-- Capítulo 37: Confronto Entre Malignos II --
O sol está radiante, tendo seu foco tirado por um grito feroz, sendo em seguida acompanhado de muitas outras vozes. Em alguma parte da Floresta Cruzada, uma guerra acontece. Os dois exércitos colidem, iniciando um derramamento brutal de sangue. De um lado avança os soldados de Tondra com suas armaduras negras, no lado oposto está Karsia por meio de seus combatentes vestidos com armaduras douradas. O tempo desse conflito se passa alguns anos depois de João ter acolhidos Klay e Kelicia.
Partículas de várias auras se espalham nos embates sanguinários, poluindo o ar com uma vastidão de cores distintas. Alguns são atravessados por lanças, outros desabam por terem levado muitos golpes de espada. Corpos são empilhados, a carnificina continua.
A noite cai, trazendo consigo o resultado da guerra. Os sobreviventes de Tondra fogem apressados pela floresta, não tendo mais moral ou homens suficientes para prosseguir com a guerra naquelas terras. O soldados de Karsia comemoram a vitória com euforia, erguendo suas almas para o alto enquanto despejam suas auras, vibrando o ar pela quantidade de poder. Assim como esse, muitos outros conflitos ocorrem pela Floresta Cruzada, tendo a maioria um desfecho semelhante a desse. Karsia, depois de anos de confrontos, conseguiu expulsar as tropas de Tondra de seu território. É dito que isso só aconteceu pelo novo rei coroado ser um prodígio sem precedentes com a manipulação da guerra, auxiliando seus generais a como abordar o inimigo nas muitas zonas de conflitos longos, ou até mesmo a como emboscar grupos menores em regiões convenientes. Os ataques de Tondra foram massivos e devastadores, mas no fim ainda sim sucumbiram, sendo fadados aos sobreviventes um retorno vergonhoso para casa.
Uma chuva pesada castiga a capital de Tondra em um dia depressivo. No meio dessa grande cidade está um enorme edifício, o castelo negro do Rei. Atualmente, curvados para o mesmo, estão Liche e o homem robusto, os responsáveis pela destruição da família de Klay e muitas outras. Ambos estão nervosos, amenizando o máximo possível o sinal disso em seus rostos. No trono à frente deles está o rei, um homem velho com cabelo e barba longos em um processo avançado de descoloração do que eram antes fios bem escuros.
— Estou decepcionado, Garium… — começa o Rei, falando em um tom pesado. — Você é um general prestigiado, e mesmo assim não conseguiu tomar um reino de fazendeiros?! Como não conseguiu tomar a insignificante Karsia?!! — Ele bate com raiva sua mão fechada no braço do trono, espalhando um barulho intenso pelo salão. A guarda real à volta não reage, continuando parados em posturas respeitosas com todo o esplendor de suas armaduras ornamentadas no mais alto nível.
— Com todo o respeito, devo contar que muitos imprevistos aconteceram! — diz o robusto ao erguer sua cabeça. — Karsia tem generais poderosos, mesmo que seus soldados não fossem grandes oponentes, as emboscadas feitas por toda a floresta com o uso inteligente de suas presenças foram golpes duros! Também não conhecíamos bem aquelas terras, o que dificultou nosso posicionamento ou a tomada de pontos importantes! Eu poderia ter dado conta se tivesse mais solda-
— Chega! Pare de dizer desculpas, seu imprestável!!
Garium obedece, abaixando sua expressão de frustração. Ele aperta forte seus punhos que tocam o chão.
— Pelos nossos costumes, vocês deveriam ser torturados e depois executados em público. Mas… após os meus generosos "esforços", pude consegui um destino melhor para você e seus subordinados.
— Muito obrigado! Eu e meus homens seremos eternamente gratos pelo seu ato de benevolência!
O rei fica em silêncio por alguns segundos.
— Vocês conhecem a "divisão dos restos"?
O semblante de Garium e Liche são emergidos em desespero ao ouvirem essas palavras. O rei alisa sua barba com a mão, esboçando um sorriso tenebroso pela primeira vez.
— S-sim, meu rei. É um grupo formado de soldados com um baixo desempenho em suas atividades, geralmente composto de preguiçosos ou homens mutilados em guerra. Todo ano essa divisão é formada e mandada para Rio Vermelho em busca de riquezas.
— Isso mesmo, só que dessa vez haverão mudanças na seleção dos que irão… Ha ha ha ha... Vocês já entenderam a situação em que estão, certo? A partir de hoje, vocês dois e os seus soldados sobreviventes irão suprir todas as vagas para cada excursão que for planejada para entrar na masmorra! E, se algum for "negado" pela entrada de Rio Vermelho, esse será morto imediatamente!
Liche e Garium não falam nada, seria loucura retrucar o rei, os restando apenas encararem o chão com o desespero os tomando. Uma verdadeira queda enorme das posições altas de prestígio que tinham, indo de pessoas importantes para meros incompetentes sendo dispersados para morrer vergonhosamente na masmorra por seus baixos rendimentos.
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Saindo dessa memória para o presente, Liche corre com atenção por esse trajeto estreito no território da montanha, buscando qualquer sinal de seu inimigo.
— Daquele dia em diante, de um braço direito de general eu me tornei um "resto" maldito… — pensa. — Mas isso não importa aqui dentro, não depois do que eu percebi após passar por esses andares! "Que eu posso conquistar essa masmorra"! Dinheiro, glória e poder, eu terei tudo isso quando sair! Na verdade foi uma benção ter sido enviado para cá, supostamente ainda estou no início da masmorra, segundo aquele velho, mas já consegui tantos objetos interessantes!
Liche pode sentir várias manchas brancas do outro lado de um grande muro, sendo esses os seus subordinados. Essa sua habilidade funciona praticamente como um sexto sentido, notando qualquer ser vivo em um determinado campo redondo a partir dele. Só que mesmo com esse "radar" ele não consegue encontrar o assassino de seus homens, o que lhe causa estranheza, o fazendo apelar à focar seu "senso" em áreas específicas na tentativa de pegar qualquer rastro. Depois de um certo tempo falhando nas buscas, Liche decide voltar a expandir seu radar, tomando um susto ao fazê-lo. As manchas brancas que representam seus subordinados estão sumindo, e sumindo rápido. Ele aumenta o ritmo de seus passos, tomando de imediato uma rota distinta em certa bifurcação para ir checar a situação.
— Essa formiga desgraçada! Ele está atacando meus subordinados!! O que esses idiotas estão fazendo?! Sério que não conseguem dar cabo de alguém como ele?! Tch…! E ainda não consigo sentir a aura dele, apesar dele está bem perto e matando um por um dos idiotas. Seria isso uma habilidade dele? Não… Impossível! Nunca ouvi falar de uma aura de fogo com algo assim, e eu conheci na pele muito bem as tendências dessa aura.
Liche chega ao local sombreado em que estão os seus subordinados, ou apenas do que resta deles, nenhum deles está mais vivo. A face do magricelo demonstra agora mais surpresa do que mais cedo com a paisagem grotesca à sua volta. Mas, essa surpresa que sente não é pelo aspecto bizarro do lugar e sim pelo significado disso em feitos. Sangue sujou ambas as paredes, corpos estão derrubados por todos os lados e, no centro desses cadáveres, se encontra o homem estranho com uma aparência toda banhada em vermelho. Ele havia acabado de perfurar, por uma parte mais fraca da armadura, o que era o último soldado vivo, tendo o matado pela transpassada de sua espada por um ponto vital.
— Isso é incabível! Eles não eram o melhor exemplo de veteranos, mas ainda sim não eram tão fracos! Está me dizendo que matou todos eles de uma vez…? Sozinho?! — Uma veia fica ressaltada na testa de Liche, sua expressão é afetada pela raiva. — Meus servos…! Agora não vou poder avançar com tanto conforto pelos próximos andares como planejava, porque esse filho da- — O homem estranho deixa o corpo cair após retirar sua arma da carne dele, se focando mais em Liche ao virar todo seu corpo para se manter totalmente frente a frente com ele, mesmo que o faça com os olhos fechados. — Achei que estava com sorte por reunir os soldados nesse andar, mas seja no passado ou agora, sempre tem um desgraçado estragando meus planos! Maldição!!
Liche toma uma postura de luta com sua arma, demonstrando claramente raiva e descontentamento em sua face. Suas sobrancelhas franzem mais bruscamente quando ele repara em algo sobre o adversário. O corpo do homem estranho está mais robusto do que quando se enfrentaram, não sendo uma diferença gritante, por isso ele demorou tanto tempo para perceber, ainda sim, é um acréscimo que faz o inimigo transmitir uma imponência maior. E, isso não é tudo que Liche consegue observar. Ele também vê uma linha da tatuagem no braço do homem estranho se desfazer em um brilho laranja para o ar, como uma chama.
— Entendo… Você tem o mesmo tipo de "selo" que eu. — Parte do estresse de Liche dá espaço para seriedade, o fazendo fechar mais os olhos em concentração. — Isso não é bom, significa que ele enfraqueceu muito o seu selo com meus subordinados! Se o dele for realmente como o meu, então a cada assassinato que esse desgraçado realizou o fez recuperar parte de seu auge!
Liche toma a iniciativa, avançando subitamente com a projeção de um ataque, um bem inconveniente. Seu braço e a espada se distorcem para uma forma borrada de chicote, indo em uma velocidade assombrosa até o pescoço desprotegido do adversário. Quando a lâmina passa de "perto" para "muito perto" de o dilacerar, as pálpebras do homem estranho se abrem para revelar seu olhar sanguinário, não tendo feito nenhum outro movimento até esse instante.
— Acalme-se… — considera o homem estranho. Liche fica tenso ao ouvir o som estridente de metal quebrando, presenciando a metade de sua lâmina partida indo para o alto. A trajetória dos movimentos de ambos ficam marcados no ar na cor de suas aura, ocorrendo da que pertence a Liche ter sido cessada na área da colisão. — Afinal… você já está… salvo.
O cabelo longo do homem estranho chacoalha, o vento gerado da última colisão forma um círculo rasteiro de poeira à volta dos dois.
— Isso- isso- isso não pode estar acontecendo!! — braveja Liche em sua mente. — Fui superado em um embate por alguém do mesmo tipo que eu?!
Liche pisa perto da ponta de uma espada jogada pelo chão, a arremessando para o alto, onde pode a pegar ao largar o cabo de sua arma quebrada. Seu pé à frente gira pelo chão, acompanhado pelo tronco no mesmo sentido. Com esse tipo de rotação do corpo sendo repetida, ele desfere em uma velocidade absurda suas ofensivas em forma de chicote, que partem rápido o ar com suas imagens falhas, sendo todas repelidas facilmente pelas pancadas da espada do adversário. Liche brada ao lançar mais dos golpes, sofrendo inesperadamente cortes nesse tempo. O homem estranho está lançando ataques nas brechas de tempo entre os balanços do oponente, algo absurdo considerando o quão veloz eles estão.
A fúria de Liche aumenta para um ponto de descontrole, torcendo seu rosto enquanto ele impulsiona ao extremo seus golpes, continuando a ter seu sangue espalhado para o ar a partir dos cortes superficiais sendo deixados por seu corpo a cada pancada violenta que sua armadura recebe. Mesmo com o aumento de sua agressividade, Liche não consegue resultados, tendo apenas a visão a frente de uma tempestade de faíscas pelas defesas absolutas do homem estranho, que ainda consegue o acertar nas frações de segundos entre cada ataque. Uma lâmina viaja desde baixo com um movimento pesado, parando ao abrir o ombro esquerdo de Liche como pão, ignorando totalmente a resistência da armadura no caminho. Todas as silhuetas escurecem em um negro total, bastante vermelho jorra do ombro de Liche para o branco do ar.
— AAARGH!!! — berra o ferido mortalmente. A dor o faz virar a cabeça com uma expressão fechada. — Isso é impossível!! — pensa. — Eu sou Liche, o prestigiado membro da família Petral!! Você não pode fazer isso comigo!!
Liche cambaleia, lançando um ataque dessa postura ruim que é evitado por uma virada de corpo do adversário no mesmo instante, esse que se aproxima com passos lentos, mantendo Liche no mesmo alcance das trocas anteriores, apesar dele próprio não está atacando mais.
— SEU LIXO, VOCÊ VAI PAGAR!!! — vocifera, sangue continua jorrando de seu ombro, só que de maneira mais fraca do que antes, tendo variações na intensidade. — EU O GÊNIO, LICHE PETRAL, VOU FAZER VOCÊ PAGAR DA PIOR FORMA POR TODA ESSA INSOLÊNCIA!!! SEU PEDAÇO DE- — Até mesmo essa raiva é destruída com o vislumbre que ele tem agora, e como não ficaria estupefato com o que vê? Afinal, o homem estranho está usando a sua postura de luta que serve para desferir os golpes torcidos com a espada. Um sorriso largo se espalha pelo carrasco e, com esse sinal de felicidade da besta, ele entrega a realidade para o oponente. Seu movimento característico foi copiado. Uma chicotada formada por chamas é lançada, cortando parte do pescoço de Liche. — MALDIÇÃAAAO!!! — grita em seu interior, e será pela última vez que o fará.
O corpo do derrotado desaba sem resistência para o chão, se tornando mais um dos cadáveres pelo local.
— Mais um… salvo.
O homem estranho, depois de suas orações, deixa o lugar com um caminhado desleixado, se lembrando no processo do tempo em que viu Klay e Renve no salão de antes da competição.
— Tão belos… Eu quero poder… salvá-los logo… assim como os outros… Não… — Ele desaparece no horizonte sombrio desse caminho. — Eu com certeza… vou salvar… todos eles.
O mundo escurece de vez, sendo banhado por uma chuva vermelha que alaga levemente o solo, formando pequenas ondas com a queda das poucas gotas.
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