'18'
Dia após dia, semana após semana, a vida de christopher voltava para aquele monótono trabalho e casa rotineiro, mesmo que agora tivesse jisung e changbin para ligar quando sentisse falta, encontrá-los desocupados havia se tornado uma tarefa difícil. De uma hora pra outra, o garoto de cabelo dourado tinha voltado a fazer seu curso de direito, que pouco menos de uma semana atrás o bang não sabia que ele era matriculado na mesma faculdade que felix. Uma vez que o lee chegará todo animado falando que tinha conhecido um dos namorados do seu tão amado primo. Claro que o moreno surtou, querendo ou não, tinha medo do que felix podia dizer a jisung. Não tinha nada a esconder, mas o lee era uma cobra com cara de anjo.
Changbin andava sumido, às vezes não respondia as mensagens ou apenas ignorava as chamadas. Na última semana, tinha ido na residência do mesmo, encontrando tudo fechado. Estava ficando preocupado com o rapaz, era como se estivessem voltando à estaca zero: três desconhecidos em um relacionamento confuso. Christopher não gostava daquela sensação, sentia que estava perdendo algo, e talvez esse algo fosse a presença deles, as vozes deles, os sorrisos deles. Os problemas que eles tinham estava construindo uma muralha entre eles novamente, tal qual eles estavam escalando com calma, mas era como se o aparelho que os segurava lá de cima se soltasse aos poucos.
A ligação repentina do seo o fez largar tudo na cozinha, deixando que felix reclamasse o quanto quisesse que tinha deixado o fogão ligado.
— changbin? — a sensação que percorria seu corpo era uma mistura de saudade da voz do baixinho com um nervosismo que embrulhava seu estômago. — por onde você esteve?
— achou que o único que podia sumir do nada era o jisung?
— isso não tem graça, sabia? Eu fiquei preocupado. — não queria elevar sua voz, já estava sendo vulnerável o suficiente. Ele sentou na beirada da cama, passando a destra nos fios negros e naturalmente bagunçados.
— me desculpa. — riu pesadamente. — eu não podia atender as ligações ou responder as mensagens, tava tudo uma bagunça e eu não queria descontar minha frustração em você e nem no sung. — não podia vê-lo naquele momento, mas sua voz parecia tão arrastada e cansada. Parecia exausto. Christopher engoliu suas perguntas, dando prioridade para o que estava deixando o seo daquela forma. — vou buscar o jisung na faculdade, ele vai sair mais cedo hoje, você quer ir? Posso levar vocês pra almoçar e contar o que aconteceu.
— você quer nos enganar com comida.
— nossa como você é inteligente. — ainda estava meio chateado por sentir que tinha feito algo de errado para o afastamento do seo, mas não conseguiu segurar sua risada para acompanhar a dele. Realmente estava fraco em relação aqueles homens, já não se reconhecia. Seu eu do passado provavelmente o olharia com desprezo se o visse agora sorrindo por apenas uma simples ligação. — passo aí em dez minutos, espero que esteja pronto porque não vou ficar esperando a princesa se arrumar.
— você é muito impaciente.
— eu sei. Tchau. — desligou sem ao menos esperar uma resposta do bang.
Sentiu um peso enorme sair do ombros, em meio a suas paranóias e inseguranças, cogitou a ideia que o sumiço repentino do moreno fosse culpa sua. Suspirou feliz ao deixar o celular em cima do amontoado de lençóis que estava na cama, se encaminhou até o guarda roupa para se vestir apropriadamente. O inverno estava começando a deixar de ser um incômodo, a época glacial dava seus últimos suspiros entre os dias mais próximos da primavera, tal estação que particularmente christopher adorava, as ruas enfim deixavam de ser uma extensa massa de gelo e voltavam a sua naturalidade, não precisava mais se preocupar em vestir agasalhos grossos e casacos grandes e desnecessários, mesmo que no último inverno tenha aprendido a amar o frio, onde podia se espremer numa casa de casal consideravelmente grande com dois corpos quentes colados no seu, sem nenhum tipo de malícia, apenas eles e os flocos de neve caindo próximo a janela.
