XI. EU ODEIO ESSA CARA QUE VOCÊ FAZ PRA MIM

Alura estava me olhando e olhando e eu sabia muito bem o que minha melhor amiga queria perguntar antes mesmo que as palavras saltassem de sua boca. Dois meses, fazia dois meses que eu estava namorando com Kenma e, ainda assim, Alura parecia incapaz de acreditar nesse maravilhoso fato. Não que eu possa julgar ela, afinal, às vezes parece meio irreal até mesmo para mim. Nunca acreditei de verdade que um dia Kenma e eu pudéssemos chegar até aqui e, sendo honesta, eu também nunca tinha corrido atrás, pois meu medo de que eu pudesse de alguma forma estragar nossa amizade sempre havia sido bem maior que meu desejo de me arriscar. Mas Kenma fez isso; Kenma pode não ter tomado exatamente o primeiro passo, mas ele foi o que mais se arriscou. E agora até parecia um pouco surreal que eu e ele estivéssemos juntos de verdade. Acho que todos pensavam isso, na verdade, já que estavam sempre nos olhando meio em choque. 

-Eu odeio essa cara que você faz pra mim. - resmunguei enquanto caminhávamos pelos corredores da escola. Alura e eu sempre acabávamos nos encontrando para irmos juntas para o intervalo, muitas vezes sem ser de propósito. Minha amiga riu, dando de ombros e continuando a andar, mexendo na pulseira colorida em seu pulso que eu sabia muito bem que quem tinha dado pra ela havia sido Kuroo. Arqueei a sobrancelha para Alura quando ela virou para me fitar e ela fez uma careta.

-É que te ver tão feliz assim é muito estranho. - Alura zombou e tive vontade de a atirar do alto de um prédio. Sinceramente, ela e Kuroo realmente formariam um ótimo casal, unidos para infernizar a minha vida! Por Deus, o que eu fiz para merecer amigos assim? Alura riu mais uma vez, me empurrando de leve com o ombro. -Estou brincando, nem começa. É só que ainda é muito estranho mesmo ver você e Kenma juntos. 

-Ah, sim, a gente esperou e muito você e Kenma pararem de enrolar, sabe? Foi tipo um milagre divino quando vocês começaram a namorar. - Alura riu e eu parei de andar para me virar para ela, arqueando a sobrancelha para Alura. Ela franziu as sobrancelhas e me encarou, tentando entender o porque eu tinha parado. Sabia que Alura não era burra, e constatei isso no segundo que ela fez uma careta e suas bochechas se tingiram de vermelho. No final das contas, eu nem precisava falar nada para que ela soubesse exatamente o que eu estava pensando. Mas fiz questão de deixar claro mesmo assim.

-Achei que vocês todos tivessem passado a vida toda esperando por esse momento épico. - disse, cheia de sarcasmo, revirando meus olhos, me lembrando do como Alura e Kuroo costumavam encher o meu saco e o de Kenma quando éramos mais novos e eles enfiaram na cabeça que eu e ele daríamos um bom casal. Não que eu discorde deles, mas naquela época, as brincadeiras idiotas de Kuroo e Alura apenas serviam para me matar de vergonha e fazer Kenma querer sumir.

-Sim, claro, e você e Kuroo? Pretendem enrolar eternamente? Ou melhor, você pretende enrolar eternamente, Alura?- falei e minha melhor amiga desviou sua atenção para o quadro de avisos que estava na parede, como se a competição de dança fosse muito mais interessante do que o que eu estava falando. E detalhe: Alura é uma completa negação para dançar, então, era apenas uma forma bem idiota de me evitar e que definitivamente não daria certo. Pensar nisso me fez soltar uma risada e balançar a cabeça, empurrando Alura de leve.

-Não sei do que você está falando. - Alura resmungou, começando a apertar o passo, mas eu fui atrás e dei um tapa nas costas de Alura, fazendo ela dar um gritinho e se virar para mim, perplexa. -Aí! Pra que foi esse tapa, sua ignorante? Precisa sempre me tratar assim? - Alura choramingou, fazendo um biquinho para mim e eu revirei os olhos. Às vezes nem dava para acreditar que Alura era mais velha do que eu, porque sua personalidade era tão... Péssima. Ou talvez a minha que fosse bem péssima e talvez eu fosse um tanto desprovida de algo chamado paciência.

-Você vive com esse papo de fio vermelho, mas parece nunca buscar ir atrás de Kuroo e dizer logo pra ele o que sente. Logo o terceiro ano acaba, Alura, e cada um vai para um canto. Não seria melhor se você parasse de jogar o tempo que tem no lixo?- falei, seriamente, a observando. Alura abriu a boca para dizer alguma coisa, mas pareceu reconsiderar. Até porque, ela sabia muito bem que eu estava certa, assim como ela sabia que iria se arrepender para o resto de sua vida se não fizesse nada a respeito dessa situação. Eu sabia muito bem qual era o medo de Alura, afinal, eu mesma já estive no lugar dela. Mas eu sabia que Kuroo também gostava de Alura. A questão era quando eles parariam de adiar o inevitável.

