𖤍𖡼↷ 𝐍𝐈𝐍𝐄
IX. CALA BOCA, KUROO
A verdade é que não consegui prestar atenção em absolutamente nada que Yaku estava tentando me explicar. A verdade é que sequer conseguia impedir a bola de bater com tudo contra meu rosto algumas vezes, fazendo eu me sentir uma grande imbecil derrotada. Ainda mais quando Nishinoya começava a rir e dizia que eu estava parecendo o Shoyo recebendo bolas, o que apenas me fazia querer morrer um pouquinho mais. Mas também não era exatamente culpa minha que eu não conseguisse me concentrar em jogar! Minha vida tinha virado de ponta cabeça, acho que era normal que eu estivesse um tanto perdida com tudo o que tinha acontecido.
-Akeri, tem certeza que está tudo bem?- Yaku perguntou em um determinado momento, uma bola de vôlei nas mãos e o cenho franzido em confusão, como se ele estivesse tentando descobrir que parte minha tinha pifado. Apenas torci o nariz, assentindo lentamente em confirmação, pois não confiava no que poderia saltar para fora da minha boca caso eu resolvesse abri-la. Claro que Yaku não pareceu nem um pouco convencido, e eu sabia muito bem que ele provavelmente estava pensando que Kenma e eu tínhamos brigado ou algo do tipo. Sinceramente, antes fosse uma briga idiota ou uma discussão, seria bem menos confuso do que a situação que eu me encontrava agora.
E eu simplesmente não conseguia parar de pensar no como Kenma tinha me beijado, me pegando completamente de surpresa com aquilo. O jeito que ele tinha envolvido os lábios nos meus era a única coisa que conseguia pensar, e talvez tenha sido por isso que Nishinoya e Yaku conseguiram acertar tantas boladas em mim hoje. Era como se isso nem fosse mais vôlei, mas sim um jogo de queimada infernal! Certamente Yuu estava se divertindo e Yaku ficando cada vez mais perplexo.
-Você está muito distraída hoje. - Yaku disse, arqueando a sobrancelha para mim, me olhando como se tivesse tentando ver minha alma, o que me fez fazer uma careta. Se Yaku fosse um pouco mais como Kuroo era, teria conseguido arrancar de mim todas as informações que queria. Afinal, se tinha algo que Kuroo era, era um insuportável maldito e insistente, que não desistia até saber de toda a verdade. O que apenas me fazia querer surtar um pouco mais. Afinal, minha vida já está o próprio surto, o que é apenas mais uma dose para agitar ainda mais as coisas, certo? -Não conseguiu fazer muitas recepções boas.
Apenas suspirei, esfregando minha testa com o polegar e o indicador, fechando os olhos por um instante e tentando focar no momento em que eu estava agora, com Yaku e Yuu dedicando o tempo deles para me ensinarem a jogar como uma boa líbero, e tentando esquecer de Kenma e sua boca contra a minha. Cinco minutos; eu apenas queria cinco minutos sem pensar nisso e conseguir processar o que tinha acontecido entre nós! Queria apenas o suficiente para colocar tudo em seu devido lugar e pelo menos tentar absorver o que os dois estavam falando para mim.
-Foi mal. - murmurei, fazendo uma careta. Me sentia um pouco culpada, mas não é como se tivesse muito que eu pudesse fazer para evitar tudo isso. A verdade é que realmente era impossível focar em jogar vôlei quando tudo parecia completamente fora de eixo na minha vida. E talvez isso não fosse exatamente ruim... -Eu só tô cansada. É isso.
Yaku e Nishinoya trocaram um olhar, quase como se soubessem que isso não era exatamente verdade, o que me fez torcer o nariz e querer me esconder atrás de algo. Ou alguém. Ou apenas sumir mesmo.
