-- Capítulo 16: Nova Geração -
Alguns corpos de lobos se desintegram pelo solo devido ao fogo que os consomem. O ambiente atual é um belo campo de grama curta, iluminado por uma luz solar artificial, como no andar anterior. Essa área a parte da caverna sombria não é grande, tem um tamanho considerável, mas não se compara com o território que a gruta cobre. Em um muro que cobre todo o contorno do andar, está a passagem para o próximo. Os degraus, os sempre cobertos por uma água vermelha, estão expostos para a dupla.
— Tem certeza sobre isso? — diz Renve, ela caminha por volta do rapaz enquanto observa a paisagem. Não existem mais inimigos, eles já lidaram com todos.
— Tenho. — Klay bate os punhos e em seguida pula algumas vezes de leve para se aquecer.
— Por mim tudo bem. Ainda mais se isso te ajudar com seu estado mental." ela para e cruza os braços. — Mas sinceramente... Não é sacanagem querer me enfrentar depois de eu ter gasto tanto aura? — diz com um sorriso.
— Bem... Eu também estou meio cansado, então isso não deve ser injusto.
— Fufufu, essa vai ser a sua desculpa? — fala ao descruzar os braços. Klay para de se aquecer. — Na verdade... Eu imaginei que algo assim poderia acontecer em algum momento. — pensa. — Não deve ser fácil para o funcionamento de uma mente ter uma lacuna enorme entre o passado e presente. Para se equilibrar, ela provavelmente tenta unir o que ainda lhe resta, mas isso não é razoável, a diferença de idade e ambiente fazem a duas partes serem incompatíveis sem o "caminho". Essa bagunça foi o que provavelmente fez Klay finalmente chegar a um estado de colapso por não conseguir distinguir mais que linha de raciocínio deveria tomar sobre algo importante. A cabeça das pessoas mudam muito desde a infância, é necessário para o amadurecer, mas o que deve liderar o presente não é o passado, e sim o próprio presente.
Klay se abaixa bastante, tomando a postura de largada de um velocista direcionada para Renve. Ela responde descendo um pouco seu centro de gravidade, se preparando para receber a investida.
— Ao menos essa é a minha teoria, é o que eu penso. Só que talvez isso tudo seja apenas hipocrisia da minha parte, afinal... não sou o melhor exemplo de alguém que vive no presente, hahaha... — Renve suspira. — Me mostre algo interessante, Klay! E se conserte com essa experiência! — diz.
— Sim!
Eles ficam parado se encarando por alguns segundos, uma corrente de ar passa lateralmente pelo lugar. Nenhum dos dois dá indício de algum uso de aura, como se inconscientemente esperassem para liberar em sincronia. Esses cinco metros entre eles se tornariam uma eternidade. Uma bota se arrasta pela grama enquanto uma chama azul vaza por seu contorno. Com o impulso de sua perna direita, Klay inicia sua arrancada. Algumas listras de chamas começam a rondar Renve, ainda precisam de mais tempo para se tornarem algo notável. Com apenas esse impulso, o primeiro metro é conquistado. Klay se aproxima com uma expressão repleta de seriedade.
Antes que o rapaz se aproximasse mais pela frente, Renve dispara uma labareda com o braço esquerdo, uma que encontra apenas o ar, e neste mesmo momento do ataque, os olhos de Renve encaram lateralmente a posição do adversário, não se importando de nenhuma forma com o que fez à pouco. A expressão de Klay se torna mais tensa por perceber que a moça consegue o seguir com os olhos mesmo após sua esquiva rápida do fogo, mas isso não abala sua movimentação. Parte da grama se torna chamuscada.
Klay tenta se aproximar com um avanço súbito de sua corrida lateral, só que é barrado por uma queda de fogo para onde iria. Apesar de não ter conseguido seguir em frente, o rapaz ganha alguns centímetros devido ao desvio diagonal que faz.
— Ótimo... — pensa Renve, ela segue tentando afugentar Klay com suas chamas mal formadas. — Era óbvio que você avançaria com uma previsível arrancada pela frente, e não está errado, esse é o seu melhor movimento para se aproximar de alguém que luta na longa distância. Mas ainda sim não deixa de ser algo previsível, obviamente eu tinha que revidar algo tão escancarado, e você sabia disso, prevendo minha defesa e a evitando com uma esquiva diagonal, que além de ter o feito sair do perigo também o fez ganhar distância.
