𖤍𖡼↷ 𝐓𝐖𝐎
II. MAS QUE PORRA, KUROO, AGORA VAI FICAR FALANDO DE DOPAMINA?
Eu adorava ir nos treinamentos durante as férias de verão. Juntar tantos garotos em um único lugar tinha várias chances de dar errado, mas era extremamente divertido. Sempre tinha sido isso; Nekoma, Fukurodani, Ubugawa e Shinzen. O único diferencial agora é que tinha Karasuno também. E, não vou negar, até que estava animada para ver os garotos do Karasuno. Mais especificamente, estava animada para ver Shoyo. Quando nos conhecemos, Kenma e eu tínhamos acabado de nos perder e eu estava claramente surtando enquanto Kenma estava com a cara enfiada no celular. Eu estava bem perto de dar uma voadora em Kenma quando Shoyo apareceu.
Achei estranho um garoto correndo na rua querer puxar papo conosco, e foi ainda mais estranho ver que Kenma tinha se sentido a vontade o suficiente para conversar com Hinata. Eu nem falei nada durante essa conversa, ocupada demais em choque por Kenma estar socializando com um desconhecido. Mas era fácil gostar de Shoyo, e ainda mais fácil conversar com ele. Hinata era como um raio de sol que iluminava tudo no seu caminho, extremamente extrovertido. Eu o adorava por ser assim, realmente me diverti muito com ele naquele dia e me divertia muito com os e-mails que trocávamos. Sem contar que Hinata conseguia ser a única pessoa que Kenma respondia por e-mail!
Diferente do treino no mês passado, passaríamos alguns dias inteiros aqui para os meninos treinarem, e eu já esperava muito caos resultando disso. Já estava pronta para chutar Tora caso ele ficasse incomodando alguma garota com suas idiotices de homem hétero que não consegue arranjar uma namorada por ser um idiota. E certamente chutaria Tanaka e Nishinoya também se eles ficassem colocando mais pilha em Tora. O trio de pervertidos, era isso o que eles eram! Mas não nego que ver os três juntos era bem divertido, e era ainda mais divertido ver Kuroo e Daichi tentando dar um jeito neles, como se fossem pais daquele bando de idiotas.
Escutei um grito desesperado, mas apenas virei a cabeça um pouco para o lado e a bola bateu na parede atrás de mim com força. Lev me encarou, os olhos verdes arregalados e eu teria rido da cara dele se não tivesse que manter minha pose com aquele grandíssimo idiota. Arqueei a sobrancelha para ele e, lentamente, cruzei os braços. Já estava escutando a risada de Yaku ao longe, mas mantive meus olhos fixos em Lev.
-Hum, Akeri-san...- ele começou, gaguejando, e eu dei apenas um passo na direção dele. Foi o suficiente pra fazer o garoto de mais de 1,90 de altura tremer mais que vara verde. E eu tinha 1,65 de altura.
-Lev, você deveria prestar mais atenção, sabe?- falei, calmamente, batendo a bola que ele tinha atirado na minha direção contra o chão e a pegando de volta. Leve acompanhou o movimento com os olhos e engoliu em seco, e eu podia escutar Yaku e Kuroo rindo no fundo. Eles me conheciam bem demais para saber exatamente qual era o futuro destino daquela bola. -Você quer ser um ace, Lev?
-Eu vou ser o ace!- ele disse de forma animada e foi ai que eu agi. Joguei a bola pra cima e dei um tapa nela. A bola foi diretamente para o peito de Lev, batendo com força ali e ele arfou, tentando segurar, mas os reflexos dele eram um lixo.
-Se você quer ser o ace, então treina, Lev!- falei o fitando, preparada pra dar um chutão nele, como os que ele vivia recebendo de Yaku. Lev fez uma careta engraçada. -Então, pare de enrolar, vá treinar, agora! Todos já brigaram com você hoje, Lev, não quero brigar também.
Lev nem esperou eu dizer mais alguma coisa antes de sair correndo pra longe, como se tivesse fugindo do próprio diabo. Fiz uma careta, e a careta ficou ainda maior quando Kenma deu uma risadinha. Lancei um olhar que prometia morte para ele, mas claro que Kenma ia ignorar isso, dar as costas, e sair dali. Tive vontade de meter a testa na parede, e Kuroo percebeu isso, porque riu.
