'9'
O tempo era como uma folha no outono, voaria tão rápido que seus olhos nem podiam acompanhar seu desenvolvimento.
Os dias entre o trio havia se passado com uma rapidez espantosa. Saiam juntos uma ou duas vezes por semana, sempre trocavam mensagens pelo celular, mantinham conversas banais sobre seus trabalhos ou como seus dias estavam indo. Aquilo havia se tornado algo comum para o dia a dia deles.
Assim que changbin recebeu a primeira mensagem de bom dia do Han, percebia que o dia realmente havia começado. O respondia rapidamente, deixando a vassoura que antes segurava apoiada na parede, largou o celular ao ouvir o sininho da porta do seu estúdio ser aberta. Os olhos do seo brilharam ao encarar o sobrinho de quatro anos adentrar ao seu trabalho junto com jihyo, sua irmã. Se apressou para ir pegá-lo no colo, tinha um carinho enorme por aquele carinha de sorriso largo de dentinhos pequenos, afagou seus cabelos num singelo carinho voltando sua atenção para a mulher alguns anos mais velha.
— sinto que você vai me pedir algo. — ergueu uma sobrancelha encarando a mulher.
— como você é esperto. — changbin revirou os olhos, dando atenção para o garotinho pequeno que brincava com o colar em seu pescoço, puxando levemente o pingente para admirar. Jihyo caçou algo na bolsa que carregava. — mas, sim, preciso de um favor seu. — voltou a encarar o irmão, este que deu um longo suspiro. Não se incomodava em ficar com jeongin, mas aquele era seu local de trabalho e tinha clientes hoje, não saberia como tomar conta do pequeno enquanto se revisava em atender as pessoas.
— o que é?
— fique com ele até o final do dia, por favor, preciso resolver algo urgente. — changbin não tinha muitas escolhas no momento, o marido da sua irmã era um completo vagabundo, sabia que para ela estar lhe pedindo para cuidar do pequeno era porque o cara não ficaria com o próprio filho.
Jihyo era uma mulher incrível aos olhos do seo, apesar de serem meio irmãos se tratavam com carinho e respeito. A park era o exemplo que o moreno seguia desde que se conhecia por gente, ela tinha o ensinado tudo que sabia até hoje sobre o mundo. Foi praticamente criado por ela. Sabia apenas olhando de cima a baixo que ele estava ficando acabada, aquela vida estava tirando sua virtude, aquele cara estava lhe tirando sua juventude. Nunca culparia o pequeno jeongin por conta das burrices da sua mãe e do seu pai, mas isso não significa que changbin não culparia o pai do menor por ser um irresponsável.
— tudo bem, eu posso ficar com ele. — a mulher sorriu grande.
— obrigada, de verdade, binnie! — acariciou os fios do menor, como se ele ainda fosse um garotinho, afinal, para jihyo, changbin ainda era seu pequeno irmãozinho que fugia da cama para ir dormir ela. — mamãe volta logo, ok? Não dê trabalho para seu tio. — beijou a bochecha do yang.
Depois que a mulher saiu, changbin suspirou olhando para o garotinho em seu colo que parecia sonolento. Jeongin era um garotinho calmo e animado na medida certa, era tão calmo quanto sua mãe mas ainda era bravinho como ele. Tinha puxado o gênio forte da família, sem dúvidas, mas só mostrava ser um garotinho malcriado quando ficava realmente bravo. Era fofo. Com o menino em seu colo, changbin o levou até o sofá espaçoso que tinha na recepção, o sentando lá e se abaixou na sua frente.
— você está com sono, não é? — o menino assentiu, coçando os olhos miúdos com as mãos. — binnie precisa limpar aqui embaixo, então você pode cochilar aqui no sofá, posso buscar um travesseiro lá em cima pra você se precisar.
— não precisa, titio. — esticou os bracinhos para abraçar o pescoço do seo, o puxando para perto. — papai e mamãe brigaram ontem a noite, fiquei com medo. — murmurou baixinho, parecia que cairia no sono a qualquer segundo.