O sorriso no rosto da jovem se torna mais expressivo.
— Esse cara... Ele não deve ter planejado isso, foi instinto! E como a distância entre nós está bem curta, não tenho escolha além de atirar minhas chamas recém formadas. Se eu estivesse descansada, não haveria esse problema, mas a realidade é essa. E sendo sincera... não é lá grande coisa.
O fogo faz Klay dançar por volta de Renve com suas ações bruscas, sendo dolorosamente queimado às vezes de raspão. Seu braço esquerdo perde a manga e se torna quase todo negro pelas queimaduras, a camisa por seu tronco vira trapos, suas pernas se forçam para manter o ritmo. São cinco metros... que nunca acabam.
— Renve é mesmo impressionante... — considera enquanto ainda se move de um lado para outro, rugindo em determinação. "Mesmo tendo gastado tudo aquilo de aura, ela ainda consegue usar o pouco que libera para ataques precisos, que uma hora vão me fazer tombar."
O pé do rapaz arrasta pelo solo para abrir sua postura e, com uma guarda do braço esquerdo, ele avança para dentro de uma das ofensivas das chamas, recebendo totalmente o dano.
— Mas espero que possa me perdoar... pois serei eu quem vai ganhar!
Com o preço do dano severo que acaba de levar do lado esquerdo do corpo, Klay recebe o prêmio de distância, tendo Renve finalmente em seu alcance. Ignorando a dor, ele pisa firme à frente com sua perna esquerda chamuscada e, girando todo seu corpo, ele projeta um soco que corta o ar em uma velocidade notável. A moça dá um passo para trás pela surpresa, só que isso não é o suficiente para a destabilizar. Ainda há tempo para reagir, e Renve não é alguém que deixaria isso escapar. Com o rodar de suas mãos, ela faz todas as chamas em sua volta irem no rumo de Klay. Pela velocidade em que viajam, é uma certeza que alcançarão o rapaz antes dele concluir seu ataque.
— UOOOOOOOOOOOOOHHH!!! — grita, ele continua seu balanço sem medo da derrota iminente, ou assim seria se ela realmente fosse se concretizar. [Fluxo de Luz]. Os olhos de Klay brilham. O tempo para. O mundo se torna negativo, menos para o rapaz. A realidade volta ao normal, as chamas continuam a se mover para atingir o alvo, só que é tarde. Com o tempo de meio segundo obtido no mundo parado, Klay conseguiu prosseguir muito com o seu balanço, o suficiente para ser um fato o acerto de seu murro em Renve.
— Rápido-! Não, ele parou o tempo! — considera a moça, o punho pesado de Klay se aproxima de seu rosto.
Após alterar a realidade com seu ímpeto, esse é o destino que o rapaz consegue ter em mãos. O da vitória. Mas... se alguém como ele pode ter esse feito... Junto do soar de um estrondo, Klay tem seu corpo arremessado violentamente para o lado, com um buraco no seu plexo solar pela pancada que levou. O que impediria alguém como Renve de também o fazer? O ferimento é mortal, os olhos de Klay estão sem vida, sangue vaza de sua boca, mas não mais do que pelo dano em seu tronco. Ele tem uma visão embaçada da moça, que está em uma pose com o punho direito erguido e bem cerrado.
— Uh? O que aconteceu? — ele indaga para si mesmo no ar. Tudo há volta está branco com pequenas partículas negras viajando devagar. Ele se recorda do pedaço de tempo que está faltando: Quando Klay estava quase socando Renve, pequenas explosões ocorreram do lado direito do corpo dela, a fazendo deslizar instantaneamente para fora da trajetória do ataque e a dando uma ótima posição ao lado do oponente. As partes que sofreram com as explosões foram severamente feridas em graus diferentes, esse foi o preço pago. Em seguida, da sua postura reta sem potencial de balanço, Renve explode o lado contrário dos bíceps de seu braço direito, o fazendo se mover como um torpedo que atingiu Klay, que tentava se virar para uma reação. — Ah... Entendo. Ela preparou algumas porções de aura durante a luta para se impulsionar em uma emergência. — o corpo dele cai sobre os degraus com banhados pela água vermelha. — Quanta força... apesar dos danos que leva no processo, ela consegue me superar até na minha área de combate. Fora o nível de dedução... com certeza foi proposital me jogar aqui para eu não morrer por esse buraco enor-. — ele se interrompe ao cuspir sangue.
