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Passado

Em um café da manhã de uma terça-feira na qual não tínhamos clientes, eu estava lendo na mesa com Mr. Chris. Eu já tinha acostumado com a minha vida de novela da Globo. Sempre me lembro dos primeiros dias e o impacto que me causava esta visão do mar do Leblon e desta mesa arrumada como se fosse em um hotel. No passado nem sequer ousei imaginar que eu serviria estas mesas, quem dirá comer em uma delas. De  manhã eu ficava olhando pela janela uma grande quantidade de pessoas bonitas, correndo, andando, tênis, cães, sol. O que será que estas pessoas faziam? Aprendi muito sobre a vida das pessoas ricas com os nossos clientes. Gente que herdou dinheiro e não sabe nem de onde ele vem, gente que ficou rica pelo marido. Estranhamente só tínhamos um cliente que fez o seu dinheiro de forma própria. Era dono de uma grande transportadora e morava no ABC. Até eu consegui lê-lo no primeiro dia: Inseguro com sua aparência física e morria de ciúmes da esposa. 

Hoje não havia sol e as nuvens trouxeram um banho matinal para a areia bege, escurecendo-a.

Pensei na minha vida na Rocinha e nele. Da janela do nosso apartamento eu enxergava o Vidigal e em meio às pessoas do Leblon andavam meninos que eu sabia de onde vinham, das várias comunidades no entorno. O Leblon, a área mais cara do Rio de Janeiro fica bem próxima ao Vidigal, à Rocinha e à Vila Parque da Cidade. A nossa empregada, por exemplo, morava na Vila Parque e com ela morava um doutorando colombiano. Nunca perguntei a ela que relacionamento eles tinham. Mr. Chris teria me criticado se me ouvisse. Ele sempre enfatiza que tenho que me interessar por pessoas em minha profissão e me lembrei de um dia ir até a cozinha e "ler" um pouco dela.

Apesar de eu ter cerca de dezesseis anos nesta época, eu sentia como se a minha adolescência tivesse ficado para trás na Rocinha. Poderia ser o aborto, que ainda vinha de vez em quando na memória quando eu imaginava como o bebê teria sido e espantava o pensamento com a mesma rapidez com que ele vinha.  

Cada vez ficava  mais distante para mim a ideia de que eu até pensei em ficar lá e com "ele".  Hoje ficava claro para mim o que isto significava. Se atingisse um bom cargo no tráfico, poderíamos ter tido um belo apartamento e dinheiro para comprar coisas. O preço era o risco alto de morrer antes dos trinta. Eu teria ficado viúva, o que não era mau, até porque a escolha por este caminho era "dele" e não minha. Claro que família, às vezes, vira um colateral e também some, com um risco bem menor. Onde nasci o risco era inerente e nem passava pela minha cabeça viver sem risco. Assim aprendi sempre a balancear o menor risco e viver um dia após o outro. Quando você vive sem perspectivas não há grande planejamento, nem grande expectativa. Você valoriza o dia-a-dia, o que consegue hoje. Esta vida longe de maiores riscos e, inclusive, com planos para o futuro era nova para mim e foi tão incrivelmente simples me acostumar a ela que já não era fácil imaginar uma volta. Obrigada, tia. O monstro do passado ficou distante, tão longe como os Estados Unidos, para o qual eu me preparava mais a cada dia. 

Mr. Chris já estava no Brasil há mais de dois anos. Eu já via indícios de que ele estava prestes a se decidir. Eu torcia todos os dias que ele me dizesse isto. A esposa do banqueiro rendeu e tivemos mais algumas celebridades e novos ricos que garantiram o negócio, mas o Mr Chris não se fixava por muito tempo e a base era os Estados Unidos. Além disto, uma menina que ele ajudou na India estava indo para os Estados Unidos fazer faculdade e iria morar conosco. Eu não via a hora dele resolver zarpar e me via entrando em um avião, pela primeira vez minha via, em grande estilo, para um futuro em outro país.

Suspirei. A chuva caía densa e inalei o ar molhado. Mesmo que eu estivesse morta agora, pensei, e meu túmulo estivesse sob esta chuva, eu seria um cadáver sorridente. Talvez "ele" já fosse um cadáver. O arrepio subiu pelas minhas costas, gélido. Seria "ele" tão duro assim? Dois anos se passaram, quem sabia. Decidi que não valia a pena investir tempo ruminando meus horrores passados e sim fazer o que eu podia. A sensação de empoderamento era inebriante, ou seja ficar consciente de que eu posso planejar um futuro. Eu estava em paz. Uma paz desconhecida e a qual passou a ser o que mais valorizo, mais que dinheiro ou poder. 

