54. O Fim e o Começo
POV ROBERT PATTINSON
Deixei Ana com Claire no apartamento, e, mesmo sabendo que ela tentava se fazer de forte, dava para ver que o medo ainda estava ali. Seus olhos denunciavam o pavor, mesmo que sua boca dissesse que estava tudo bem. Eu sabia que ela odiava sentir-se vulnerável, mas também sabia que ela precisava de companhia, de alguém em quem confiar, e por mais que eu quisesse estar com ela o tempo todo, essa situação exigia outra abordagem.
Enquanto me despedia, dei um último beijo suave em sua testa, tentando transmitir segurança.
— Eu volto logo, tá? Fica tranquila.
Ela assentiu, esboçando um sorriso forçado. Mas eu via. Por trás daquele sorriso, havia uma mulher assombrada por lembranças que ninguém deveria carregar.
Eu saí dali com o peito apertado, mas a decisão já estava tomada.
Alguns minutos depois, entrei na minha antiga casa, o lugar que antes era meu refúgio e agora parecia um campo de batalha. A mala com o dinheiro estava pesada, mas não tanto quanto a situação que estava prestes a enfrentar. Coloquei-a sobre o sofá e vi Stephan me esperando na sala, a expressão dele carregava um misto de preocupação e reprovação.
— Você tem certeza disso? — ele perguntou, cruzando os braços e olhando para mim como se esperasse uma resposta que o convencesse de que eu não estava cometendo uma loucura.
Olhei firme para ele e assenti, sem hesitar.
— Tenho. Eu mesmo quero fazer isso.
Stephan balançou a cabeça, soltando um suspiro profundo.
Eu sabia o que ele estava pensando. Ele achava que eu estava indo longe demais, arriscando demais. E talvez ele estivesse certo, mas eu também sabia que não podia deixar que Fabrício e Mabel continuassem atormentando Ana. Não depois de tudo o que ela já passou.
Sem que Ana soubesse, eu pedi a Stephan para marcar um encontro com seus pais biológicos. Não seria uma negociação comum, longe disso. Eu queria resolver aquilo de uma vez por todas, mas precisava ter certeza de que seria feito da maneira certa.
— Eles pediram uma quantia ridícula de dinheiro — continuei, encarando a mala cheia. — Eles acham que podem chantagear a mulher que eu amo e sair impunes. Estão enganados. Quero resolver isso hoje.
Stephan me encarou por um momento, como se estivesse processando minhas palavras. Ele sabia que eu não estava apenas comprando o silêncio deles. Eu estava preparando uma armadilha.
— E o policial? Já está tudo certo? — ele perguntou, finalmente soltando a tensão dos ombros, resignado.
— Sim. Meu contato vai estar no local, pronto para agir. Só preciso entregar o dinheiro, e eles vão ser presos no momento em que tentarem aceitá-lo. — Eu apertei as mãos em punhos, sentindo a raiva fervilhar. — Esses dois não vão machucar a Ana de novo. Nunca mais.
Stephan assentiu, finalmente entendendo que eu não iria recuar.
— Espero que isso funcione. — Ele fez uma pausa antes de continuar. — E que Ana nunca descubra.
Soltei um suspiro, sabendo que esse era o ponto crítico. Ana nunca aceitaria que eu estivesse lidando com isso sozinho, muito menos envolvendo dinheiro. Mas era um risco que eu estava disposto a correr. Não importava o que fosse preciso, eu a protegeria.
— Ela não vai descobrir — respondi, mais para mim do que para ele. — Não se tudo der certo.
Olhei para a mala uma última vez antes de pegar as chaves do carro.
— Vamos acabar com isso.
Cheguei ao local combinado, um armazém abandonado nos arredores da cidade, o tipo de lugar que você só vê em filmes de suspense ou em encontros que dariam muito errado. O clima estava pesado, minha mente girando em torno de Ana e do que ela tinha sofrido nas mãos daqueles dois.
Fabrício estava encostado em uma pilastra, com o mesmo sorriso debochado que eu já tinha visto antes, uma expressão nojenta de quem se acha no controle. Mabel estava ao lado dele, inquieta, os olhos indo de mim para a mala cheia de dinheiro que eu segurava.
Assim que entrei, Fabrício soltou uma gargalhada alta, como se aquilo fosse uma grande piada.