-Não diz nada, vai. - suspirei e Kuroo arqueou a sobrancelha, se apoiando na parede e cruzando os braços.
-Sabe o que eu acho?- ele perguntou, aquele cabelo esquisito dele caindo nos olhos. Eu bufei.
Eu conhecia Kuroo desde que nasci. Desde que me entendo por gente. Sei exatamente o que ele acha, sei exatamente o que ele pensa. Assim como ele me conhece bem o suficiente para conhecer cada defeito meu, cada insegurança, cada ponto forte. Então, sim, não precisava de muito para saber o que Kuroo estava pensando.
Kuroo era meu melhor amigo. Tinha me escutado todas as vezes que precisei desabafar com alguém. Tinha me ajudado a treinar quando eu estava frustrada ou feliz. Kuroo me conhecia tão bem, mas tão bem, que isso me assustava às vezes. Não conseguia esconder as coisas dele, e às vezss isso era uma bela de uma merda. Tipo agora, nesse exato momento, que quero fugir do assunto, mas Kuroo não vai deixar isso acontecer tão fácil assim.
Bati a bola de vôlei na minha mão repetidas vezes no chão, tentando me concentrar nela e não nos olhos afiados de Kuroo sobre mim. Maldito gato ardiloso!
-Eu acho...- ele começou, mas o ignorei, lançando a bola para cima e dando um forte tapa nela, a fazendo voar para o outro lado da quadra. Yaku, que nem atenção estava prestando, conseguiu parar ela com facilidade e eu fiz uma careta. Ele ergueu um joinha pra mim e sorriu e quis bater a cabeça na parede atrás de mim.
Suspirei, fechando os olhos por um instante. Tombei a cabeça para trás e fitei o teto do ginásio.
As coisas podiam ser mais fáceis na minha vida, mas era como se os deuses tivessem decidido me lascar de uma vez por todas. Mas tudo bem! Eu daria um jeito de resolver as coisas, certo? Tudo ficaria bem no final, certo?
-Você pensa demais quando perde o foco. - Kuroo riu. -Você parece o Kenma.
Revirei os olhos e me virei para ele. Kuroo cutucou minhas costelas com o cotovelo e eu fiz uma careta para ele. Sabia muito bem que ele não me deixaria fugir do assunto para sempre, então apenas fiz uma careta.
-Eu acho, Akeri, que você deveria falar logo com ele, sabia?- Kuroo soltou, sem mais ou menos, e deixei a bola que estava nas minhas mãos cair no chão, como em cenas dramáticas de filmes. Puta que pariu, Kuroo se superava em tocar na minha ferida.
-Não faço a menor ideia do que você está falando. - murmurei, me agachando para pegar a bola em minhas mãos.
Me afastei de Kuroo, ficando no final para poder sacar. Mas claro que ele veio atrás de mim, os braços cruzados e aquele olhar julgador. Que raiva. Às vezes queria que ele não soubesse me ler desse jeito.
-Sobre você ser apaixonadinha pelo Kenma.- Kuroo disse de uma vez. Errei na hora de bater na bola e ela acertou em cheio a rede. Pisquei os olhos.
Claro que Kuroo já tinha percebido isso, mas ele nunca tinha deixado tão claro que sabia. Escutar ele falar com todas as letras me fez travar.
-Você é péssima em esconder as coisas, sabia disso?- Kuroo continuou, dando um passo na minha direção. Me virei completamente para ele, agarrando o pulso de Kuroo e o arrastando para fora em uma tentativa de achar um lugar vazio. Se ele queria falar sobre isso, que não fosse na frente do time inteiro! E se Kenma por acaso aparecesse e escutasse tudo? E se Kuroo acabasse falando mais do que deveria? Ia ser, definitivamente, a minha morte!
Tudo bem, não tinha motivos para surtar só porque Kuroo sabia do óbvio, certo? Até porque, Kuroo era meu melhor amigo e me conhecia melhor do que qualquer um. Se tinha uma pessoa capaz de manter isso em segredo, era Kuroo. Mas, ao mesmo tempo, ele também era o melhor amigo de Kenma. E isso realmente às vezes dificultava as coisas.
