'19'
À noite, após um banho relaxante e de cabelo lavado, christopher demorou certo tempo para se arrumar, vendo que ainda era consideravelmente cedo para estar se aprontando. Changbin passaria às dez e meia para buscá-lo, e nem era nove horas quando decidiu tomar uma ducha para espantar sua ansiedade. Com apenas a toalha presa a cintura e outra para enxugar os fios negros encharcados, o bang separou suas roupas com calma. Camisa de botões de mangas compridas na coloração branca e uma calça escura com rasgos no joelho, era simples, mas estava ao seu gosto. Seu coturno costumeiro era a finalização do traje, não estava com tanta paciência para perguntar a felix onde ele tinha guardado seus outros sapatos, uma vez que ambos usavam o mesmo número e dividiam os calçados.
Se vestiu com calma, passou sua fragrância de sempre, penteou os cabelos e secou usando o secador do primo que estava no banheiro, ajeitou seu colar de prata usual, anéis e uma pulseira que tinha ganhado do lee em seu aniversário. Após uma rápida olhada no espelho, saiu do quarto para esperar o horário, ainda faltava alguns minutos que mais pareciam horas. Ao sentar ao lado de felix, seu pé não parava um segundo de bater no chão, por parte fazia aquilo de implicância, mas também estava ansioso.
O loiro passava a mão na testa atrás de calma para lidar com o mais velho, vendo que ele estava prestes a ter um ataque encarando o celular com tanta agonia.
— da pra você parar com essa porra? — perdendo a paciência, empurrou o ombro do bang com força pra ver se ele parava com aquele bate e bate sem fim no chão. — que inferno, cara! Virou uma toupeira pra querer abrir um buraco no chão? Se for, faça isso longe de mim, tô querendo ver meu jornal aqui.
— deixa de ser chato. — perdeu a postura, encostando no estofado com desleixo, pouco se importando se aquilo podia amassar sua camisa. — vê aqui se eu tô cheiroso. — esticou o pescoço até o lee, e revirando os olhos, felix fez o que foi pedido, dando uma boa conferida se o rapaz estava apresentável.
— você bebeu o vidro de perfume? Por deus, que cheiro forte de perfume barato. — fez uma careta, apertando o nariz entre o indicador e o polegar. Não queria assumir mas sem dúvidas christopher estava cheiroso, no entanto nunca falaria tal coisa para seu primo, o maior já tinha o ego muito inflado, guardaria isso somente para ele.
— reclama mas usa esse perfume também sem a minha permissão. — voltou a se encostar no sofá, deixou o celular de lado e cruzou os braços impaciente.
— vai sair com seus namorados?
— sim.
— manda lembranças pro jisung, diz que eu mandei um beijo. — espichou seus olhos até o lee, sua expressão de tédio misturada com uma leve onda de raiva o deixou risonho. Era tão fácil deixar o bang enciumado. — o quê?
— vê a merda do teu jornal e fica quieto.
Mais alguns minutos de puro tédio e ansiedade se passaram até enfim ouvir a buzina do carro do seo. Ao se levantar para ir embora, felix grudou em seu encalço, o acompanhando até o carro do moreno, uma vez que tinha dito que queria conhecer changbin com ou sem sua permissão. Mesmo querendo evitar todo aquele estardalhaço do lee, deixou que ele fizesse o que queria.
Em alguns passos de distância, christopher sorriu para changbin e jisung que o esperava encostados no carro. Felix riu em deboche pela forma nem um pouco contida que seu primo ficava quando via ambos rapazes, seus olhos ganhavam um tom mais claro, como se aqueles homens dessem vida para seus olhos opacos.
— lix! — jisung nem mesmo falou com christopher, fez um toque de mãos com o lee como se fossem amigos de longa data. — olha, bin, esse é o primo do chris, o felix.
— prazer. — changbin sorriu simpático, estendendo a mão até o rapaz de sardas.
— prazer é todo meu, gracinha. — apertou sua mão, retribuindo o sorriso.
— tá, tá, já estão apresentados. — christopher se enfiou no meio deles. — sua novela já vai começar, então some, evapora, desaparece. — balançou a mão para o mais novo ir embora como um cachorro sendo expulso de algum lugar, mas ele apenas riu.
— já tô indo, seu ciumento insuportável. — olhou para os dois rapazes logo atrás, eles tentavam segurar o riso da atitude repentina do bang. — tchau pra vocês, cuidem bem do meu priminho.
Christopher ainda ameaçou tirar o coturno para jogar no rapaz de fios dourados, mas ele correu, escorregando algumas vezes antes de alcançar a escada. Esfregou a testa com certa força, atrás de apagar o rastro de constrangimento que seu primo causava, se virou para os dois que ficaram sérios quando o par de olhos negros e brilhantes foram direcionados a eles.