— Então, é você o príncipe encantado da minha princesinha? — ele zombou, dando uma olhada no meu corpo e depois bufando com desdém. — Bonitinho, ela sempre gostou dos bonitinhos. Pena que ela não te contou tudo, né? Sabe, quando era mais nova... — Ele fez uma pausa e sorriu do jeito mais asqueroso possível. — Ela e eu, a gente tinha uma conexão especial. Aposto que ela nunca falou sobre isso. Gostava muito de mim, a minha filha querida.
Meu sangue ferveu instantaneamente. As palavras dele eram como veneno escorrendo, cada sílaba me deixando mais furioso. Antes que eu pudesse pensar, larguei a mala no chão e avancei sobre ele, o soco explodindo direto no seu rosto, com força suficiente para derrubá-lo no chão.
— Cala a boca! — rosnei, a adrenalina correndo solta enquanto eu segurava ele pelo colarinho. — Lave essa boca imunda antes de falar o nome da Ana!
Fabrício tentou se levantar, mas eu o segurei firme, o ódio pulsando no fundo do meu peito. Ele cuspiu sangue e soltou uma risada, como se estivesse provocando, como se quisesse me fazer perder a cabeça. E, por um segundo, eu queria. Queria arrancar aquele sorriso nojento da cara dele para sempre.
— Ela sempre foi uma mentirosa, Robert — ele cuspiu, sem parar. — Ela gosta do poder que tem agora, de como pode manipular você, como manipulou todo mundo...
Outro golpe, dessa vez no nariz dele. Senti o estalo dos ossos, e o vi cambalear, tentando se recompor.
— Fica longe dela! — berrei, a respiração pesada, minhas mãos tremendo de raiva. — Você é um criminoso, um doente, e eu vou garantir que você pague por tudo isso!
Enquanto eu ainda estava em cima dele, ouvi um barulho ao meu lado. Mabel tinha pegado a mala e estava tentando fugir pela lateral do armazém, mas antes que pudesse chegar longe, Stephan e a polícia entraram em ação. Em questão de segundos, ela foi cercada, um policial tomando a mala de suas mãos e algemando-a no mesmo instante.
— Achou que ia sair impune dessa? — Stephan perguntou, sua voz firme enquanto observava a cena. Ele se aproximou, garantindo que Fabrício também fosse imobilizado e algemado, apesar dos gemidos de dor do homem.
Mabel gritou em desespero, tentando se soltar, mas não tinha mais para onde correr.
Eu me levantei, sentindo o gosto amargo da situação. Por um instante, olhei para Fabrício, caído e contorcendo-se de dor, e pensei no que ele tinha feito a Ana. O quão profundamente ele a tinha marcado, mesmo tantos anos depois.
Mas isso tinha acabado.
— Você não vai mais tocar nela, nem física, nem emocionalmente — eu disse, a voz baixa, mas carregada de certeza. — Acabou.
Os policiais os levaram rapidamente para fora do armazém, e o silêncio que ficou para trás foi quase ensurdecedor. Olhei para Stephan, que me deu um aceno de cabeça.
— Está feito, Robert. Eles vão pagar por isso.
Suspirei profundamente, a tensão lentamente escapando do meu corpo.
— Acabou mesmo — eu disse, tentando internalizar o fato de que Ana estava, finalmente, livre dessa parte do passado.
Tudo o que eu queria agora era voltar para ela, abraçá-la e dizer que tudo estava bem.
Enquanto observava Fabrício e Mabel sendo levados pelos policiais, uma onda de alívio finalmente começou a se espalhar pelo meu corpo. Toda a raiva e tensão que eu tinha acumulado parecia escoar, mas não por completo. Havia algo ainda em mim, uma sensação de dever incompleto. Eles estavam presos, mas as cicatrizes que deixaram em Ana, essas não iam embora tão facilmente.
Stephan se aproximou, limpando as mãos como se estivesse se livrando da sujeira da situação.
— Foi um bom plano, Robert. Mas você sabe que isso ainda pode voltar a te assombrar, né? Eles vão tentar de novo, de alguma forma.
Eu assenti, ciente de que Stephan tinha razão. Eles podiam estar presos agora, mas isso não significava que o problema estivesse resolvido para sempre. O poder que essas pessoas exerciam sobre Ana era algo que não se apagava com prisões.
