A aura agressiva do velho se dissipa, aliviando a pressão exercida no ar. A quantidade de pessoas nesse salão é algo próximo da casa de mil, e todas ficam em silêncio após a demonstração de poder. Aos poucos, cochichos se espalham pelo local, mas não chegou outra vez ao nível de algo como uma baderna. "Um humano é o chefe desse andar?!" "Esse lugar não era para ser abandonado? Então existem pessoas comandando esses ambientes?" "Não faz sentido ele ser o chefe do andar… Porém, aquela demonstração de aura não foi humana…" São os gêneros de comentários mais comuns pela maioria dos participantes agora.

  — Já chega, silêncio!! — ordena o velho, se debatendo e dando bufadas. — Mesmo depois de sentirem aquela pressão vocês não conseguem ficar quietos?! Enfim…! Acho que merecem algumas explicações por terem conseguido chegar até aqui.

  O salão finalmente se torna silencioso.

  — Me digam, vocês acharam difíceis os andares que passaram para alcançar esse lugar? — o velho caminha pelos limites da plataforma em que está, dando voltas. — Saibam que na verdade esses dezenoves andares que vocês venceram até aqui foram apenas uma introdução! Sim, uma introdução! Hehehehe! Tenho certeza que alguns notaram, pois sempre há ovelhas mais espertas no rebanho, apesar de que isso nunca foi um segredo.

  A surpresa de ouvir essas informações pegam muitos desprevenidos, em exceção, apenas uma parte considerável não se abala de nenhuma forma com o anuncio.

  — Hum, bando de sonsos. — insulta um homem notável em meio a um grupo de pessoas com armaduras similares a sua. — Não faria sentido todas as descrições já feitas sobre Rio Vermelho se ele fosse tão simples. Estaria mentindo se dissesse que não foram experiências interessantes esses andares, mas, muito diferentes do tão dito "pesadelo".

  — Certamente. — concorda um indivíduo ao lado. — Me lembro de quando eu era criança e ouvi escondido o meu pai lendo um livro para uma visita. Esse livro tinha sido escrito por alguém que viajou por aqui. Eu não consegui dormir por uma semana… Era bizarro o conteúdo naquelas folhas…

  O velho mantém um largo sorriso em seu rosto.

  — Se preparem!! — grita, espalhando sua voz intensamente para todos. — O VERDADEIRO MUNDO DE RIO VERMELHO, SÓ ESTÁ COMEÇANDO!!!

  Manchas de luzes brancas começam a se propagar no chão, no pilar e no contorno da sala, engolindo tudo próximo como borrões, deixando os presentes apreensivos com essa situação.

  — Agora vocês irão participar de uma grande corrida! A corrida de suas vidas!! — diz, gargalhando em seguida.

  — Uma corrida!? — indaga uma mulher, assim como muito outros também devem estar. — Esse velho está falando sério?!

  — Ei! O que são essas manchas brancas?! — questiona uma pessoa amedrontada com esses borrões se espalhando por seu campo de visão.

  — Essa corrida irá definir quem é apto o suficiente para seguir para os próximos andares! — informa o velho. — Espero que consigam ao menos agir em suas "melhores condições", se é que me entendem, hehehe…

  Essas palavras incomodam a maioria dos presentes, sendo um ataque direto a suas condições ocultas, que, querendo ou não, seriam expostas com o tempo.

  — Escutem crianças, vou dar uma dica! O principal talento para conquistar esse lugar é "adaptabilidade"! Não é que nem os outros andares inferiores em que força bruta resolve tudo, apesar de ela também poder o fazer aqui, hehehe, tenham isso em mente! Se não conseguirem se livrar dos "selos" que a masmorra pós sobre suas habilidades, a única coisa que os aguardará nesse andar é a morte! — ele dá uma volta pelo chão do pilar, encarando os participantes com os olhos afiados. — E como devem imaginar, alguns monstros desta rodada já conseguiram tirar todas as suas "travas"! Fiquem atentos a esses caçadores intocáveis se não quiserem ser estraçalhados! Ah, e o mais importante! Não se esqueçam do maldito lema da masmorra: "Rio Vermelho sempre procura ser justo." É algo essencial.

  Um sorriso chamativo se expande no rosto de um rapaz com um longo cabelo chamativo que se estende até o final de suas costas, sendo de coloração vermelha e preta em revezamentos pelas suas mechas curvadas e pontudas. Seus músculos bem definidos se ressaltam pelo transbordar de empolgação.

