𝟎𝟐: ❛ESCAPES DA REALIDADE❜
❛ CAPÍTULO DOIS ❜
ESCAPES DA REALIDADE
Quando Wiktoria acordou, o dia parecia estar perfeito.
Ainda era muito cedo, o céu estava azul como um manto celestial que abraçava a terra, e as nuvens brancas flutuavam pela imensidão sem fim ── o ar fresco entrava pela frecha da janela meio-aberta de seu quarto, onde trazia conforto e paz, ao mesmo tempo que balançava as cortinas finas de seda em tons de verde escuro.
Pela manhã, seu som favorito era definitivamente o cantarolar dos pássaros que perambulavam ao redor da mansão ── tão suave e calmo, que Wik poderia facilmente desistir do que tinha para fazer pelo dia e voltar para a cama para dormir somente com a música que as aves assoviavam numa orquestra animalesca muito bem executada.
Sentou-se na frente de sua penteadeira, observando a própria face juvenil e que genuinamente lhe agradava no espelho ── era bom dizer isso, que era bonita, levando em consideração os anos passados terríveis em que tiverá crises constantes por baixa autoestima. Por um certo tempo, tudo em si lhe incomodou: a pele pálida, os cabelos que não cresciam tão rapidamente, os braços finos e portanto, a falta de gordura em certos lugares que eram muito cobiçados por homens, e até mesmo seus olhos marcantes que eram elogiado por todos, se tornou uma insegurança.
Mas foram águas sombrias e passadas, que correram pela cachoeira da vida deslocando novas ondas.
Agora, passava o pente pelos fios com orgulho porque os amava desse jeito. Queria que seu olho fosse mais profundo, e pelas barbas do profeta, quem se importa com o que homens tem à dizer sobre o seu corpo? Se a desejarem, ótimo, se não, próximo. Já se tinha passado primaveras demais se culpando por não atingir um padrão que em sua cabeça, era o necessário. Mesmo que ainda restassem certas invulnerabilidades sobre coisas em seu corpo ou personalidade, tudo não passava de um processo que se resumia em odiar, aprender a amar e por fim, “foda-se, é isso que eu sou, goste ou não.”
Assim que Wik se levantou da cadeira, a porta do cômodo ── que por si só já fazia um barulho tremendo ── foi empurrada bruscamente sem sequer um aviso anteriormente, quase fazendo com que a garota derrubasse o assento ao chão.
Felizmente, o causador desse susto não tinha nada de aterrorizante. Ou melhor, a causadora. Moria abaixou o olhar assim que viu a barulheira que tinha causado, contudo, Wiktoria apenas relaxou os ombros suspirando ar que nem sabia que estava segurando nos pulmões.
── Perdoe Moria pela algazarra, senhora. ── A elfa diz, subitamente nervosa, enlaçando os dedos da mão direita na esquerda, ainda com o olhar para baixo.
── Não tem problema, Moria. Porém, não sou senhora, lembre-se.
── Oh, sim, perdão, Sen- digo, menina Wiktoria ── continua, embolando-se nas palavras e encarando Wiktoria com suas íris esverdeadas em formatos de bolinhas de gude.
Wik por sua vez, parte em direção ao banheiro, deixando a elfa plantada na frente de sua porta. Assim que passa pela entrada do banheiro, entretanto, a garota percebe que Moria não mexeu sequer um músculo ── fosse dos ossos corporais ou da boca tagarela mesmo que tímida ── e dá um passo para trás com sobrancelhas arqueadas.
── Qual a razão do desespero, Moria?
Moria limpa a garganta, e antes que se coloque a falar, puxa ar pelas narinas para o soltar ao mesmo tempo que palavras amontoadas uma sobre a outra.
