebeca, percebendo meu estado, se inclinou sobre o colchão e pegou minha mão, atraindo meu olhar para ela.
Só percebi que estava chorando quando sua imagem ficou fora de foco à minha frente.
Pisquei rapidamente, tentando afastar as lágrimas.
- Amiga... - Ela soltou um suspiro profundo, seu tom suave e compreensivo. - É estranho... Ele é o cara mais famoso de Hollywood e passou a tarde deitado na sua cama e nem estava pelado...
Eu ri, apesar de mim mesma, e ela riu junto comigo, quebrando um pouco a tensão que pairava no ar.
- O que eu quero dizer - ela continuou, ainda sorrindo - é que... é muita loucura, sim. Mas você nunca fez nada louco desde que Elena nasceu. E talvez... essa seja a melhor loucura da sua vida.
Soltei um suspiro, sabendo que ela tinha razão.
Eu tinha sido cautelosa desde o nascimento de Elena, sempre colocando as necessidades dela em primeiro lugar, sempre garantindo que tudo fosse seguro e estável.
Será que esse emprego era realmente uma chance de mudar nossa vida para melhor?
Rebeca apertou minha mão com mais força, trazendo-me de volta para o presente.
- Qual foi a proposta, afinal? - Ela perguntou, curiosa, mas sem perder o tom de apoio.
Respirei fundo, ainda sem saber como explicar.
Parecia tudo tão surreal.
Robert tinha me oferecido não só um emprego, mas um futuro melhor para mim e minha filha.
Mas ao mesmo tempo, a desconfiança me rondava.
- Ele disse que eu vou trabalhar para ele, cuidando da casa. Mas é mais do que isso. - Parei, tentando encontrar as palavras certas. - Eu vou coordenar uma equipe. Ele falou que vai pagar a escola da Elena. Uma escola boa, Beca, dessas que têm balé, outras línguas...
Rebeca arregalou os olhos, claramente impressionada.
- Isso é... incrível, Ana! - Ela balançou a cabeça em aprovação. - Parece perfeito.
Eu sorri, um sorriso pequeno, ainda carregado de incertezas.
- Vou até a produtora amanhã para saber mais detalhes. Ver como tudo vai ser. - Completei, esperando que essa visita esclarecesse algumas das minhas dúvidas.
Rebeca assentiu, olhando para mim com expectativa e apoio.
- Faz isso. Mas... só não esquece de se proteger, tá? - Ela acrescentou, o tom um pouco mais sério agora. - Ele pode ser famoso e tudo mais, mas ainda é um homem. Só toma cuidado.
Eu assenti, sentindo o peso da responsabilidade, mas também a esperança que começava a crescer dentro de mim.
Naquela noite, depois de conversar com Rebeca, fiquei sozinha no silêncio do meu quarto, observando Elena dormir tranquilamente. O ar estava pesado com meus pensamentos, e a imagem de Robert, pálido e fragilizado na minha cama, não saía da minha cabeça. O jeito como ele ficou mal naquele dia... aquilo tinha me deixado preocupada.
Eu me lembrava de cada detalhe: o suor escorrendo pela testa dele, os olhos meio fechados, a respiração pesada. Parecia que ele estava à beira de um colapso. E então, o que me deixou ainda mais desconcertada, foi o modo como ele se recusou a aceitar qualquer ajuda.
Naquele momento, eu me perguntei: por que alguém como ele, com tanto poder, dinheiro e fama, estaria tão vulnerável e, ainda assim, não se permitiria ser cuidado? Era quase como se ele quisesse esconder algo... Mas o quê? Será que Robert estava mais doente do que queria admitir?
Passei a mão pelos meus cabelos, tentando afastar o incômodo que essa lembrança me causava. Tinha algo de estranho naquela situação. Robert, tão acostumado a estar no controle, parecia completamente fora de si. E pensar que ele me ofereceu um emprego logo depois de passar mal... parecia... irracional. Como se ele estivesse tentando compensar alguma coisa, ou talvez... se redimir? Eu não sabia. Só sabia que havia algo por trás daquele sorriso educado e daquela generosidade inesperada.