Será? Não. Além  da paz, eu passei a estar apaixonada com a maravilhosa ideia de "ler" as pessoas, de indicar a elas o que fazer através de entidades imaginárias, do poder de mudar destinos. Eu havia decidido que aprenderia tudo de uma forma obcecada. A palavra obsessão tomou outro sentido ao observar Mr. Chris e o que esta obsessão pode te trazer, ou seja, apartamentos no Leblon, dias lendo e tomndo chá, ouvindo música clássica. Assim, li os livros que ele me indicou, prestei atenção a cada consulta, observei cada reação dos clientes, absorvi tudo. Nada me parecia mais cansativo se eu via o retorno. 

Quando, neste dia,  a empregada veio dizendo que havia uma moça no telefone chamada Ro e que ela pediu para falar comigo, ela não interrompeu coincidentemente o meu momento de comparação entre minhas duas possíveis vidas. Este era um pensamento constante, diário. Este telefonema chegou em um dia qualquer, por acaso nesta terça-feira chuvosa. Até porque minha vida estava calma demais eu estava quase esquecendo quem sou e imaginando que tenho direito a uma vida que não é minha. 

Hesitei. Olhei para Mr. Chris que me respondeu em inglês com um "up to you", deixando claro que a responsabilidade de decidir atender ou não era minha.

─ Alô! ─ falei hesitante no telefone sem dizer meu nome.

A voz de Ro veio cansada do outro lado da linha.

─ Jo, é você? 

─ Oi, sim. Sou eu ─ E não fui adiante. Fiquei muda por alguns segundos, me sentindo meio surreal com este telefonema. Nos separamos sem nenhuma menção a um encontro futuro. Me senti como que respondendo a um telefonema de um estranho. Ou do além. Não consegui colocar aquela voz junto a um rosto familiar. Ela pareceu tão desconfortável quanto eu. Até que eu quebrei o silêncio perguntando:

─ Tudo bem com a tia? ─ Pois me ocorreu que poderia ter havido algum problema com a minha quase mãe.

─ Sim ─ respondeu ─ ela está bem.

O meu comentário conseguiu dar fluxo a conversa. 

─ Estou te ligando para dizer que voltei ao Rio ─ comunicou com a mesma voz cansada. 

─ Estou grávida ─ Complementou de modo brusco.

 Fiquei em dúvida se este comentário tinha relação com a minha antiga gravidez. Sequer ousei perguntar em que condições. No momento me senti em pânico. Todo o meu esforço foi para me distanciar disto e agora voltava com a acidez de um mau hálito.

─ Você está na Rocinha? ─ Perguntei sentindo uma insegurança com a qual não sabia mais lidar.

 A ideia de existir uma possibilidade d"ele" conseguir chegar até mim foi maior que qualquer interesse que eu pudesse ter em relação a vida da minha prima Ro, com a qual eu cresci.

Senti na boca um gosto de lembrança ruim, um cheiro que não soube descrever, uma memória olfativa desagradável.

─ Não  ─ Ro respondeu entendendo minha preocupação ─ Estou morando na Vila Parque da Cidade com meu ex namorado. Voltamos. Estou casada e constituindo uma família. Ele está trabalhando e estamos felizes com o bebê.

Eu lembrava quem era. Ele também morou na Rocinha por um tempo, mas não tinha muitas ligações por lá. Senti um pequeno alívio. 

─ Tem contato com alguém de lá? ─ perguntei em alerta.

─ Não se preocupe. Ninguém vai chegar em você ─ disse e adicionou amarga ─ "ele" deve ter feito outra escolha. Não vai ficar na esperança de te achar de novo para sempre. É jovem.

─ Você então sabe que "ele" está vivo? ─ perguntei com um misto de medo e curiosidade.

─ Jô, não seja neurótica e egoísta ─  ela respondeu seca ─ Estou te ligando dois anos depois para te contar da minha vida. Somos primas, quase irmãs. Criadas juntas. Passamos muita coisa, juntas. Queria te contar do bebê. 

O comentário foi direto ao ponto. Ela tinha razão.

─ Desculpa, Ro. Mas o medo é ainda muito forte ─ respondi.

─ Tenho planos assim como você. Agora tenho coisas a perder. Não quero correr nenhum risco.

─ Não tenho contato com ninguém da Rocinha. Não se preocupe. E eu jamais diria onde você está ─ completou.

─ Você sabe que não é assim. Eles sabem tirar informações quando querem. Melhor ninguém saber onde nós duas estamos e ficamos tranquilas. Evite contato com pessoas de lá ─  comentei em tom de urgância.