── MoriaJuraQueNãoSabeComoIsso AconteceuMasMoriaEncontrouOSenhorKazimierzDesmaiadoDentroDo EscritórioDoSenhorWladyslawSenho- MeninaWiktoria ── contou, sem nenhuma pausa, gesticulando as mãozinhas e aumentando o tom de voz a cada sentença proferida, trazendo um ar mais forte de angústia. Wiktoria não entendeu boa parte, mas as únicas palavras Desmaiado e Kazimierz que pudera ouvir, foram o suficiente para lhe deixar num estado de aflição.
── Espera, Moria! Com calma! Está me deixando nervosa! ── Wik exclamou, se aproximando da elfa à medida em que a mesma voltava a respirar normalmente. ── Kazimierz desmaiado?
── Sim, menina Wiktoria ── confirmou, e o coração de Wik errou uma batida. ── Na sala do senhor Wladyslaw.
Isso foi o suficiente para que a moça corresse rapidamente em direção ao lugar dito, mesmo com sua perna machucada pelo acontecimento no Beco Diagonal.
Seus pais matariam Kazimierz se soubessem que ele teria desmaiado provavelmente, pelo consumo exagerado e diário do álcool.
Até mesmo uma das sapatilha preta de Wik se soltou enquanto ela disparava ── desceu os degraus que levavam ao lado esquerdo da casa, para subir os do sentido contrário ── e acidentalmente trombou com Suta, outro elfo, que carregava consigo vários panos dobrados enfileirados em seus curtos braços: uma prova de seu trabalho duro, mas que foi completamente destruído pela moça que parecia estar em tormento.
── Menina Wiktoria, o que aconteceu? ── mesmo que um pouco triste pelos lençóis brancos espalhados pelo chão, Suta questionou com liberdade. Não era o elfo mais velho que morava naquela casa, mas com certeza era um dos, por essa razão, mesmo sendo um servo submisso, todos lhe tratavam com moderado respeito para alguém em sua classe baixíssima.
Antes, Wik se desculpou com Suta, e o ajudou ── mesmo que alterada demais ── a recolher os tecidos jogados pelo piso, os colocando novamente nos braços do ser mágico.
── Suta, ainda não sei exatamente o que aconteceu, mas reúna elfos e venham até o escritório do meu pai, por favor! ── pediu, quase que implorando, e antes de Suta dar uma resposta, Wik voltou a mexer-se com rapidez.
De frente para a porta, Wiktoria temeu que seu irmão já tivesse sido pego. Merlin, seria uma desgraça caso isso tivesse acontecido. Ela reuniu coragem, e acreditou fielmente em sua intuição que dizia que ele estava bem, e se caso não estivesse, ficaria logo. Sua mão na maçaneta tremia, e para que pudesse abrir, tiverá que fechar os olhos e fazer em sua cabeça frases sólidas de afirmação positiva, para manifestar aquilo que seu coração almejava.
No momento exato em que o impasse de madeira afastou-se, mesmo que dando visão apenas de um curto espaço para dentro, foi possível ver Kaz caído ao chão. Isso despertou em Wik, transtorno e valentia. Imediatamente seu corpo se arrepiou, e sendo sentimental como era, sentiu uma vontade surreal de chorar, mas esse não era o momento certo para isso.
Primeiro, olhou ao redor do cômodo. Se questionou como e porque seu irmão estava justamente ali, onde tanto ele quanto ela eram terminantemente proíbidos de entrar sem permissão ── depois, buscou por algum resquício de drinks alcoólicos que pudessem ter o levado a circunstância em que se encontrava agora, por sua sorte, não encontrou nada, mas a ideia de Kaz estar inconsciente por causa de cachaça não lhe abandonou a mente.
Wiktoria não sabia o que fazer. Via seu irmão beber desde muito cedo ── já o presenciou vomitar a cama inteira, fazer xixi na cozinha jurando estar no banheiro, e obviamente, o testemunhar segurando-se em objetos para poder andar, mas nunca tinha visto Kaz desmaiar. Nunca: e isso foi mais um dos fundamentos que acabou lhe deixando em um grau superior de emotiva e preocupada.
