43. Impasse
POV ANA CARLA
— Eu exijo que meu filho seja transferido de hospital!— Claire gritou a plenos pulmões assim que colocou os pés em nossa casa.
Fechei os olhos, respirando fundo, tentando filtrar a irritação que eu sentia naquele momento.
Dona Vitória pegou Elena no colo e subiu para o quarto sem cumprimentar ninguém, tocando meu ombro ao passar.
— Claire... ele vai ficar onde está.— falei tentando ser firme.— Seu filho escolheu aquele hospital e aquela equipe médica, não vou passar por cima da vontade dele.
Minha sogra bufou, jogando a bolsa no sofá e atravessando a sala até estar na minha frente.
— Eu estou começando a achar, Ana, que você não quer que ele melhore.— disse baixo, a voz nivelada e perigosa.
Eu a encarei.
Ela só podia estar brincando comigo.
— Eu vou considerar que você está nervosa e ignorar esse seu comentário infeliz.— cruzei meus braços, não desfazendo o contanto visual.
— Não precisa ignorar pois foi exatamente o que você entendeu que eu quis dizer.— rebateu começando a andar na minha.— Meu filho está em coma e tudo o que esses médicos de merda dizem é que não há o que fazer...
— PORQUE REALMENTE NAO HÁ!— gritei perdendo o pouco de paciência que me restava, Claire abriu bem os olhos,levando um susto.— Porra!
— Me respeita, garota!
— Não, me respeite você!— guinchei apontando o dedo em riste para ela.— Que droga, Claire! Qual é o seu problema? Será que você não consegue ver nada além do seu próprio umbigo? Não consegue respeitar nada além da sua própria vontade? Seu filho não quer outro tratamento!
Claire se engoliu e empinou o nariz, os olhos marejados não me causaram comoção. Eu estava irritada. Estava no meu limite. Ela não fazia ideia da tormenta que eu estava passando.
— Ele não está em posição de escolher.— disse baixando o tom.— Precisamos buscar meios para que ele melhore.
— Você ouviu o que o médico disse?— perguntei de forma retórica porque ela estava no consultório comigo naquela manhã quando o boletim médico foi passado. Quando ela ia me responder, eu emendei.— Não existe tratamento no mundo que reverta o caso dele e mesmo que tivesse não é o que ele quer.
Claire ergueu as mãos para o alto,exasperada.
— MAS QUE INFERNO, GAROTA, QUEM VOCÊ PENSA QUE É? ELE É MEU FILHO!
— E MEU MARIDO!— gritei de volta, de saco cheio.— E EU NÃO VOU DEIXAR VOCÊ PASSAR POR CIMA DAS VONTADES DELE.
Eu pensei que naquele momento ela fosse partir para cima de mim de tão vermelha que estava.
Mas então, Claire riu.
Soltou uma gargalhada esganiçada que me arrepiou dos pés a cabeça.
— Você não perde por esperar.— ela disse pegando a bolsa e me olhando.— Você devia ter escolhido ser minha amiga, Ana. Assim como a Suki escolheu.
Eu assenti.
— Deve ser por isso que o casamento dela com seu filho acabou.
Claire não se abalou.
— Acabou porque meu filho não estava bem e cometeu um erro. Mas deixa... espero que você tenha um bom advogado.
Ela deu sua cartada final e saiu, deixando a porta aberta ao passar.
.
.
Os corredores do hospital já eram tão familiares que eu poderia percorrê-los de olhos fechados. Os passos ecoavam contra as paredes frias, e aquele cheiro característico de álcool e medicamentos parecia impregnado na minha pele.
Fazia semanas que eu vinha todos os dias para ver Robert, me agarrando à esperança de que algo mudasse, de que ele acordasse.
Mas os dias passavam, e o boletim médico do Dr. Lúcio nunca mudava.
— Ainda sem alterações, Ana. O estado dele permanece estável, mas... sem respostas neurológicas que nos incentivem a tira-lo dos aparelhos até agora — dizia ele, sempre com aquele tom profissional, mas levemente carregado de compaixão.
Eu assentia em silêncio, com um nó na garganta que ameaçava me sufocar, antes de agradecer e me afastar rapidamente.
Nenhum dia era diferente.
As palavras dele ecoavam na minha cabeça, mas eu não as deixava entrar completamente.
Eu me recusava a aceitar que talvez Robert não acordasse
No fundo eu me recusava.
No corredor, Claire vinha à distância.
Ela me encarou por um instante, como se quisesse dizer algo, mas virei o rosto e continuei andando.
Não havia espaço em mim para lidar com ela.
Não naquele momento.
Logo depois, encontrei Bobby.
Ele estava sentado em um dos bancos do corredor, segurando um copo de café. Ao me ver, ele levantou, e sua expressão mudou para algo entre preocupação e ternura.
— Ana... — ele chamou, abrindo os braços para mim.
Eu nem hesitei.
Me joguei em seu abraço e, pela primeira vez naquele dia, senti minhas pernas fraquejarem.
Ele me segurou firme, murmurando palavras de conforto enquanto eu deixava as lágrimas caírem.
— Ele vai sair dessa, Ana — Bobby disse, mas sua voz falhou, denunciando que nem ele acreditava completamente no que dizia.
— Eu não sei mais... — murmurei, com dificuldade. — Ele está lá, Bobby... Eu entro naquele quarto todos os dias esperando que ele abra os olhos, que fale alguma coisa... mas nada acontece.
— Ei... — Bobby afastou um pouco o abraço para olhar para mim. — Você é a pessoa mais forte que eu conheço. Ele precisa de você, Ana, mesmo agora. Não desiste dele.
Eu assenti, mas as palavras dele apenas tornaram meu desespero mais pesado.
Eu não ia desistir, mas tinha feito uma promessa para ele de que se algo acontecesse e ele ficasse como estava eu esperaria apenas um mês e então desligados os aparelhos.
Quando prometi isso jamais imaginei que teria que cumprir. O peso daquela promessa vinha me agonizando a dias, pois eu sabia que o tempo estava acabando.
Entrei no quarto, e o som dos monitores foi a primeira coisa que me atingiu.
Aquele bip constante era ao mesmo tempo um alívio e uma tortura.
Robert estava ali, mas tão imóvel que parecia mais uma sombra de quem ele era.
Os tubos e as máquinas ao redor pareciam sufocá-lo, e a imagem me fazia querer gritar.
Me aproximei devagar, puxando a cadeira para junto da cama.
O cabelo dele, antes cheio de vida, estava ralo, e o rosto, pálido e magro, era um contraste doloroso com o homem vibrante que eu conhecia.
Estendi a mão, hesitante, antes de tocar em seus fios com delicadeza.
— Oi, meu amor... — sussurrei, tentando segurar as lágrimas. — Eu estou aqui...
Minha voz quebrou, e as lágrimas finalmente venceram.
Me apoiei na beira da cama, deixando que minha testa encostasse no lençol enquanto soluços escapavam.
— Por favor, Rob... — murmurei. — Eu não sei mais como fazer isso sem você. Não consigo, entende? Você me fez prometer mas eu não sei se consigo e eu... Eu preciso que você acorde. Por mim. Pela Elena...
Fiquei assim por minutos, talvez horas, até que ergui a cabeça e limpei o rosto com pressa. Me inclinei sobre ele, segurando sua mão, mesmo que ela não apertasse a minha de volta.
— Eu sei que você está cansado. Eu sei que está difícil, mas você é mais forte que isso. Você sempre foi. Por favor, meu amor, volta pra mim.
Ao erguer o olhar, notei um reflexo no vidro da porta. Claire estava parada ali, observando, com os olhos duros. Mas antes que ela pudesse dizer ou fazer algo, virei o rosto e voltei minha atenção para Robert.
Só ele importava agora.
Cheguei em casa com os ombros pesados e a mente nebulosa.
A dor de ver Robert naquela cama, imóvel, parecia consumir o que restava da minha força.
Mas assim que entrei, o cheiro familiar de café recém-passado trouxe um alívio breve, quase como um abraço invisível.
Dona Vitória estava na cozinha, organizando a mesa com seu zelo habitual, enquanto Elena e Rebeca estavam sentadas à mesa, me esperando.
— Mamãe! — Elena gritou, correndo para me abraçar. Segurei-a com força, sentindo o calor do seu corpinho contra o meu.
Era como um lembrete de que eu precisava continuar em pé, mesmo que tudo dentro de mim quisesse desmoronar.
— Oi, meu amor. Como foi seu dia? — perguntei, tentando sorrir para ela.
— Eu tô com saudade do papai — ela respondeu, sem rodeios, olhando para mim com aqueles olhos verdes que pareciam atravessar minha alma.
Rebeca levantou os olhos da xícara de café que segurava e lançou um olhar solidário, mas não disse nada.
— Eu sei, meu bem. Eu também estou — falei, engolindo o nó na garganta.
Sentamos à mesa, e Dona Vitória serviu café para mim. Elena se agarrou à minha mão enquanto comia um pedaço de bolo, como se temesse que eu fosse desaparecer a qualquer momento.
— Ele já acordou? — ela perguntou baixinho, interrompendo o silêncio.
Suspirei, tentando encontrar as palavras certas.
— Ainda não, filha. Mas o papai é muito forte, lembra? Ele está lutando.
Elena assentiu devagar, mas o lábio inferior dela tremeu. Antes que pudesse chorar, puxei-a para o meu colo e beijei sua cabeça.
— Vai ficar tudo bem, meu amor — prometi, mesmo sem saber se isso era verdade.
Nesse momento, a campainha tocou. Olhei para Rebeca, confusa.
— Estranho... o porteiro não interfonou antes — murmurei.
Levantei-me e caminhei até a porta, com Elena ainda me observando de perto. Quando abri, fui surpreendida por um homem uniformizado segurando um envelope.
— Ana Carla Hold Pattinson? — perguntou o oficial de justiça, com a expressão séria.
— Sou eu — respondi, sentindo meu estômago revirar.
— Isso é para a senhora — ele disse, entregando o envelope com um gesto firme.
— O que é isso? — perguntei, embora soubesse que ele não poderia responder.
— Apenas estou cumprindo meu dever. Tenha um bom dia — respondeu ele, se afastando rapidamente.
Fechei a porta com cuidado, sentindo os olhos de Rebeca queimarem em mim. Elena também me observava, com a cabeça inclinada, curiosa.
— O que é, Ana? — Rebeca perguntou, sua voz carregada de preocupação.
Abri o envelope e comecei a ler. Meu rosto ficou quente e meu coração acelerou conforme as palavras começaram a fazer sentido.
“Petição para anulação de casamento... alegação de manipulação emocional e psicológica... aproveitamento do estado mental debilitado...”
— Claire... — sussurrei, a raiva começando a borbulhar dentro de mim.
— O que foi? — insistiu Rebeca, levantando-se da cadeira.
— Claire... está pedindo a anulação do meu casamento com Robert — respondi, ainda tentando processar o absurdo.
— O quê? Como assim? — Rebeca perguntou, aproximando-se rapidamente.
— Ela está alegando que eu usei o meu trabalho na casa dele para manipulá-lo... que eu me aproveitei de um homem mentalmente doente para casar com ele — falei, a voz falhando.
Rebeca ficou boquiaberta, enquanto Elena largou o pedaço de bolo que estava segurando.
— O que isso quer dizer, mamãe? — perguntou Elena, com os olhos cheios de medo.
— Não quer dizer nada, meu amor. É uma besteira... uma coisa que não vai acontecer — falei rapidamente, tentando tranquilizá-la.
Mas dentro de mim, o pânico já estava se espalhando. Como Claire podia ser tão cruel? Não bastava tudo o que já estávamos passando?
Rebeca segurou meu braço.
— Isso é absurdo, Ana. Você precisa de um advogado. Não pode deixar ela te intimidar assim.
— Eu sei... — sussurrei, mas minha mente estava distante, presa na injustiça da situação.
Olhei para Elena, que estava encolhida na cadeira, com lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto.
Aproximei-me e a abracei com força.
— Vai ficar tudo bem, meu amor. Eu prometo.
Mesmo dizendo isso, a dúvida me corroía por dentro.
Porque agora, mais do que nunca, eu sabia que Claire não ia parar até tentar destruir tudo o que construí com Robert.
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