Desligamos. 

Minha tia acha que "ele" não sabe que eu estava grávida, mas "ele" sabe. Hoje entendo a minha estupidez em ter contado a "ele", mas naquele momento eu até pensei em aceitar que fui escolhida. Na hora senti uma certa lisonja, eles são poderosos, tem dinheiro, tem poder sobre a vida e a morte de pessoas. O poder sempre me atraiu, como ainda faz, mas descobri que há formas diferentes de influência, algumas mais poderosas que a força bruta.

O sentimento de proteção que eu estava sentido minutos atrás deu lugar a uma apreensão leve. E se "ele" chegasse em Ro e descobrisse onde eu estava? Peguei um livro para tentar me libertar destas idéias. Tomar o controle dos meus pensamentos de volta. Talvez "ele" não esteja nem vivo.  Às vezes, eu acompanho as noticias de jornais para ver se "ele" aparece, vivo ou morto. Vi, nos últimos meses, alguns nomes conhecidos que foram presos, mas nada sobre "ele".  Ro tem razão. Mesmo que esteja vivo deve ter escolhida outra pessoa. Talvez seja um egocentrismo meu imaginar que ele ainda me procura dois anos depois. Mas, infelizmente, depois de "ler" muitas pessoas, minha convicção de que pessoas buscam o que não tem só aumentou. Podia imaginar que "ele" se sentia assim em relação a mim. 

Quando voltei à sala ao final do dia, depois de horas lendo um livro, notei o ar curioso do Mr. Chris.

─ Ardjo ─ falou carinhosamente.

Quando levantei os olhos, ele estava me olhando de sério. Perguntei:

─ Você consegue me ler, correto? ─  mas com uma ponta de arrependimento assim que terminei a frase. 

─ Você está desconfortável. Acho que você não tem saudades nenhuma de sua vida difícil e acho que as lembranças que o contato com sua prima trouxe são muito nocivas. Seu semblante está mandando mensagens negativas. Seus olhos gritam ─  respondeu.

─ Nunca te perguntei sobre os troubles pelos quais passou ─  continuou, sentando no sofá e fazendo um gesto para eu sentar com ele.

─ Decidi te receber de peito aberto e ver como se desenvolve. Mas se hoje os monstros do teu passado não te assustam mais, você pode compartilhá-los, mas só se quiser. 

Ele levantou e serviu uma taça de vinho. Mr. Chris raramente tomava bebidas alcoólicas e isto me chamou a atenção. Como aprendi a interpretar detalhes, entendi que ele estava certo de que eu iria contar a história de minha vida e por isto buscou o vinho. Para sentar confortavelmente a meu ldo no sofá e me escutar.

─ A favela onde eu cresci, é controlada por alguns grupos ─ comecei.

─ Eu não saberia contar a história completa das várias facções e suas brigas de poder. Pelos fragmentos que ouvi de um ou de outro sei que ouve uma sucessão de líderes do tráfico, os quais sempre foram substituídos por terem sido presos ou assassinado pela polícia, pela facção rival ou mesmo por algum aliado. Na favela quando bandido aparece morto ninguém se preocupa em saber quem foi. Se ele tinha um grande poder só aumenta a exposição da midia e o número de supostos autores. 

Mr. Chris segurava a taça com uma elegância que aprendi a admirar. Ele era um excelente ouvinte.  Tinha um ar tão interessado que te motivava a contar o que queria e também o que não queria. Este era o maior segredo na profissão que eu já considerava nossa, nnem como jovem aprendiz mas com a soberania da pricesa Tuya. Mas Mr. Chris não se deu ao trabalho de usar as táticas comigo hoje. Ele sabia que eu iria contar porque queria. Aquele ouvinte era ele ao natural, percebi, que tinha mesmo real interesse na minha história.

─ Quando eu tinha 12 anos comecei a notar um grupo de meninos mais velhos que ficavam no meu caminho de volta da escola. Eu sempre morei no Laboriaux que fica na parte de cima da favela. A escola foi feita nos anos 70 e fica na parte debaixo.

Mr. Chris abriu o armário e tirou uma taça, na qual serviu um pouco de vinho e deu a mim, comentando:

─ RJo não é criança, já ficou até grávida. Pode tomar uma taça de vinho.

Sorri. Ele não imagina que além de álcool já experimentei até certas drogas leves. Ele não imagina como a minha vida foi e.. melhor assim.