O coração do moreno se apertou, não podia imaginar as coisas que o menor devia ouvir dentro daquela casa. Sabia que o casamento de jihyo não era um dos melhores, brigas são comuns para um casal, mas jeongin sempre que ia na sua casa contava que as brigas entre seus pais era algo constante e até assustador. Changbin já havia perdido a conta das vezes que pegou o garotinho para passar alguns dias em sua casa apenas para livrá-lo daquele problema. Conviver em uma casa que era preenchida de brigas e discussão era ruim, changbin sabia muito bem disso.
— agora está tudo bem. — acariciou as costas do menino, vendo ele deitar o rosto em seu ombro. — vai ficar tudo bem. — sentiu seus olhos arderem. Iria chorar mesmo? Maldita sensibilidade. Coçou os olhos, se contendo.
Deitou jeongin no sofá com cuidado, pegando seu moletom em cima do balcão da recepção para cobrir o menino. Estava um dia consideravelmente frio. Depois de se certificar que ele ficaria bem ali, continuo sua limpeza. Tinha muito o que fazer ainda, não podia perder tempo.
(...)
Quando o primeiro cliente adentrou ao estúdio tudo estava perfeitamente limpo e organizado. Jeongin ainda dormia no sofá como uma pedra, nem se mexia. A moça que tinha marcado um horário pela manhã queria apenas uma pequena tatuagem em um de seus dedos, pediu a opinião do seo sobre o desenho e no final decidiu fazer apenas uma flor. Foi algo rápido, era uma cliente que frequentava seu estúdio com uma certa frequência.
Assim que a mulher saiu, jeongin acordou. Já era hora do almoço quando decidiu fechar o estúdio e subirem para o primeiro andar. O yang esperou pacientemente seu tio preparar o almoço na sala enquanto via um desenho bobo. Quando changbin colocava a comida do garoto em um pratinho separado especialmente para ele, escutou a campainha tocar, uma, duas, na terceira vez perdeu a paciência e desceu pra ver quem era.
— o que vocês estão fazendo aqui? — encarou jisung e christopher de cima a baixo com uma sobrancelha erguida.
— nós avisamos que íamos vim. — jisung proferiu. Changbin franziu o cenho em confusão, não lembrava daquilo.
— por mensagem, avisamos por mensagem. — o australiano explicou.
— mas o que exatamente vocês vieram fazer aqui?
— estávamos entediados então pensamos, por que não vim ver nosso amado amigo changbin? — ao terminar de proferir aquelas palavras, jisung encarou um garotinho se agarrar nas pernas de changbin. — você tem um filho? — subiu seu olhar até o moreno, este que estreitou seus olhos em sua direção e perguntou em pensamento se ele era idiota.
— ele é meu sobrinho, besta. — pegou jeongin no colo, que timidamente tentou se esconder dos olhos curiosos dos homens a sua frente. — neném, esses são christopher e jisung, são meus amigos. — esperou que o próprio tirasse sua chupeta para cumprimentar ambos rapazes, mas isso não aconteceu, estava com muita vergonha. — bom, esse é o jeongin, meu sobrinho.
— ele não se parece nem um pouco com você. — jisung comentou.
— óbvio, jisung, changbin é tio dele e não pai. — christopher quis revirar os olhos por tamanha imbecilidade do rapaz, talvez estivesse pegando a mania do seo em revirar os olhos a cada frase sem sentido do loiro. — eu sou christopher, é um prazer te conhecer. — o garotinho espiava o Bang pelo cantinho do olho, estendendo sua mão para apertar a dele. Changbin sorriu involuntariamente pela interação.
— eu sou o jisung. — afagou seus cabelos, vendo o menino ficar corado pelo toque repetindo.
— esquilo. — jeongin disse embolado pela chupeta ainda em seus lábios.