Renve entra no território dos degraus, seu estado é lastimável, não conseguindo sequer mover mais seus braços caídos devido às explosões.
— E aí? Muito abatido pela derrota? — pergunta a moça com um tom animado.
— E-eu perdi... completamente... — responde com a voz fraca.
— Idiota, não era para responder. Se essa ferida te matar, não sei se esse lugar teria poder de cura suficiente para te fazer voltar.
— Hahaha... — fica estampado em seu rosto um sorriso modesto, a franja cobre seus olhos. — Não me sinto abatido, e nem mal por ter perdido, Renve. — pensa. — Na verdade, nunca achei que pudesse ganhar de você.
Klay ergue seu braço com a mão fechada para próximo do rosto, o faz devagar pelos machucados, mas com empenho.
— Então você achou sua resposta. — comenta Renve.
— Sim.
O vento balança a grama do andar. Klay finaliza seu monólogo:
— Sei como agir agora... É óbvio, mas ainda sim demorei pra alcançar esse ponto. Ou melhor, o aceitar, pois tenho certeza de que o considerei antes em algum momento. Eu não devo tentar acompanhar Renve tentando ser seu escudo humano ou algo assim, ela não precisa de mim para subir pelos andares, e sim a acompanhar como um amigo. E meu motivo pessoal para continuar me esforçando em sobreviver... tem que ser para me recordar de quem sou, até lá tenho que ser apegado a minha vida, mesmo que tenha que a proteger sozinho. Posso ser fraco, só que é assim que as coisas são. Se tenhos problema com isso... basta eu me tornar forte, não é? Hahaha...
Não faz sentido e nem existe uma ligação, mas para "acordar" um idiota como eu, parece que tudo o que precisa é de uma boa porrada.
O vento leva consigo partes da grama na sua viagem pelo território.
----------
Em outra parte da masmorra, bem distante da dupla, sangue jorra em uma parede. Um jovem nesse lugar está quase todo coberto pela escuridão, sendo iluminado lateralmente de leve por uma tocha distante. Seus olhos amarelos brilham de maneira sinistra, o braço esquerdo dessa pessoa está todo manchado de vermelho. Perto desse indivíduo tenebroso está um corpo humano sangrando no chão.
— A partir daqui irei sozinho. Você estava começando a se tornar um estorvo... — a voz fria do jovem soa junto do eco de seus passos. — ...pai. — a luz do ambiente revela a enorme cicatriz branca que cobre quase todo o lado direito de seu rosto.
Com o fechar de uma porta, a tocha se apaga, deixando o ambiente a mercê da escuridão.
----------
Uma pequena fogueira ilumina suavemente o local, dois jovens estão sentados próximos do fogo, mas em lados contrários. Um deles tem olhos vermelhos que se destacam, porém, a silhueta de sua cabeça é estranha, indicando a existência de um cabelo excêntrico. A outra pessoa tem uma forma feminina, não há muitos detalhes expostos dela para se identificar.
— Essa maldita masmorra deve estar brincando comigo!! — vocifera o rapaz, sua voz é firme e marcante. — Até quando tudo vai continuar tão fácil?!
— Não sei, jovem mestre. — fala a mulher em tom respeitoso. — Mas acredito que os próximos andares possam ser mais difíceis. Tendo essa provável chance em mente, acredito que deva se manter calmo.
— Tch! É, eu sei!
O rapaz mantém um olhar profundo para a fogueira. Próximo deles estão os degraus de transição entre andares, com a água vermelha se sempre escorrendo por suas superfícies.
— Eu quero conhecer logo esses "desafios infernais" que são citados nos registros... — ele diz. — Talvez assim eu consiga entender o motivo para aquele desgraçado ter me abandonado.
----------
Uma fogueira, maior que a anterior, libera brasas quando um galho mexe em seu interior. Seu brilho gera a sombra estável de uma pessoa pequena.
— Por quanto tempo vão me fazer esperar, hã?!" essa voz velha e monótona ecoa alto pelo ambiente da gruta. — VENHAM LOGO, "NOVA GERAÇÃO"!!! HEHEHE!!!
A risada excêntrica se espalha pelos biomas distintos desse andar especial.
Cada um dos jovens exploradores descem agora os "degraus vermelhos", incluindo Klay e Renve, já recuperados do confronto. Todos os novos indivíduos em Rio Vermelho têm algo em comum... isso é: o destino.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro