31. O Mundo Ao Redor Desapareceu
POV Ana Carla
Acordei com a cabeça pesada, os pensamentos confusos. O quarto ao meu redor era sofisticado, todo decorado em branco, mas eu não fazia ideia de onde estava. Tudo parecia tão irreal, como se eu estivesse presa em um sonho do qual não conseguia acordar. Me sentei na cama, sentindo o peso da minha barriga de oito meses me puxar para a realidade.
Onde estou?, pensei, acariciando minha barriga, sentindo minha filha se mexer suavemente ao meu toque.
Ela sempre fazia isso, como se quisesse me acalmar, me lembrar que eu não estava sozinha.
Levantei devagar, meus pés descalços tocando o chão frio. O silêncio era perturbador, e minha mente tentava juntar as peças do que havia acontecido antes de eu acordar ali. Fui até a grande janela, afastando as cortinas brancas com cuidado. O que vi me tirou o fôlego. Estava em uma ilha, cercada pelo mar azul e cristalino, e o horizonte se estendia, vazio, sem sinal de vida além daquela ilha. Era deslumbrante... e assustador. Eu não sabia como tinha chegado ali, mas uma sensação crescente de alerta tomou conta de mim.
Algo está errado.
Meus pensamentos foram interrompidos pelo som suave de uma porta se abrindo. Meu corpo ficou tenso, e eu me virei de repente, o coração acelerado.
— Boa tarde, delegada...
Aquela voz... Eu conhecia aquela voz. Meu coração parou.
Quando meus olhos finalmente se ajustaram, vi... ele.
Robert.
De pé à porta, com as mãos nos bolsos, o mesmo sorriso torto no rosto. Meu mundo caiu em pedaços naquele momento.
— Não... — minha voz saiu fraca, quase inaudível, minha cabeça girando. Não pode ser ele.— Não é possível...
— Sim, amor... é possível.
As lágrimas já estavam nos meus olhos. Eu dei um passo para trás, incapaz de entender o que estava acontecendo.
Eu vi Robert morrer.
Eu vi.
Como ele podia estar ali, parado, olhando para mim como se nada tivesse acontecido?
— Eu vi você morrer... — murmurei, sentindo minha garganta fechar. A dor de reviver aquele momento me atingiu com força. O nó na garganta crescia, e as lágrimas começaram a cair.
Robert deu um passo em minha direção, os olhos cheios de uma dor que ele parecia entender perfeitamente.
— Eu morri, Ana... Fiquei cinco meses em coma. Ninguém achou que eu fosse sobreviver... mas aqui estou.
Eu mal ouvi o que ele disse. O choque me dominava, e a raiva logo explodiu. Antes que pudesse pensar, atravessei o quarto e lhe dei um tapa no rosto. O som ecoou pelo ambiente, e meu coração acelerado fez o sangue ferver. Ele não se mexeu, apenas me olhou, aceitando a dor.
— Idiota! — gritei, minha voz falhando entre os soluços. — Você tem noção do que eu passei? Do quanto eu sofri? Do quanto eu me culpei pela sua morte? Como pôde esconder isso de mim?
Eu o empurrei, as palavras saindo em uma torrente de dor e raiva. **Como ele pôde fazer isso?** Como ele pôde me deixar acreditar que estava morto, enquanto eu carregava o peso daquela culpa, daquela dor?
— Ninguém tinha o direito de fazer isso comigo! — continuei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto, a voz já rouca de tanto gritar. — Eu passei noites sem dormir, me culpando, achando que eu devia ter te protegido... Que a culpa era minha!
Ele tentou me tocar, mas eu me afastei, ainda furiosa.
— Ana, nós... — Robert começou, mas eu o interrompi.
— Você não tem ideia do que foi perder você! — Gritei novamente, e então, senti um chute forte da bebê. Parei, levando a mão instintivamente à barriga, tentando respirar. **Emma... minha filha.** Eu estava exausta, física e emocionalmente.
Robert se aproximou, seus olhos suaves, mas cheios de preocupação.
— Ana... você está tão linda. — Sua voz era suave, quase um sussurro, enquanto ele olhava para minha barriga, mas eu ainda estava brava. Ainda estava quebrada por dentro.
— Sai daqui... não encosta em mim. — Tentei manter minha raiva, minha barreira, mas estava tão cansada de lutar. Tão cansada de fingir que não precisava dele.
Robert ignorou minhas palavras e colocou a mão suavemente sobre minha barriga. O chute forte da nossa filha o fez sorrir. Eu queria afastá-lo, queria manter a raiva que me sustentava por meses... mas seu toque me desarmou. Eu senti a intensidade de tudo o que havia reprimido. As lágrimas que eu segurava há tanto tempo voltaram com força, e eu desabei.
— Emma. — Sussurrei, com a voz entrecortada. — O nome que escolhi para ela é Emma.
Ele olhou para mim, o sorriso cresceu em seu rosto, mas era suave, quase tímido.
— O nome da...
— Da sua mãe. — Completei, sentindo uma conexão maior do que eu podia expressar. — Eu queria...
Antes que eu pudesse terminar, Robert me abraçou com força. Eu cedi, me entregando ao seu toque, ao cheiro dele que eu tanto sentia falta. Afundei meu rosto em seu peito, e por um momento, foi como se todo o peso do mundo desaparecesse. Ele estava aqui. Vivo. E tudo o que eu queria, mais do que qualquer coisa, era sentir que eu não estava mais sozinha.
— Eu te amo, Robert... — Sussurrei, minha voz abafada pelo seu peito, as palavras saindo entre lágrimas.
Ele me apertou mais forte.
— Eu também te amo, Ana. Nunca mais vou deixar você sofrer sozinha.
E naquele momento, todas as dúvidas e raivas desvaneceram. Eu estava de volta nos braços de Robert, e pela primeira vez em meses, me senti em paz.
Ainda estava envolvida no abraço de Robert, tentando processar tudo o que havia acontecido, quando ouvi batidas suaves na porta.
— O almoço já está pronto, senhor Pattinson — a voz do lado de fora era educada, mas firme. Tudo parecia tão surreal. Eu estava ali, depois de meses acreditando que ele estava morto, e agora, éramos interrompidos por algo tão trivial quanto o almoço.
Robert me olhou, e eu pude ver aquele sorriso torto, familiar, se formar nos seus lábios. Ele segurou minha mão com firmeza, os dedos entrelaçados nos meus.
— Vamos, você precisa comer. — Ele disse suavemente.
Ainda meio atordoada, deixei que ele me guiasse. Saímos do quarto e caminhamos por um corredor imenso e luxuoso. O lugar parecia uma mansão, tão elegante que, por um momento, me fez esquecer da realidade. Tudo ao redor exalava riqueza e bom gosto — grandes janelas que deixavam a luz natural inundar o espaço, móveis impecáveis, e o som suave das ondas quebrando ao longe.
— Onde estamos? — Perguntei, olhando ao redor, tentando assimilar o lugar.
— Em uma ilha, próxima à Irlanda. — Ele respondeu casualmente, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
A Irlanda? Como ele tinha me levado para tão longe? Era difícil acreditar que estava nesse lugar, isolada, com ele. Minha mente tentava acompanhar todas as informações, mas meu coração já estava em um ritmo diferente, acelerado, sentindo a proximidade dele novamente.
Ao chegarmos à sala de jantar, fiquei surpresa ao ver a mesa posta, com pratos delicadamente organizados e taças de cristal. Tudo parecia perfeito, mas antes que eu pudesse fazer qualquer comentário, Robert me puxou para perto, de repente, e seus lábios encontraram os meus.
O choque inicial se dissolveu em segundos, dando lugar a algo muito mais profundo. O calor do seu beijo me invadiu como uma onda. Senti meu corpo inteiro reagir. Meus braços foram instintivamente para o seu pescoço, meus dedos encontrando os fios de cabelo da nuca dele, os puxando suavemente, como se quisesse sentir mais daquilo. Ele me segurou com firmeza, me apertando contra seu corpo como se eu pudesse desaparecer a qualquer momento.
O mundo ao redor desapareceu. Tudo o que existia era ele, o toque dele, a forma como sua boca se movia contra a minha, lenta no começo, mas com uma intensidade crescente. Meu coração batia tão forte que eu podia ouvi-lo. Cada parte de mim estava viva, desperta, entregue. Meu corpo inteiro se arrepiava a cada toque, a cada respiração entrecortada que ele soltava entre os beijos.
Eu me afastei por um segundo, apenas para respirar, mas ele não me deu tempo para escapar do momento. Seus olhos, cheios de desejo e emoção, me prenderam ali, e ele me beijou novamente, ainda mais intensamente. Meu peito se apertava, misturado entre o desejo e a saudade, um turbilhão de emoções que não conseguia controlar. Eu queria aquilo. Queria ele. Mais do que nunca. E, ao mesmo tempo, sentia a vulnerabilidade de quem perdeu algo e, de repente, teve de volta.
Finalmente, quando nos afastamos, nossas respirações estavam pesadas, entrecortadas. Ele me olhou com aquele sorriso que fazia meu coração derreter.
— Eu senti tanto a sua falta... — ele murmurou, a voz rouca.
— Eu também... — Respondi, mal conseguindo encontrar as palavras no meio daquela emoção toda.
Era como se o tempo tivesse parado, como se aqueles meses de sofrimento e dor tivessem evaporado no calor daquele momento. Estar nos braços dele era o que meu coração precisava. Por mais que eu quisesse continuar brava, a verdade é que a saudade falava mais alto. Ali, envolvida no toque dele, me entreguei completamente.
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