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Adeus Mister Chris

Uma batidinha na minha porta indicou que algo estava diferente. Mr. Chris, em geral forte e enérgico, estava pálido, grandes bolsas sob os olhos. Fiz um chá e o coloquei deitar. 

─ Tonto ─  me disse ─ Um pouco de enjôo.

Isto nunca havia acontecido e para ele me acordar, entendi que era sério. 

Abri a janela da suíte, busquei o termômetro e o aparelho da pressão. Nada de febre, mas a pressão estava alta. O ar abafado e úmido não ajudava, e nem a chuva, porque caia morna. 

─ Vamos na emergência ─ sugeri preocupada. Mr. Chris era de idade e eu realmente não sabia como ajudá-lo. Não tínhamos remédio para pressão em casa. Tratava-se de um fato isolado.

─ Será? ─  respondeu ele meio cético ─ Prefiro descansar.

Mas quando uma hora depois ele não melhorou, resolvi descer para chamar um táxi depois de nos prepararmos para sair.

Desci rápido e disse ao Mr Chris para descer em 5 min, pois eu ia arranjar o transporte. Parei na calçada na rua Delfim Moreira, e por estar com o foco totalmente voltado ao objetivo de levar o Mr. Chris para o hospital, só me dei conta do meu erro quando um carro prata parou ao meu lado e um rapaz gordo desceu, me agarrou pelos cabelos e me jogou no banco de trás do carro. Tudo não durou mais de dez segundos. A rua estava quase deserta, ou seja, sem chance de alguém ter visto a ação.

Meu desespero era um misto da pressão em deixar o Mr. Chris sozinho estando doente com o pavor dos desconhecidos estarem me levando para um lugar incerto. 

─ Estou com alguém doente ─  Gritei ─  Preciso levá-lo para o hospital.

O cara sentado ao meu lado no carro me olhou com um mistura de desdém e pena. Tirou a arma calmamente do bolso e foi monosílabico:

─ Cala a boca ou morre! ─  Murmurou sem olhar para mim. A arma foi empunhada por debaixo do braço de forma a não ser vista do lado de fora do carro.

Quando entramos na Rua Marquês de São Vicente pensei em gritar para as pessoas que estavam no ônibus que trafegava junto ao carro. Imaginei que alguém poderia ver meu olhar de sequestrada, de desespero. Mas não consegui encontrar os olhos de nenhum passageiro, os quais conversavam com alguém ou olhavam para seu celular. O letreiro ao lado do ônibus "Cidade do Rio de Janeiro" me lembrou que este não era o lugar onde eu queria estar. Pensei na casa em Dallas para onde estariamos indo em poucas semanas. Pensei no Mr. Chris chegando sozinho na calçada em frente ao apartamento no Leblon e não entendendo nada. Pensei em abrir a porta do carro. Se eles estavam me levando para onde eu imaginava, eles não iriam atirar em mim. Alguém me pediu viva. Entretanto, ninguém precisou me dizer que eu estava na porta que não abria por dentro. 

Quando o carro entrou na Estrada da Gávea, extinguiram-se as últimas gotas de esperança de que o destino não fosse a Rocinha. Imaginei pessoas dormindo nas casas com muros altos e verdes de hera. Imaginei que eu podia avisá-las de meu destino. Avisá-las que o Mr. Chris estava com pressão alta em um apartamento do Leblon e alguém devia levá-lo ao hospital. 

Os fios emaranhados começaram a cobrir a rua. Os prédios incrustrados nas pedras do morro   ficaram visíveis. Meus olhos absorviam as imagens como num sonho. O velho e o novo se sobrepondo. As imagens do meu quarto do Leblon se misturando às imagens das janelas de alumínio onde duas peças de roupas ficavam molhadas pela chuva, em uma fachada embolorada.

As poucas pessoas andavam com pressa por causa da chuva nesta manhã de um domingo normal para elas, mas catastrófico para mim. Alguém decidia por mim o resto da minha vida e cabia a mim retomar o controle. A questão era como. 

Saímos da Estrada da Gávea para uma subida que eu conhecia bem. Muitas vezes "ele"fez este caminho comigo a pé. Eu sabia que "ele" estaria aí em algum lugar, esperando por mim. Paramos o carro no final de uma rua, direto na floresta da Tijuca. A casa era a penúltima da rua. A casa onde eu cresci ficava a uns trezentos metros deste local. Minha tia abandonou tudo quando saímos da favela. 