Deu leve batidinhas no rosto sereno de Kazimierz, ao mesmo tempo que lhe xingava, Wik clamava para que ele acordasse agora mesmo ── chamou até por Merlin, Salazar, e os deuses dos trouxas, seja lá quem são e se iriam a escutar.
Por um lado agradável, Kaz ainda respirava, e não parecia estar em perigo algum ── pelo contrário, aparentava estar num sono delicioso e relaxante, e Wik jura por tudo que o ouviu dar uma leve roncada. Mas não confiava nisso e muito menos em Kazimierz: ele era traiçoeiro como uma cobra peçonhenta, o que a garantia que não estivesse sendo enganada pelo irmão ainda que com ele inconsciente?
Já sem muito o que fazer, Wik olhou para a porta e viu no mínimo, uns sete elfos, uns olhando por cima do ombro dos demais, e se empurrando para poderem observar a situação em silêncio.
── Venham, entrem! ── a garota chamou, colocando uma mecha de seu cabelo escuro para trás da orelha. E logo, toda a sala estava ocupada por vários bichos de aparências similares: orelhas pontudas e olhos grandões iguais. ── Olha, vocês, o segurem pelas pernas, eu o pegarei pelos braços e-
── Wiktoria! Wiktoria! ── a voz doce de sua mãe soou como um eco por toda a casa enquanto procurava por Wik. A jovem olhou com apreensão para os servos, já começando a suar pela testa.
── É a senhora Eularia, senhora Wiktoria! ── Aerko, um elfo novo afirmou, e mesmo que incomodada, esse não era o momento correto para o repreender sobre o “Sra. Wiktoria”.
── Nós dê permissão para usar magia, menina Wiktoria! ── Suta tomou à frente dos outros seres, e Wik refletiu sobre a proposta, mas não tinha muito o que fazer, balançou a cabeça consecutivamente muitas vezes antes de sair pulando e desviando dos cabeções de melancia dos elfos. ── Tome conta da senhora Eulalia, nós faremos o resto ── finalizou, e Wik aceitou de bom grado.
Wiktoria tinha um certo medo em permitir que os elfos usassem seus dons. Normalmente, eles eram desajeitados demais ── e tinham muitos deles que eram imaturos e demasiado jovens, que não tinham permissão para utilizar feitiços normalmente, por isso, acabaram não aperfeiçoando seus dotes para tal coisa. Mas era sua última esperança, tinha que fazer isso ou acabar se entregando e dando um castigo para Kazimierz muito facilmente.
Quando Wik encontrou Eulalia, a mulher estava subindo os degraus com um longo vestido preto bordado, e com um espartilho apertando sua cintura. A britânica vislumbrou a filha de cima a baixo, depois, encarando seu rosto ruborizado com desdém.
── Por que ainda está de pijama, Wiktoria?! ── perguntou, julgando as vestes da filha, que só se deu conta do que usava no momento em que foi interrogada.
Wik engoliu seco.
── Bem, eu... ── procurou por palavras, e desceu totalmente os degraus da escada maior, para que a mulher pudesse a acompanhar até a sala de estar, tentando de alguma maneira ajudar os elfos que planejavam algo. ── Veja só, mãe. Sente-se aqui, por favor. Preciso falar com a senhora... ── fingiu uma entonação triste na voz, e uma feição digna de prêmios de atuação enquanto sentava-se numa poltrona de frente para um dos grandes sofás da sala.
Eulalia sentou-se, receosa.
── O que aconteceu, filha?
A matriarca Mlynarski finalmente estava de costas para a cozinha, e quando Wiktoria viu o corpo de Kazimierz voando pelo ar, ela soube exatamente o que os seres mágicos tramavam, mas para que isso fosse possível, teria que pensar em algo o mais rápido possível.
Foi quando ela soltou no mesmo segundo em que Eulalia cogitou em virar a cabeça para reparar no que a filha tanto olhava atrás de si:
── Estou gostando de um garoto! ── a mulher mais velha voltou à atenção para Wiktoria, só que dessa vez, com um sorriso de orelha à orelha estampada entre os lábios.
