POV Ana Carla
Dei graças a Deus quando o fim de semana chegou e eu finalmente pude descansar um pouco.
Deixei Elena brincando no tapete da sala enquanto eu limpava os outros cômodos do apartamento e já estava terminando o banheiro quando Rebeca chegou.
- Tia Becaaaaaaa!- Elena gritou.
- Oi, lindinha.
Sorri antes mesmo de chegar a sala e ver as duas abraçadas. Minha filha era apaixonada por minha amiga e Rebeca não era diferente.
- Eu trouxe algo para você.- disse entregando um pirulito enorme para Elena.
- Amiga!- ralhei.- Além de ser doce ainda é grande!
- Deixa de ser chata.- ela rebateu me olhando feio.
- Posso, mamãe?- Elena me olhou com seus olhos verdes pidões.
Eu suspirei.
Como eu poderia resistir a um anjo em forma de criança, com sua pele âmbar, cachos castanhos e olhos verdes?
- Só depois do almoço.- falei olhando firme para ela.
Elena pulou no lugar antes de sair gritando pela casa para guardar o doce.
- Você vai colocar minha filha em mau caminho.- falei para Rebeca.
- Por causa do doce? Deixa pra reclamar quando eu ensinar ela a tomar tequila com sal e limão.
Rolei meus olhos, mas acabei rindo.
- E pra mim você não trouxe nada?- perguntei cruzando meus braços.
Rebeca balançou suas sobrancelhas para mim e ergueu uma garrafa de vinho da sacola.
- Bora beber.
Eu e Rebeca estávamos sentadas no sofá da sala, cada uma com uma taça de vinho na mão. Elena já estava dormindo, e o apartamento finalmente estava em silêncio. O vinho desceu leve, e eu senti que era o momento de contar o que tinha acontecido no bar, naquele dia que saí sozinha.
— Então, lembra que eu fui sozinha pro bar na outra semana? — comecei, girando a taça de leve, tentando achar as palavras certas.
Rebeca deu um gole e assentiu, curiosa.
— Claro. Você saiu de lá bem rapidinho. Por quê?
Eu dei uma risada meio sem jeito e olhei para ela, como quem vai soltar uma bomba.
— Encontrei o Robert Pattinson lá.
Rebeca engasgou com o vinho, os olhos arregalados.
— O quê? Como assim encontrou? Você só esbarrou nele ou...?
— Ele chegou até mim no bar, disse que a mesa era dele e pediu pra eu sair. — Eu sorri, lembrando da cena. — Mas aí ele sentou, pediu uma cerveja, e a gente acabou bebendo juntos.
— Você bebeu com o Robert Pattinson? — Rebeca estava praticamente pulando no sofá. — E você não me contou isso antes?!
Eu balancei a cabeça, tentando amenizar a situação.
— Não foi nada demais, Rebeca. Ele foi super tranquilo, a gente só conversou. Ele parecia uma pessoa comum, sabe? Bem diferente do que eu imaginava.
Rebeca ainda estava chocada.
— Mas e aquele lance que falam de que ele ficou todo antipático, cheio de marra depois de "Crepúsculo"? Ele era assim?
Eu ri, lembrando da conversa.
— Nem um pouco. Pelo contrário. Ele tava mais quieto, meio cansado. A gente conversou sobre coisas normais. Eu falei do Igor, ele disse que gosta de ir lá pra escapar da realidade. Não teve nada de estrelismo.
Rebeca balançou a cabeça, surpresa.
— Uau. Eu não imaginava ele assim. Acho que o pessoal inventa muita coisa também, né? Mas ainda assim, você ficou cara a cara com o Robert Pattinson e nem me contou... não acredito!
— É que, pra mim, ele parecia só um cara comum. A conversa foi boa, mas não foi nada de outro mundo. — Eu dei de ombros, querendo deixar o assunto de lado.
Rebeca ainda estava pensativa, mas mudou o rumo da conversa de repente.
— Aliás, falando em coisas boas... encontrei umas vagas de emprego pra gente.
