12. Você Não Está Sozinha
- Então você acha que somos assassinos?- perguntou a senhora ao sentar na espreguiçadeira em frente à piscina.
Ana estava sentada a sua frente, usando um short jeans e uma regata preta, o cabelo preso num coque alto e óculos escuros. Ela apenas tinha avistado a piscina da varanda do seu quarto, era grande e muito atrativa, mas não tinha ousado descer.
- E não são?- perguntou observando Rebeca toda vestida de preto escaldar no sol quente de Los Angeles.
Graça colocou as pernas para cima e fez um sinal com as mãos, chamando um dos empregados que Ana sequer sabia o nome.
- Querido me traga duas doses de martini.- pediu com um sorriso.
- A senhora pode beber?-Ana perguntou ainda vendo Rebeca no sol.
- Você não? Quantos anos tem?
- Tenho 21... Hey, Rebeca?- Ana chamou, a segurança veio rapidamente.- Sai do sol garota, ainda toda de preto...
- Eu preciso ficar em posição, senhorita.
- Que senhorita o que, me chama de Ana e sai desse sol. Se tem que ficar de pé então fique ali oh- ela apontou para a área da churrasqueira.
- Sim, senhori.. . Ana.- a garota saiu a passos rápidos para onde Ana apontou.
- Agora eu entendi.- disse Graça chamando atenção de Ana.
- Entendeu o que?- a garota quis saber.
As bebidas chegaram e a vovó esperou ser servida para continuar a falar.
- O que fez meu neto ficar de quatro por você.- disse oferecendo o outro copo para Ana. Ela fez uma careta paea a a bebida.- Não gosta de Martini? Prefere vodka com energético? Cerveja? O que os jovens bebem agora?
Ana riu da das perguntas atropeladas da senhora.
Da sacada do escritório Robert via Ana rir com sua avó.
Ele estava sentado em sua cadeira assistindo uma tocaia dos seus homens para recuperar um carregamento de armas roubados quando uma gargalhada diferente alcançou seus ouvidos.
Franzindo o cenho ele levantou e foi até a sacada que dava para a piscina.
Sua avó estava na piscina com Ana e as duas riam de alguma coisa que conversavam.
O mafioso se pegou sorrindo ao ouvir a risada sincera da garota. Ana ficava linda sorrindo. Ele se pegou desejando que ela sorrisse assim para ele, ficando confuso com a sensação que estava cada vez mais crescendo em seu peito.
- Você é a Pandora perfeita.- disse vovó para Ana.
A garota parou de rir.
- Pandora?- questionou.
A senhora colocou a bebida na mesa rendida entre elas e pareceu muito animada com a pergunta de Ana:
- Na mitologia grega, Pandora é conhecida por ser a primeira mulher criada pelos deuses, agraciada com muitos dons e atributos pelos deuses olímpicos. É aquela que recebe todos os dons e é o presente de todos.- disse Graça sorrindo, Ana prestava atenção.- Atena lhe deu a inteligência; Afrodite, a beleza; Hermes, a capacidade de mentir e enganar; e assim por diante. Zeus então enviou-a para que seduzisse Epimeteu, irmão de Prometeu.
- E o que isso tem haver com a máfia.- Ana quis saber sem entender a referência.
Graça abriu mais ainda seu sorriso.
- A mafia começou a usar esse termo para a esposa do Grand Cheff, o grande Chefe da máfia geral, pois a única pessoa a quem ele pode dar tudo é para ela. Seu amor, fidelidade, sua paixão e sua vida. Apenas por ela.
Ana mordeu os lábios, sentindo o peso daquelas palavras.
- Você é a Pandora perfeita para o Robert.- a vovó continuou.- Você é tudo o que ele precisa para nos governar.
- Eu não quero... ser o que ele precisa.- Ana disse, tropeçando nas suas palavras.
- E por que não? O que você tem a perder? Até onde eu sei a única pessoa que você tinha no mundo te deu em moeda de troca. Claro que foi um valor altíssimo, mas mesmo assim um filho é um filho. Não há valor no mundo que pague, não é?
- Eu não sei até onde isso pode ser verdade.- Ana disse encolhendo os ombros.
- Nós podemos ser muitas coisas, Ana.- disse Graça olhando nos olhos da garota.- mas não somos mentirosos.
- Eu tenho uma vida.- Ana continuou:- Amigos, faculdade e meu pai nem olhou na minha cara! Eu não consigo decidir nada sem olhar para ele. Mas Robert não me deixa sair daqui.
- Então por que você não foge?
A sugestão de Graça fez Ana estreitar os olhos.
- O que?
A senhora deu de ombros.
- Vamos combinar uma coisa- disse se inclinando para Ana.- Eu te ajudo a fugir desde que você prometa voltar caso tudo isso seja verdade e se voltar vai tentar pelo menos ser amiga dele.
- Eu aceito.- Ana disse, ela tinha certeza que era mentira, que seu pai ia preferir dar outro jeito de pagar a sua dúvida, se é que existia dívida mesmo.
A Vovó deu um último gole em sua bebida, assim como Ana tomou a cerveja que lhe foi servida.
- Feito.- disse a senhora.- Hoje, as 22h da noite, você pode sair do seu quarto e seguir seu caminho, ninguém vai lhe impedir.
..
.
Ana não se preocupou em levar roupa, pois em casa tinha tudo o que precisava. As 22h em ponto Ana saiu sem hesitar do quarto, ela não tinha dúvidas que Graça era uma mulher de palavra, tudo nela gritava sinceridade.
A garota desceu a escada e saiu pela porta da frente, caminhando pela trilha no meio do Jardim até o portão.
Da janela da biblioteca, Robert observava ao lado da sua avó, a menina sair da propriedade.
- Como ela vai voltar?- perguntou preocupado.
Graça olhou para ele.
- Isso não é problema seu.- disse a senhora olhando firme para o neto.- Deixe com que ela quebre a cara sozinha, só assim ela vai entrar de cabeça nessa nova vida.
Ele passou a mão no cabelo, agoniado por saber que Ana estava lá fora, sozinha.
A Avó olhou para Robert, sondando seu rosto.
- Você gosta dela.- não foi uma pergunta.
- Eu não gosto dela.- ele disse sem um pingo de certeza na voz.
- Então por que essa obsessão por essa garota?
- Ela é o pagamento de...
- Uma dívida... Sim, eu sei. Mas você já matou por muito menos. Por que não mata o pai dela ? Sempre quitamos dúvidas de viciados com a morte, por que dessa vez está sendo diferente?
Robert foi pego pelas perguntas, ele não sabia responder.
Ana desceu do taxi e pagou com o dinheiro que tinha pego na carteira de Robert a alguns dias atrás.
- Tenha uma boa noite.- disse o motorista.
- Obrigado, bom trabalho para o senhor.
A garota olhou para o pequeno portão da sua casa e sorriu. Estava com saudade de casa.
Ela digitou a senha no portão e correu para dentro quando o mesmo abriu.
Fez a mesma coisa com a porta e entrou com tudo, encontrando seu pai sentado no sofá da sala.
- Papai!- exclamou se jogando no colo dele.
- Ana?- George perguntou assustado, olhando para a porta.- O que faz aqui? Don Pattinson está entrando?
Assustado, ele se levantou, empurrando a menina para o chão.
- Aí... não, pai. Eu fugi,consegui sair daquele lugar...
- VOCÊ O QUE?- George gritou, sua face morena assumindo uma expressão de ódio.- Você quer matar a todos nós? O que tem na cabeça?
Ana se levantou, fingindo não estar com medo do jeito que seu pai tremia.
- Pai nos podemos pagar essa dividia de outra forma, eu paro de fazer minhas aulas de dança e ....
O homem gargalhou amargamente.
- Não diga asneiras, menina.- ele disse, Ana engoliu em seco a bola que se formava em sua garganta.- Volte para Grand Máfia, Eu não quero você aqui, eu vendi você. Agora você pertence a eles.
- Não, Papai, por favor, não me obrigue a voltar, por favor, papai...
George a pegou pelo braço, levando Ana até o portão, a soltando na calçada.
- Eu não tenho mais nenhuma filha, não apareça mais aqui.
O homem lhe virou as costas, deixando a menina aos prantos. Seus cachos caindo sobre seu rosto, as lágrimas pingando no chão.
Ana não lembra em que momento começou a chover ou em que momento ela levantou e começou a andar.
Com o corpo abraçado pelos próprios braços ela andou sem rumo, sem saber exatamente o que fazer.
As palavras do seu pai ecoavam em sua mente, deixando seu coração apertado e seus olhos derramando lágrimas pesadas.
O sentimento de abandono, de perda estava deixando ela sufocada.
Tão sufocada que ela esbarrou diretamente no peito de alguém, erguendo o rosto inexpressivo e encontrando o par de olhos azuis mais lindo do mundo.
Um gosto amargo subiu pela garganta dele ao ver que Ana estava chorando, aquele homem pagaria muito caro por cada lágrima que tinha feito sua filha derramar.
Ela olhou para Robert assustada por alguns segundos antes de afundar o rosto em seu peito e abraçar sua cintura com força.
- Me tira daqui.- ela iimplorou, soluçando.- Me leva pra casa.
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