── Querida, isso é incrível! Oh, Salazar, já estava mesmo na hora! ── Eulalia brandou, juntando as duas mãos e às levantando para o alto. Os elfos vinham atrás do corpo flutuante de Kaz, e Wik engasgou ao perceber que na real, todos eles eram quem estavam o controlando.
── S-sim, sim... ── disfarçou, limpando a boca com as mangas do vestido branco curto.
── Mas, vamos, me conte sobre ele! Como ele é fisicamente?
Imagine um nada mãe, bom, isso é ele, Wiktoria devaneiou.
── Uh... Ele..., bem... Ele... ── nenhuma figura masculina chegou à seus pensamentos justamente no momento em que precisava, por essa razão, só lhe restava inventar alguém que não parecesse superficial o suficiente: ── Cabelos loiros!
── Oh, um loiro! Encantador, filha. E mais?!
── Hm, ele é... ── Kazimierz quase é mandado diretamente para uma parede. ── Britânico! ── gritou com o susto.
── Britânico! E é um sonserino também, aposto! ── à essa altura, os olhos de Eulalia já brilhavam de tanta emoção, sua alegria, contudo, não parecia estar mesclando com a fisionomia de inquietude da filha. ── Mas que cara é essa, Wik? Tem algo de errado com esse garoto?
── Não, mãe, nada, é só que...
── Ele é rico também?
Kaz estava em um nível longe do chão nesse momento, e de repente, um elfo se distrai e tromba com o próprio piso caindo de rosto no chão, fazendo com que o corpo do Mlynarski dê uma oscilada entre baixo e alto, causando pânico em Wik.
── Não! ── a mesma berrou, novamente, colocando as mãos sobre o rosto dessa vez.
── Oh, filha, então é isso? ── Eulalia indagou, trocando o aspecto de eufórica pelo de compreensiva. ── Um relacionamento entre classes diferentes podem ser bem difíceis, filha...
── Sim, claro, claro... ── Wiktoria continua. ── mas não que ele seja pobre, mãe, ele só não é de elite como nós.
── Então está tudo certo, querida. Estou muito feliz que você tenha compartilhado isso comigo! ── comentou, dando à Wik um sorriso acolhedor, e mesmo que acostumada a mentir, Wiktoria se sentiu desonesta ao inventar tudo isso apenas para livrar a fuça de Kazimierz.
Ah, ele ia pagar muito caro à ela!
── Bem, estou feliz também, mãe! ── Wik sorri de volta, se acalmando pelo fato de que agora, mesmo que ainda adormecido, o corpo de Kazimierz está sentado em sua cadeira na sala de jantar. ── Mas não conte ao papai, vamos deixar isso apenas entre nós, O.k? ── melhor dizendo: “Mãe, por favor, não espalhe essa mentira esfarrapada para mais ninguém”.
── Claro, só entre meninas, huh? ── Eulalia tentou piscar apenas um olho, fazendo uma expressão engraçada enquanto sem querer levantava a direção do outro, dando à Wik o prazer de finalmente soltar a primeira risada nessa manhã.
[...]
O dia está longe de ser perfeito.
Depois da conversa com Eulalia, Wiktoria foi mandada pela mesma a ir se vestir para que pudessem tomar o café da manhã ── apenas ela, Wik e Kaz, já que Wladyslaw estaria trabalhando hoje, domesticando um dragão na Irlanda.
Todos os elfos da casa já estavam à parte do acontecimento com Kazimierz, e estavam dispostos ── lê-se: sendo obrigados ── a colaborarem e salvar a pele do rapaz dessa. Por isso, enquanto se vestia, Wik deixou de lado por alguns minutos tudo que estava acontecendo, e isso, a fez perceber o quão doído seu tornozelo estava. Correr não era bem a melhor maneira de repousar um machucado.