— se vocês rirem, eu vou bater em vocês. — queria se manter sério, mas a gargalhada alta do han abalou toda sua estrutura, se rendendo a risada de ambos.
Sem mais delongas, entraram no carro e partiram em direção a balada que jisung havia falado. Hot Blue era uma casa de shows recém inaugurada, mesmo fazendo apenas uma semana de funcionamento, o lugar já era um dos estabelecimentos noturnos mais cobiçados entre os jovens que queriam extravasar e fugir de suas responsabilidades. Ao entrar na rua da boate, o barulho alto de uma música dançante ecoava por toda rua movimentada por carros de luxo e pedestres com pressa para se juntar em filas a fim de entrar no lugar. Com poucas vagas na rua principal, changbin estacionou um tanto longe do estabelecimento, trancando todo carro, os três desceram e seguiram de volta para a boate.
— olha o tamanho dessa fila jisung, a gente não vai entrar aí hoje. — mesmo em alguns metros de distância, a fila estava do mesmo tamanho da casa de shows, nem conseguiam enxergar seu final.
— relaxa, christopher. — jisung deu algumas tapinhas no ombro do maior. — deixa que eu resolvo. — o lançou uma piscadela e se enfiou no meio da fila. Changbin suspirou preocupado com o que ele estava aprontando.
Quanto mais o han avançava na fila, mais a multidão reclamava e o xingava por todos os nomes possíveis. Com dificuldade, enfim o loiro chegou até o segurança, o cara tinha o triplo da altura do coreano mas aquilo não o abalou nem um pouco. De trás de toda aquela confusão, christopher e changbin trocaram olhares aflitos, tinham medo do que a confiança inabalável do han era capaz e do jeito que ele fazia as coisas sem pensar na possibilidade de dar ruim, mas para a surpresa de ambos, o segurança deu espaço para o garoto entrar depois de alguns segundos de conversa.
— andem logo! — os chamou em um grito, e toda a fila os encarou. Envergonhados, marcharam até o rapaz de cabeça baixa.
Ao entrar no lugar foi como se todo ar mudasse, as luzes piscavam entre o azul e o vermelho, a música estridente era capaz de fazer seus pés vibrarem no ritmo, as vozes da multidão batalhavam junto com a melodia para ver quem ia mais alto. Changbin estava se sentindo perdido no meio de tanta gente louca. Preocupado com o seo, christopher pediu para jisung esperar.
— ei, tá tudo bem? — indagou se aproximando da orelha do menor. Jisung parou ao lado do seo, formando uma proteção para ninguém sufocar ele.
— sim. — respirou fundo, sorrindo para tranquilizar a dupla.
— a gente pega algo pra beber e sobe. — jisung gritou mais alto, apontando para a parte superior do ambiente, onde tinha lugares para se sentar e conversar, lá estava praticamente vazio.
Voltaram a andar depois que mais uma vez checarem que o moreno estava bem, novamente na frente, jisung segurava a mão de changbin para guiá-lo e christopher ia atrás, segurando no ombro do seo para protegê-lo de qualquer bêbado que tentasse alguma coisa, vendo que o tatuador já aparentava estar bastante assustado com toda aquela situação. As coisas se acalmaram quando chegaram ao balcão do barman, vendo dois banquinhos giratórios azuis sobrando, jisung deixou que changbin se sentasse em um e christopher ocupou o outro.
— ainda não entendi como você conseguiu colocar a gente aqui dentro com aquela fila enorme na frente. — jisung fez um pedido para os três ao barman disponível, algo não tão pesado para não deixá-los bêbados rapidamente. Encostado no balcão entre os dois bancos, o han sorriu orgulhoso de si mesmo.
— meu amigo é sócio daqui. — os informou, trocando olhares rápidos entre eles. — inclusive, ele é aquele barman ali, oh. — apontou para um homem alto de cabelo ruivo. Assim que ele avistou jisung, acenou para ele em um gesto rápido, limpando suas mãos no avental azul com detalhes marrons.
— pensei que você não fosse vir. — bagunçando o cabelo loiro perfeitamente arrumado do han, o homem sorriu simpático para os dois outros rapazes que estava junto a jisung. — sou mark tuan, amigo dessa peste, vocês são os namorados dele, certo? Acredita que toda vez que esse moleque me liga é só pra falar de vocês? Fico até com ciúmes. — irritado por ter seus fios desarrumados, o han mostrou a língua para o ruivo, este que devolveu seu gesto infantil.