Sem contar que Kuroo tem um incrível dom de se meter na vida dos outros. Claro que ele não ia me ver apaixonada por Kenma sem querer dar a merda da opinião dele sobre o assunto, o que era a droga de um saco.
Às vezes me perguntava se estava vivendo dentro de um daqueles filmes ridículos de romance onde tudo só desanda e só vai dar certo nos últimos cinco minutos de tela. Isso se minha vida uma hora chegar a dar certo! O pessimismo era uma vadia, uma vadia que me perseguia quase que diariamente, vinte e quatro horas por dia.
-Tudo bem, não sei o que você acha que sabe, mas está profundamente enganado. - falei me virando para Kuroo, apontando um dedo para o peito dele. Kuroo deu aquela risada horrorosa dele, o que fez eu querer me fundir com a parede de concreto atrás de mimz daquela sala onde eu tinha nos enfiado. -Kuroo, não é hora para palhaçada, sabia? Logo os treinos vão começar, não me tire a paciência logo essa hora do dia!
Kuroo parou de rir e me olhou tão sério que me fez fazer uma careta. Ele deu um passo na minha direção, se inclinando para frente apenas para conseguir me fitar nos olhos.
-Akeri, você deveria parar de fugir do que sente, sabia disso?- Kuroo disse me fazendo revirar os olhos. O que ele virou agora, meu pai? -Você fica cheia de dopamina por causa do Kenma, acha que sou cego, é?
-Mas que porra, Kuroo, agora vai ficar falando de dopamina? É sério? - eu disse torcendo o nariz.
-Então vai dizer que sua pressão arterial não aumenta, sua freqüência respiratória não muda e os batimentos cardíacos ficam maiores, não tem dilatação das pupilas, tremores e o rubor por causa dele?- ele falou arqueando as sobrancelhas pra cima e pra baixo. Eu apenas torci o nariz. Porque Kuroo tinha que ser tão, tão nerd e estranho?
-Acho que você deveria ir se tratar. Sério mesmo, Kuroo. Tá vendo coisa demais onde não tem. - falei por fim, tentando me esquivar dele, mas claro que Kuroo ia me prender contra a parede, um braço de cada lado do meu corpo, o que me fez grunhir de irritação.
-Só admite que gosta do Kenma desde sempre. Eu sei. Todo mundo sabe. Quer dizer, menos o Kenma. - Kuroo disse com um sorriso que me fez suspirar e olhar para cima.
De que adiantava negar e fugir disso? Era verdade mesmo. Era apaixonada por Kenma fazia muito, muito tempo mesmo. Apenas ele parecia incapaz de enxergar o óbvio.
Abri a boca para dizer isso a Kuroo, dizer a ele a verdade, dizer a ele o quanto eu estava condenada por sentir tais sentimentos por Kenma, mas nada saiu. Pois no instante em que tinha reunido coragem o suficiente para dizer a meu melhor amigo o que eu verdadeiramente sentia, a porta abriu, fazendo Kuroo e eu virarmos as cabeças ao mesmo tempo.
Apenas para fitar Kenma, parado, estático, o celular na mão, olhando para nós dois.
Quando dizem que Kenma é muito expressivo às vezes, não é exatamente mentira. E a cara que ele estava fazendo naquele exato momento não deixava dúvidas que ele tinha entendido literalmente tudo errado.
Não julgo Kenma por entender as coisas errado; afinal, Kuroo estava me prendendo contra a droga da parede, qualquer um que visse aquela cena iria imaginar que ele estava prestes a me beijar, e não que Kuroo estava me pressionando para saber o que eu sentia por Kenma.
Mas agora, era tarde demais.
Kuroo e eu nem tivemos a chance de abrir a boca para dizer algo, e Kenma também não disse absolutamente nada antes de dar um passo para trás e fechar a porta, como se não tivesse visto nada, como se não tivesse feito a pior cara que eu já o tinha visto fazer.
-É.- Kuroo disse, quebrando o silêncio que pareceu durar uma eternidade. -Acho que agora temos um pequeno problema.
Data: 15/02/22
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