Meus olhos se arregalaram um pouco. A ideia de deixar a lanchonete e, principalmente, Igor, parecia tentadora.
— Sério? Que vagas?
Ela me olhou com um sorriso esperto.
— Tem uma vaga que eu acho que é perfeita pra você. É pra ser governanta e cuidar da cozinha de uma casa. Eles querem alguém que saiba cozinhar e que seja organizada. Pensei que seria a sua cara.
Bom, eu gostava de cozinhar e era organizada.
— Governanta? Cuidar de uma casa? — Fiquei pensativa, a ideia parecia distante, mas interessante. Principalmente porque eu não tinha experiência com nada.— Parece diferente... mas pode ser bom, sair daquela lanchonete.
Rebeca assentiu com entusiasmo.
— Exatamente! E eu também achei uma vaga pra mim, num consultório médico. É como recepcionista, mas o salário é bem melhor do que o que tô ganhando agora.
— Parece ótimo, Rebeca. — Sorri, já sentindo uma esperança surgindo. — Talvez seja isso que a gente precisa. Um recomeço.
— Exatamente! — Rebeca levantou a taça, brindando. — Às novas oportunidades!
Eu ri e brindei com ela, sentindo que, talvez, as coisas estivessem começando a mudar para melhor.
POV Robert Pattinson
Cheguei na produtora um pouco mais tarde do que o habitual, com a dor de cabeça já familiar começando a se insinuar na parte de trás dos meus olhos. Entrei no prédio, cumprimentei a equipe com um leve aceno, fingindo a usual cordialidade que eu precisava manter, e segui direto para o escritório. Michael já estava lá, esperando, como sempre.
— Robert, bom que chegou. Precisamos que você dê uma olhada nas gravações do novo filme. Algumas cenas ficaram ótimas, mas os editores estão com dúvidas sobre a continuidade em uma sequência. — Michael foi direto ao ponto, sem rodeios, como de costume.
Eu me sentei na cadeira atrás da mesa, esfregando a têmpora na tentativa de aliviar a pressão crescente.
— Certo, eu olho isso depois. — Murmurei, jogando a mochila de lado. — Mas sobre as entrevistas da nova governanta, prefiro cuidar sozinho. Marca as entrevistas para a próxima semana aqui na produtora, por favor.
Michael franziu a testa, um tanto surpreso.
— Tem certeza? Eu posso cuidar disso. É só uma governanta...
Eu balancei a cabeça, interrompendo.
— Prefiro fazer eu mesmo. — A última coisa que eu queria era correr o risco de ter outra Luana no meu espaço. Precisava escolher alguém que não fosse uma complicação.
Michael deu de ombros e saiu para resolver o resto do dia, e eu fiquei ali, no silêncio do meu escritório. Fechei os olhos por um momento, tentando focar no trabalho, mas minha mente começou a vagar, como vinha acontecendo nos últimos dias.
A conversa com Ana Carla no bar invadiu meus pensamentos. Lembrei de como ela olhou para mim, o jeito como rebateu quando pedi a mesa. A princípio, ela parecia apenas irritada, mas depois... eu não sei, havia algo mais ali. Uma espécie de conforto inesperado na conversa.
Sem querer, me peguei sorrindo, relembrando o rosto dela. Os olhos amendoados, castanhos profundos, longos cílios que emolduravam aquele olhar intenso. E o nariz dela, delicado, combinando com os lábios que se moviam com uma tranquilidade quase hipnotizante enquanto falávamos. Por algum motivo, a lembrança me acalmava, e isso era estranho. Eu não costumava me distrair tão facilmente.
Antes que eu pudesse me perder mais nesses pensamentos, Michael entrou sem bater, como sempre fazia. Ele parou no meio da sala, me olhando com curiosidade.
— Do que você tá rindo? — perguntou, percebendo o sorriso que eu mal notara em meu próprio rosto.
Desviei o olhar, balançando a cabeça como se não fosse nada.
— Não era nada, só... lembrei de uma coisa. — respondi, apressado, tentando não dar muita importância àquilo.
Michael me lançou um olhar suspeito, mas preferiu não insistir.
— Certo... bom, vou marcar as entrevistas pra semana que vem então. Vou cuidar disso. — E saiu, me deixando novamente com meus pensamentos.
Soltei um suspiro longo, voltando a fitar a tela do computador à minha frente. Eu precisava focar no trabalho.
Eu me levantei da mesa e fui até a sala de projeção para analisar as gravações que Michael havia mencionado. As luzes se apagaram, e as primeiras cenas começaram a rodar na tela. No entanto, logo no início, uma sensação de náusea começou a tomar conta de mim. Era sutil, no começo. Só uma pontada, algo fácil de ignorar. Mas conforme os minutos passavam, a sensação piorava. Tentei focar nos detalhes do filme, mas o mal-estar crescia.
Sem conseguir mais suportar, levantei antes de terminar e voltei ao meu escritório. A cabeça parecia pesada, como se estivesse prestes a explodir. Peguei um copo de água, tentando aliviar a tontura. Minha visão estava turva, e o estômago revirava. Eu me joguei no sofá, na tentativa de me estabilizar, fechando os olhos para ver se o mundo parava de girar.
Ouvi a porta se abrir e, sem nem precisar olhar, já sabia que era Michael.
— Falei com o seu médico. — disse ele, direto, sua voz carregada de preocupação.
Abri os olhos devagar e me sentei, minha cabeça latejando. A irritação cresceu rapidamente.
— Você fez o quê? — rebati, minha voz saindo mais áspera do que pretendia. — Você não tinha o direito, Michael. Isso não é da sua conta.
Michael cruzou os braços, a expressão séria e resoluta. Ele não se deixava intimidar com facilidade, o que só aumentava minha frustração.
— Eu tinha, sim. — Ele me encarou. — Sou seu assessor, mas mais do que isso, sou seu amigo. E você precisa ouvir isso, Robert. Se continuar assim, ignorando o tratamento, vai acabar morrendo.
A palavra soou no ar como um soco, e eu senti o sangue subir à cabeça. Levantei do sofá com um movimento brusco.
— Não é sua decisão! — disse, minha voz elevando-se. — Você não tem ideia do que está me pedindo. Não vou passar por aquilo de novo. Não vou.
Michael suspirou, esfregando o rosto com as mãos, claramente frustrado.
— Robert, eu sei que é difícil. Mas você não pode continuar assim. Está se enganando, acha que pode controlar isso, mas não pode! Você vai piorar, e rápido.
Eu me afastei, tentando respirar fundo, tentando afastar a angústia que tomava conta de mim sempre que esse assunto surgia. Não queria aceitar. Não queria lidar com isso de novo. A última vez foi insuportável. Agora, a ideia de enfrentar tudo de novo...
— Não me peça pra fazer isso, Michael. — Minha voz saiu mais baixa dessa vez, quase como um apelo.
Michael balançou a cabeça lentamente.
— Não estou pedindo, Robert. Estou te dizendo que você precisa. Ou vai acabar se destruindo antes do que imagina.
O silêncio caiu entre nós, pesado. Eu não tinha mais palavras. Tudo que eu queria era que essa realidade desaparecesse, como se fosse algo distante, algo que eu pudesse ignorar para sempre.
Michael me olhou uma última vez, sua expressão mais suave agora, quase triste.
— Pense nisso. Não adianta fingir que está tudo bem. — Ele saiu da sala, deixando o peso da verdade cair sobre mim mais uma vez.
Me joguei de volta no sofá, o mal-estar persistente ainda presente. Fechei os olhos, tentando encontrar algum alívio. Mas as palavras de Michael ecoavam na minha mente, como um lembrete cruel do que estava por vir.
Saí da produtora sentindo um alívio momentâneo após ter tomado um pouco de água e descansado. Ainda me sentia um pouco fraco, mas decidi que não queria ir direto para casa. Não queria ficar sozinho com meus pensamentos. Não dessa vez. O bar parecia uma boa opção, um lugar onde eu poderia fingir que tudo estava bem, pelo menos por algumas horas.