Por um instante, me peguei pensando no que poderia acontecer se ele realmente não estivesse bem. Será que isso explicaria por que ele parecia tão... urgente? Como se estivesse correndo contra o tempo para fazer algo importante. E por que escolher logo a mim? Uma mãe solteira, lutando para sobreviver em um trabalho ingrato. Ele podia contratar qualquer um. Por que me oferecer uma chance dessas, que parecia tão boa que eu mal podia acreditar?
Balancei a cabeça, afastando os pensamentos. Talvez eu estivesse lendo demais nas entrelinhas. Talvez fosse apenas uma coincidência infeliz ele ter passado mal daquele jeito. Mas a sensação persistia, aquela sensação de que algo não estava certo.
Olhei para Elena de novo, seus cachos espalhados pelo travesseiro, e senti o aperto familiar no peito. Eu não podia arriscar. Aceitar o emprego significava abrir mão de parte da minha segurança. Significava confiar em Robert - alguém que eu mal conhecia, e que, apesar de tudo, parecia carregar seus próprios segredos.
Mas ao mesmo tempo, como poderia recusar? Se o que ele disse era verdade, isso poderia mudar nossa vida de forma que eu nunca teria imaginado possível. Elena em uma escola boa, oportunidades que eu jamais poderia oferecer a ela sozinha. E eu, com um trabalho que parecia melhor do que tudo que eu já tive.
Suspirei profundamente. Eu sabia que estava à beira de uma decisão importante, mas, ao mesmo tempo, não podia ignorar o que eu tinha visto. O Robert que desmoronou no meu apartamento era muito diferente do Robert que eu via na TV ou nas revistas. Ele parecia... humano. Quase quebrado. E isso, de alguma forma, me assustava.
Ainda assim, havia algo em mim que queria confiar. Talvez por ele ter me oferecido uma saída num momento em que eu estava desesperada. Talvez porque, por trás de toda aquela fragilidade, havia uma gentileza em seus olhos que eu não conseguia ignorar.
Cheguei na produtora de Robert com o coração acelerado. O prédio era imponente, todo de vidro e metal, refletindo o céu acima e as ruas agitadas ao redor. O tipo de lugar que eu só tinha visto de longe ou pela TV. Fiquei parada por um momento na entrada, tentando absorver tudo. Um ambiente assim parecia surreal para alguém como eu, que estava acostumada com a correria dos empregos mais simples e, muitas vezes, ingratos. Respirei fundo antes de entrar.
A recepcionista me atendeu com um sorriso mecânico e profissional. O crachá dela reluzia com o nome "Rachel" e, sem levantar muito os olhos do computador, disse com a mesma formalidade:
- O senhor Robert está esperando por você. Michael vai acompanhá-la até lá.
"Michael?" O nome soou familiar, mas antes que eu pudesse processar, um homem alto, de aparência séria e roupa impecável, apareceu à minha frente. Ele não sorriu. Apenas me examinou de cima a baixo com um olhar avaliador e depois se virou, indicando com a cabeça para que eu o seguisse.
- Vamos. - A voz dele era firme, mas sem calor.
Segui Michael por um corredor longo e silencioso. À medida que caminhávamos, eu não conseguia evitar a sensação de que estava fora do lugar. Tudo parecia tão bem organizado, tão brilhante. Eu me sentia deslocada, como se todos soubessem que eu não pertencia àquele mundo. E Michael não estava fazendo questão de me fazer sentir o contrário.
Ele andava à minha frente, sem se incomodar em puxar conversa. Apenas me guiava com um passo firme e determinado, como se tivesse coisas mais importantes para fazer. Era óbvio que ele não estava feliz com a minha presença ali. Ele devia estar pensando o mesmo que Rebeca: "Por que Robert ofereceria um emprego a ela?"
Finalmente, paramos diante de uma porta de vidro fosco. Michael se virou para mim, com o rosto neutro, mas com um leve tom de condescendência na voz.
- Robert está aqui. Ele vai te explicar tudo. - Ele fez uma pausa, como se estivesse decidindo se deveria ou não continuar. - Se precisar de alguma coisa, fale com a recepção.
