POV Robert Pattinson
Foi uma noite mal dormida.
Depois do meu quase tombo no banheiro, do susto que levei, aindative que lidar com a sensação de estar dormindo com uma estranha ao meu lado.
Ana perguntou se eu queria dormir sozinho, mas me sentia fraco e sabia que precisava de ajuda.
Curiosamente, ela logo pegou no sono e eu aproveitei para observa-la de forma direta.
Ela era uma menina, eu não lembrava sua idade e nem tinha perguntado, mas eu sabia que era muito mais jovem do que eu, era bonita... não... Não Só bonita, Ela era linda, mas mesmo assim eu não a reconhecia.
Encarei o teto do quarto tentando fazer um caminho reverso em meus pensamentos, tentando entender onde começava a lacuna que me colocou na situação em que eu estava.
Era perturbador.
Sufocante.
O dia amanheceu e eu ainda estava em claro, olhando para ela do mesmo jeito em que iniciei a noite, disfarces quando ela pareceu estar acordando e então o dia começou naquela agonia que me abafava.
Depois do café, de todos os remédios, de mais um episódio constrangedor no banheiro eu fui para o escritório, tentar entender um pouco do que acontecia na minha empresa, ao que parecia Bobby estava como CEO interino, cuidando de tudo para mim.
Era estranho não lembrar dessa parte.
Mas o silêncio era quase reconfortante, mas minha mente não parava.
Tudo estava de cabeça para baixo, e o caos dentro de mim era quase palpável.
O que parecia tão claro nas fotos, nas palavras dos outros, na presença de Ana...
Como eu podia não lembrar?
Olhei ao redor, tentando achar um ponto de ancoragem em meio a essa confusão, e meus olhos se fixaram no piano no canto da sala.
Algo naquela imagem me atraía, como se fosse uma lembrança à qual eu tivesse me agarrado, mas que ainda escapava.
Conduzi a cadeira de rodas motorizada na direção do piano, mas uma dor aguda cortou minha mão.
Era um formigamento estranho, como um lembrete físico de que algo estava quebrado dentro de mim, mas, por orgulho ou medo, decidi não contar para Ana.
Eu já dependia dela para tudo, e a última coisa que queria era parecer ainda mais fraco.
Bufei sozinho, lembrando de como fui grosso com ela na madrugada passada.
Ela só estava tentando me ajudar e o fato de eu não me lembrar dela não significava de que nosso relacionamento não era real.
Existiam muitas provas para que eu ainda duvidasse.
E isso era uma merda.
De repente, ouvi passos apressados no corredor.
Antes que pudesse entender, a porta do escritório se escancarou e uma menina entrou correndo, com um sorriso radiante, os olhos brilhando.
Fiquei parado, atordoado, enquanto ela se jogava no meu colo, os bracinhos me envolvendo em um abraço apertado que quase tirou meu fôlego.
— Papai! — ela exclamou, a voz cheia de alegria.
Fiquei sem reação, com os braços no ar, tentando entender aquela cena que parecia tão surreal.
Eu não me lembrava de nada, mas aquele abraço parecia tão... certo.
Olhei para a porta e vi Ana parada ali, segurando a mochila da menina, com uma expressão apreensiva.
Ela estava esperando por algo, e isso só me deixava mais desconfortável.
A menina ajeitou-se no meu colo, ajoelhando-se sobre minhas pernas dormentes, com o rosto tão próximo do meu que eu podia ver os pequenos detalhes em seus olhos verdes, que de repente me pareceram estranhamente familiares.
— Mamãe me disse que você está com um problema de esquecimento, mas eu sei que não tem como você esquecer de mim, né, homem glande ?
Eu mal conseguia respirar.
A pequena voz dela, o tom confiante, e aqueles olhos...
Era como se algo estivesse tentando emergir da minha mente, algo que me escapava como areia entre os dedos.
Meus pensamentos ficaram embaralhados enquanto uma imagem fugaz tomava forma na minha cabeça — uma criança com o mesmo cabelo cacheado, a mesma expressão viva, sentada ao piano comigo.
— Não tem mesmo… Mini Ana — eu disse, com um sorriso fraco.
Aquelas palavras saíram quase sem que eu soubesse de onde vinham, mas ao olhar para a menina, algo em mim soube que aquele apelido era dela.
Ela era muito parecida com Ana, e eu quis acreditar que aquele era o elo que eu buscava, uma conexão genuína que ainda existia.
Na porta, ouvi Ana soltar um soluço abafado.
Elena me envolveu com seus bracinhos de novo, apertando-me como se quisesse fixar aquele momento na minha mente para sempre.
Eu a segurei um pouco mais firme, sentindo meu coração se apertar.
Eu queria lembrar, queria poder retribuir aquele amor tão natural, mas o vazio era como uma barreira impenetrável.
Os dias passaram num borrão.
Cada manhã parecia mais difícil que a anterior, como se cada noite sugasse o pouco de energia que eu ainda tinha.
As sessões de quimioterapia e radioterapia se tornaram uma espécie de rotina cruel, uma frequência inescapável de desconforto e cansaço.
Eu era empurrado de um lado para o outro, entre exames, agulhas e o incessante clique das câmeras que esperavam do lado de fora da clínica.
Fotografias minhas na cadeira de rodas, ao lado de Ana, estavam por toda parte: sites de fofoca, manchetes, programas de TV especulando sobre minha saúde e meu casamento.
Mas para mim, tudo aquilo era apenas um eco distante.
Era como se minha própria vida tivesse virado um espetáculo, mas eu me sentia tão desconectado de tudo, tão alheio àquele homem que todos pareciam conhecer melhor do que eu mesmo.
Numa tarde em que o cansaço parecia maior, meu pai veio me visitar.
Estava sentado na sala de estar quando ele entrou, o rosto carregando uma mistura de preocupação e saudade.
Quando ele se sentou ao meu lado, houve um silêncio que eu não soube quebrar.
— E então, filho, como está indo? — ele perguntou finalmente, sua voz baixa.
Olhei para ele e balancei a cabeça, sem encontrar uma resposta fácil.
Como eu estava indo?
Como eu poderia descrever esse sentimento de estar preso dentro de mim mesmo, observando de longe uma vida que eu não lembrava ter construído?
— Difícil responder, pai... Alguns dias são melhores que outros. Mas, no geral, estou tentando entender quem sou. Ou quem eu era, ao menos — respondi, com uma voz que soou amarga, até para mim.
Ele assentiu, pensativo.
— Sei que não é fácil, Robert. Ninguém esperaria que fosse. Mas você precisa se dar um tempo. — Ele olhou para mim, como se estivesse escolhendo cuidadosamente as palavras. — Esse tempo pode ser importante, entende? E você não está sozinho. Ana está ao seu lado... sempre. É um amor raro, filho, esse amor de vocês. Quase mágico.
Suspirei profundamente, sentindo uma pressão familiar crescer dentro do peito.
— Pai... Se era um amor tão mágico assim, como pode ter simplesmente sumido da minha mente? — perguntei, em um tom amargo. — Eu lembro vagamente da... da Elena. Mas as outras lembranças não parecem voltar. Quanto mais eu tento lembrar, mais vazio tudo parece.
Ele me olhou, com uma expressão de tristeza misturada a paciência, e colocou a mão no meu ombro.
— Às vezes, filho, o que é verdadeiro não pode ser simplesmente esquecido. Talvez suas lembranças ainda estejam aí, esperando o momento certo para reaparecer. Não force. Você ainda tem o presente, tem a Ana. E talvez, por ora, isso seja o suficiente.
Eu queria acreditar nele.
Queria agarrar-me àquela ideia, mas o vazio continuava ali, um espaço entre mim e tudo que eu deveria sentir, tudo que eu deveria lembrar.
Alguns dias depois, meus amigos vieram me visitar — Bobby, Marcus e Tom.
A sala ficou cheia de risos e conversas leves, eles tentando animar o ambiente, embora eu soubesse que estavam igualmente preocupados comigo.
Enquanto conversávamos, Ana apareceu com uma bandeja cheia de petiscos.
Ela os servia com a mesma calma cuidadosa que mostrava em tudo que fazia.
Quando ela se abaixou ao meu lado para me oferecer um prato, vi seu rosto cansado, mas determinado.
Parecia que a exaustão não era nada comparada à determinação dela de estar ali, ao meu lado, por mais difícil que fosse.
— Essa mulher é forte como uma rocha, Rob — Bobby comentou, assim que ela saiu, com uma risada, mas eu notei a verdade oculta nas palavras.
Ele estava admirado.
Marcus assentiu, os olhos também brilhando com respeito e algo mais.
— Amores como o dela são raros, Rob. — Ele olhou para mim com seriedade. — Esse tipo de amor é raro demais para deixar escapar.
Eu o encarei, confuso, sem saber como responder.
De repente, aquela sensação de estar alheio à minha própria vida se intensificou, e uma pergunta escapou antes que eu pudesse evitar.
— Que tipo de amor vocês estão falando?
Marcus me olhou, e vi que ele estava escolhendo as palavras com cuidado.
— Estou falando de amor altruísta, Robert. O tipo de amor que é tão forte que é capaz de amar por dois. Ela não está aqui esperando nada em troca. Ela está aqui porque te ama, independente do que você possa ou não lembrar. Ela está aqui para você, mesmo sem nenhuma garantia.
As palavras dele ecoaram na minha mente, como uma verdade que eu relutava em aceitar.
Ela estava ali por completo, pronta para suportar o peso de tudo sozinha.
Depois que todos foram embora, me peguei pensando no que Marcus havia dito.
O quanto Ana estava se sacrificando, e continuava, dia após dia, ao meu lado, sem expectativas.
Lembrei dos olhos de Elena quando pulou no meu colo, do sorriso cansado de Ana quando me trouxe água no meio da noite, sem eu precisar pedir.
Ela era uma presença constante, mesmo quando eu estava perdido na escuridão.
Tentei encontrar algo em mim que pudesse retribuir a tudo isso, algum fragmento de lembrança, um resquício de amor para dar em troca, mas o vazio me encarava de volta.
Eu ainda era um estranho para mim mesmo, mas, talvez, estar ao lado dela fosse o primeiro passo para me encontrar.
.
A sala parecia estar girando, embora eu tentasse focar nos detalhes do noticiário.
Meus olhos piscavam repetidamente, e a imagem na tela estava desfocada, o texto passando como se estivesse coberto por uma neblina.
O enjoo subia, e meu coração batia mais rápido, mas quando ouvi passos se aproximando, desviei o olhar e encontrei Ana na porta, com algumas roupas dobradas nas mãos.
— Está tudo bem, Robert? — ela perguntou, os olhos cheios de preocupação.
Eu sabia que ela me observava atentamente, buscando qualquer sinal de desconforto.
Mas admitir que mal conseguia ver direito e que estava apavorado com o que aquilo poderia significar... não queria preocupá-la ainda mais.
— Está tudo bem — menti, tentando relaxar a expressão.
Ela hesitou, mas assentiu.
— Vou lá em cima arrumar essas roupas. Qualquer coisa, me chame.
Eu apenas assenti, tamborilando os dedos nos apoios da cadeira enquanto ela subia as escadas.
Por um momento, fiquei tentando me concentrar de novo no noticiário, mas então um grito animado cortou o silêncio.
— Eu achei! — Elena pulou, segurando um pedaço de papel em suas pequenas mãos. Seu rosto irradiava entusiasmo, e ela parecia tão orgulhosa, como se tivesse encontrado um tesouro perdido.
Sorri, mas minha visão continuava embasada, então tive que apertar os olhos para ver o que ela segurava.
— Achou o quê, mocinha? — perguntei, tentando acompanhar a energia dela.
Ela se aproximou, segurando o papel com um brilho nos olhos.
— A carta que você me deu para dar pra você, papai.
Fiquei confuso, franzindo o cenho.
— O quê? Quando eu fiz isso?
Elena inclinou a cabeça, refletindo como uma adulta.
— Foi quando você ainda andava. Você disse que era pra eu dar pra você do futuro.
Meus dedos tremiam de curiosidade e um pouco de ansiedade.
Será que isso era algum tipo de brincadeira que eu tinha planejado antes da perda de memória?
Hesitante, pedi o papel para ela.
Ao desenrolar a folha, encontrei uma simples instrução, quase como um enigma:
"Peça para Elena tocar".
Engoli em seco, as palavras pareciam vibrar em meu peito.
Olhei para Elena, a expressão dela irradiando um entendimento que parecia muito além de sua idade.
— Eu já sei! — ela gritou, empolgada, e saiu correndo, sumindo na direção do escritório.
A sensação estranha e a visão embaçada foram momentaneamente esquecidas enquanto manobrei a cadeira para segui-la.
Quando cheguei ao escritório, ela já estava sentada, de joelhos, diante do piano, seus dedinhos posicionados nas teclas, como se já soubesse exatamente o que fazer.
E então, Elena começou a tocar.
No início, os acordes soaram como uma música qualquer, a melodia sendo formada hesitante, tímida, mas conforme ela avançava, as notas começaram a soar familiares.
Meu coração disparou.
A cada tecla pressionada, algo parecia se mover dentro de mim, como se uma porta estivesse sendo destrancada, liberando algo há muito tempo preso.
Fechei os olhos, e as imagens começaram a aparecer, fragmentos no escuro.
Eu estava em um bar... música suave ao fundo... uma mulher nos meus braços, seu perfume era envolvente, seus olhos brilhantes na luz suave.
Minha mente se agarrava à lembrança, mas parecia que ela estava além do meu alcance.
E então, com uma clareza inesperada, a imagem de Ana e eu dançando emergiu, nitidamente.
Podia sentir o calor de suas mãos, ouvir a risada dela, o som dela murmurando algo ao pé do meu ouvido.
Meus dedos instintivamente apertaram os apoios da cadeira, enquanto a memória se desenrolava, me puxando para dentro daquele momento.
Era real.
Eu conseguia lembrar.
A música terminou, e abri os olhos, ainda ofegante, como se tivesse corrido uma longa distância.
Elena olhava para mim com um sorriso orgulhoso, mas o que realmente capturou minha atenção foi a figura parada na porta do escritório.
Ana estava ali, observando tudo, os olhos brilhando de emoção, como se cada nota tocada também tivesse feito algo com ela.
Era um olhar que eu reconhecia agora, pois vinha com aquela lembrança... e com a promessa de outras memórias que ainda estavam dentro de mim, esperando para serem descobertas.
Eu queria dizer algo, mas as palavras pareciam presas.
No fundo, sabia que essa lembrança era apenas uma de muitas, mas era o suficiente para me dar um vislumbre de quem ela era para mim e de tudo o que tínhamos compartilhado.
E, por ora, era tudo o que eu precisava.
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