11. Cartada Certeira
POV Ana Carla
Eu observava, de braços cruzados, encostada na parede, enquanto o médico examinava Robert. O quarto estava mergulhado em uma tensão palpável, o som da respiração pesada de Robert e os murmúrios de Bobby preenchendo o silêncio. A cada minuto que passava, meu instinto policial queria explodir. Eu queria correr atrás de quem quer que tivesse feito aquilo, queria sair dali e caçar o responsável. Mas, naquele momento, eu era apenas Ana, a artista plástica assustada. E precisava me manter assim.
Bobby me lançou um olhar, claramente querendo me tirar do quarto. Ele deu um passo na minha direção, mas antes que pudesse dizer algo, cortei suas intenções.
— Não encosta em mim — eu disse, fria, decidida. — Eu não vou sair.
Ele parou, surpreso pela minha reação. Mas não tentou insistir. Ele sabia que, quando eu decidia algo, não mudava de ideia. E eu estava determinada a ver tudo de perto. Cada detalhe, cada respiração pesada de Robert, cada movimento suspeito do médico. Eu sabia que Elisa e as meninas estavam assistindo tudo pela câmera hackeada. Precisávamos de cada informação possível, mesmo que, por dentro, eu estivesse em uma agonia sufocante por não poder agir como uma policial naquele momento.
O médico continuou o exame com uma concentração profissional, mas não deixou de lançar olhares desconfiados para mim, como se não entendesse o que eu estava fazendo ali. Eu mantive minha expressão neutra, tentando parecer mais preocupada do que curiosa. Por fora, era a artista preocupada com o cliente. Por dentro, era a delegada que tinha visto ferimentos muito piores do que um simples tiro de raspão.
— A bala pegou de raspão, foi um sangramento exagerado, mas ele vai ficar bem depois de uma noite de descanso — disse o médico, finalmente, olhando diretamente para Robert, e depois lançando mais um olhar para mim. Ele claramente não entendia por que eu estava ali.
Antes que eu pudesse responder, Robert, com a voz rouca pela dor, disse:
— Ela é de confiança.
Eu senti o peso dessas palavras no ar, e percebi o olhar surpreso que Bobby e o médico trocaram. Era como se, naquele instante, Robert estivesse colocando uma marca em mim. A confiança dele, algo que eu estava manipulando, era algo que não dava para ser revertido. Eu não respondi, apenas fiquei ali, imóvel, tentando processar o que significava ser "de confiança" para um homem como Robert.
Assim que o médico terminou, Bobby ajudou Robert a se levantar, apoiando-o com cuidado. Eu observei os dois saírem do quarto, sem deixar transparecer o nervosismo que crescia dentro de mim.
Se ele morresse, como eu ia me vingar?
Essa pergunta martelava na minha cabeça. Eu sabia que não poderia deixar isso acontecer. Não agora. Não enquanto minha missão estava em jogo.
Olhei para a cama ensanguentada. Não me assustava, não depois de tudo que eu já tinha visto em minha carreira. Mas, por alguma razão, o sangue de Robert ali me deixou mais inquieta do que o normal. Talvez porque, por mais que eu quisesse mantê-lo à distância, algo nele sempre me puxava para mais perto.
Eu precisava manter o foco.
Foi quando Bobby voltou ao quarto. Ele estava desconfiado, seus olhos avaliando cada movimento meu.
— Ele está chamando por você — ele disse, quase com desprezo.
Eu não respondi. Apenas segui em direção ao quarto de Robert, sentindo o peso de quem ele era a cada passo que eu dava. O ambiente ao redor era tão imponente quanto ele, tudo parecia grandioso, opulento, mas também pesado. Como se cada objeto ali carregasse o peso dos segredos que ele escondia.
Quando entrei no quarto, Robert estava meio deitado na cama, a cabeça recostada, mas os olhos focados em mim. Ele me observava com uma intensidade que parecia perfurar minha fachada, como se soubesse que eu estava escondendo algo.
— Senta aqui comigo — ele disse, indicando a cama ao seu lado.
Eu cruzei os braços e não me movi. Ele estava fraco, mas ainda era Robert, o homem que eu sabia ser um assassino, o homem que eu precisava destruir.
— Quem é você, de verdade? — exigi, sem rodeios.
Ele me olhou por um momento, como se estivesse avaliando se deveria me contar a verdade ou não. Então, um sorriso amargo se formou em seus lábios.
— Eu sou o orgulho de Hollywood — ele disse com uma ironia que não me surpreendeu.
— Não estou brincando, Robert — rebati, o tom firme. Eu queria respostas. Precisava delas.
Ele suspirou, e pela primeira vez pareceu realmente vulnerável. Sua voz saiu mais baixa, quase cansada.
— Eu cuido de negócios que ninguém mais teria coragem de cuidar.