De qualquer jeito, mesmo com minha desculpa completamente ruim, foi o suficiente para que Yaku simplesmente me mandasse ir embora, o que, não nego, ao mesmo tempo que foi um alívio imenso, me fez ficar um pouco revoltada. Não é porque eu estava tendo um dia confuso pra caramba que eu era uma péssima jogadora! Tudo bem que dependendo do que ele fosse querer me ensinar naquele momento, eu realmente não fosse conseguir aprender absolutamente nada devido ao como minha mente estava um turbilhão graças a Kenma e suas atitudes que me faziam entrar em curto-circuito.
Aceitando minha incrível derrota, deixei Yaku e Yuu para trás e fui em busca de Kuroo, já que o grande desgraçado ainda estava com a porcaria do meu celular. Eu não precisava pensar muito para saber que ele provavelmente estava com Bokuto e Akaashi em algum lugar, enchendo o saco do pobre Tsukishima. Se bem que Tsukki não tem absolutamente nada de coitado, e talvez ele mereça um pouco de caos em sua vida para aprender a ficar mais esperto em relação as coisas.
Quando entrei no ginásio onde eles estavam, torci o nariz vendo Hinata e Bokuto na maior agitação, como se nem tivessem passado o dia todo jogando vôlei e esgotando tudo o que tinham de si. Talvez pessoas como eles nem mesmo soubessem exatamente o que era ficar cansado, e essa era a parte mais assustadora.
Enquanto isso, Kuroo estava explicando alguma coisa para Tsukishima, mas parou assim que seus olhos se fixaram em mim e um sorriso puramente malicioso cresceu em seus lábios, me fazendo desejar apenas morrer. Não sabia exatamente o que Kuroo sabia, mas ele sabia de algo. Talvez Alura tivesse aberto o bico, o que apenas me deixava com uma imensa vontade de a agredir.
Considerei seriamente apenas dar as costas e me mandar dali. Afinal, eu não precisava do meu celular, né? Kuroo podia ficar com ele, que se dane! E eu realmente estava quase me virando para sair, mas Kuroo foi mais rápido em fechar a única saída, quase como se ele tivese lido meus pensamentos. O sorriso que ele direcionou a mim apenas me fez ter ainda mais certeza que eu não escaparia de seus questionamentos de merda, e eu fechei os olhos por um instante, considerando se valia mesmo a pena ser amiga dele. Talvez eu devesse apenas atirar meu tênis na cara de Kuroo e desaparecer para sempre antes que ele fosse capaz de se recuperar.
-Vai, Tetsurou. Fala logo o que você quer comigo, gato ardiloso. - murmurei e ele riu, os olhos brilhando em um divertimento que apenas me deixava com mais vontade ainda de o agredir.
-Não seja assim, Akeri. - ele disse de um jeito que apenas me fez passar ainda mais raiva. Fazendo uma grande cerimônia, Kuroo me estendeu meu celular, e revirei os olhos antes de esticar a mão para o resgatar das mãos de Kuroo. Porém, no instante em que ia pegar de volta, Kuroo o puxou para si, me fazendo o fuzilar com o olhar. Ele sorriu, e logo percebi que as coisas não iam ser tão fáceis assim com Kuroo. -Sabe, Kenma te mandou algumas mensagens enquanto você estava, hum, ausente.
Inevitavelmente, meu coração foi parar na garganta. Não exatamente por Kenma ter me mandado mensagens, mas sim porque se Kuroo estava de palhaçada, é porque tinha lido. E pior, porque tinha encontrado algo muito valioso ali, o suficiente para o fazer me zoar para o resto da vida.
-Não sabia que vocês tinham evoluído para melhores amigos que se beijam.- Kuroo zombou, me fazendo querer morrer. -Tem um nome pra isso, sabia? Se chama amizade colo...
Antes mesmo que Kuroo pudesse terminar de falar suas merdas, meti minha palma contra a testa dele, empurrando sua cabeça e arrancando meu celular de suas mãos enquanto ele reclamava comigo. Rapidamente, li as mensagens de Kenma, e, sinceramente, não tinha nada demais ali, então...
-Eu sabia que você tava me escondendo coisas!- Kuroo acusou, me fazendo torcer o nariz. Droga! Maldito ardiloso, como ele sequer conseguia fazer essas coisas, afinal? Manipulador maldito, ele consegue ser ainda pior que Kenma quando quer! -Vocês se beijaram?!
