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Capítulo Doze

   Sem coragem de ir para a estrada eu passei a ir apenas para os cabarés sem categoria. Comecei um relacionamento com um viciado em drogas que era amigo do meu filho. E ele pedia dinheiro constantemente. Na verdade, ele era enteado de um cliente e por muitas vezes eu dei a ele o dinheiro que recebia do padrasto. Um dia ele se envolveu numa confusão e foi alvejado por dois tiros.

Conseguindo sobreviver, viajou para o norte e ainda conseguiu me enganar, fazendo com que eu enviasse dinheiro para ele com a promessa de que eu iria morar lá. Um dia essa esperança, junto com as economias da venda de um terreno de herança se acabou.

Consegui o meu emprego novamente depois de batalhar durante onze meses. Antes de receber o meu primeiro salário, voltei uma vez para a estrada. Reencontrei um caminhoneiro mineiro e fui para o caminhão com ele. Ao descer a minha amiga me cobrou e eu disse que não havia recebido. Ela então foi cobrar o meu trabalho. Disse que eu estava atrapalhando o serviço dela, pois enquanto eu estava "dando" a ele, ela poderia estar ganhando o dinheiro dele.

Sem responder a ela, eu não recebi e fui a outro caminhão, para ganhar o dinheiro que eu devia a ela. Entendi que ali, eu não era dona de mim. E nunca mais fui.

No mês passado recebi a minha biópsia. Eu não tenho câncer. Em pleno corredor do Instituto do Câncer do Ceará, gritei e chorei de alegria, sentimento até então desconhecido para mim.

O sucesso do tratamento através da psicanálise fez com que eu deixasse a medicação de tarja preta. Teimei por muito tempo com meu analista. Vi-me totalmente apaixonada por ele, até que descobri que era o amor de transferência. Passei a cursar psicanálise e pretendo clinicar, um dia.

Tenho crises ainda... Estou em crise hoje, enquanto escrevo. Da mesma forma de quando eu comecei a escrever esse livro. Eu realmente pensava em me suicidar. E muitas vezes ainda penso. Hoje eu olhei para minha corda, mas resolvi escrever. Eu não prometo nada a minha cabeça. Talvez minhas escritas ainda sejam livros de um suicida.

Perdi meu analista, ele foi embora por motivos políticos, o meu arqui-inimigo prefeito estará na prefeitura novamente no primeiro dia do ano. Enfim, eu não me arrependo de quase nada que fiz. O único leite derramado é o amado caminhoneiro... Ainda hoje, eu iria com ele ao céu ou ao inferno da mesma maneira.

Acredito na Lei do Karma... Vivo sozinha e sei que será para sempre... A cada dia eu me decepciono mais comigo e com os seres humanos. Não posso me relacionar com ninguém. O sentimento de posse chega a mim e eu quero prender... E prender dói.

Errei com os filhos, errarei sempre em quase tudo. O pai deles hoje é um homem convertido e santificado. Um Deus que ele conhece agora o perdoou de tudo. Eu vou seguindo meu caminho torto. O término do livro se deve justamente as tristezas de fim de ano... E não termino com Feliz Natal, porque não acredito nele.

Espero que o que vivi, sem sedas e cetins, possa servir de lições para alguém. Terei então, atingido o meu objetivo principal. Paz e Luz!

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