Havia verdade nas palavras dele, mas também um mundo de segredos que eu ainda precisava desvendar. Eu o observava, tentando ler cada expressão, cada movimento. Sabia que estava me envolvendo mais do que deveria, e isso me assustava. Eu tinha que lembrar constantemente quem ele era. O que ele fez. E o que eu estava ali para fazer.
Eu continuei observando Robert enquanto ele se apoiava na cabeceira da cama, a expressão no rosto dele mais séria do que nunca. Seus olhos fixos nos meus, intensos, como se ele estivesse tentando enxergar além de mim, além do que eu estava deixando transparecer. Havia algo mais naquele olhar, algo que eu não sabia se queria descobrir.
— Se você souber a verdade, Ana — ele começou, a voz baixa e carregada de uma gravidade que fez meu coração apertar no peito — nunca mais vai poder sair da minha vida.
Aquilo soava como uma ameaça, mas também como um aviso. Ele me olhava com uma mistura de desejo e aviso, como se me desse uma última chance de escolher o caminho certo.
— Vou te dar uma oportunidade de ir embora agora — ele disse, os olhos não se desviando dos meus, sua respiração pesada. — É sua escolha.
Minha mente ficou em silêncio por um segundo, uma pausa cheia de significados. Eu sabia que, naquele momento, tudo o que eu fizesse seria decisivo. Ele estava me oferecendo uma saída, um jeito de me afastar antes que fosse tarde demais, mas não era isso que eu queria.
O problema era que, ao invés de sentir a lógica fria de uma delegada, de uma mulher que tinha um objetivo claro de vingança, tudo o que eu sentia era meu coração batendo forte demais. Uma emoção que eu não conseguia definir apertava meu peito, e algo dentro de mim, algo traiçoeiro, me empurrava para ele.
Eu dei um passo à frente, aproximando-me da cama. Ele me observava, em silêncio, como se estivesse me avaliando, esperando minha decisão. E, antes que eu pudesse me impedir, eu fui até ele e me inclinei. Nossos olhares se cruzaram por um momento, e então eu o beijei. Um beijo calmo, lento, carregado de um sentimento que nem eu sabia que estava ali. Havia algo nesse toque, algo que atravessava a barreira entre o que eu queria e o que eu deveria fazer. Eu senti Robert corresponder, e por um momento, tudo o que existia era o calor daquele beijo.
Quando me afastei, o silêncio entre nós era ensurdecedor. Ele me olhou de um jeito que me fez estremecer, mas eu me forcei a manter a compostura. O que eu acabara de fazer era uma jogada. Uma jogada perigosa, sim, mas necessária.
— Adeus, Robert — eu disse, minha voz firme, mas meu coração ainda acelerado.
Eu lhe dei as costas e saí do quarto, sabendo que ele me observava. Cada passo que eu dava para longe dele parecia mais pesado que o anterior, mas eu continuei. Saí daquela mansão com a sensação de que algo havia mudado, mas eu não sabia ao certo o que.
Quando cheguei ao meu apartamento, assim que fechei a porta, fui recebida pelo olhar de incredulidade de Lara. Ela quase gritou, a voz cheia de choque e frustração.
— Você veio embora? Colocou tudo a perder? Tinha a chance de ficar do lado dele, Ana!
Rebeca, Elisa e Bia estavam ali também, todas me encarando como se eu tivesse cometido o maior erro da minha vida. Elas começaram a falar ao mesmo tempo, suas vozes se sobrepondo em um misto de frustração e surpresa.
— Ana, o que você fez? — disse Elisa, claramente irritada.
— Você tinha ele na palma da sua mão! — Bia exclamou, enquanto Rebeca apenas balançava a cabeça em reprovação.
Eu respirei fundo, tentando manter a calma. Elas não entendiam, mas eu sabia que o que eu fizera não era uma perda. Na verdade, era a jogada que eu precisava fazer.
— Eu não perdi nada — respondi, minha voz calma, mas decidida. — Vocês estão pensando no curto prazo. O que eu fiz vai fazer Robert vir atrás de mim. Ele não vai conseguir deixar isso assim. Agora, é só uma questão de tempo.
Lara me olhou, os braços cruzados e uma expressão de ceticismo.
— Você tem certeza disso? Porque parece que você acabou de jogar tudo no lixo.
— Tenho certeza — insisti, segurando o olhar dela. — Robert não é o tipo de homem que aceita ser deixado para trás. Ele vai vir até mim. E quando ele vier, é aí que teremos nossa chance de agir.
As meninas ficaram em silêncio por um momento, processando o que eu acabara de dizer.
Eu sabia que era arriscado, mas também sabia que era a única maneira de manter a vantagem.
Eu precisava sair daquele jogo de presa e me transformar na caçadora.
.
.
.
.
umalufanazinha
anahoanny
Gla_mours0101
ElisaMesquita0
BellaMikaelson17
lara2007santos
Biiafss2708
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro