-- Capítulo 5: Tempo Radiante --
Klay cai de costas no chão sem nenhuma resistência. O som de bastante sangue vazando para o solo soa e, depois de alguns segundos, o estrondo da queda do monstro robusto é emitido. Uma poça de sangue negro vai se espalhando a partir de onde está a barriga da criatura caída, que está deitada de barriga para o solo.
Algum tempo se passou. As luzes das tochas estão mais fracas. O rapaz ainda está estirado pelo solo em uma condição lastimável. As feridas que tem no peitoral mancharam quase todo o tecido da camisa de vermelho, tendo também na expressão, que está desolada pela exaustão, algumas das marcas. Se ele não esboçasse alguns sinais sutis da respiração, não seria exagerado o considerar morto com a sua aparência atual. Aos poucos suas pernas e mãos se movem, fazendo-o se levantar, mesmo que o faça com uma dificuldade tremenda.
— Eu… não posso ficar parado aqui descansando para sempre — pensa no momento em que finalmente consegue erguer todo o corpo, cambaleando algumas vezes para os lados. Uma queda da sua parte agora não seria algo inesperado. — Preciso encontrar uma saída desse lugar… Acho que aquela pancada que levei no peitoral fez muito mais estrago do que eu esperava… Eu também gastei muita energia com todos aqueles movimentos... Será que devo pegar algumas ataduras na sacola antes de verificar as paredes? Urg… Maldição, minha cabeça realmente está uma droga para pensar… apesar de eu não achar que ela tenha sido boa em algum momento para isso, haha…
Klay observa o corpo do derrotado por alguns segundos, suas pálpebras ameaçam, demonstrando sinais claros na intensificação da fraqueza que sente. Uma frase com letras de bordas torcidas se forma em um fundo negro na sua mente: “So… u… gra… to…” é o que está escrito se traduzido. Um sorriso se espalha pelo rosto do jovem. — Seu monstro maldito, você realmente deu trabalho… e tenho que admitir, no fim… esse foi um bom duelo. — fala em um tom baixo devido.
Klay começa a caminhar na direção de uma parede próxima para iniciar a sua procura por uma passagem ou algo do gênero. Pela sua mente não passa a ideia de tentar voltar por onde veio, tendo a certeza que já explorou tudo atrás. Ele avança para o objetivo com passos arrastados, lentos; subitamente sua audição capta um ruído, fazendo seu olho direito se abrir ao que pode, tremendo a partir deste momento. Ele levanta com dificuldade uma das mãos e segura o peito esquerdo. Leva alguns instantes, mas o rapaz entende o que está acontecendo. Agora pouco, uma de suas costelas quebradas perfurou o pulmão. Seus joelhos colidem sobre o solo, seus cabelos se espalham pelo ar, em seguida, com uma expressão abatida, seu corpo cai de vez para o lado.
Uma parede próxima começa a subir junto de um barulho alto. Mesmo que tenha sido tarde, uma saída começa a ser revelada, irradiando um brilho no mundo de cores confusas e desprovidas de solidez à volta.
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A paisagem tem uma mudança drástica se comparada com a de antes. No centro do extenso céu azul com nuvens preguiçosas, o sol brilha forte. Sons constantes são emitidos da corrida de um garoto pela terra.
Klay, com um corpo miúdo de criança, avança rápido por um caminho entre os campos de cultivo. O jovem usa uma camisa e calça de couro que estão sujas de lama, seu pé descalço está tão marrom que é difícil acreditar que a cor original da sua pele é de uma bem clara. Ele continua a correr com um semblante torcido de esforço, estando com a respiração densa. Ao seu lado corre um cachorro de pelos curtos com a língua para fora. Talvez não seja uma comparação ruim aproximar sua imagem com a de um vira-lata.
— POR QUE RAIOS EU VOLTEI A SER UM GAROTO?!! — grita a consciência do futuro em sua mente. — Isso deve ser a realidade de outra memória, como aquela que estive com o "velhote"… Mas eu realmente achei que tinha morrido mais cedo! Tch!… Aquilo foi agoniante pra valer. — Cada momento passa em flashes por sua memória. — Como da outra vez, não posso mexer o corpo por mais que eu tente. Mmm… Mesmo sendo inconveniente, acho que só me resta observar. Não é como se eu pudesse fazer mais algo nessa realidade mesmo, caramba! Certo... meu eu do passado, me mostre algumas das coisas gloriosas que já fiz!
— Vamos “Fonso”!! HAHAHA!!! — brada a versão juvenil de Klay. — Certamente não vou perder dessa vez!! Coma poeira!!
— ENTÃO EU ESTAVA COMPETINDO COM UM CACHORRO?!! — Uma lança de decepção o atravessa.
Klay e Fonso correm emparelhados, no horizonte está visível uma fazenda. Quando eles ficam mais próximos, o empenho de Klay aumenta, conseguindo assim criar uma pequena distância entre os dois. Os olhos de Fonso começam a brilhar em determinação, também acelerando no ritmo dos passos, mas a velocidade que ele ganha nisto não se compara com a de Klay, na verdade, a supera, e muito. O animal rapidamente forma um bom espaço entre os dois, sua velocidade é algo espantoso. O jovem fica boquiaberto e esbugalha os olhos.
— O quê?! Você estava se segurando todo esse tempo?! — pensa. — SEU PULGUENTO, VOLTE AQUI!!! — grita quase chorando.
— E EU PERDI!!! — brada a consciência do futuro, realmente chorando de decepção.
Algum tempo se passou. o garoto se encontra jogado ao chão, estando todo suado e ofegante, por outro lado Fonso, o vencedor, está de pé olhando para o jovem com os olhos brilhando, como se estivesse impondo o triunfo.
— Suas pernas estão tremendo, seu saco de pulgas apelão! Hahaha! — A criança caçoa com certo desânimo no tom apesar da exaltação.
— Bem, acho que não devo me sentir incomodado por uma derrota desse tipo. — considera o Klay do futuro. — Afinal eu era só um guri. Isso, eu era só um guri! Definitivamente não é algo que me afete! Isso!
— Então você estava brincando com o Fonso de novo! — diz uma voz feminina com a chegada da mesma no local.
O garoto leva um cascudo forte na cabeça, fazendo-o se revirar no chão pela dor. Ao olhar para cima ele vê a mulher que lhe deu essa pancada, tenda ela belos cabelos loiros presos por uma tiara branca; uma fita está amarrada em sua cintura. A mulher é parecida com Klay, podendo facilmente ser reconhecida como a sua mãe. Com os braços cruzados e uma expressão irritada, ela intimida Klay usando os olhos verdes.
— Ai ai! Foi mal, mãe!
— Entendo, então essa é a minha mãe — comenta a consciência do futuro.
— Tch! Todo dia você enrola sua mãe! — fala a mulher.
— Mmm… houve muitas repetições da palavra "mãe"...
O garoto coça a parte de trás da cabeça enquanto sua frio pelo rosto.
— É que nesse horário é muito bom correr, se exercitar e essas coisas! Hehehe!
— Oh, essa desculpa tem potencial. Talvez eu não fosse tão fraco nessa idade quanto eu pensava.
— Tudo bem sair para brincar, mas faça isso apenas após terminar seus deveres diários! — Ela ressalta, suspirando em seguida. — O almoço vai estar pronto em breve, até lá alimente os animais.
— Certo! — confirma o garoto de imediato, como um soldado de frente para o capitão.
Aproveitando a distração criada pela conversa dos dois, Fonso tenta fugir do lugar tomando distância pelo ponto cego da mulher através dos passos em uma postura baixa.
— Ei, esse cachorro não é esperto demais para um animal? — Nota a consciência do futuro.
Uma densa pressão negra, que é emitida pela mãe de Klay, revirando o ar em um turbilhão, o que aterroriza os indivíduos próximos. O cachorro começa a suar frio em uma velocidade insana, imaginando a mulher mais alta e com os olhos cintilando em vermelho.
— Fonso, você também tem seus deveres… — A voz soa mais pesada para o animal em específico. — Ou por acaso… o cachorrinho estaria realmente tentando escapar de mim, hã!? — O cachorro balança a cabeça em um sinal de não. — Ótimo! As ovelhas precisam de você!
Fonso é agarrado pela cabeça por meio de uma mão bruta, sendo carregado ao lado da apavorante silhueta feminina que parte do local com passos pesados, que causam tremores a cada pancada na terra. Após observar a cena, talvez tendo o feito com uma imaginação muito fértil, Klay corre disparado para o galinheiro.
No destino, o garoto espalha os grãos para os animais através de movimentos travados, ainda estando atônito pelo o que aconteceu mais cedo. Uma das galinhas pousa em cima da cabeça do jovem enquanto ele coleta os ovos para uma cesta, as outras pastam tranquilas mesmo com a presença dele por estarem acostumadas.
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Algum tempo se passou. O garoto está agora sentado em uma das cadeiras da mesa; com o braço miúdo ele fica batendo a colher na madeira, protestando sobre a demora para a chegada do alimento. Depois de alguns segundos, a sua mãe lhe entrega uma porção da sopa; o jovem, com os olhos demonstrando animação, começa a consumir a comida com bastante pressa. Em uma cadeira perto dele está uma garota, se parecendo com Klay em todas as características, até mesmo na altura e o aspecto do rosto. A garota continua lendo seu livro robusto mesmo com a sua parte da sopa já tendo sido posta na mesa, segurando-o pela capa robusta e chamativa pela grande riqueza de detalhes dos adornos espalhados pelo material.
A mãe dos jovens os observa com uma expressão desanimada, como se estivesse vendo algo estranho.
— Kelicia, posso comer sua parte? — pede o garoto.
— Ei, não peça mais comida sem nem ter acabado sua parte primeiro! — reclama a consciência de Klay do futuro.
— Não ouse — responde a sua irmã com um tom frio.
— Vamos, você não está nem tocando!
— Eu era bem insistente, em?
— Definitivamente negado. — ressalta a jovem.
— “Definiti…” o quê!? — comenta o garoto atordoado por não ter entendido direito a lógica daquelas palavras.
— Mmm… O que ela disse? — diz a consciência do futuro, que também não entendeu.
— Temos o suficiente para repetir, fique tranquilo, Klay — informa a mãe de ambos. Ela suspira. Os olhos de Klay brilham, ele estende a tigela que já foi perfeitamente limpa. — Você já acabou?!
Apesar de ter ficado relutante, a mulher aceita a situação e coloca mais sopa na tigela do garoto.
O tempo vai passando, o garoto vive em um cotidiano semelhante por dois anos. Os dia são felizes para ele. Por mais que sua irmã o "corte" sem piedade frequentemente com seu conhecimento sempre que conversam, ainda sim os dois se dão bem. A mãe dele, apesar de rígida, prova-se sendo uma ótima pessoa, nunca tendo permitido que faltasse algo de importante para a vida da família, como comida, mas… uma noite específica em um inverno rigoroso mudaria toda essa rotina.
— Por quanto tempo… isso vai continuar? — considera a consciência do futuro, um que está distante. O garoto está deitado na cama olhando para a janela ao lado. A neve cai lentamente pela paisagem branca. — Já faz muitos meses que estou vivendo nessa memória… ou será que essa é a realidade? Que coisa sem sentido. Mas… creio que não posso reclamar. Eu morri do outro lado, talvez eu deva ser grato por minha consciência ainda poder existir em algum lugar. Pensando nisso, dá para imaginar que posso estar por aqui devido ao fato de não ter mais para onde voltar… É, é possível.
O jovem se vira na cama em busca de uma posição mais confortável, ele fecha os olhos e se cobre melhor com o cobertor.
— Então estou destinado a rever toda a minha vida? Bem, eu realmente gostaria de lembrar de tudo o que perdi mesmo que eu não tenha mais um corpo… Isso pode não ser tão entediante assim. Mmm… será que vou rever minha morte? Se for, será que deixarei de existir nesse momento, ou… irei rever todas as memórias de novo?... Caramba! Acho que estou pensando demais, ainda é muito cedo para chegar nessas conclusões.
Klay dorme. A neve continua caindo, transmitindo uma sensação agradável pelo quadro embaçado que a janela proporciona. A partir daqui, a consciência do futuro se manterá calada.
Algumas horas se passaram.
— ...KLAY!! KLAY!! — chama uma voz familiar, essa pessoa balança o corpo dele. Ao abrir os olhos devagar, o garoto vê o rosto ofuscado da sua mãe, quando sua visão se estabiliza, ele percebe a expressão nervosa dela, que está sendo iluminada por uma lamparina.
A noite do caos chegou.
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