Wik não é má ── está longe disso, e odeia o esteriótipo que é imposto nos sonserinos; aquele de que todos são regados pelo ódio e alimentados pela raiva e vingança ── mas saber que James Potter e Sirius Black estarão impunes enquanto ela acabou se ferindo por perversões deles, lhe faz repensar sobre não ser nem 50% maléfica.
Devidamente vestida e pronta para talvez agora sim dar início ao seu dia super produtivo ── que se resume em ler e escrever poemas sobre dores adolescentes ── Wik percebe que é o momento perfeito e necessário para descer quando escuta Eulalia chamando diversas vezes por Kazimierz, mas não obtendo nenhuma resposta.
Dessa vez nenhuma sapatilha é deixada pelo caminho, embora que ainda com incômodo na canela, é possível caminhar sem sentir nada se for com cautela ── o que não aconteceu, já que mais uma vez, Wik teve que se apressar quando os berros de Eulalia por Kaz repentinamente aumentaram.
── Mãe! ── Wiktoria chama pela mulher, que está na ponta da mesa, enquanto Kaz está na terceira do lado esquerdo. A mesma leva um susto. ── Kaz está com... Com enxaqueca!
Eulalia faz uma careta.
── Oras, se ele está com dor de cabeça porque não responde então?! ── pergunta, confusa e levemente incrédula. Pela primeira em toda sua vida, Wiktoria se senta ao lado de Kazimierz na mesa, outro gesto que levanta suspeitas de Eulalia acerca do filho mais velho.
── Porque ele é rebelde, mas está muito bem acordado, veja só... ── Wiktoria diz, arriscando firmemente e outra vez confiando em seu sexto sentido que aponta que os elfos estão outra vez, bisbilhotando por algum lugar. E isso só se concretiza quando por ventura, balançando um pouco, o braço de Kaz é levantado e seu polegar se ergue, antes que caía a mesa com força. ── Viu só? Rebelde como sempre!
A Mlynarski mais velha dá de ombros, e coloca um guardanapo nas pernas por baixo da mesa quando Moria se aproxima com Suta da mesa, ambos com um prato de mingau de aveia nas mãos ── assim que o coloca na frente de Wiktoria, Moria a lança uma piscadela, fazendo a humana deixar um sorriso amarelo nascer em seu rosto.
── Esses elfos estão estranhos. ── Eulalia comenta, assim que os mesmos deixam a sala ── Aposto que estão tramando al-
Antes que pudesse terminar, o punho de Kazimierz bate contra a superfície de madeira num soco estridente, que assusta as mulheres sentadas. Eulalia, por sua vez, volta o olhar para Wiktoria com uma expressão interrogativa.
── Enxaqueca, mãe. Enxaqueca... ── diz, colocando uma porção de mingau na boca e mentalmente azarando Kazimierz e toda sua futura geração.
── Que seja. Mas, que tal voltarmos a falar sobre seu possível primeiro namoradinho de adolescência?! ── a britânica perguntou, outra vez, empolgada com o assunto.
Kazimierz, Wiktoria pensa enquanto força um sorriso para a mãe, é bom estar preparado quando acordar.
[...]
Q
uando Kazimierz recobra consciência, o sol está muito quente para ainda ser de manhã ── muito quente até, para alguém que desmaiou dentro de um quarto sem janelas. Ele sente até mesmo seu corpo criar gotículas de suor, e sua posição, com às mãos embaixo da cabeça, definitivamente não foi qual ele se lembra de ter ficado antes de cair no chão adormecido.
Ele abre os olhos, e enxerga o céu por trás de lentes escuras, se dando conta de que, na verdade está apenas de bermuda, totalmente exposto ao sol ao lado de fora de casa próximo ao cemitério dos Mlynarski que fica nos fundos da mansão.
Seu corpo está sendo queimado vivo, o torso tão vermelho que se ficasse encostado numa parede pintada de tal cor, passaria batido.
Não é preciso que Kaz reflita muito para saber quem lhe deixou nessas condições, imediatamente sua mente gira em torno de uma única pessoa capaz de realizar um ato de tamanha crueldade: Wiktoria. Seus olhos verdes que exalam inocência enganam muita gente, acredite!