Antes que eu pudesse responder, ele abriu a porta e fez um gesto para que eu entrasse. Não houve nem um "boa sorte" ou um sorriso de encorajamento, apenas aquele olhar vazio de alguém que não acreditava que eu merecia estar ali. Me senti pequena, mas engoli a insegurança e entrei.
A sala de Robert era elegante, mas de uma forma discreta. Havia livros espalhados em uma estante de madeira escura, uma mesa de vidro com papéis organizados e grandes janelas que deixavam a luz natural iluminar todo o ambiente. Robert estava sentado em uma poltrona de couro ao lado da janela, com uma expressão relaxada, mas atenta. Quando me viu, seus olhos brilharam e ele esboçou um sorriso caloroso, totalmente diferente do que eu tinha acabado de presenciar com Michael.
- Ana! Que bom que você veio. - Ele se levantou lentamente, caminhando até mim com um ar genuíno de satisfação. - Como você está? Melhorou da correria da última vez?
- Eu estou bem, sim. - Sorri de volta, mais aliviada por ele estar me recebendo com tanta leveza. - E você? Está melhor?
Ele assentiu, levando a mão ao estômago, como se ainda lembrasse do que havia acontecido na última vez que nos vimos.
- Sim, muito melhor. Aquele dia foi... incomum, para dizer o mínimo. Mas obrigado por ter cuidado de mim, foi... gentil da sua parte. - Seus olhos se suavizaram enquanto falava, e eu sentia que ele realmente apreciava o que eu tinha feito, mesmo que fosse algo tão simples.
Tentei relaxar, embora ainda me sentisse um pouco tensa. Tirei os documentos da bolsa, entregando-os a ele.
- Trouxe tudo o que você pediu.
Robert pegou os papéis e colocou-os sobre a mesa.
- Ótimo, isso vai agilizar o processo. Como eu disse, Ana, quero garantir que você e Elena tenham todo o suporte. - Ele se aproximou, seus olhos nos meus, com uma sinceridade que me pegou de surpresa. - Todos os dias, um transporte escolar vai buscar Elena em sua casa e levá-la de volta no fim do dia. Durante a semana, ela vai poder fazer aulas de balé, aprender novas línguas e participar de atividades extracurriculares na escola.
Fiquei parada, absorvendo cada palavra. Por um segundo, o peso de tudo aquilo me deixou sem reação. Eu sabia que a proposta era boa, mas ouvir os detalhes agora, saber que minha filha teria oportunidades que eu jamais poderia proporcionar... me deixou emocionada. Quase não consegui falar, com um nó se formando na garganta.
- Isso... - Respirei fundo, tentando manter a voz firme. - Isso parece bom demais para ser verdade, Robert.
Ele riu levemente, colocando as mãos nos bolsos.
- É verdade, Ana. Além disso, você terá um bom salário e todos os benefícios, como plano de saúde. Eu quero que você esteja tranquila para focar no seu trabalho.
Por mais que eu quisesse aceitar tudo aquilo de braços abertos, uma parte de mim ainda estava desconfiada. Eu me aproximei um pouco mais, sem quebrar o contato visual.
- Por que você está fazendo isso, Robert? - Minha voz saiu suave, mas havia um toque de desconfiança. - Não estou reclamando, mas... é muito.
Robert hesitou por um momento, o sorriso diminuindo levemente. Ele olhou para o lado, como se estivesse escolhendo as palavras certas antes de me responder.
- Ana, eu acredito que pessoas que trabalham duro merecem oportunidades justas. E você merece. Elena merece. - Ele voltou a me encarar, os olhos mais sérios agora. - Eu vi o que você faz pela sua filha e... bom, talvez eu veja um pouco de mim mesmo nessa situação.
Fiquei calada, tentando entender o que ele queria dizer com aquilo. Havia mais ali, algo que ele não estava dizendo, mas, ao mesmo tempo, eu sabia que essa era minha chance.
.
.
.
.
.
.
umalufanazinha
anahoanny
Gla_mours0101
ElisaMesquita0
BellaMikaelson17
Biiafss2708
AneDagloria
lara2007santos
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro