38. Sempre Estaria Ali
Nota da Autora
A metástase cerebral pode causar sintomas variados dependendo da área afetada. No lobo frontal, são comuns mudanças de humor e comportamento e personalidade, perda de memória, dificuldades na tomada de decisões e até fraqueza muscular. No cerebelo, os impactos se concentram no equilíbrio e coordenação, causando tontura e náuseas. O tronco cerebral pode resultar em problemas vitais, como dificuldades na respiração e na deglutição, além de fadiga extrema. Já no lobo occipital, a visão é comprometida, levando a borrões, pontos cegos e dores de cabeça. Esses sintomas afetam a qualidade de vida e exigem monitoramento contínuo e apoio médico.
POV Robert Pattinson
Eu sabia que as coisas não iam se resolver tão facilmente e prova disso foi o clima tenso se instalando entre Ana e eu assim que entramos em casa.
Ela passou por minha mãe na sala de cara amarrada e subiu as escadas sem ao menos perceber que Elena lhe chamou.
Eu estava na cozinha, as mãos firmemente apoiadas na bancada enquanto tentava organizar os pensamentos.
Suki.
O que ela estava fazendo aqui?
Por que Claire tinha trazido justamente ela?
Aquela pequena faísca de felicidade ao vê-la havia me incomodado tanto quanto o próprio reencontro.
Não tinha sentido eu sentir aquilo, não depois de tudo.
Estava imerso nas dúvidas quando ouvi passos.
Olhei por cima do ombro e vi minha mãe parada na porta, com um semblante que misturava arrependimento e alguma coisa a mais… um tipo de determinação que eu conhecia bem.
Suspirei.
— Robert? — a voz dela soou baixa, hesitante.
— O que foi, mãe? — minha resposta saiu mais seca do que eu pretendia.
Ela entrou na cozinha, parando perto de mim.
— Eu queria pedir desculpas por ter trazido a Suki — ela disse, com um olhar sincero. — Não queria causar nenhum transtorno para você e a Ana.
Eu a encarei, tentando controlar a raiva que crescia dentro de mim.
Suas desculpas soavam superficiais, insuficientes.
Como ela achava que seria só um detalhe trazer alguém como a Suki, que fazia parte de um passado doloroso que eu tinha feito de tudo para deixar para trás?
Bufei, frustrado.
Principalmente porque não tive aquel linha de raciocínio quando vi minha ex e acabei magoando a mulher que eu amava.
— Mas você causou, mãe — falei, a voz carregada de uma frieza que eu nem tentei disfarçar.
Ela recuou, parecendo abalada, mas tinha um brilho no olhar, algo que parecia dizer que ela sabia de um segredo que eu não queria admitir.
— Eu sei, Robert. Mas… não pode negar que ficou feliz ao vê-la — ela insistiu, estudando meu rosto como se procurasse uma reação. — Eu vi como você olhou para a Suki. Não foi com raiva.
Senti meu estômago dar um nó, e um calor subir pelo rosto.
Aquilo me irritava, a insinuação de que eu ainda me importava com Suki de alguma forma.
Mas, lá no fundo, o que me incomodava mais era minha mente me pregando peças.
Ocultando o que de verdade tinha me feito sofrer...
— Mãe… — murmurei, tentando manter a compostura. — Isso não é verdade. Foi surpresa. Só isso.
Ela balançou a cabeça, com um sorriso que misturava pena e certeza.
— Você pode dizer isso, filho. Mas, lá no fundo, sabe que ficou feliz. E guardar mágoa… isso só faz mal. Não vale a pena.
Tentei respirar fundo, sentindo a raiva se acumular e explodir na voz.
— Já disse que não tem mágoa! — retruquei, sem esconder a irritação. — Não tem nada pendente entre mim e a Suki. Nada.
Ela me olhou por um longo segundo, avaliando cada palavra minha como se buscasse algo mais, algo que nem eu conseguia entender.
— Certeza? Porque, às vezes, seguir em frente significa resolver o passado. E você merece paz…
Senti o peso das palavras dela, um lembrete incômodo de tudo que eu estava tentando manter escondido.
Minhas mãos formaram punhos ao meu lado, e eu queria contestar, gritar que ela estava errada, mas tudo que consegui fazer foi passar as mãos pelo rosto, exasperado.
— Eu não preciso de paz com a Suki, mãe — declarei, tentando ignorar o amargor na garganta. — Esse capítulo está encerrado. E se você acha que ainda tem alguma coisa ali… está errada.
Ela suspirou, uma expressão de resignação suavizando o olhar.
Parecia aceitar minhas palavras, mas ainda havia uma sombra de preocupação em seu rosto.
— Está bem, filho — respondeu, com a voz mais suave agora. — Me desculpe. Eu só queria que você tivesse paz.
Eu assenti, mas a raiva e a frustração ainda borbulhavam dentro de mim.
Passei a mão pelo rosto outra vez, tentando afastar a sensação incômoda de impotência.
Eu queria tanto que minha mãe estivesse errada, que tudo fosse apenas um mal-entendido, uma situação desconfortável provocada pelo acaso.
Mas não podia negar: havia algo fora do lugar, uma confusão no meu próprio pensamento que não conseguia mais ignorar.
Era como se minha própria mente estivesse me pregando peças, me forçando a lidar com sentimentos que eu jurava ter deixado no passado.
Eu sabia que a resposta para aquilo estava no que Dr. Lucio havia me explicado alguns dias atrás, em uma consulta solitária e, de certa forma, secreta.
Não contei nada para a Ana, não queria que ela se preocupasse com mais uma coisa.
Era meu fardo, e eu podia suportá-lo.
Mas agora… não parecia mais tão simples.
Metástase no lobo frontal.
A ideia de que isso poderia mexer com quem eu era, que poderia mudar o meu humor, meu raciocínio, me transformando em alguém que talvez nem reconhecesse mais, tinha soado impossível quando ouvi o diagnóstico.
Achei que seria algo lento, uma transformação mínima, talvez até imperceptível.
Mas então veio o reencontro com Suki e tudo mudou.
Olhei para ela com uma familiaridade que não fazia sentido, que não correspondia ao rancor que guardei durante tanto tempo.
A imagem de Ana subindo as escadas de cara fechada, ignorando a todos, algo que ela não fazia pois sempre foi muito educada, pesava na minha cabeça.
Aquela expressão de dor que vi em seu rosto logo depois que nossos ânimos se acalmaram na garagem me quebrou.
Eu sabia que tinha machucado Ana, que minha confusão transpareceu de uma forma que ela não merecia.
E a pior parte era que nem sabia como consertar aquilo.
Minha mãe ainda estava por perto, mas não tive forças para encará-la outra vez.
Ela me estudava de longe, mas, dessa vez, não tentou dizer nada.
Era como se até ela reconhecesse que algo mais sério estava acontecendo, algo que nem palavras de mãe podiam resolver.
Deixei a cozinha e subi as escadas, cada degrau aumentando minha angústia.
Parei diante do quarto de Elena e ouvi o som suave da voz dela brincando sozinha com os brinquedos.
Ela não entendia as nuances desse caos, mas sabia que algo estava errado.
Fechei os olhos, respirando fundo.
O que mais temia era que minha condição começasse a afetar não só meu relacionamento com Ana, mas também a nossa filha.
E isso… isso era uma ideia insuportável.
Caminhei até o nosso quarto e, assim que abri a porta, encontrei Ana sentada na beira da cama, encarando o chão, ela tinha o cabelo dentro de uma toalha e usava um dos seus vestido frescos de praia.
Seus ombros estavam tensos, e havia um silêncio pesado no ar.
Fechei a porta atrás de mim e fiquei ali, tentando buscar as palavras certas, as que pudessem, de alguma forma, explicar a confusão que estava em minha mente.
— Ana… — chamei, hesitante.
Ela ergueu o olhar, os olhos dela revelando uma mistura de mágoa e exaustão.
Eu engoli em seco, sentindo a pressão do seu olhar se chocar contra minha própria incerteza.
Como eu poderia explicar algo que nem eu mesmo entendia?
Me sentei ao seu lado.
— Estou virando uma confusão.— falei olhando para o chão.— Tenho medo de você não suportar...
— Não começa com isso de novo.— ela me cortou, uma frieza na voz que eu quase nunca ouvia.— Já disse que estou com você e vou ficar com você, não vou mais repetir isso...
— Ana...
— Eu sei o que está acontecendo, Robert.— ela disse ficando de pé, me olhando de cima.— Seu médico me falou da sua consulta secreta e eu sei tudo o que pode acontecer, entendi o que aconteceu quando você viu sua ex, mas mesmo assim eu sou um ser humano, não vou conseguir levar tudo sempre numa boa, principalmente se você começar a sentir saudade das suas exs, tenho meus limites como qualquer um...
Fiquei de pé, indo até ela, mas Ana recuou.
— Amor...
— Não, fique aí.— ela apontou o dedo em riste para mim— E não adianta me olhar com essa carinha sexy porque eu não vou cair no seu papo.
Uma risada escapou por meus lábios e eu arregalei meus olhos, cobrindo minha boca com as mãos.
Merda!
Pensei que isso a deixaria mais irritada mas tudo o que Ana fez foi deixar seus ombros caírem e perder a pose de durona, os olhos enchendo de lágrimas.
— Meu Deus...— murmurou.
— Desculpa...— Passei a mão em meu rosto, ficando agoniado com minha falta de controle.— Eu não sei o que está acontecendo comigo... eu... quer dizer... Eu sei... me perdoa por essa falta de controle... Eu não queria que você passasse por isso...
Ana veio até mim, parecendo fazer uma força extrema para deixar sua mágoa de lado e me abraçou.
O cheiro de sabonete exalando de sua pele me acalmou, trouxe paz para os meus pensamentos conturbados...
Pensei em como ela estava sacrificando muito dela mesma para ser compreensiva comigo... Eu tinha que valorizar todo seu esforço.
— Eu amo você.— eu disse contra seu ombro.— E não vou permitir que ninguém estrague o temos...
Eu sabia que chegaria o momento em que meus pensamentos já não serviam mais meus, meu corpo já não responderia a minhas ordens, mas ente tudo o que eu mais tinha certeza era de que meu coração sempre seria dela.
Não importava quem tivesse passado em minha vida, era ela.
Ana estava ali.
E sei que sempre estaria ali.
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