  — Isso soa bem, finalmente algo interessante!! Que ótima notícia, não acha... Sina?! — seu olhar reflete de relance a imagem da bela jovem ao lado. Ela tem longos cabelos lisos de coloração laranja, sua expressão transmite seriedade.

  — Sim! É uma ótima notícia, jovem mestre! — responde, como se forçasse certa empolgação em sua seriedade.

  — Meu sangue está fervendo! — fala, estalando seus dedos abertos nesse tempo. — Após esse teste, eu vou finalmente começar a entender melhor esse tal "mundo" que "te fez" me abandonar…! — pensa.

  Boa parte da sala foi engolida pela luz branca que segue se propagando, mesmo com essa intensidade, os participantes encobertos não a temem desesperadamente, eles só aguardam tensos desejando que isso acabe rápido.

  — Para todos que estão aqui, a masmorra deu oportunidade para serem formados times de três pessoas. — ressalta o velho. — Mas não deve ter sido fácil para a maioria aceitar estranhos, né? Hehehe. Dá para contar nos dedos quantos times chegaram neste salão ainda se mantendo em três membros.

  Assim como o chefe do andar disse, da perspectiva de cima que tem, é fácil reparar que a maioria das pessoas mantêm distância entre si, havendo muito mais indivíduos em duplas e sozinhos do que em trio. Entretanto, existem exceções, grandes exceções. Em partes distintas do salão estão dois grupos de soldados com armaduras diferentes se comparadas, simbolizando a vinda de cada um de um reino diferente.

  — Os "maiores" só puderam se juntar aqui, mas essa relação não vai importar… Estão curiosos pelos motivos?! Hehehe, é simples! Apenas três...!! É, “três”! — Ele para por um momento para juntar ar com uma inalada, inflando seu peitoral para anunciar algo. — PRESTEM ATENÇÃO!!! A PARTIR DESSE TESTE, APENAS TRÊS PESSOAS IRÃO AVANÇAR PARA O VERDADEIRO PONTO DE INÍCIO DA MASMORRA!!!

  A luz branca atualmente cobre toda a sala, gerando depois da fala do velho um intenso clarão, que desfaz visualmente todos os indivíduos presentes. O último anuncio do idoso foi inesperadamente súbito, deixando a maioria das pessoas com uma expressão desnorteada antes que as linhas de seus desenhos evaporarem. O clarão acaba, devolvendo ao lugar sua aparência original, não tendo mais nenhum sinal da presença de algum ser vivo, com exceção do velho.

  — Todas as cartas necessárias foram entregues, agora me mostrem o que podem fazer. — pensa, caminhando para bem próximo do limite de solo disponível pelo pilar. — Mas isso ainda é meio entediante… Só míseras três escolhas para se apostar desta vez, isso não é muito pouco? Bem… só me resta decidir quais serão os três “monstros”, hehehe…

  O som do estranho sorriso do idoso circula pela sala.

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  Um grande ambiente tem o formato de uma cúpula de vidro, tendo vários riscos de luz caindo de seu topo como meteoros, se dividindo pelas partes de seu território. Nuvens se movem lentamente pelo céu artificial, que tem a coloração de uma tarde em seu auge. Essa cúpula se divide proporcionalmente em quatro biomas e, em seu centro, há três pilares de luz de cores primárias gerados até o teto, indicando o destino final dos competidores.

  O primeiro bioma é uma montanha partida ao meio, havendo por essa abertura uma grande quantidade de rotas a cruzando, formando assim um labirinto. Muitos dos riscos de luz se distribuem por essa zona, transportando os participantes para uma localidade de pontapé inicial. Uma alta silhueta de quase dois metros está encoberta nas sombras, se preparando para a busca de suas presas. Tal é uma pessoa magra e utiliza um tipo de manto negro com uma listra azul na altura do peitoral, semelhante a que Renve tem em seu vestido. Seus olhos bem abertos ficam parados como os de um peixe, gerando um denso ar medonho à sua volta. Esse homem visualiza em sua mente inesperadamente a imagem de Klay e Renve, ficando admirado com suas existências.

  — Incrivelmente belos… — pensa com uma voz pesada, transmitindo uma intensa pressão nauseante para as sombras. — Eles não parecem maculados… Gostei deles… Preciso ajudá-los logo a alcançar o descanso eterno… Não precisam me agradecer…  Eu também vou salvar todos os outros em meu caminho… Como eu sempre fiz... 

  O homem estranho avista uma pessoa, o que toma toda sua atenção. Ele saca lentamente o seu facão enquanto caminha devagar na direção do alvo, balançando no processo seu corpo ao mesmo tempo em que ri de forma bizarra.

  — Apenas me aguardem… Eu logo os alcançarei…

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  O segundo bioma está repleto de árvores altas e uma grama rasteira por onde a vista de alastre. Em alguma parte dessa floresta, em cima de um galho, está um jovem de pele clara e cabelos verdes de tom fortemente escuro. Seus olhos cansados são de tom parecido, sendo esses mais claros. Seu semblante é frio a um nível mórbido, passando um clima sério com sua presença. No lado direito de seu rosto se encontra uma grande cicatriz branca, praticamente sendo impossível a ignorar pelo aspecto. Ele usa um extenso capuz verde por cima de sua camisa branca, não cobrindo sua cabeça neste instante por estar para baixo. O branco da peça de cima porta uma grande listra azul. Sua calça é preta e folgada, deixando apenas seus pés com sandálias expostos. Em suas costas está presa uma notável lança dourada e, na cintura, uma aljava carregada de flechas, na mão direita é onde está seu arco. O rapaz corre com agilidade, transmitindo imponência com os ruídos vindos de seus equipamentos.

  — "Apenas três vão para o próximo andar"? "Apenas três vão sobreviver"? Isso não importa. — pensa. — Eu iria matar todos que surgissem em meu caminho independente dos requisitos para passar desse andar. Todos os possíveis estorvos em meu caminho sempre serão apagados.

  De uma boa distância, vozes humanas soam até os ouvidos do rapaz. Ele pega uma flecha e parte nessa direção enquanto se prepara para disparar.

  — Que a primeira amostra de estorvos virem carcaças acerca de minha presença.

  O som de sua flecha sendo disparada soa em um fundo negro.

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  Em outra parte da floresta, uma pessoa conhecida surge de alguns arbustos, sendo essa, Renve. Ela atualmente usa um vestido claro, que como o antigo, porta uma listra azul. Seus longos cabelos vermelhos como sangue estão amarrados em um rabo de cavalo. Em seu dedo anelar da mão direita há um anel de depósito como o de Klay. Ela caminha sem pressa pelo lugar, sua expressão demonstra mais seriedade do que o normal.

  — Sinceramente… Três vagas ainda são mais que o bastante, mas não vou reclamar da generosidade da masmorra. Fora que isso me deu mais dicas de como sua lógica funciona. — considera. — Klay, você sabe melhor do que ninguém que tem que me alcançar… Afinal, eu te escolhi como meu parceiro. — ela aumenta o ritmo de seus passos. — Eu vou estar te esperando com paciência lá no topo, então trate de vir, Klay Vanguard! — fala, parecendo esperançosa de que suas palavras se concretizem, ou talvez, esteja apenas ordenando para o destino o seu desejo.

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  O terceiro bioma é uma zona repleta de dunas altas e, em algumas partes desse ambiente, existem fracas tempestades de areia acontecendo, fora a temperatura escaldante. Esse lugar inóspito passa uma forte impressão de morte por sua estrutura cruel se comparada com os outros biomas, sendo o próprio claramente o mais brutal.

  O rapaz de cabelo chamativo corre por uma duna, ele usa uma camisa larga sem manga, tendo uma listra azul no peitoral que se destaca mais pela coloração da paisagem. Sua altura beira os um metro e oitenta, a honrando com um corpo bem treinado. A expressão do rapaz transmite bastante confiança, seguindo a sua viagem sem nenhum receio nesse terrível bioma.

  — Me pergunto se a Sina está muito longe…! — pensa. — Mas buscá-la deve ser tolice nesse ponto, ela provavelmente só iria me atrapalhar em seu estado atual… — ele reflete certa incerteza, mas não demora para sua mente se moldar sobre isso. — Ha ha ha! Estou interessado! Espero que essa competição não seja entediante!

  O rapaz volta a se movimentar pela duna, ignorando a dificuldade do lugar como se fosse algo fútil.

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  Em outro lugar desse deserto, vários homens robustos empunham suas armas. Ele usam armaduras e armas pesadas imponentes que chamam bastante a atenção de quem olhe, no caso, a de Klay, que está tenso com a situação, e com razão.