— sim, ele é um esquilo bobão. — jisung arregalou levemente os olhos pela declaração do seo, se sentiu dramaticamente ofendido. — e aquele ali é um canguru idiota. — balançou a cabeça para o Bang, este que o encarou sem entender. Ele nem tinha feito nada para ganhar tal apelido.
— idiota! — jeongin riu pela nova palavra, já havia ouvido seu pai falar aquilo diversas vezes, mas ainda tinha uma sonoridade engraçada para ele.
— você tá ensinando palavra feio pro menino! — jisung proferiu espantado. — mas cá entre nós. — aproximou-se da orelhinha do garotinho. — ele é idiota mesmo. — sussurrou em segredo, balançando a cabeça na direção do bang.
Jeongin caiu na risada e changbin o acompanhou pela careta que christopher havia feito. Jisung se escondeu atrás do seo quando o moreno ergueu a mão para puxar sua orelha, mas sua cara de bravo não durou tanto quando escutou a risada do coreano com a criança em seu colo.
— você vai ver. — apontou o dedo para jisung este que lhe mostrou a língua, ainda se escondendo atrás do tatuador.
— bom, já que vocês estão aqui, que tal cuidarem um pouco do innie? — encarou ambos rapazes esperançoso.
— o que a gente ganha com isso? — perguntou christopher em tom de brincadeira.
— ah, eu quero um beijinho. — jisung fez um bico engraçado indo na direção de jeongin, o garotinho riu se escondendo no pescoço do tio.
— sai daqui, seu tapado. — o seo empurrou o rosto do loiro. — e o que vocês ganham é almoçar aqui em casa.
— comida de graça? Tô dentro. — jisung se adiantou pegando o menino no colo de changbin, uma vez que jeongin foi facilmente para seus braços. — o que vocês estão esperando? Aposto que o innie está com fome, não é? — o garotinho assentiu, agarrado no pescoço do han.
Changbin se sentiu traído pelo yang, desde quando ele era tão solto assim? Seu ciúmes de tio atacou naquele momento, quis arrancar seu menino dos braços daquele maluco. Chris ao seu lado riu discretamente, era visível a forma como o seo estava irritado por ser abandonado por seu sobrinho. Do mesmo jeito que quis rir do coreano, quis abraçá-lo. Ele ficava fofo bravo.
(...)
Uma vez que os quatro almoçaram, changbin desceu para o andar de baixo para atender o segundo cliente do dia, deixando assim seu pequeno com christopher e jisung.
Se conheciam há cerca de um mês e meio, mas confiava em ambos homens. Apesar de que às vezes achava que cada um deles tinha em média dois anos de idade mental.
Esse pensamento fez changbin rir baixo, tinha mesmo arrumado bons amigos.
No andar de cima, os três estavam juntos no sofá do seo, cada um esparramado em um lado do estofado. Jeongin no meio se limitava a coçar os olhinhos de vez em quando para não perder nenhum segundo do desenho que passava na televisão. Christopher não tinha tanto interesse no desenho animado que viam, mas ambos mais novos pareciam bastante entretidos. Jisung parecia uma criança animada vendo cada cena boba do rato e o gato brigando por território.
A mão do moreno afagava os fios grandinhos de jeongin, ele não parecia se incomodar, longe disse, ele encostou sua cabeça perto do peito do homem, praticamente se deitando em cima dele. Jisung viu aquilo e sorriu, podia ver changbin naquele garoto de certa forma, apesar de todo esforço que o seo mantinha em provar que era alguém forte, no tempo que passaram juntos podia jurar que tudo não passava de uma fachada. Sem dúvidas ele era alguém determinado e às vezes até brigava consigo por motivos tolos, mas sabia que aquele era seu jeito, tinha momentos que ele percebia a vulnerabilidade do seo. Ele era, de certa forma, carente de atenção, parecia um urso pequeno a procura de um lugar confortável para descansar. Ansiava pelo dia que pudesse abraçar changbin, encostar sua cabeça em seu ombro e ficar daquele jeito por bastante tempo.
Talvez demorasse mas jisung esperaria.
— ei. — assim que sentiu chris bater em seu braço algumas vezes, piscou os olhos várias vezes para voltar a realidade. — ele dormiu. — murmurou para não acordar jeongin. Jisung desceu os olhos até o menino, ele abraçava a barriga de christopher enquanto dormia tranquilamente.
— será que devemos levar ele pro quarto?
— acho que sim. — o moreno tentou se mexer para pegá-lo no colo, mas o yang o abraçou mais forte. — leva ele você.
Jisung prontamente ficou de pé, meio confuso como deveria pegá-lo no colo, a posição em que ele estava era meio ruim para erguê-lo. Depois de alguns minutos de batalha para pegar o menor nos braços, jeongin se encontrava dormindo na cama de casal do quarto do seo, abraçado com um travesseiro grande. Era a primeira vez deles entrando naquele cômodo e tudo tinha a cara de changbin. Desde as paredes azuis em um tom mais escuro, as prateleiras com alguns mangás e personagens de anime, o guarda roupa de portas de vidro e uma capa de violão pendurada na parede ao lado do guarda roupa, fora que o cheiro do moreno estava em cada milímetro no lugar.
Ao saírem do quarto, deixaram uma fresta na porta para caso o menor acordasse, voltaram para o sofá. Realmente não tinham assunto naquele momento, pareciam em transe em suas próprias mentes, o silêncio não incomodava nenhum dos dois, mas uma coisa era certa, não se davam bem sem changbin. Apesar de jisung sempre ser tão falante e carismático, quando estava apenas ele e christopher sentia que faltava algo, se reprimia de alguma forma, mas tudo mudava quando changbin estava por perto. Changbin era a chave de tudo, com certeza era.
— será que o changbin tá ocupado? — indagou para o ar, jisung mantinha seus olhos para o teto.
— eu acho que sim. — christopher respondeu ainda avoado, olhando na mesma direção que o loiro.
— é estranho sem ele aqui. — falou sincero, se virando para o bang. — você não acha?
— sim. — riu nasalmente, encarando jisung de volta.
— se eu dissesse que gosto do changbin, o que você faria? — porque havia dito aquilo? Se perguntou mentalmente. Jisung não sabia que gostava de changbin de outro jeito além da amizade, tinha que aprender a guardar seus pensamentos apenas para ele. — é só uma pergunta boba. — riu sem graça, tentando enganar seu constrangimento por ser tão idiota às vezes. — tipo, nós três somos amigos e… quer dizer, às vezes acontece. Não que isso seja o meu caso! Eu vou calar a boca, desculpa. — estava realmente nervoso com o assunto, escondendo seu rosto entre as mãos. Era um idiota mesmo.
Sentiu os dígitos do bang encostar entre seus dedos, puxando uma de suas mãos para conseguir encarar seus olhos. Jisung ficou rubro pelo toque repetindo. O que ele estava fazendo? Christopher carregava um sorriso calmo, a ponta dos seus lábios levemente para cima. Ele não tinha se incomodado com a pergunta, nem se via no direito de ficar bravo com aquilo.
— o que eu diria? — ponderou por um certo tempo, segundos pra ser mais exato. — acho que eu não ficaria tão surpreso. — respondeu com sinceridade. — mas você realmente gosta dele?
— sei lá, cara. Às vezes acho que sim, às vezes acho que não. Tá meio cedo pra essas coisas, né?
— não sei. — voltou a encarar o tento. Não conseguia dizer aquilo tão abertamente como jisung, mas a confusão que ele sentia era idêntica a sua. Encarou o loiro de soslaio, se seu problema fosse apenas um cara estava tudo bem, mas quando havia se tornado tão ganancioso? Estranhamente queria os dois, como seus amigos ou como algo a mais.
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