Unwritten
Sabe aquele sentimento de finalmente estar indo pelo caminho certo?
Era assim que eu estava me sentindo enquanto andava pelos corredores de Hogwarts. Como se fosse ali que eu deveria estar todo esse tempo.
Cada passo fazia meu estômago revirar de ansiedade, eu estava começando uma nova etapa da minha vida, uma etapa que eu não fazia do que me esperava, e eu gostava disso.
O diretor Dumbledore havia me entregado meu uniforme logo quando cheguei e me informado onde era meu dormitório. Também avisou para eu não me preocupar que ele havia avisado aos professores que eu era aluno novo, então poderia arrumar meus pertences no quarto e depois ir para aula.
Ele fez um teste que me mandaria para um daqueles prédios coloridos que eu tinha visto no dia anterior. Pelo que entendi eram como divisões de "casas" para a separação de alunos de acordo com a personalidade.
Fui para a grifinória, a vermelha.
Não sou o maior fã dessa cor, mas gostei do modelo do uniforme. Era largo e ia até o chão, cobrindo o corpo inteiro, e eu gostava disso porque também cobria todas as cicatrizes que eu odiava.
Menos as do rosto.
Mas esperava que elas não me impedissem de fazer amigos na escola. Na minha antiga escola, os outros alunos não gostavam de se aproximar de mim por causa delas.
Balancei a cabeça para evitar pensar nesse passado que eu já deveria ter deixado para trás. Ele não importava agora.
Parei na frente da porta do dormitório, sem saber o que fazer, minhas mãos estavam suando muito.
Busquei coragem dentro de mim e abri a porta para entrar.
O quarto estava vazio, provavelmente porque meus novos colegas deviam estar na aula a essa hora. Vi a cama vazia que provavelmente seria a minha e deixei minha mala em cima da cama.
O quarto era até bem grande para uma escola. Tinha quatro camas e um pequeno armário do lado de cada cama, a outra porta provavelmente devia ser o banheiro que eu teria que dividir com outras três pessoas.
Eu já estava atrasado demais para a aula, então fui dar uma conferida nos meus horários e já separar meu material para sair. Eu odiava atrasos.
No caminho para as sala de aulas encontrei com Lily, ela carregava vários livros debaixo do braço, me ofereci para ajudar e por sorte estávamos indo para o mesmo lugar.
— Tive o primeiro horário livre então aproveitei para passar na biblioteca emprestar alguns livros, mas acho que exagerei um pouco, né?
Fiquei feliz de saber que tínhamos os mesmos interesses para muitas coisas.
— Eu não acho, eu faria igual ou pior. Além disso, você tem um ótimo gosto para leitura.
Ela sorriu com a minha resposta. Acho que seremos bons amigos.
— Você já leu algum desses?
Ela me perguntou, e para a sorte dela eu já tinha lido a maioria. Concordei com a cabeça e ela ficou ainda mais animada, ficamos tão entretidos conversando sobre os livros que gostávamos que nem percebi quando paramos na frente da sala.
Bati na porta, e pedi licença para entrar.
A professora era uma senhora que estava vestida toda de preto, parecia ser muito carinhosa com os alunos. Ela se virou para a porta e fez um sinal para entrarmos.
Nunca gostei de ter os olhares voltados para mim, nunca gostei de chamar atenção. Então naquele momento, com todos aqueles alunos me encarando tão fixamente, eu só queria que um raio caísse na minha cabeça.
— Pode se sentar senhorita Evans, como sei que não é de chegar atrasada vou deixar passar dessa vez.
Lily agradeceu a professora e foi rápido sentar no seu lugar. Por ver que eu estava meio perdido, a professora se aproximo para falar comigo.
— Você deve ser o aluno novo que Dumbledore comentou, Remus Lupin certo? Sou a professora Minerva, dou aula de história.
Ela estendeu a mão para me cumprimentar e eu apertei concordando. Eu até queria falar alguma coisa mas um aluno especifico me encarava como se eu tivesse matado a família inteira dele.
Nunca ninguém tinha me encarado com tanta raiva antes. Que ótimo, primeiro dia de aula e já me odeiam.
Professora Minerva me indicou um lugar para sentar, que ainda bem era na mesma bancada da Lily, pelo menos não ficaria tão sozinho nessa aula.
O olhar que aquele aluno de óculos redondo me lançava, só piorou quando a ruiva sorriu para mim e foi me explicar o inicio do conteúdo.