— Eu sei, Stephan. Mas eu precisava fazer isso. Não podia deixar que continuassem a controlar a vida dela — disse, tentando convencer a mim mesmo tanto quanto a ele.
— Ela vai entender? — ele perguntou, cruzando os braços e me olhando com cautela. — Você mentiu para ela, mesmo que por boas razões.
A pergunta me acertou como um soco no estômago. Ana não sabia que eu tinha vindo aqui. Eu disse a ela que tudo estava sob controle, mas que não devíamos alimentar os problemas. E agora aqui estava eu, lidando com eles à minha maneira.
— Eu vou contar a ela — respondi, mais para mim do que para Stephan. — Ela precisa saber, mas eu... eu queria garantir que ela estivesse segura primeiro.
Stephan deu um leve aceno, entendendo o que eu queria dizer. Sabia que Ana e eu tínhamos passado por muita coisa juntos, e esse era mais um obstáculo que precisávamos superar.
Saí do armazém e voltei para o carro, sentindo o peso do que acabara de acontecer. O silêncio no caminho de volta me fez pensar em tudo. O sorriso doentio de Fabrício, a dor que ele infligiu em Ana por tantos anos. Como alguém pode fazer isso com a própria filha?
Chegando em casa, entrei sem fazer barulho. Precisava ver Ana, sentir que ela estava segura. Quando atravessei a porta, o ar da sala parecia mais leve do que o que eu tinha respirado nas últimas horas. Ana estava no sofá, distraída com algo na televisão, mas assim que me viu, se levantou rapidamente.
Ela correu até mim e, antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, envolveu seus braços ao redor da minha cintura, enterrando o rosto no meu peito.
— Robert... — ela sussurrou contra mim, e eu pude sentir a tensão em seu corpo. — O que aconteceu?
Eu passei a mão pelos seus cabelos, tentando acalmá-la, mas ao mesmo tempo, buscando a melhor forma de explicar o que tinha acontecido.
— Ana... Eu resolvi uma coisa hoje — comecei, respirando fundo. — Fui até eles. Fabrício e Mabel. Eles tentaram te chantagear, tentaram nos ameaçar. Eu não podia deixar isso continuar.
Ela se afastou um pouco, os olhos fixos nos meus, com uma mistura de surpresa e apreensão.
— O quê? Você foi lá sozinho? Robert, o que você fez?
— Eu precisava fazer isso, Ana. Precisava garantir que eles fossem parar de te atormentar, de tentar jogar sujo com a nossa vida. Não poderia deixar isso continuar, não com você, não com a nossa filha a caminho. Eu levei a polícia comigo, Stephan estava lá. Eles estão presos agora.
Ela me olhou em silêncio por alguns instantes, absorvendo as minhas palavras. Podia ver a confusão e a preocupação em seu rosto, mas também algo mais. Algo como compreensão.
— Eu entendo por que fez isso, mas... Robert, eu não quero mais que eles tenham esse poder sobre nós. Não quero que você se arrisque por minha causa — ela disse, com a voz suave, mas firme. — Eu já passei por muita coisa por causa deles. Mas não quero que eles arruinem o que estamos construindo.
Eu a abracei mais forte, sentindo o peso de suas palavras. Ela tinha razão, e eu sabia disso. Mas ver alguém como Fabrício ainda andando por aí, ainda machucando, me deixava doente.
— Eles não vão mais machucar você, Ana. Eu prometo — murmurei, beijando o topo de sua cabeça.
Ela se aninhou mais perto de mim, suspirando profundamente.
— Agora estamos livres, de verdade. Não precisamos mais olhar para trás — Ana disse, quase como um sussurro, como se estivesse finalmente deixando para trás anos de dor.
Eu sabia que isso não apagaria o passado, mas no momento, tudo o que eu queria era acreditar que finalmente estávamos seguros.
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O tempo pareceu acelerar à medida que os meses avançavam. Desde o quinto mês de gestação de Ana, minha vida tinha se tornado uma constante preocupação, mas ao mesmo tempo, um turbilhão de felicidade. A cada consulta, a cada ultrassom, meu coração se enchia de orgulho e amor. Acompanhar essa jornada ao lado dela era mais do que eu poderia pedir.