Após uma breve apresentação e apertos de mãos formais, jisung saiu ligeiramente de perto deles para cumprimentar alguns colegas da faculdade que avistou na pista de dança, deixando assim para trás uma nuvem de tensão que se formou logo depois sua saída. Changbin brincava com os anéis em seus dedos pequenos e christopher bebericava a batida de morango que havia sido pedida pelo han. Mark parecia ocupado, mas assim que teve uma brecha, se debruçou sobre o balcão de vidro com luzes led azuis dentro.
— aproveitando que o jisung saiu rapidinho, tenho uma coisa para falar pra vocês. — quando enfim teve a atenção de ambos, sua expressão calorosa mudou para algo sério. — sou amigo do ji antes mesmo dele vir para Coréia, vocês não sabem o quanto foi difícil convencer o pai dele para deixá-lo vir e ficar sob a minha proteção. Pra mim, esse garoto ainda é uma criança, mas entendo o sentimento dele em relação a vocês, essa é a primeira vez que vejo jisung tão feliz por estar com alguém e por ter alguém que realmente ajude ele, e compreenda a bolha de confusão que ele é. Não quero ser do tipo chato, mas esse também é o primeiro namoro dele, então peço que cuidem bem do meu amigo, tentem colocar juízo na cabeça dele, porque eu não consegui. Vocês parecem compreender ele melhor do que qualquer outro.
Christopher e changbin se olharam rapidamente, entendiam o que o taiwanês queria dizer, jisung não era qualquer um e nunca iria ser tratado como se fosse nada naquele relacionamento. Ainda estavam no começo, mas aquilo se mantinha sério e firme. Não estavam ali para brincar com seus sentimentos, muito menos se tratava de algo fútil, estavam juntos e ficariam até o dia que algum deles seguisse sua vida sozinho. E o bang não iria os deixaria ir embora tão facilmente, podia ser o primeiro relacionamento sério que ele teve, da mesma forma que era o primeiro namoro do han e a primeira vez que changbin se entregava de corpo e alma em uma relação, os três estavam tentando fazer aquilo dar certo e caminhavam em linha reta, mesmo com suas dificuldades, e no tempo certo.
— não se preocupe, cuidaremos bem dele. — proferiu aquilo com um leve esboço de um sorriso gigantesco, uma promessa silenciosa que fazia em sua própria mente. Christopher nunca mentiria com uma coisa daquela, estava mais do que ciente do que realmente queria, e o que ele queria era os dois garotos perto dele até o fim, sendo este fim próximo ou não.
— fico aliviado em ouvir isso. — mark sorriu, erguendo sua postura para voltar ao trabalho.
Quando novamente estava apenas eles dois, o seo encarou o perfil de christopher, ele parecia estranhamente determinado, seus olhos carregavam um brilho estranho mas ainda bonito. Alcançou sua mão em cima do balcão, seus dígitos pairando em cima da pele quente, os olhos castanhos foram direcionados até ele, carregando uma leve doçura que poderia deixar changbin hipnotizado por horas. Teve momentos que duvidou do que sentia pela dupla, mas era como se toda sua preocupação sumisse quando estava na presença deles.
Jisung se aproximou, seu sorriso aumentou ao ver os dois mais velhos sorrindo juntos, queria se juntar a eles e foi isso que fez. Se enfiou no meio deles, sem quebrar o contato de suas mãos que brincavam em cima do balcão de luzes led azuis, sua mão estava gelada pelo contato com uma bebida carregada de gelo e rum de um colega que o tinha oferecido. Em uma bagunça de dedos quentes e mornos, os três só tinham mais a confirmação do seus sentimentos. A música alta e as pessoas eram a menor de suas preocupações, estavam em seu próprio mundo e adoraram sentir aquela sensação que percorria do seus dedos até o peito, enchendo seu coração da mais genuína forma de carinho e companheirismo.
— vão ficar a noite toda fazendo hora no meu balcão? Vão dançar. — a voz de mark os trouxe de volta, entregando mais um shot de alguma bebida colorida.
— até que ele tem razão. — jisung bebeu o shot de uma vez, ficando levemente tonto. — vamos dançar! — seu entusiasmo os contagiou, ingeriram suas bebidas e com os dedos entrelaçados, se enfiaram dentro da multidão atrás de um lugar para poderem dançar.
As luzes piscavam, as pessoas dançavam de forma animada, era quase impossível andar no meio delas sem ser jogado para algum lado, changbin segurava firme na mão deles, com medo se perder. Quando enfim jisung achou espaço suficiente para eles, trio formou um pequeno círculo, a música eletrônica deixava seus ouvidos zumbindo, pareciam estranhamente constrangidos de estar ali, mas ainda assim, a risada de jisung para tentar livrar de suas tensões foi o suficiente para deixá-los mais leve.