-Você não acredita em mim quando digo que consigo ver o fio, não é? Mas tudo bem. É complicado, Akeri. Você não vai conseguir entender. - Alura disse com um suspiro, passando as mãos pelo cabelo, algo que ela fazia muito quando estava nervosa. Abri a boca para dizer algo, mas Alura me impediu antes que eu tivesse a chance. -Não importa quanto tempo demore, Akeri, as pessoas que são conectadas estão destinadas a se encontrarem, não importa se vai ser nessa vida ou em outra.

Apenas pisquei os olhos, pensando seriamente em bater em Alura. Porque ela tinha todas as chances do mundo de fazer isso dar certo, mas era como se uma mão invisível a prendesse e a impedisse de fazer qualquer coisa que fosse em relação a Kuroo. Eu sabia que não tinha o direito de me meter no relacionamento deles e nem tinha moral para isso, mas às vezes dava vontade de chutar os dois, fazer algo para que pudessem acordar para a realidade.

No entanto, não tive oportunidades de falar algo para Alura, pois entramos no refeitório e encontramos o caos sendo proporcionado por Yaku e Lev. Pisquei os olhos, me perguntando se seria tão ruim assim sair de fininho e fingir que não conhecia nenhum daqueles idiotas, ainda mais quando Tora decidiu se meter no meio daquele caos todo. Deus, esses são os idiotas que eu considero como família? É sério? Ainda bem que não sou mais gerente do clube de vôlei masculino agora que voltei a jogar vôlei pra valer. Eu definitivamente já teria totalmente surtado. Alura, ao meu lado, parecia parecia compactuar da minha vergonha alheia.

-Finalmente você apareceu, Kenma tá quase tendo um ataque ali porque Yaku e Lev estão discutindo bem do ladinho dele. - Kuroo zombou, aparecendo bem do nosso lado. Alura deu um pulo, arregalando os olhos, provavelmente se assustando. Não sei como depois de tantos anos ela ainda conseguia se assustar com Kuroo. Eu apenas olhei para os dois e Alura me olhou com sua típica expressão de "não ouse me deixar aqui". Eu apenas dei um sorrisinho sarcástico para minha melhor amiga antes de dar um tchauzinho para ela e seguir em direção a onde Kenma estava tentando se concentrar na tela de seu celular. Mas deveria ser bem difícil fazer isso com Yaku quase socando a cara de Lev logo ao lado.

-Pelo amor de Deus! Vocês não param de brigar nunca?- zombei, me sentando ao lado de Kenma, que suspirou, ganhando a atenção de todos. Yaku apenas revirou os olhos e se afastou de Lev, se sentando de frente para Kenma e eu, arqueando a sobrancelha. -Qual foi o motivo da briga de hoje, Yaku? Lev te chamou de baixinho mais uma vez ou fez algum comentário burro de novo?

Lev me olhou com pura indignação enquanto Yaku apenas deu um suspiro pesado e dramático que já respondia o suficiente. Acabei dando risada, me inclinando um pouco para deitar a cabeça contra o ombro de Kenma, vendo que ele estava mandando e-mail para Hinata, falando sobre o nacional que logo chegaria. Kenma parecia particularmente com vontade de jogar contra Karasuno, o que era realmente bem chocante já que Kenma não ficava ansioso para nenhum jogo. Mas suponho que depois de Hinata encher tanto o saco falando sobre jogarem um contra o outro pra valer havia conseguido até mesmo deixar Kenma com vontade desse jogo.

Kenma se virou um pouco para me olhar e eu o encarei de volta. Sabia que dificilmente receberia uma expressão de carinho em público, então por isso fiquei extremamente chocada quando Kenma beijou minha bochecha de leve antes de voltar a encarar a tela do celular. Acho que minha cara de tacho foi tão óbvia que fez os garotos começarem a rir, principalmente Kuroo e sua péssima risada, que ao invés de estar conversando com Alura, estava prestando atenção na minha vida. Um belíssimo maldito.

No fim das contas, apenas me aproximei mais de Kenma e sorri. Eu sabia que jamais seriamos um casal como os outros, mas, se eu fosse sincera, para mim, estava tudo bem. Bem mais do que isso. Porque eu amava Kenma, e nada seria capaz de mudar isso. E nem mesmo em mil anos ou qualquer distância mudaria o que eu sentia por ele. Isso era o que bastava.

Bom dia gente bonita! Tudo bem com vocês? Espero que sim!

Passando aqui pra dizer para as pessoas que gostam de kimetsu no yaiba que postei uma fic sobre :')

Retirei de publicação a segunda parte da fic e ainda não sei se vou voltar com ela, então, por enquanto, esse é o final :')
~Ana

Data: 05/04/22