Encarei ele de volta e finalmente ele focou no livro dele do que em mim. Ele não era muito bom em sustentar o olhar.
— Peço a todos que sejam muito bons com o Senhor Lupin, ele vai precisar de ajuda para acompanhar os conteúdos das aulas. Espero que a senhorita Lily possa ajudá-lo no que for necessário.
Lily concordou e me abriu um sorriso para mim como quem dizia "viu só, vai me aguentar por muito tempo ainda".
— Aos demais, tentem enturmá-lo para que não se sinta sozinho. Sei que são muito capazes de serem legais com alunos novos. Espero o melhor de todos.
Uma risada abafada foi ouvida no fundo e todos se viraram para ver quem era.
Era aquele aluno de óculos que não parava de me olhar com um olhar assassino.
— Quer compartilhar a graça com os demais da turma, Senhor Potter? Acho que todos gostariam de rir também.
— Sinto muito professora, só pensei em uma coisa engraçada sozinho.
— Que isso não se repita. A propósito Potter, onde esta seu amigo, Senhor Black? Vejo que não veio para aula hoje.
— Ele teve um probleminha professora, não sei se vai conseguir chegar a tempo para sua aula. - ele falou com sorrisinho, como se escondesse algo.
Um menino do lado dele, loiro e meio gordinho soltou uma risadinha de quem entendeu bem o "problema".
Minerva revirou os olhos e se virou para o quadro novamente.
Eu não estava nem aí para as brincadeiras deles, estava começando a ficar irritado porque atrapalharam a aula e eu só queria estudar.
Graças aos deuses eles não incomodaram mais, e eu pude apreciar a professora Minerva, falando sobre a segunda guerra mundial de uma forma tão esclarecedora que não teve como prestar atenção em outra coisa.
A aula acabou e eu e Lily seguimos pelos corredores, em direção a biblioteca, para eu mostrar para ela alguns livros que eu tinha certeza que ela iria gostar.
Enquanto eu e Lily nos aventurávamos pelas longas prateleiras lotadas de livros, fiquei pensando como gostaria de mostrar tudo isso para Avery.
Ele sempre gostou de me ouvir falar por horas e horas sobre os livros que me interessavam, tenho certeza que ia adorar se eu mostrasse para ele o paraíso que tinha no internato. Muitas vezes sentávamos na cama e eu contava a história do livro que tinha terminado.
Ele sempre ouvia tudo com um sorriso no rosto.
O que eu não entendia era por que ele não tinha entrado em contato comigo ainda. Já haviam se passado dois dias e ele nem ao menos foi na minha casa para perguntar como eu estou.
Sei que não poderia cobrar muito dele, ele é ocupado demais porque trabalha com o tio com o conserto dos carros na loja. Mas as vezes eu ficava muito frustrado por não receber mais atenção do meu namorado.
Meus pensamentos foram interrompidos por alguém chamando meu nome. Era Lily, acompanhada de duas pessoas atrás dela.
— Ei, Remus! Quero apresentar meus amigos Frank e Alice. Eles são o casal mais fofo que você vai conhecer. Pessoal, o Remus é aluno novo e veio transferido para terminar o último ano aqui em Hogwarts.
Frank era o tipo de cara que você se encantava desde o começo. O sorriso dele era com olhos, que ficavam pequenininhos quando estava feliz. Ele parecia um ursinho que dava vontade de apertar.
Alice emana gentiliza e doçura. Quando me cumprimentou, me perguntou se eu precisava de ajuda em algo e que seria o maior prazer estar a disposição. Parecia o tipo de pessoa que preparava um chá de camomila e te escutava falar por horas dos problemas.
— Muito prazer em conhecer vocês dois. Até agora esse lugar só tem me encantado em todos os aspectos. Tipo, olha essa biblioteca, não tem como não ser feliz aqui dentro.
Eles riram com a minha animação e me perguntaram se estava gostando do meu primeiro dia. O que eu respondi prontamente que sim.
— E como foi com seus colegas de quarto? Se deram bem? - Alice me perguntou.
— Eu ainda não os conheci. Quando cheguei no dormitório estava tudo vazio, mas eu espero que eles sejam legais. Não sou fã de ficar com gente que tira minha paciência, e acreditem, isso acontece com frequência.
Os três me olharam com uma cara de surpresa, o que não era nenhuma novidade para mim. Sempre sou simpático e educado com as pessoas, e isso faz elas pensarem que sou muito calmo normalmente.
Não podiam estar mais errados.
— Não sabia que era do tipo que se estressava Remus. Você foi tão legal comigo até agora. — Lily respondeu, me entregando um livro para levarmos.
— Não tem porquê me estressar com você, pode ser estranho, mas nunca perco a paciência sem motivo.
— Então espero que seus colegas de quarto sejam legais com você. Imagina deixar Remus Lupin, de 1,87, com raiva. Isso que eu chamaria de não ter amor a vida. - Frank falou e as meninas deram risada concordando.
Eu sorri.
Tudo naquele internato fazia eu me sentir em casa.
As pessoas, o ambiente, a alegria. Parecia que de alguma forma eu fazia parte daquilo, e isso me deixava incrivelmente feliz.
Nunca me senti realmente confortável no antigo colégio. Parecia que constantemente tinha um peso em meus ombros. Estar lá era cansativo, era pesado, e em todos os momentos eu só queria sair dali.
Esse sentimento me fazia querer pular pelos corredores, me fazia sorrir com facilidade.
Depois de passar um tempo agradável na biblioteca com Lily, Frank, e Alice, decidi que era hora de voltar para o dormitório. Eu ainda estava ansioso para conhecer meus colegas de quarto, tinha esperança de encontrar rostos amigáveis que me ajudariam na adaptação da nova escola.
Ao chegar ao dormitório, encontrei a porta entreaberta. Empurrei com cuidado, e vi duas figuras que estavam em pé conversando animadamente. O garoto que me encarou na aula mais cedo, que parecia bastante zangado, estava ali. Seus óculos redondos eram inconfundíveis. Ao lado dele, um garoto loiro que identifiquei ser o mesmo riu da situação durante a aula de história.
Pigarreei levemente, chamando a atenção dos dois. O garoto de óculos foi o primeiro a se virar, seguido pelo loiro.
— Ah, você é o novo aluno, certo? — disse o garoto de óculos com um sorriso um tanto desajeitado. — Sou James Potter. E este é Peter Pettigrew. — Ele apontou para o loiro.
— Prazer, Remus Lupin. — Respondi, tentando soar casual.
Peter sorriu de volta, um sorriso que parecia sincero.
— Ei, Remus. Legal te conhecer. Nós já ouvimos falar de você.
— Espero que só coisas boas. — Brinquei, embora sentisse uma ponta de curiosidade sobre o que tinham ouvido.
James riu,percebi que havia algo por trás daquele riso. Havia um olhar sutil de avaliação em seus olhos, quase como se estivesse tentando me medir. James inclinou a cabeça ligeiramente para o lado, como se estivesse pensando em algo.
— Então, você e Lily já são amigos? — James perguntou, tentando soar despreocupado, mas não conseguindo esconder uma pitada de ciúmes.
Notei o que estava acontecendo e sorri internamente. Era óbvio que James tinha sentimentos por Lily, mas não queria dar-lhe motivos para se preocupar.
— Sim, ela foi muito gentil comigo. Só estou feliz por ter encontrado alguém que compartilha meu amor por livros. — Falei, tentando tranquilizá-lo.
James relaxou um pouco, o sorriso voltando aos seus lábios.
— Sim, Lily é incrível. Tenho certeza de que vocês vão se dar muito bem.
Peter assentiu, como se para reafirmar a declaração de James.
A tensão que senti inicialmente começou a dissipar-se, e me senti mais à vontade. Observei que havia mais uma cama no quarto e quando fui perguntar de quem era, a porta foi aberta com força, batendo contra a parede. Olhei surpreso para a figura que entrou no quarto.
Era ele.
O guitarrista de cabelos longos e jaqueta de couro que havia capturado a minha atenção no primeiro dia. A pessoa que eu não conseguia tirar da cabeça. Senti meu coração disparar e uma onda de surpresa misturada com outra coisa que eu não conseguia identificar me dominou.
Ele entrou no quarto como um furacão, seu sorriso era fácil e confiante, e os olhos pareciam brilhar com um certo interesse quando se fixaram em mim.
Ou talvez fosse coisa da minha cabeça.
— Bem, bem, bem, quem temos aqui? O novo aluno misterioso de Dumbledore! — declarou, seus olhos se estreitando ligeiramente, me analisando com um olhar que parecia um tanto provocativo.
