-- Capítulo 26: Por um Fio --
No bioma do deserto, uma ventania gera nuvens de poeira. Mesmo com o campo de visão bem ruim, Klay continua com sua viagem pela duna.
— Droga! Não consigo ver nada direito! — reclama o rapaz, tentando se localizar olhando para os lados, mas o azar o havia encoberto com uma das nuvens de poeira.
Depois de tentar por mais algum tempo, Klay consegue avistar uma parte dos pilares de luz.
— Ufa…
O jovem segue pela rota certa, correndo com a visão fixada para a frente, sendo esse o porquê dele conseguir se salvar agora. Um punho toma todo o campo de visão de Klay em um instante, mas ele consegue desviar se abaixando subitamente por reflexo. Sua expressão está toda tingida pela surpresa.
— Um ataque?! — considera, ainda estando abatido.
Ao levantar sua cara, Klay começa a distinguir uma silhueta masculina entre a poeira, uma bem peculiar. O cabelo excêntrico dessa pessoa dá um formato estranho para sua forma escura, sendo esse o rapaz que acompanhava Sina. Com sua face surgindo fora da poeira, Klay repara que esse indivíduo o olha com uma expressão arrogante.
— Tch! Maldito, quem é você?! — indaga Klay. O outro rapaz se mantém em silêncio por algum tempo. — Ei!! Me responda!! Quem é você?!
— Zesteri Enraizal. Esse é meu nome.
— E não é que você sabe falar? — Klay fica pensativo por alguns instantes. — Entendo, o meu nome é- — ele nota mais uma vez um punho se aproximando de sua cara, sendo circundado por uma corrente de ar coberta de poeira. Ele consegue o evitar se inclinando bastante para trás, tomando no rosto uma carga da areia atirada, o deixando irritado.
— MALDITO!!! — xinga Klay após ter saltado, aproveitando a distância criada para limpar seus olhos.
— Eu não preciso saber o nome de alguém com uma miserável "listra vermelha"! Apenas se aproxime logo para eu acabar com sua raça e continuar o meu caminho!
Zesteri esbanja um sorriso confiante, o que incomoda Klay mais ainda. Em um mundo mais escuro, tendo apenas suas silhuetas claras, ambos vão tomando suas posturas de luta, deixando imagens residuais no processo. Para a surpresa de Klay, a postura do oponente é bem semelhante a sua, talvez… até demais. Nesse momento, os dois estão em uma postura comum do boxe, com seus lados esquerdos avantajados, punhos direitos mais próximos do corpo e pernas direitas posicionadas bem atrás, o que proporciona ótimas possibilidades de movimentos. Mas aqui não é a Terra, como poderiam dois jovens em uma masmorra saberem desse estilo?
— Ei… isso é sério?! — questiona Klay em seu interior, estando completamente embasbacado. — Ele vai usar boxe também?! Mas João disse que era impossível eu encontrar outra pessoa com esse estilo!
O vento passa por essa parte do deserto, carregando consigo as inconveniente nuvens de poeira.
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Uma flecha atravessa o ar em alta velocidade, tendo a cabeça de Renve como alvo. Quando a mesma está quase atravessando a moça, uma labareda engole o projétil, o dizimando. Engrenagens vermelhas de aura desaparecem junto das faíscas após o uso da habilidade.
— Ei, apareça logo! Sei que você pode entender o que eu digo mesmo sendo de outro reino! — fala alto a moça, mas o clima sombrio não indica que terá uma resposta. — Afinal todos falamos uma língua igual em Rio Vermelho, fufufu. — pensa. — Mas então, quantas flechas mais preciso destruir para você se revelar?! — tenta provocar outra vez.
O rapaz com a cicatriz branca corre apressado pelas árvores enquanto prepara outra flecha para ser disparada.
— "Frente, esquerda…" Treze flechas restantes. — cochicha. — Eu vou calar essa sua boca! — considera com certa irritação.
Uma aura verde cobre o rapaz, se acumulando mais densamente por seus braços. Com esse poder adicional, ele dispara sua flecha. O projétil deixa uma linha residual de energia por seu trajeto. No exato momento após atirar, ele saca mais duas flechas de sua aljava, a de antes já usada faz repentinamente uma curva bizarra no ar. Metal atravessa a carne. Com as duas flechas recém sacadas o rapaz perfura seu braço, não mudando sua expressão mesmo com a dor cruel pulsando. Quando ele remove as pontas de sua carne, ele repara que ambas brilham em um tom verde fluorescente, parecendo serem agora até outro metal. Tendo concluído seu preparo, ele posiciona as duas flechas para um disparo simultâneo.
Renve nota uma flecha se aproximando em alta velocidade, as engrenagens de sua aura surgem por cima de seu ombro, gerando uma compacta e espessa bola de fogo na trajetória do projétil, o desintegrando à medida em que ele afunda nas chamas. Renve se mantém tranquila até esse ponto, mas é surpreendida ao perceber duas flechas se aproximando em uma velocidade pavorosa, com ambas estando tingidas por um verde mais intenso que a primeira.
— Preciso desviar! — diz para si mesma.
Engrenagens vermelhas surgem pela parte frontal do corpo de Renve e, depois de brilharem mais forte, explodem, arremessando a jovem para trás como se ela tivesse levado um tremendo soco no estômago. Apesar do custo, isso a tira da trajetória das flechas no último instante. Os pés de Renve deslizam pela grama, pois ela não caiu mesmo sendo repelida com brutalidade. Os projéteis continuam viajando em suas trajetórias, parando só quando atingem troncos em seus caminhos.
— Que porre… Eu não queria ter tido que recorrer a isso… — se martiriza, sua postura está um pouco inclinada para a frente. Seus cabelos ruivos foram libertos da amarra, tornando sua expressão nebulosa para o exterior. — “Esses” assustaram… O poder destrutivo era decente. Acho que devo tomar um pouco mais de cuidado.
O anel no dedo de Renve brilha, materializando um comprimido vermelho. Ela o coloca em um canto de sua boca entre os dentes. Alguém pousa no galho de uma árvore próxima. Esse é o rapaz com a cicatriz branca. Ele olha com frieza para Renve, como se estivesse olhando para alguém que odeia.
— Não me faça gastar mais flechas. Apenas morra logo.
— Hahaha… Sua mira é boa! Realmente muito boa! Mas agora que posso ver você, não vai ficar muito mais fácil lidar com seus ataques? — comenta com um sorriso esnobe.
O rapaz pega uma flecha de sua aljava, se preparando para disparar de cima do galho.
— Mulher idiota, dessa distância meu disparo mantém bem mais força e velocidade! — pensa. — Morra de uma vez!
A corda é puxada pelos dedos de uma mão enrijecida, fazendo um ruído notável, mas, antes que o disparo fosse feito, Renve gargalha alto, paralisando o adversário de surpresa por alguns instantes.
— Eu conheço todas as tendências de mobilidade dos projéteis encobertos pela Aura do Vento! — afirma Renve. — Sério, é melhor desistir enquanto pode, garotão!
— Tch! Desgraçada!
O rapaz atira a flecha, emitindo um barulho agudo com força de impulsão do seu arco.
— Tudo sobre controle. — considera Renve, se movendo para o lado desde pouco antes do disparo ser feito para sair da trajetória. Ela está confiante, porém, é neste tempo de lentidão em que tudo é despedaçado. Sua visão embaça, seus olhos perdem o brilho de vida, o que a surpreende.
— "Conhece todas as tendências de movimentos…"? Maldita arrogante. — pensa o rapaz, desprezando com seu olhar cada centímetros do que vê. — Mesmo se fosse verdade, a aura de vento para quem tem o mesmo sangue maldito que o meu… é diferente. Apenas os poucos que escaparam vivos por muito pouco teriam a capacidade de supor algo sobre ela.
A coxa de Renve tem um corte que brilha levemente em um tom verde.
— Veneno!? — ela se pergunta ao notar.
Renve repassa a cena de quando as duas flechas se aproximavam dela em sua cabeça. Fazendo isso ela repara que esses projéteis tinham um certo brilho verde distinto camuflado entre a aura à volta, tendo essa outro tom. Mesmo no ar há meio metro das flechas demonstravam esses rastros suspeitos. Os olhos de Renve tremem por ela perceber algo.
— Minhas flechas portam algumas correntes de ar especiais afiadas em suas voltas, e um efeito venenoso mortal após. Mas… isso ainda não é tudo…
A flecha que o rapaz recém disparou falharia em acertar o seu alvo pelo trajeto, porém, subitamente ela tem um desvio em sua rota, fazendo uma curva sobrenatural no ar para poder acertar Renve. Uma linha imaginária está ligando o corte na coxa da jovem com a flecha. Renve não consegue esquivar, tendo sua perna penetrada pela flecha, a fazendo de imediato fechar os olhos pela dor massiva que é emitida.
— Argh!! — sua expressão se contorce pela dor. — Fala sério… ainda tinha mais um efeito nessas flechas? Que combo irritante… — pensa, quebrando a pílula em sua boca com uma mordida. — Eu deveria ter feito isso antes… Bem, quem liga, estou de saco cheio agora!
As pernas de Renve tremem pelo esforço em sustentar seu corpo, sua respiração está densa e complicada. O semblante dela expõe bastante cansaço até finalmente ceder. O corpo de Renve cai para a frente, ficando esparramado pelo chão. O rapaz a observa por alguns segundos.
— Escutei algo quebrando dentro da boca dela, devia ser uma pílula de cura. Mas é inútil, mesmo isso não vai parar o efeito do veneno por ele ser continuamente mantido pelo gasto da minha aura. Hã? — algo chama sua atenção. — O que é isso?
Uma bola de fogo plana no alto, estando a quase nove metros do chão, o que é um pouco acima da altura em que o rapaz está.
— Ela fez isso antes de ser atingida…? Deve ter sido em uma daquelas conjurações de chamas.
A bola de fogo passa uma má sensação para o rapaz, o deixando em um estado de alerta, e com razão. As chamas começam a se mover de forma estranha na esfera, como se estivessem perdendo a estabilidade a cada instante. O local é tomando por um brilho laranja, a bola de fogo tem sua forma perturbada severamente, lançando chamas à sua volta como meias circunferências com formas diagonais, sumindo rápido e sendo substituídas por outras em um ritmo veloz.
A bola de fogo lança uma lâmina de chamas na direção do rapaz, o fazendo desviar com um salto para o galho de outra árvore, estourando a madeira da primeira na colisão.
— Está me visando?
Outras duas labaredas são despejadas sobre ele, respondendo assim a sua pergunta. Ele vai pulando de árvore em árvore à volta na região para desviar das chamas, o que não parece difícil para ele. Renve continua caída da mesma maneira, os olhos do arqueiro estão vidrados nela de forma ameaçadora. Mais uma vez ele esquiva de uma lâmina de fogo, se jogando para trás. Ele saca uma flecha, a preparando logo no arco para um disparo enquanto cai de costas para o chão. O rapaz encara com desdém a esfera que está bem próxima, cobrindo quase toda a sua imagem com um brilho intenso. Ele atira, criando de imediato um buraco enorme na bola de fogo, a fazendo entrar em colapso de vez com uma explosão. O jovem é repelido mais rápido para o chão, com o bater de suas costas ele se vira de imediato para observar se o alvo foi destruído, tendo um "sim" com a falta de sinais da existência das chamas de antes.
Com a resolução do incômodo, o rapaz coloca a sua mão dentro da aljava, puxando uma flecha para seu propósito final. O objeto é exposto ao mundo afora devagar, deslizando pelo couro com um ruído agudo. Com o rosto ao lado do arco, ele mira o disparo para a cabeça de Renve, a encarando pelo olho aberto com uma frieza sem precedentes. Os músculos de seu braço enrijecem pela força que põe na corda, o contorno de sua visão se torna um borrão escuro com apenas as linhas brancas formando a silhueta de tudo. Seus dedos largam a corda, disparando um tremendo projeto coberto de aura com o propósito de arrebatar uma alma, uma terrível alma.
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