Deixou que felix finalizasse o almoço, saindo em seguida quando ouviu a buzina do carro do moreno. O ar ainda era um tanto pesado, seu nariz coçava de vez em quando por conta do frio, mas ainda assim usava apenas um casaco preto e calças da mesma tonalidade, e sapatos comuns. Adentrou o carro do seo, mantinha a carranca, queria provar que tinha ficado verdadeiramente chateado com seu sumiço. Changbin riu, e céus, christopher nunca segurou tanto a vontade de erguer o canto dos lábios e sorrir também. O moreno ligou o motor e respeitando a sinalização, se encaminhou até a faculdade do han, tal instituição ficava em uma área nobre da cidade, longe do subúrbio, christopher raramente ia parar num lugar daqueles.
O australiano não fazia o tipo extrovertido, gostava mais de observar do que ser o centro das atenções mas naquele momento, dentro do automóvel onde o único barulho vinha do rádio, o bang sentiu sua língua coçar para falar com o seo. O olhou de canto, pose ereta, mãos firmes no volante, sorriso ladino e um tanto feliz, seus olhos como de gaviões presos a estrada. Changbin era um exímio motorista, se sentia seguro com ele. Suspirou alto para chamar atenção do seo, mas ele parecia ter entrado em seu jogo de ignorar um ao outro. Christopher não tinha gostado daquilo, era como aquele velho ditado, tudo que vai, volta, e o moreno odiava esse ditado.
Changbin parou perto da calçada, deixou os motores ligados quando viu a cabeleira loira e as vestimentas costumeiras do han. Destrancou as portas de trás e deixou que o rapaz entrasse, ele estava sorridente e radiante, como se nada no mundo pudesse abalar seu bom humor. Jisung era um cara feliz demais para um mundo tão ruim, era assim que o bang pensava, mas nunca diria nada, talvez isso inflasse o ego do garoto.
— onde vamos almoçar? Tô morrendo de fome! — escandaloso como sempre, jisung se enfiou entre os dos bancos da frente, seu sorriso poderia contagiar até mesmo a pessoa mais amargurada do mundo.
— em um lugar especial. — changbin os olhou rapidamente, rindo da cara de bravo do bang. Nem um pouco convincente, inclusive.
— por que você tá com essa cara de maracujá murcho? — ganhou uma rápida análise do han. Quis rir do comentário idiota do loiro, mas se manteve firme.
— por nada.
— ele tá chateadozinho porque eu sumi por alguns dias.
— qual é, chris, eu também fiquei triste pelo sumiço do bin, mas nem por isso tô com essa cara de cu. Vamos, dê um sorriso, deixa de ser chato. — cutucou sua bochecha com o indicador. — esqueceu que o carrancudo do relacionamento é o changbin? — sussurrou nem um pouco baixo, espichando seus olhos até o seo que desmanchou o sorriso.
— você tá testando minha paciência? — o moreno o olhou com raiva.
— jamais faria tal coisa, hyung.
— agora eu sou seu hyung?
— você sempre foi, meu coroa.
— christopher, segura o volante, eu vou bater tanto nesse merdinha que ele vai ficar amarelo!
— parem com isso! — aquilo era demais para seu senso de humor quebrado, riu alto e barulhento, o suficiente para contagiar ambos rapazes que quase estavam se atracando aos tapas no banco de trás. Changbin tinha soltado mesmo o volante, mas o bang o puxou pela gola da camisa, forçando ele a voltar para seu lugar. — dirigi isso, pelo amor de deus, a gente vai acabar batendo.
— não vou pagar o almoço desse desgraçado! — exprimiu em um bico, seus dentes trincados e uma carranca fofa tornava sua expressão encantadora. Jisung e christopher apenas riam dos palavrões que o seo soltava.