Mas a questão é: como ele está deitado na grama, ainda em sua casa e foi deixado acordar por conta própria ao invés de ter sido levado a força para a banheira e ser afogado por água fria? Isso é uma questão para tirar a limpo. Se seus pais tivessem o visto desmaiado, sua cabeça seria decapitada e, provavelmente, doada para os Blacks para que eles pudessem pôr nas paredes da casa ── como fazem com os elfos, lembra de ter lido sobre isso certa vez no Profeta Diário.
Então, realmente, existem pontos de interrogações espalhados sobre esse mistério, mas nenhum desses, se compara aos únicos que causam tanto tormento em Kazimierz: seu pai, e agora, a carta que o mesmo recebeu do Sr. Everhart.
Talvez esteja fazendo tempestade num copo de água, ou se desmaiando por algo que nem seja tão drástico assim. Mas, as palavras “Devo dizer que é uma pena o que está acontecendo com você, meu amigo” o impedem de pensar isso, não lhe deixam achar que esse assunto seja tão raso. Wladyslaw nunca passou por nenhuma dificuldade em sua vida ── a não ser a de conquistar Eulalia na adolescência ──, por que exatamente estaria passando por algo que precisasse da pena de Caspian Everhart I? Que fosse preciso um homem Mlynarski desabafar e baixar guarda?
Não faziam sequer cinco minutos desde que havia acordado, e Kazimierz já queria adormecer de novo. Melhor: ele estava louco para sucumbir ao desejo de entrar num coma alcoólico, e talvez, quem sabe, levar essa sua angústia para o túmulo.
Kaz se senta, sentindo um pesar em suas costas. Seu peito ainda carrega uma sensação esquisita, e seus órgãos se contorcem ── o estômago dói, o pulmão parece não funcionar corretamente e inevitavelmente, Kazimierz sente cada simples movimento que eles fazem para voltar à ativa (ou desativarem por completo).
── Kazimierz Mlynarski! ── e lá vem Wiktoria, pisando furiosamente no chão enquanto aperta fortemente a base de sua varinha na mão. ── Eu espero que esteja feliz!
Assim que chega perto o suficiente, Wiktoria dá um murro certeiro no nariz de Kazimierz, que geme de dor instantaneamente, caindo para trás. O sangue da região jorra para fora, sujando todo seu peito, enquanto ele põe a mão no osso quebrado ao mesmo tempo que seus neurônios tentam assimilar tanto sofrimento ao mesmo tempo.
No entanto, Wiktoria o impede de tampar o nariz ── meio torto ──, segura forte em seu rosto e aponta a varinha a balançando com cautela.
── Episkey!
Não demora muito para que Kaz solte outro resmungo de dor, mas dessa vez, pelo motivo de que o mesmo osso quebrado em menos de três minutos, está sendo concertado, e a estrutura danificada esteja sendo colocada em seu devido lugar.
── Imbecil! ── Kazimierz cospe, completamente tomado pela raiva. Wiktoria solta uma gargalhada irônica.
── Oh, eu sou a imbecil agora?! ── pergunta retoricamente, incrédula. ── Comece a tomar conta de si próprio para que eu, a imbecil, não tenha que fazer isso!
── Não pedi para que você cuidasse de mim!
── Então era melhor que eu tivesse permitido que papai te encontrasse desmaiado no escritório dele, não é?! ── alfinetou, porém, não obteve resposta. Não é como se Wiktoria não estivesse acostumada a ser tratada com indiferença pelo irmão quando dava tudo de si para ele, é só que, às vezes era cansativo ser tão simpática. ── Beba mais da próxima vez, e deixe escrito em um papel: “Não tente me ajudar, sou um energúmeno insensível que estou buscando suicídio!” e cole na testa!
Wiktoria estava certa. Entre eles, ela sempre foi a mais politicamente correta ── mesmo que muitas vezes, parecesse moralmente incorreta também ── mas mesmo tendo noção disso, Kazimierz nunca falaria em voz alta. Nenhuma vez em sua vida, ao menos pediu desculpas a Wik por alguma coisa. Não é algo para estufar o peito e ter orgulho, claro, mas é uma coisa que faz parte de si. Está emaranhado em suas entranhas. Sua irmã sabe disso, e provavelmente seja por essa razão que nunca cobrou nenhuma demonstração de arrependimento vinda do rapaz ── mesmo que, muitas vezes, ela merecesse bem mais que um simples pedido de perdão apenas pela maneira ranzinza com que era tratada na maioria do tempo.
Mas não era hora de se sentir comovido por seus próprios atos, Kazimierz ainda estava tomado por curiosidade e rodeado de suspense. Antes de tudo, teria que despistar qualquer outra pessoa que pudesse lhe atrapalhar no lance envolvendo seu pai e o Everhart.
── Não sei como fui parar lá. ── mente, e mesmo que Wiktoria esteja com uma careta nada legal no rosto, ela solta um suspiro se rendendo, e já perdoando seu companheiro de longa data.
── Estava bêbado, não estava?
Kazimierz resmunga balançando a cabeça.
── Como conseguiu fazer com que mãe e pai não me vissem antes de você?
Wiktoria soltou uma risadinha, se sentando ao lado do irmão no gramado. Por parte, por causa dos acontecimentos anteriores, outra, pelo fato de Kazimierz estar quase em carne viva. A radiação solar sempre a ajudando em tudo.
── Agradeça a Moria, ela chegou desesperada no meu quarto me contando que havia te encontrado desmaiado no escritório do papai ── sorriu, lembrando-se. ── Aí bem, fui lá mas não tinha muito o que fazer, então os elfos me ajudaram.
── Os elfos?! ── agora fora Kaz quem riu, desacreditado.
── Eles fizeram seu corpo voar enquanto eu distraia mamãe com... Com uma história! ── disse. Não estava mentindo 100%, fora uma história, obviamente. Não tinha porque dizer sobre o que ela se tratava, claro.
── Meu Salazar, você confiou nos elfos para me fazer flutuar! ── os dois riram em uníssono.
── Mas o importante é que funcionou, eu juro!
Wiktoria limpou uma lágrima que se formou no canto do olho pelo tanto de gargalhadas que soltou em tão pouco tempo.
── Ontem mesmo, Moria também veio até mim desesperada, mas era para pedir ajuda para ajudar tal de Finlaem? Forbeem? ── Kaz tentou lembrar-se, enquanto buscava no fundo de sua caixinha de memórias as coisas que passou no dia anterior, mesmo que grande parte dos acontecimentos simplesmente desaparecerão da sua caixola. ── Algo assim. Um dos elfos, pelo visto.
── Findraen!? ── Wiktoria perguntou, sobressaltada.
── Sim, ele mesmo. Você sabe quem é?
── Claro que sei quem é Findraen, Kazimierz! ── respondeu, como se fosse óbvio. ── Pobre Finn, tão velhinho...
Mesmo sem conhecer o dito cujo, Kaz balançou a cabeça confirmando.
Os dois irmãos permaneceram em silêncio por um tempo, apenas sentindo o calor do sol juntos. Kazimierz espera que sua pele seja resistente, porque se não for, infelizmente perderá ela por completo. Mas o que é uma gota d'água para quem já está encharcado?
Entretanto, a ausência de som se quebra pelo limpar de garganta de Wiktoria, seguido do mesmo questionamento anterior, que ficou em aberto.
── Estava bêbado, não estava?
Seria uma perda de tempo tentar despistar Wiktoria disso em específico.
── Estava. Mas foi tequila, e já era a noite, releve um pouco.
Wiktoria suspira, negando para si mesma mexendo a cabeça para lá e para cá.