Fui conduzida a uma casa azul anil de dois andares. Os degraus da rua eram de concreto e o marco da porta mostrava desgaste e umidade. A primeira peça também parecia abandonada e estava escura. Dentro havia mais um rapaz, agora portando um fuzil AR-10. Infelizmente meu conhecimento sobre modelos de fuzis é maior do que eu gostaria. E foi "ele" quem me ensinou.

No segundo andar dava para ver que o prédio foi reformado por dentro. Na subida da escada tosca estava uma sala com piso de porcelanato.  Parecia ser o andar de moradia da casa que havia sido deixada rústica por fora para não chamar a atenção. Mas mesmo com todo o investimento feito ainda era muito diferente da construção no Leblon onde morei meus últimos quase três anos. Subimos mais um andar até a laje. Este havia sido decorado para ser o melhor lugar da casa. Imaginei que devia ser o local mais usado. As paredes eram de tijolo à vista, e a laje tinha uma parte coberta. Vi um freezer grande e mais um "amigo" armado de fuzil que fez sinal com a cabeça para que eu seguisse adiante. Não consegui deixar de imaginar que a última coisa que eu queria era parar dentro daquele freezer.

Como estava chovendo "ele" estava sentado em um sofá de couro preto na parte coberta da laje. Levantou-se e veio em minha direção sorrindo, braços abertos. Na minha cabeça um rebuliço de ideias que desligou minha usual frieza e foco em ler pessoas. Apesar do tempo ter passado eu o teria reconhecido imediatamente. Estava mais velho, mais seguro, mas ainda com a cara de menino de sempre.

─  Eu tinha certeza que a gata da minha vida estaria mais linda que antes ─  exclamou me abraçando. O beijo na boca foi inevitável e eu não sabia bem se seria seguro não retribuir. Além disto, apesar do tempos e as coisas que aconteceram comigo no meio do caminho, ele ainda era alguém que eu conhecia e de quem eu já fiquei até grávida. Achei mais prudente retribuir de forma discreta. Ele me puxou para o sofá e quando quis mais do nosso encontro que um simples beijo, eu pedi delicadamente para conversarmos antes, o que ele aceitou a contragosto.

Estava começado a parar de chover e ele pediu a um dos caras armados que tinha se distanciado para nos dar espaço íntimo, que viesse nos servir algo para beber. Recebemos cervejas do freezer. Me senti melhor vendo que o freezer não estava vazio e tinha uso. 

Imaginei que devia ser o final da manhã e senti um cheiro de comida, apesar de não ter visto nenhuma cozinha no meu trajeto até aqui. Devia ficar no andar debaixo e ficou claro que várias pessoas trabalhavam ali. O prédio devia ser um tipo de quartel general do tráfico da parte de cima. Este pontos sempre mudavam quando mudava o controle.

─ Hoje eu comando a parte de cima ─ Comentou, quase como se lendo os meus pensamentos. Isto deveria ser meu papel, pensei amarga, o de ler pensamentos. Vi o orgulho nos olhos d"ele" quando me contou sobre a sua ascensão. 

─  Como está o nosso bebê? ─ perguntou e seguida. Vi carinho nos olhos dele. 

Quando contei do aborto, mudando um pouco a história por causa das reações dele, não consegui fazer ele não odiar a minha tia. Me senti mal porque isto poderia complicar a vida dela caso um dia voltasse, mas não havia saída. E eu, estava ali sem nenhum interesse em atrair ódio. E na verdade foi mesmo a minha tia que me levou para o aborto.

Ele sentou ao meu lado, me abraçou e disse:

─ Faremos outro. Bem vinda de volta à nossa vida que alguém interrompeu.

─ Imaginei que você já estava casado com alguém ─  comentei. Ele entendeu como se eu estive me preocupando com isto e a resposta foi totalmente na contramão do que eu havia pensado.

─ Nunca, baby. Só sexo e festa. Você nunca precisaria ter se preocupado.

O meu sentimento de desespero foi indescritível. Mas a hora era de calma e de foco na sobrevivência. Se havia um chance de eu sair dali, era ganhando a confiança d"ele" ou se "ele" fosse assassinado, o que acontecera com todos os precursores dele no tráfico. As minhas alternativas eram poucas e eu estava decidida a persistir e a usar a passagem para os Estados Unidos que o Mr. Chris comprou para mim.

Minha primeira tentativa foi estúpida. Contei a ele sobre o Mr. Chris, mudando um pouco a história para não criar desconfiança. Pedi que ele me deixasse voltar para levá-lo ao hospital. Vi nos olhos dele uma sentelha de desconfiança. Ele, é claro, não autorizou. Ele disse que eu, como esposa do maior chefe da parte de cima da favela, não posso sair por aí. 

─  Mr. Chris é rico e pode chamar alguém─ argumentou ─  Você não é mais empregada dele. Você agora é patroa ─ completou orgulhoso.

Não me dei ao trabalho de explicar minha relação com o Mr. Chris, nem minha vida no Leblon. Provavelmente era mais seguro ele imaginar que eu estive trabalhando de empregada na casa de alguém. 

─ Estamos passando um tempo de guerra ─  continuou.

Entendi que havia uma turma nova com o controle do tráfico no Vidigal e resolveram expandir os negócios para a Rocinha. Estava claro também que ele sabia que eu não estava ali por livre e espontânea vontade. Mesmo com minha grande experiência em ler pessoas não consegui definir se ele não me deixou sair por medo dos inimigos ou por medo de que eu não voltasse. Ou ambos.

Ele nunca me perguntou porque eu não entrei em contato durante os últimos quase três anos e eu fiquei agradecida por isto.

Era óbvio que eu não era convidada, e como da primeira vez, para ele não existia a ideia de que eu não quisesse. Dois fuzis no chão ao lado do sofá não me deixavam esquecer que eu estava na casa de um chefe do tráfico, cheio de seguranças e vigiado viente e quatro horas por dia. Minha chance de sair dali sem que "ele" concordasse era nula. Quando ele me convidou para descer conhecer nosso quarto, não havia nada que eu pudesse dizer, a não ser dar um sorriso forçado.

Eu precisava achar um jeito de conseguir anticoncepcionais porque a última coisa que eu poderia desejar agora era um bebê d"ele". Usei meu poder de persuasão para convencê-lo de que não era o momento. Aleguei várias coisas e deu certo. Alguém foi comprar anticoncepcionais para mim.

Logo aprendi que era um tempo de mudanças na vida da favela. Não foi um exagero dele na minha recepção. O chefe anterior da parte de cima havia sido assassinado por policiais militares em uma ocupação. Na verdade tudo começou com um tiroteio entre eles e o grupo do Vidigal. A polícia interviu e na confusão o antecessor foi assassinado. Os moradores, que sempre conviveram com os chefes do tráfico, passaram a ter medo e a se afastar. Ninguém estava andando na Rocinha à noite. Nem o túnel Zuzu Angel estava sendo utilizado por causa dos tiroteios. 

Eu, que vi pouca televisão no meu tempo no Leblon, quase não tinha acompanhado a evolução da criminalidade. Ouvi que a Globo havia feito vários documentários. A Rocinha havia ganhado a fama de um lugar muito perigoso. Muito mais do que no tempo em que eu era criança, apesar do tráfico e a violência existirem desde os anos oitenta. Tiroteios, mortes por bala perdida, guerra entre facções da forma com que estava acontecendo neste 2004, tudo isto era novo na Rocinha. E no meio deste emaranhado,  na pior época da vida da favela, lá estava eu, sem alternativas.

Três semanas depois chegou o dia planejado para a viagem do Mr. Chris. Imaginei a minha roupa de princesa Tuya dentro de uma mala. Subi até a laje. Era um dia de sol no Rio de janeiro. A vista do Laboriaux como sempre estonteante.  De lá eu fiquei olhando para o céu. Imaginando que Mr. Chris passaria voando por aqui esta noite, sem mim. Olhei para baixo. Daqui não se vê o Leblon. 

O vôo saiu às nove e cinquenta e cinco daquela noite do Galeão, sem que eu ficasse sabendo se Mr. Chris embarcou e se me procurou depois o meu desaparecimento.


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Obrigada

E.









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