Ao entrar, dei uma olhada ao redor.
Meus olhos percorreram o ambiente quase automaticamente, procurando algo... ou alguém.
Não a vi.
Ana Carla não estava lá.
Uma parte de mim se sentiu ridiculamente desanimada com isso, o que me pegou de surpresa.
Por que eu esperava vê-la?
Talvez fosse porque conversar com ela, naquela noite, me fez esquecer por um tempo toda a merda que estava acontecendo.
Era confortável.
Me sentei no balcão, pedindo uma cerveja sem álcool. Era um hábito, tomar algo familiar, mesmo que eu não pudesse mais beber de verdade.
Era como enganar a mim mesmo, fingindo que estava tudo normal. Tomei uns goles, deixando o líquido frio escorrer pela garganta, mas não sentia o mesmo alívio que costumava.
Minha mente martelando as palavras de Michael.
Eu sabia que ele se preocupava comigo, ele era o único que sabia o que eu estava passando a 3 anos, eu sabia que ele tinha razão, mas a verdade era que eu não tinha mais porque lutar.
Minha família estava bem, eu não tinha, e nem teria, filhos, não ia me relacionar com ninguém... Eu não tinha porque lutar de novo...
Depois de um tempo, decidi que era hora de ir embora. Estava de pé e me preparava para sair quando, no caminho, uma cena chamou minha atenção em uma lanchonete próxima.
Algo parecia errado.
Forcei os olhos e vi um homem alto, louro, segurando uma mulher pelo braço de forma agressiva.
Foi só depois de alguns segundos que percebi quem era.
Ana Carla.
Senti meu corpo se mover antes mesmo de pensar.
Fui até lá, meus passos ficando mais rápidos enquanto me aproximava.
— Solta ela. — minha voz soou firme, alta o suficiente para chamar a atenção.
O homem virou o rosto em minha direção, com uma expressão de surpresa e desdém.
Ao me ver, seus olhos se arregalaram, e ele soltou Ana Carla devagar.
Sua boca se abriu num sorriso cínico.
— Você é... ROBERT PATTINSON? — Ele falou meu nome em voz alta. Muito alto. A atenção de todos ao redor se voltou imediatamente para mim. Celulares foram sacados, apontados na minha direção, prontos para capturar o momento. Eu praguejei baixo, já sentindo o desconforto crescer. O alvoroço começou, com pessoas se aproximando e cochichando, algumas já gravando como se fosse algum tipo de espetáculo.
E era.
Afinal eu estava mesmo me envolvendo em algo depois de tanto tempo, aquilo ia estampar as revistas durante dias.
Antes que eu pudesse reagir, Ana Carla agarrou minha mão com força.
— Vamos sair daqui. — Ela falou rapidamente, e antes que eu pudesse processar, ela me puxou.
Nós saímos correndo pela calçada, passando pelas pessoas, que agora estavam mais interessadas em nos seguir.
Eu podia sentir minha respiração começando a falhar, a familiar falta de ar se instalando.
Mas eu continuei correndo, tentando manter o ritmo.
Ana parecia saber para onde estava indo, guiando-nos pelas ruas, ignorando as pessoas que vinham atrás.
Depois de o que pareceram longos minutos correndo, Ana entrou em um prédio velho, a duas esquinas de onde estávamos.
Subimos as escadas com pressa, meus pulmões queimando a cada passo, mas eu não parava.
Ela finalmente parou em frente a uma porta.
Eu estava ofegante, tentando recuperar o fôlego enquanto ela abria a porta rapidamente.
— Entra. — Ela disse, ainda segurando minha mão, e me puxou para dentro, fechando a porta com força logo em seguida.
Eu encostei na parede, tentando estabilizar minha respiração. Meu peito subia e descia rapidamente, e o suor escorria pela testa.
Finalmente, consegui dizer:
— O que... que foi aquilo?
Ana olhou para mim, com uma expressão mista de alívio e preocupação.
— Você não devia ter feito isso. Mas... obrigada.
Eu assenti, ainda sem fôlego, tentando entender o que diabos acabara de acontecer.
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