─ Estes meninos tinham trabalhado muito tempo como informantes da facção que tinha o controle da favela naquele momento. ─ Peguei a taça e olhei a cor bordeaux do vinho contra a luz. Não era o tipo de bebida que eu tenha tomado antes e nestes dois anos foi a primeira vez que Mr. Chris me ofereceu álcool ou mesmo consumiu. Entendi que o dia era extraordiário.

─ Os meninos ficam atentos e dão sinal se vêem ou ouvem algo que tem relevância para o bom funcionamento do comércio da droga. Nenhum deles estava mais na escola. Alguns eu tinha visto algumas vezes no galpão da escola. Nossa escola tinha uma área aberta, que foi coberta com algumas lâminas de zinco e fechadas por um muro embolorado onde faziamos esporte.

Quase consegui enxergar as traves que um dia foram brancas e que marcavam onde deveria ser o gol. O muro sujo logo atrás cobrindo parte da fachada de três prédios colados um no outro, como é comum nesta área. Às vezes, uma velhinha tristonha ficava nos olhando da janela. Alguns meninos jogavam coisas nela.

A empregada entrou na sala para se ver se queríamos mais alguma coisa, senão ela iria embora. Nunca perguntei onde é morava. Ela já estava aqui quando eu cheguei. Pedi um suco, que ela trouxe e ouvi a porta dos fundos bater quando ela saiu. Não sei se ela notou que Mr Chris tinha servido duas taças de vinho, mas mesmo que tivesse, jamais comentaria ou estranharia.

Continuei:

─ Um dos meninos do grupo pareceu especialmente interessado em mim. Ele tinha 16 anos e estava começando a ganhar a confiança do grupo que estava no poder. Vou chamá-lo aqui de "ele". Nos voltávamos em um grupo de meninas para a parte de cima do morro quando a escola terminava. Nosso caminho era longo e passávamos por muitas escadas. Na favela é comum que pedestres usem escadas que formam vielas e passam quase por dentro das casas das pessoas.

Tomei um gole do vinho. Havia achado bem ácido, mas agora depois de um gole do suco adocicado, quase dei boas vindas ao vinho mordaz. Mr. Chris já havia me dito que gosta de vinhos secos. Por algum motivo que não sei bem explicar, levantei e fui sentar no sofá do outro lado da mesinha. Talvez para ver o Mr Chris de frente, com sua barba branca , longa e bem cuidada, e seus olhos de um azul claro demais debaixo das espessas sobrancelhas brancas.

─  Algumas vezes "ele" parou o nosso grupo para fazer alguma piada ou pergunta. 

─ Como "ele" era ─  perguntou Mr. Chris curioso. Ele deve er visto algo no meu rosto quando eu falei destes primeiros encontros com "ele".

─ Ele era um menino bonito ─  falei sem emoção ─ pela clara, nariz largo Sempre de boné e com uma paixão por relógios grandes e camisetas de marca, mesmo que falsificadas.

Eu sabia que Mr Chris entendia cada musculo facial que era ativado enquanto eu contava a história. 

─ Numa destas vezes ele deixou claro que estava armado. Não em tom de ameaça mas como demonstração de poder. Isto é comum por lá. Os meninos aprendem a usar arma bem cedo.

─ Também há lugares nos Estados Unidos onde é assim ─ comentou Mr. Chris que levantou para colocar um pouquinho mais de vinho na taça.

─ Na favela você acha positivo se quem está armado é aliado. Minha tia queria manter distância do povo do tráfico. Ela acreditava que o melhor é eles do lado deles, e tu no teu. Eu confesso que achei o máximo o interesse todo. Muitas meninas queriam ter atraído atenção dele.

─ RJo é bonita ─  disse Mr Chris com um sorriso maldoso.

Eu não sei se me acho bonita, mas sei que tenho um ar diferente. Meus olhos são bem puxados, o que não é comum em mulheres negras como eu. Muita gente me disse que sou bonita. 

 ─ A distãncia da facção que controlava a parte de cima da favela foi ficando impossível quando ficou claro que "ele" tinha me escolhido. Minha tia que queria ficar neutra entre os grupos não apoiou este interesse do menino.

─ Pode-se dizer isto. A diferença é que estes meninos não conquistam as escolhidas. Eles informam. 

Naquela noite eu e Mr. Chris fomos dormir com impressões diferentes. Até porque mesmo que as pessoas recebam as mesmas frases elas processam de maneiras diferentes. E o background do Mr. Chris era muito diverso do meu. Mas eu não sabia muito sobre a vida dele na infância, ou melhor, quase nada.