-Cala a boca, Kuroo!- falei, cutucando a costela dele e o fazendo chiar. -Quer falar mais alto não?
Ele me deu um sorrisinho que apenas me fazia ter certeza que, caso eu ficasse com aquilo e não abrisse o jogo, era exatamente isso que Kuroo iria fazer, gritar para os quatro cantos que Kenma e eu tinhamos nos beijado.
Com um suspiro dramático, passei a mão pelo cabelo antes de o encarar.
-Se nem eu sei o que aconteceu, não espere que eu saiba como explicar. - murmurei, o que fez Kuroo arquear a sobrancelha em confusão. -Kenma me beijou.
Dizer isso em voz alta meio que tornava as coisas mais reais. Era como se já nem fosse mais um sonho, mas sim um fato, Kenma tinha mesmo me beijado, por livre e espontânea vontade. E isso ainda era tão, tão surreal. Acho que até mesmo Kuroo sabia o quão surreal isso era, pois arregalou os olhos em surpresa e escancarou a boca. Até então, nem mesmo ele estava tão confiante assim que isso pudesse ter mesmo acontecido e, bem, eu não tirava a razão dele.
-Espera aí, quanto tempo eu dormi? Tem certeza que não foi um delírio seu? - ele zombou, me fazendo o dar um murro no ombro e chiar. -Sério, Akeri! Acho que você deveria procurar um médico, porque está começando a sonhar demais.
-Ah, vai se fuder.- resmunguei, o empurrando para conseguir sair, mas Kuroo riu e me segurou, me puxando de volta.
-Estou zoando com você, para com isso! - ele disse com um sorrisinho e eu apenas bufei, cruzando os braços e o olhando feio. -Conta direitinho essa história, vai.
Apenas suspirei. Se ao menos eu soubesse exatamente o que tinha acontecido, ou o porque Kenma tinha me beijado... Abri a boca para dizer exatamente isso para Kuroo, mas uma voz atrás de nós fez tanto eu quanto Kuroo engolirmos em seco, quase como se tivéssemos sido pegos no pulo.
-Porque ainda estão aqui embaixo?- Kenma perguntou e Kuroo e eu trocamos apenas um olhar antes de nos virarmos para Kenma. Provavelmente estávamos fazendo cara de culpados, pois Kenma arqueou a sobrancelha para nós. -Estavam falando de mim.
Não era exatamente uma pergunta, e sabia que o que quer que falássemos agora apenas serviria para fazer Kenma ter ainda mais certeza disso, motivo pelo qual eu apenas fiz uma careta, desejando imensamente morrer e sumir.
Diferente do que eu esperava, Kenma apenas deu um meio sorriso e balançou a cabeça, fazendo Kuroo e eu trocarmos outro olhar. Quem é esse, e o que ele fez com o Kenma?
-Preciso falar com você. - Kenma disse olhando para mim e eu franzi as sobrancelhas, ainda confusa, antes de assentir e começar a seguir Kenma para fora.
Me virei para trocar um olhar com Kuroo, buscando por ajuda, mas ele apenas deu de ombros e voltou para a quadra. Ótimo amigo! Incrível.
Várias e várias coisas começaram a surgir na minha mente enquanto Kenma se sentava na escada e eu me sentava ao lado dele. Tipo que talvez ele tivesse se arrependido muito do que tinha acontecido. Ou que tivesse sido um erro...
Ficamos em silêncio por um tempo, mais uma vez, apenas olhando para as estrelas. Até que um de nós tivesse coragem o suficiente para começar a falar.
E quando eu estava preparada para perguntar se ele estava arrependido, se achava que aquele beijo nunca deveria ter acontecido, Kenma se virou para me encarar. E, antes que eu pudesse dizer algo, ele disse primeiro. Tão, tão baixo que quase foi impossível de escutar. Quase.
-Acho que sinto o mesmo que você sente, Akeri.
Data: 24/03/22
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