Tentei me recompor, mas não pude evitar a sensação de estar hipnotizado por aqueles olhos cinzentos. Não esperava encontrar o guitarrista, ali, no meu próprio dormitório.
— Sou Remus. Remus Lupin. — Disse, tentando soar firme, mas sentindo uma leve insegurança.
Ele se aproximou e apertou a minha mão com firmeza, inclinando-se um pouco mais perto do que o necessário, mantendo o contato visual com um sorriso que era quase um convite.
— Sirius Black, à sua disposição. — Ele piscou, sua voz suave e envolvente. — Então, você é o novo aluno que andou roubando a atenção de Lily, hein? — ele provocou, lançando um olhar para James que rolou os olhos.
Meu rosto esquentou levemente. Havia algo na forma como Sirius olhava, uma espécie de desafio, mas também algo mais, algo que me fazia sentir um frio na barriga que não conseguia explicar.
— Seu nome é engraçado Remus Lupin. Sabia que é basicamente Lobo Lobo o significado? — Sirius comentou, e ele e James se olharam como se estivessem pensando a mesma coisa.
— Sim, eu sabia. Quando minha mãe engravidou de mim, meu pai estava passando por uma época meio viciado em filmes e histórias de lobisomens. Ele achou que seria uma ideia maravilhosa por o nome do único filho assim.
Os três soltaram uma risadinha. Meu pai era uma figura realmente.
— Você é a primeira pessoa que repara nisso. Como sabia disso? — perguntei pra ele.
— Minha família tem uma mania estranha para nomes também. Quase todos tem nomes de constelações, e eu achava isso tão estranho que comecei a me interessar em saber o significado dos nomes dos outros. — ele deu de ombros.
— É mentira! Ele também foi pesquisar sobre filmes de lobisomens e acabou achando seu nome em um dos personagens. — James avisou, o que fez Sirius olhar com uma cara brava para ele.
— Porque você está me prejudicando? Não posso nem fingir ser culto. — Black cruzou os braços, se fazendo de ofendido, mas dava para perceber que ele não se importava.
Ele e James pareciam se dar muito bem.
Sirius se afastou, sorrindo, e se jogou em sua cama, claramente confortável no ambiente.
— Bem, você veio ao lugar certo, Remus. Hogwarts pode ser cheia de surpresas, e algumas delas são muito agradáveis. — Ele piscou novamente, se divertindo com a situação.
James pigarreou, tentando quebrar a atmosfera que Sirius parecia querer criar.
— Se você precisar de algo, pode contar conosco. Estamos aqui para ajudar. E, é claro, te convidar para algumas das nossas... aventuras. — Disse James, lançando um olhar significativo para Sirius, que apenas riu.
Peter assentiu, apoiando a declaração de James.
— Sim, seria ótimo ter você conosco.
Fiquei aquecido pelo convite, uma sensação que não experimentava há algum tempo. Era bom ser aceito, fazer parte de algo, ainda que fosse um pouco arriscado. Contudo, uma parte minha também estava apreensiva sobre o que isso poderia significar, especialmente com Avery ainda pairando em meus pensamentos.
— Estou dentro. Desde que não seja nada muito perigoso. — respondi com um sorriso, tentando esconder a curiosidade crescente que sentia em relação a Sirius.
— Prometo que não será nada que a gente não possa resolver. — Sirius respondeu, seus olhos brilhando com um desafio implícito. — E, além disso, tenho certeza de que vai gostar de tocar o terror por aqui.
Não pude deixar de rir. Talvez Hogwarts fosse o refúgio que eu tanto precisava, um lugar onde ele poderia finalmente ser eu mesmo, sem os fardos e as sombras do passado.
Enquanto os três continuavam a conversar e a planejar pequenas travessuras, não evitei pensar que esse poderia ser o início de uma nova e inesperada amizade. Algo em Sirius, em particular, fazia sentir que finalmente estava onde deveria estar.
A noite caiu rapidamente, e me preparei para dormir, refletindo sobre o primeiro dia e as pessoas que conheci. Me sentia mais leve, como se finalmente tivesse encontrado um lugar ao qual pertencia.
No entanto, quando me deitei, os pensamentos voltaram para Avery. Uma parte do meu coração ainda estava presa àquele relacionamento complicado, sem conseguir enxergar a saída nisso.
Será que um dia eu conseguiria me livrar de tudo que me atormentava?
Mas, por enquanto, decidi aproveitar o presente e permitir sentir a esperança novamente.
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