Três meses depois Ro me ligou novamente para informar que o bebê era menino. Ela queria vir ao posto 12 do Leblon no domingo, trazer o bebê para que eu conhecesse. Hesitei. Pensei em dizer a ela que nunca saio do apartamento e que estávamos com a viagem para os EUA marcada. Mas lembro do comentário dela da última vez. Devo ser mesmo neurótica e egocêntrica, pensei. Além disto, estou bem diferente e ninguém sabe onde estou. Concordo.

No domingo daquela semana eu desço ao ponto 12. Coloquei uma calça leggings e uma camiseta preta sobre um top rosa, do modo a me misturar com os moradores do Leblon sem ser notada. Prendi o cabelo e coloquei os meus maiores óculos escuros. Ro já estava me esperando quando eu cheguei. Vi que ela me olhou de cima a baixo.

─ Você está muito bem, Jo! ─  Disse.

A convido a ir até a Ataulfo de Paiva para tomarmos alguma coisa em um bar. A ideia de ficar exposta estava me deixando incomodada. Andando pela rua Ro nota que eu fico olhando para trás para ver se ninguém nos segue

─ Jo, você vai conseguir levar uma vida normal um dia? ─ Ro me pergunta com ar preocupado, o bebé adormecido no braço.

─ Estou saindo do país ─ respondi. Ro sorriu. Já estávamos sentada dentro do bar e pude tirar os óculos de sol.

─ Você está bem diferente ─ ela comentou.

Pensei em dizer o mesmo, até porque ela estava acima do peso. Mas lembrei que o neném era bem pequeno e que ela esteve grávida há poucos dias atrás. Além disto, com o tempo distante a intimidade já não era mais a mesma e ela podia interpretar mal. Além disto da convivência com o cético e direto Mr. Chris eu havia perdido o sentido do que eu já fazia antes e do que mudei a partir dele.

─ Como ele dorme? ─ perguntei escolhendo um suco do menu da lanchonete.

Vi que um sorriso terno nasceu no rosto cansado de Ro.

─ Dorme bem ─ e embalada pela mudança focal da conversa ofereceu:

─ Ele acordou. Quer pegar?

Levantei os olhos do menu e pela cara de Ro, meu rosto devia estar desfigurado.
Ela complementou embaraçada:

─ Não sei se te incomoda um bebé por causa da tua história.... ─ completou meia sem jeito.

Chamei o garçom e pedi um suco natural.

Em seguida nos separamos depois de momentos tensos. Realmente não era apenas o bebê e o aborto, mas todas as lembranças da minha infância que me davam vontade de ir para o apartamento do Leblon e colocar minha roupa de princesa Tuya. Minha carapaça, escudo, chemem como quiser.

Ro foi para um lado e eu voltei para a beira da praia. Um rapaz caminhava a uma certa distância atrás de mim, além de uma senhora com um cachorro e um senhor aposentado que conheço dos meus cafés da manhã na janela. Apressei o passo e me virei para ver se ele me seguia. Não o vi mais. O coração só se acalmou quando abri a porta do apartamento e senti o cheiro do incenso e de roupa limpa. Mr. Chris estava na sala, no seu canto predileto tomando chá e lendo. Sentei ao lado dele e olhei pela janela.

─ Tudo ok, RJo? ─ perguntou me observando por cima dos óculos de leitura.

─ Ok ─  respondi sabendo que ele lia mais do que o que eu precisava dizer e continuei olhando pela janela.

─ Te seguiram? ─ ele perguntou direto. Com certeza ele viu que eu escaneava a orla em busca de alguém que não era a minha prima.

─ Não sei ─ respondi mordendo uma nectarina que estava na cesta de frutas à mesa.

─ Não  gostei de um cara que estava atrás de mim na rua, mas espero estar errada ─ falei com os olhos fixos no ponto 12. 

Identifiquei o menino que me seguiu se aproximando de outro, o qual não me pareceu de todo estranho, mas que não o identifiquei. Conversaram e seguiram na direção do Vidigal. Sentei e perguntei, mesmo que parecesse meio abusivo:

─ Vamos logo para os Estados Unidos, Mr Chris?

Ele sorriu sem levantar os olhos do livro e disse:

─ Vamos no dia combinado.

Baixei os olhos. Mais dois meses. E me prometi ficar quietinha dentro do apartamento.

No outro dia de manhã procurei indícios pela janela de que alguém me observava. Havia alguns meninos na praia como sempre. Não vi os do dia anterior. Difícil dizer. Alguns garotos olhavam para o prédio, mas não havia como olhar para a rua sem olhar em nossa direção. Mas a partir daquele dia não me senti mais segura.


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E.

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