A nuvem pesada que antes habitava no ambiente se dissipou entre seus sorrisos e conversas, tornando o ar mais puro e limpo. Uma vez no restaurante, jisung ainda não entendia o porquê de changbin dizer que aquele era um lugar especial, não tinha nada de diferente no ambiente. Pegaram as mesas mais do fundo, perto da sombra e longe do falatório das outras pessoas que também estavam ali pela boa comida. O han deixou sua mochila na quarta cadeira vaga, se sentando de frente para christopher e changbin estava na direção da entrada. Após fazer seus pedidos, voltaram a conversar em um tom mais baixo, não queriam atrapalhar alguns universitários que usavam aquele espaço como lugar de estudos.
— sinto que conheço esse lugar. — christopher olhou ao redor, a decoração era simples, mas ainda tinha um certo charme naquela simplicidade.
— a memória de vocês é péssima, né? — teve a atenção dos dois rapazes, changbin suspirou em negação. — esse é o restaurante que você nos levou daquela vez que te ajudamos com a dívida. — uma luz se acendeu no cérebro do han, trazendo a lembrança de volta numa rapidez espantosa.
— ah! Eu nem lembrava. — deu uma olhada ao redor, enfim reconhecendo o ambiente. — caraca, faz meses que eu não venho aqui.
— então foi por isso que você disse que era um lugar especial? — christopher o olhou com um sorriso ladino. O seo deu de ombros, fingindo desinteresse.
— vou logo desenrolar o que aconteceu pro christopher parar de fazer birra igual criança. — por um momento lembrou que estava fingindo estar bravo com o seo, desfez o sorriso e revirou os olhos. — minha irmã teve uns problemas pessoais e eu tive que ir até a casa dela. Nesse meio tempo fui pra casa dos meus pais com o jeongin pra deixar ele lá enquanto minha irmã resolvia esse problema. Como eu já disse uma vez, meus pais não são meus maiores fãs, sendo sincero, eles só me aturam porque são meus pais.
— mas por que eles são assim? — jisung indagou preocupado.
— sou tudo que eles mais odeiam, tatuador. E nem é pelo fato que eu sou gay, isso eles levaram isso numa boa. Meu pai diz que tatuador é uma profissão de vagabundo e a minha mãe conseguiu fazer minha irmã se casar e desistir do sonho dela em abrir um estúdio comigo, mas não conseguiram fazer o mesmo comigo. — percebendo a preocupação impressa nos rostos de ambos, changbin riu, mudando sua postura para algo mais relaxado. Não queria arruinar o almoço que iriam ter. — eles nunca encostaram o dedo em mim, e os insultos deles não me abalam tão facilmente.
— impressionante como nós três temos um relacionamento merda com nossas famílias. — jisung se encostou na cadeira com desleixo. — acho que o destino olhou pra gente e disse, bora juntar esses três fodidos. — changbin e christopher riram, mas ainda concordavam. Era muita ironia do destino eles serem tão iguais em relação àquilo.
— essa semana foi uma merda, foi péssimo ficar longe de vocês. — christopher proferiu, encostando o cotovelo na mesa e o rosto na palma da mão, seus olhos castanhos davam atenção a mesa pela repentina timidez.
— também senti a falta de vocês. — changbin assumiu.
— vocês me deixaram mal acostumado, não consigo passar alguns dias longe de vocês que já fico deprimido. — jisung deitou a cabeça na mesa, estava demorando um século para seus pedidos chegarem, realmente a fome estava o deixando triste. Os dígitos de changbin tocaram ambos cabelos, enrolando as mechas de fios descoloridos e naturais em seu dedo indicador. Os dois rapazes sorriram pelo cafuné.
Parecia que o fim do dia trazia consigo uma leveza despreocupante, e com a promessa de jisung em levá-los em uma balada que havia inaugurado recentemente naquela noite, changbin os deixou em casa. Além do almoço que tiveram, saíram para esticar as pernas e conversar mais um pouco, caminhando sem destino por algumas ruas movimentadas do centro, o han sempre um passo à frente os fazendo rir com suas palhaçadas. Vez ou outra, christopher separava uma briga sem fundamentos deles, aquilo já tinha se tornado algo comum naquele relacionamento.
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Esse capítulo tinha ficado muito grande então dividi ele em dois, talvez amanhã eu poste a outra metade
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