Com calma, jisung os guiou mais uma vez, ajudando ambos a se soltar em seu ritmo, afinal, tinham todo o tempo do mundo. Em alguns minutos os três já dançavam de forma atrapalha e nem um pouco envergonhados de gritar tão alto quanto a música, a animação das pessoas os contagiava, seus corações batiam tão fortes que doíam em suas orelhas, suas cordas vocais trabalhavam ao máximo naquela noite, talvez na manhã seguinte estivessem roucos.
Changbin parecia tão livre, seu sorriso era gigante, seus olhos fechados apenas sentindo a vibração da música em seu corpo, deixou seus medos de lado e focou apenas em quem o interessava, aqueles que dançavam juntos a sua frente. Houve um momento que ele parou, as luzes intercalava entre azul quente e o vermelho brasa, o ambiente ao redor parecia em câmera lenta, existia apenas os sorrisos de christopher e jisung, sua animação sem igual, seus corpos dançando, suas vozes altas e sem pudor algum. Seu coração novamente o assustou, não sabia que poderia sentir as famosas borboletas em seu estômago por apenas vê-los centímetros de distância. Estava mesmo se apaixonando, e não tinha medo, não tinha pois os conhecia o suficiente para saber que era recíproco.
Todo o encanto parecia ter sido quebrado quando sentiu uma mão que não era deles em sua cintura o puxando para trás, seus olhos se esbugalharam, tudo voltou a sua velocidade normal, mas ainda parecia no automático. Sentiu a mão áspera de christopher o puxando de volta e o escondendo atrás de suas costas, jisung ameaçou ir para cima do cara que tentou agarrá-lo. Estava tão desatento assim? Balançou a cabeça para voltar a seu estado normal.
— sung, para! — quando novamente teve controle do seu corpo, agarrou o braço do loiro, o afastando do cara que parecia bêbado demais para ter noção de seus atos. — deixa pra lá, ele tá bêbado, provavelmente me confundiu com alguém. Esquece isso, por favor, não arruma briga aqui. — segurou em suas bochechas, mas seus olhos ainda ferviam em direção ao homem que christopher mandava embora.
Não sabia porque mas queria evitar presenciar novamente alguma briga do garoto de feições de esquilo, ainda mais uma briga onde ele não deveria se envolver. Era seus problemas, ele mesmo poderia resolver.
— você tá bem? Ele te machucou? — christopher parou ao seu lado, tentando enxergar algum machucado no meio daquela sessão de luzes cegantes.
— tá tudo bem, eu só tomei um susto. — quando enfim jisung se acalmou, pôde soltá-lo. Changbin ainda sentia a mão do homem em sua cintura, ficando estranhamente desconfortável com aquilo.
— eu não vou sair um segundo de perto de você, entendeu? Nunca mais vou deixar nenhum desses caras nojentos tocar em você! — as palavras de jisung eram firmes, era a primeira vez que o via tão sério, sua expressão chegava a ser estranha, acostumados com o garoto brincalhão de sempre.
changbin ficou feliz por aquela onda de proteção que jisung estava emitindo, parecia varrer aquele sentimento de desconfortável que estava começando a deixá-lo deprimido.
A música mudou, assim como o clima na pista de dança, era uma música lenta, uma melodia romântica e até um pouco brega. Os casais ao seu redor se abraçaram para dançar, christopher pensou que jisung os chamaria para voltar ao bar e esperar até que uma música melhor tocasse, mas se surpreendeu quando esse o pediu para segurar na cintura de changbin. Não entendendo onde ele queria chegar, fez o que foi pedido, o moreno a sua frente não conseguia manter seus olhos juntos, abaixando sua cabeça e focando em seus sapatos, envergonhado. Com cautela, jisung colocou as mãos em cima das mãos do bang na cintura de changbin, ficando numa distância segura das costas do tatuador, demorou um tempo até entenderem o que o han queria com aquilo.
Não eram como os outros casais, não eram uma dupla, e sim um trio e tinham que se virar do jeito que eram. Jisung queria dançar aquela música com eles, mesmo repentinamente tímido pela aproximação íntima, não podia negar que estava imensamente feliz por ser correspondido e não chamado de bobo. Seus pés se moviam com calma, seus corpos balançavam em seu próprio ritmo, era um tanto estranho para changbin que estava no meio, suas mãos seguravam no ombro de christopher com receio, mas o sorriso não largava do seu rosto. Estava tão feliz naquela noite que ignorava tudo de ruim que tinha acontecido.
Poderia passar a noite toda dançando com eles que não ligaria para o cansaço no dia seguinte.
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