── Sempre que você bebe tequila algo inusitado acontece, não sei porque insiste tanto em continuar ingerindo isso ── Wik diz ── não sei porque insiste tanto em continuar tomando qualquer bebida alcoólica.
Kazimierz olha para ela com um sorriso de canto, e levanta os dois joelhos para que possa deitar seu rosto neles.
É uma pena que Wiktoria não o entenda. Que seus pais não o entendam. É péssimo se ver encurralado por si mesmo e não ter outra saída. Sentir um vazio dentro de si, um sentimento de não pertencer a lugar nenhum mesmo sendo tão grato por ser um Mlynarski. Mas Kazimierz está tão perdido sobre tudo e qualquer coisa. Completamente sem rumo. O álcool o livra disso, não porque é bom, mas porque lhe deixa fora de órbita. Inconsciente dos próprios atos, do próprio sofrimento.
Um escape da realidade torturante causada unicamente pela sua mente perturbada.
── Eu sou doente, Wik.
Wiktoria o encara, com um semblante de confusão e sobrancelhas juntas, que levemente incomodam a Kazimierz ── ele interpreta isso como dó, quando na verdade, é só responsabilidade.
── Você não é doente, Kaz. É ansioso, dependente e melancólico, só isso.
── Logo... Um doente.
── Logo, uma pessoa normal. ── concluiu, dando um fim na conversa que tomava rumo para um abismo de tristeza.
Wik queria dizer mais. Queria falar que Kaz não estava sozinho nessa, que se ele quisesse, ela poderia o ajudar a enfrentar qualquer coisa; que todas as pessoas normais são ansiosas, melancólicas, e dependem de alguma coisa para serem humanas. Que Kazimierz não precisa de escape nenhum, só precisa aprender a lidar com a realidade em que vive, e enfrentar de peito qualquer vazio que tenha dentro de si.
Entretanto, as palavras ficam presas em sua garganta, e não saem por medo de não ser levada a sério. Ela limpa a garganta, ── insegura, outra vez ── e engole seco.
── Enfim, ── ela começa, com o intuito de quebrar o clima ruim que se instalou entre eles ── hoje mais cedo eu estava pensando sobre James Potter e Sirius Black...
4495 PALAVRAS
NÃO REVISADO ── SUJEITO A ERROS!
﹙𝐧𝐨𝐭𝐚𝐬 𝐝𝐚 𝐚𝐮𝐭𝐨𝐫𝐚﹚
cara, eu acho q sou mto triste KKKKKJJJHHBVVBKKKKKKKKKKK
a wik e o kaz (ao menos p mim) são de uma complexidade PROFUNDA e q eh preciso ter paciência com eles,
a wik é mais dboa mas justamente pq ela nao é tao impulsiva (mesmo q ainda assim seja ── a cena do nariz quebrado é uma delas ──) e nem se sente como o kaz, já que ambos casos são completamente diferentes
o problema do kaz nao eh exatamente traumas ou family issues como eh comum em outras histórias, aq ta mais pra pressão social e isso explica a razão pelo qual o kaz ficou TAO irritado com o profeta diário no capítulo passado, lembrem-se: eles sao família de elite, alto patamar, ou seja, sao obrigados a manterem a boa aparência SEMPRE.
enfim, tudo isso e mais coisas serão explicadas ao decorrer da história
e, eu gosto mto do “wiktoria não é má” (pq tava sendo na visão dela sobre ela) ai corta pra ela deixando o kaz no sol FERVENDO e depois quebrando o nariz dele (pq tava na visão dele sobre ela) KKKKKKKMKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK
!!BUT!!
AO INVÉS DISSO QUERO DIZER KI
daqui há capítulos teremos FINALMENTE o primeiro diálogo DIRETO entre kazzzyyyyy i jaaaayyy!!
*SCREAMING IN HOMOSSEXUALITY*
KKKKKJKKKKKK portanto, foi isso galera, espero q tenham gostado (se gostou deixa seu like e se inscreva no canal maxsuely gameplays)
até o próximo cap!!
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