No quinto mês, a barriga de Ana começou a se destacar de verdade, e eu não conseguia tirar os olhos dela. Cada manhã, enquanto a via vestida para o dia, me pegava sorrindo como um adolescente bobo. Eu passei a cuidar de tudo. Preparava o café da manhã, me certificava de que ela descansasse sempre que possível, e se ela quisesse alguma coisa no meio da noite, eu estava pronto. Às vezes, até exagerava na proteção, e ela me chamava de "pai galinha". Mas eu não me importava — tudo que queria era garantir que Ana e nossa filha estivessem bem.
No sexto mês, quando sentimos o primeiro chute de verdade, a emoção me pegou de surpresa. Ana estava sentada no sofá, rindo de alguma coisa na TV, e de repente colocou a mão na barriga e parou. Seus olhos se encheram de lágrimas e, ao mesmo tempo, de alegria. Eu corri para colocar a mão junto à dela, e senti. Nossa bebê,nossa Elena. Era real, e estava crescendo ali, dentro da mulher que eu amava.
— Ela está chutando! — Ana riu, seus olhos brilhando.
— Nossa menina está se preparando para correr uma maratona — brinquei, mas por dentro eu estava maravilhado. Aquele simples movimento da bebê foi um lembrete físico e palpável de que nossa vida estava prestes a mudar para sempre.
No sétimo mês, Rebeca deu à luz sua filha, nossa afilhada. O dia em que fomos conhecê-la foi especial. Aaron me encontrou no corredor do hospital enquanto Ana conversava com Rebeca.
— Você vai saber como é em breve, Robert — ele disse, segurando sua filha recém-nascida com tanto cuidado que quase parecia medo de quebrá-la.
Eu observei aquela cena e senti um aperto no peito. Era uma mistura de ansiedade e felicidade. Saber que, em pouco tempo, eu seguraria minha própria filha nos braços era quase surreal.
— Mal posso esperar — respondi com um sorriso, sem conseguir disfarçar o nervosismo. Aaron deu um tapinha no meu ombro e sorriu como quem sabia exatamente o que estava por vir. Ele tinha razão, em breve eu saberia o que era aquele tipo de amor.
Quando o oitavo mês chegou, Ana estava absolutamente radiante, mesmo com o desconforto de carregar um barrigão. Sua beleza parecia ser amplificada pela gestação. Muitas vezes, eu a pegava sentada no sofá com a mão na barriga, perdida em pensamentos, talvez sonhando com a nossa filha. Eu adorava esses momentos silenciosos, quando tudo parecia em paz.
Numa dessas tardes, entrei na sala e vi Ana sentada, usando uma blusa que deixava sua barriga à mostra. Seu corpo mudara tanto, e cada parte dela me parecia perfeita. Eu me aproximei devagar, ajoelhei-me à sua frente e beijei sua barriga, sentindo o calor e a vida que crescia ali.
— Você me faz o homem mais feliz do mundo, sabia? — murmurei, acariciando sua pele. Minha voz saiu rouca de emoção.
Ela sorriu, acariciando meus cabelos com a mão, e eu pude ver a felicidade em seus olhos.
— Eu acho que sou eu quem deveria dizer isso — ela respondeu, sua voz suave e cheia de amor. — Você me faz sentir a mulher mais sortuda do mundo, Robert.
Eu continuei acariciando sua barriga, sentindo a nossa filha se mexer sob meus dedos. Era um sentimento que eu nunca conseguiria explicar. Algo tão profundo, tão avassalador, que nem as palavras pareciam suficientes.
— Eu não vejo a hora de segurar nossa menina nos braços — eu disse, sem tirar os olhos da barriga de Ana. — Mas ao mesmo tempo... Quero aproveitar cada segundo disso. Ver você assim, carregando nossa filha... Eu não sei como explicar, é como se meu coração fosse explodir de tanto amor.
Ana se inclinou para frente e me beijou, um beijo suave, mas cheio de significado. Estávamos prestes a entrar numa nova fase de nossas vidas, e tudo parecia se alinhar de forma perfeita. Eu sabia que os desafios viriam, mas com Ana ao meu lado, nada parecia impossível.
— Ela tem sorte de ter você como pai — Ana sussurrou contra meus lábios, e eu sorri.
— Nós dois temos sorte de ter você como mãe — respondi, segurando seu rosto com carinho.
Naquele momento, tudo parecia exatamente como deveria ser.
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Os dias foram passando, e a barriga de Ana estava cada vez maior. Cada vez que olhava para ela, eu sentia uma mistura de ansiedade e empolgação que nunca tinha experimentado antes. Estávamos no oitavo mês, e a qualquer momento, nossa filha poderia chegar. E eu estava convencido de que estava completamente preparado... até o momento em que Ana entrou em trabalho de parto.
Era uma manhã normal. Ana estava sentada no sofá, com a mão na barriga e uma expressão de leve desconforto. Eu estava na cozinha, tentando preparar alguma coisa para o café da manhã quando ouvi um gemido abafado vindo da sala.
— Amor, você tá bem? — perguntei, enquanto saía correndo em direção a ela.
Ana me olhou com os olhos arregalados, e a resposta foi imediata:
— Acho que... acho que está começando — disse, com a mão apertando a barriga.
Eu congelei por um segundo. Como assim "está começando"? Meu cérebro parou de funcionar por um momento até a ficha cair.
— O quê? O quê? COMO ASSIM? — eu gritei, começando a correr de um lado para o outro, sem saber o que fazer.
Ana soltou uma risada no meio da dor, o que só me deixou mais nervoso. Eu estava em pânico completo. Tudo que a gente tinha preparado parecia ter evaporado da minha mente.
— Robert, calma! — ela disse, tentando manter a voz calma no meio de uma contração.
Mas eu estava longe de estar calmo.
— A bolsa! A bolsa da maternidade! Onde está a bolsa? — corri em direção ao quarto, abrindo portas e gavetas como se fosse encontrar a bolsa enfiada em algum lugar improvável.
— No closet, Robert! Está no closet! — Ana gritou da sala, e eu me atrapalhei todo enquanto pegava a bolsa com as coisas que ela tinha separado com tanto cuidado semanas antes.
Quando voltei para a sala, Ana estava de pé, segurando a barriga, e eu comecei a gritar novamente, sem nem perceber:
— Ai meu Deus, respira, amor! Respira!
Ela me lançou um olhar divertido, mas com dor estampada no rosto.
— Eu tô respirando! — respondeu, com um tom de ironia misturado ao sofrimento das contrações.
Corri até ela, tentando ajudá-la a chegar até a porta. Cada vez que uma contração começava, eu entrava em modo pânico novamente.
— Mais uma, mais uma! Respira, Ana, respira! Ai meu Deus, o que eu faço?! — exclamei, desesperado.
Enquanto descíamos o corredor em direção ao elevador, Ana teve uma contração mais forte, e ela se curvou, segurando minha mão com força.
— Ai, droga! — ela grunhiu, respirando pesadamente.
— Ai, meu Deus! Respira, amor, respira! — eu gritei, tentando acalmá-la, mas provavelmente só piorando a situação.
Ela me olhou, franzindo a testa, claramente irritada entre a dor e o cansaço.
— Eu tô tentando! — ela praticamente rosnou, mas eu continuei como se estivesse numa corrida contra o tempo.
— Vamos, vamos! Pro hospital! — eu gritava enquanto carregava a bolsa com uma mão e tentava ajudar Ana com a outra. Não sei como ela não me mandou calar a boca nesse momento.
Chegamos no carro, e eu a ajudei a entrar com todo o cuidado do mundo, ainda repetindo meu mantra:
— Respira, Ana! Respira!
Ela se acomodou no banco do carro, bufando entre as contrações, e me olhou com aquele olhar que só Ana sabia dar. Mesmo com dor, ela conseguiu rir de leve.
— Você que precisa respirar, Robert. — Ela disse, ainda ofegante. — Eu tô bem... mas se você continuar assim, vai acabar desmaiando antes de chegarmos lá.
Eu respirei fundo, tentando me acalmar, mas não conseguia. O pânico estava tomando conta de mim. Eu acelerei o carro em direção ao hospital, sentindo que cada minuto era crucial.
— Vai dar tudo certo, amor — Ana disse, sua voz suave no meio da tempestade que estava na minha cabeça.
Enquanto dirigia, olhei para ela, admirando sua força, sua calma, e me dei conta de que, no fim das contas, eu era o que estava mais nervoso ali. Ela estava prestes a trazer nossa filha ao mundo, e ainda assim, era ela quem estava me acalmando.
Quando chegamos ao hospital, minha cabeça ainda estava a mil. Eu saí do carro em disparada, ajudando Ana a descer com o máximo de cuidado que meu pânico permitia. Cada vez que ela gemia ou respirava fundo, eu me via no limite do colapso. Os médicos logo vieram nos atender, colocando Ana numa cadeira de rodas enquanto me faziam perguntas que, honestamente, eu não estava nem registrando. Só conseguia pensar em levá-la para a sala de parto o mais rápido possível.
Ana parecia tão calma, e isso me deixava ainda mais atordoado. Como ela conseguia manter aquela serenidade enquanto estava prestes a dar à luz? Eu, por outro lado, estava suando frio.
— Respira, Robert, tá tudo bem. — Ela me lançou um olhar reconfortante enquanto uma enfermeira a guiava para dentro do hospital.
Seguimos até a sala onde ela daria à luz, e quando entrei, me deparei com algo que me pegou de surpresa: uma piscina inflável no meio da sala.
— Espera... é sério? — perguntei, confuso, lembrando que Ana tinha escolhido o parto humanizado. Eu até tinha concordado com a ideia no começo, mas agora, vendo aquela cena e sabendo da dor que ela já estava sentindo, minha confiança estava por um fio.
A equipe médica estava ocupada preparando tudo. Respirando fundo, eu me preparei, colocando aquela roupa esquisita para poder assistir ao parto. Logo, me vi ao lado de Ana, ajudando-a a entrar na piscina. Ela se acomodou, com a expressão endurecida de dor, enquanto eu me posicionava atrás dela, já sentindo meu coração batendo na garganta.
As contrações dela começaram a vir mais fortes, e a cada vez que ela gritava ou apertava minha mão, eu sentia o pânico crescendo novamente. Estávamos ali, na piscina, e tudo parecia uma mistura de caos e emoção que eu não sabia como processar. Eu olhava para ela, vendo o rosto de Ana retorcido pela dor, e por um segundo, pensei: *Será que essa foi mesmo uma boa ideia?*
Mas não havia volta agora. A equipe médica estava pronta para qualquer eventualidade, e eu sabia que precisava ser forte por ela. Eu ofereci minhas mãos para ela segurar, e a cada contração, Ana apertava com toda a força que tinha. Ela urrava, e eu tentava não desmoronar junto com ela.
— Você é forte, amor... — falei, a voz trêmula, mas tentando manter a calma. — Você vai conseguir, Ana. Você é incrível.
Ela não conseguia responder, apenas grunhia de dor, mas eu continuei repetindo palavras de encorajamento, na esperança de que aquilo, de alguma forma, ajudasse. O tempo parecia se arrastar, cada segundo uma eternidade, até que finalmente, vi algo mudar no rosto de Ana. Uma concentração diferente. Ela começou a fazer mais força, e de repente, vi a equipe se movimentar em volta dela.
— Ela tá quase chegando, Ana. — Uma das enfermeiras disse com suavidade. — Continue assim.
Meu coração disparou. E então, num último empurrão, nossa filha apareceu, erguida dentre as pernas de Ana, toda suja de sangue e um verniz branco que a cobria. E o som que ecoou pela sala me atingiu como um raio: o choro forte e agudo de nossa bebê.
— Meu Deus... — soltei, entre lágrimas e sorrisos. Eu estava chorando sem perceber, enquanto via Ana segurar aquela pequena vida, ainda ligada a ela pelo cordão umbilical.
Minha filha.
Nossa filha.
Elena.
Ana também chorava, seu rosto uma mistura de alívio, exaustão e felicidade pura. Ela trouxe a bebê para mais perto, acalmando seus choros enquanto a olhava com a expressão mais terna que eu já tinha visto.
— Ei, pequena Elena... — murmurei, me inclinando para olhar aquele pequeno rosto que já parecia o centro do meu mundo. — Eu sou seu pai.
Minha voz falhou um pouco, mas eu estava ali, completamente entregue ao momento, observando Ana e Elena naquele instante. A felicidade era esmagadora, e eu soube, naquele segundo, que nada no mundo poderia se comparar àquele momento.
Ana chorava e sorria, e eu a beijei suavemente na testa, ainda sem acreditar que aquela cena, aquela vida que acabara de chegar, era nossa.
— Você fez isso, amor. — Sussurrei no ouvido de Ana, enquanto ela continuava a acalentar nossa filha. — Eu te amo tanto, obrigado por me fazer pai....
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