Capítulo Vinte e Seis
Hola! Somos campeões!!!! ❤💙🏆 VISCA BARÇA!!!!
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Chegamos em Barcelona antes das dez horas da noite e assim que o ônibus nos deixou no CT, eu já corri para pegar meu carro no estacionamento e ir embora. Queria fugir o máximo possível da bronca que Xavi com certeza iria me dar.
Nesse momento minha preocupação era Babi, já liguei, mandei um monte de mensagens e ela não me responde.
Ferran veio junto comigo, Sira estava com o Corolla Cross dele e o deixou aqui ontem antes de irmos para Getafe.
Saímos do centro de treinamento minutos depois e eu tentava me manter calmo enquanto dirigia. Tive que parar no sinal vermelho e a primeira coisa que eu fiz foi checar o celular pra ver se ela tinha me respondido. Mas não tinha nenhuma mensagem, pelo menos não de quem eu queria.
— Gavi deixa de paranoia. — Ferran disse tomando o celular da minha mão e olhei pra ele.
Suspirei e coloquei o carro em movimento quando o semáforo ficou verde.
— Ela só foi se divertir um pouco com as amigas, distrair a mente.
— Eu sei cara, eu só fico preocupado.
— Preocupado com o que Gavi? — ele indagou me encarando e cruzando os braços. — Sira é minha namorada, sua irmã namora com o Javi, Abby namora o Araújo. Todas comprometidas, por que essa cisma?
— Não é isso, eu confio nela. Eu fico preocupado porque ela tá grávida, não sei onde ela tá.
— Gavi relaxa, as meninas tão com ela. E elas nem vão demorar, Sira me disse que voltariam cedo. Fica de boa tá.
Eu tava tentando ficar de boa, mas isso era meio impossível.
Chegamos em casa minutos depois, felizmente não tinha trânsito já que era quase onze da noite e eu tentei novamente falar com Babi enquanto subíamos no elevador, mas continuava tocando até cair na caixa postal.
As portas se abriram e vimos Pedri jogado no sofá assistindo um filme na TV e com uma vasilha enorme no colo cheia de pipoca.
— E aí. — falei me jogando em um sofá e Ferran sentou ao lado dele.
— Oi. — Pedri disse pegando o controle remoto e pausando o filme. — Eu vi o jogo pela TV, mais um empate, imagino que Xavi deve tá puto.
— Ah ele tá mesmo. — Ferran respondeu enfiando a mão na vasilha e pegando pipoca. — Cobrou os três dias de folga dizendo que a gente não descansou como devia e falou mais um monte de coisa.
— Vixi, eu imagino. Tá tudo certo pra mim e de Jong voltarmos domingo, a gente até já treina com a equipe amanhã, não vejo a hora de voltar logo e poder ajudar o time.
— Vai ser bem-vindo meu parceiro.
Eles continuaram conversando e eu encarava o celular, a tela mostrava a minha conversa com ela no whatsapp, as mensagens que nem foram visualizadas.
— Gavi até arrumou um barraco hoje, só que dessa vez foi no nosso vestiário.
— Como é? — Pedri indagou surpreso me olhando e eu quis muito cortar a língua do Ferran fora.
— Você é bocudo hein cara, impressionante.
Ele só deu risada enquanto comia a pipoca.
— Explica essa história aí Gavira. — Pedri pediu também rindo e eu rolei os olhos me sentindo cansado daquilo já.
— Os dois jogadores que foram convocados do time b falaram uma gracinha envolvendo a Babi no vestiário e eu perdi a paciência.
— Vixi! — Pedri soltou gargalhando. — Você socou o cara?
— Não socou porque a gente não deixou. — Ferran respondeu rindo e mostrei o dedo do meio pra ele.
— Xavi já falou com você? — Pedri perguntou e eu neguei balançando a cabeça. — Então se prepara Gavira, amanhã você vai ouvir.
— Tô cagando pra isso. Minha preocupação agora é outra.
Pedrime encarou sem entender e Ferran deu risada de novo.
— Ele tá paranoico desde antes a gente chegar em Barcelona, já mandou mensagem e ligou não sei quantas vezes e Babi não atende, e nem responde. Falei que elas tão se divertindo, mas ele não me escuta.
— Ferran na boa, fica calado um pouco. — mandei já sem paciência e eles riram. — Então, você conseguiu falar com ela?
— Eu até mandei uma mensagem pra Babi já tem uns quarenta minutos, mas eu foquei no filme e acabei esquecendo. Ela deve ter respondido. — Pedri pegou o celular que estava no bolso da calça e verificou. — Ela não me respondeu.
Aquilo foi o suficiente pra me fazer surtar de vez.
— Olha aí, tô falando!
— Gavi calma, é normal a pessoa sair pra se divertir e esquecer do celular.
— Ferran a Babi tá grávida! E eu pedi pra ela ir me mandando mensagem dizendo que tá tudo bem.
— Olha, não é querendo colocar panos quentes, mas eu também pedi pra Babi ir me avisando. Confesso que tô um pouco preocupado.
Ferran olhou para nós dois e balançou a cabeça em negação.
— Eu mereço vocês dois, coitada da Babi. Eu vou ligar pra Sira, ela sempre me atende quando sai sem mim.
Ele tentou uma, duas, três vezes e nada. Sira não atendia.
— É, confesso que também tô preocupado. Isso nunca aconteceu.
— E agora hein sem noção? Vai dizer que eu tô paranoico? — indaguei nervoso levantando e Pedri também levantou ficando entre nós dois.
— Calma Gavi, vamos tentar manter a calma e pensar em alguma coisa. Será que é uma boa ideia ligar para o Javi e o Araújo perguntando se eles sabem de alguma coisa?
— Eu mandei mensagem para minha irmã e ela também não respondeu.
— Vamos fazer o seguinte. — Ferran disse encarando um ponto qualquer à sua frente, logo depois olhando para nós dois. — Meu celular e da Sira tem um aplicativo que nos deixa conectados o tempo todo e permite que um veja onde o outro tá em tempo real. Eu posso usar esse aplicativo pra rastrear o aparelho dela e descobrir onde elas estão.
— Faz isso. — pedi me sentindo ansioso pra saber de alguma coisa.
— Tá, a gente descobre onde elas estão e podemos ir até lá, mas cientes de que talvez elas vão ficar putas com a gente.
— Não me importo, eu tô preocupado com a Babi e com o meu filho, só quero saber onde eles estão. Ela pode ficar puta o quanto quiser, depois eu peço desculpas e a gente se resolve. Só descobre onde ela tá.
— Eu também tô preocupado com a Babi e o meu afilhado. — Pedri disse e olhei agradecido para o meu melhoramigo.
— Bom, a Sira dificilmente fica puta comigo, na verdade acho que isso nunca aconteceu, mas pra tudo tem uma primeira vez né, vamos lá.
Sentei novamente no sofá enquanto observava Ferran mexendo em seu celular, Pedri foi sentar ao lado dele e ver como o aplicativo funcionava. Depois eu até queria saber também para conectar meu celular e da Babi, mas nesse momento eu não tinha cabeça pra isso.
— Achei. — Ferran anunciou e eu já tava quase sentindo meu coração saindo pela boca.
— Onde? — perguntei levantando.
— Em uma boate, no centro da cidade, não é longe.
Praticamente corremos para a porta até que Pedri nos chamou e olhamos pra ele.
— O quê? — perguntei sem entender.
— Vocês não vão sair assim não né?
— Assim como? — perguntei de novo olhando para mim mesmo.
— Putz! — Ferran bateu na própria testa. — O uniforme de viagem do Barcelona, não podemos realmente sair assim.
Quase gemi de frustração querendo quebrar alguma coisa.
— Nem adianta Gavi, vai trocar de roupa. — Pedri mandou. — A gente já é reconhecido usando óculos escuros, imagine vestindo um uniforme do Barcelona. Para de drama e vai trocar de roupa.
Balancei a cabeça em negação e corri escada acima logo atrás de Ferran.
A boate em questão realmente não era longe, eu fui o caminho todo no banco de trás de olho em meu celular enquanto Ferran dirigia o seu Lexus e Pedri conversava com ele no banco do passageiro.
A frente da boate estava lotada de pessoas esperando que alguém saísse para poder entrar. Ferran falou com um dos seguranças que nos guiou até o estacionamento vip, de lá poderíamos entrar e ir direto para um camarote sem problemas.
Enquanto a gente andava até o tal camarote eu só conseguia pensar em Babi. Ferran estava de olho no celular para ver se elas se movimentaram, mas o celular estava parado desde a hora que ele abriu o aplicativo.
O camarote que a gente entrou não tava tão cheio, em compensação a pista lá embaixo tava lotada. Seria quase impossível encontrar aquelas malucas no meio dessa muvuca.
— Cara! Como a gente vai achar elas no meio dessa multidão?! — Pedri gritou por conta da música alta.
Apoiei as mãos no parapeito que circundava todo o camarote, meus olhos varriam atentamente cada canto daquele lugar, mas era difícil e as luzes piscando não ajudavam.
Um movimento no bar chamou minha atenção, me parecia um desentendimento. Bati no ombro de Pedri e apontei naquela direção.
— Ali!
Ferran e Pedri também olharam, então para a nossa sorte, as luzes que ficavam no teto e giravam, focou exatamente naquele local.
— São elas! — exclamei reconhecendo Babi e Abby.
— Puta merda! — Pedri soltou quando o que parecia ser um desentendimento se transformou em um tumulto.
Meu coração gelou ao imaginar Babi grávida no meio daquilo. Não pensei duas vezes antes de correr em direção a escada que ligava o camarote à pista de dança lá embaixo.
Passar no meio daquelas pessoas era complicado, principalmente porque virou uma confusão generalizada. Ferran era o maior e mais forte de nós três, então ele foi na frente tentando abrir caminho. Eu só conseguia pensar no que poderia acontecer se Babi acabasse se machucando no meio daquele caos.
Finalmente conseguimos chegar perto da baderna e era uma gritaria do caralho, não dava pra entender nada. Olhei ao redor e vi minha irmã do outro lado.
Conseguimos chegar até lá empurrando algumas pessoas que já estavam bêbadas.
— Aurora! — gritei seu nome e ela arregalou os olhos ao me ver.
— GAVI! O que você tá fazendo aqui?!
— Cadê a Babi?! — perguntei nervoso.
— E as outras?! — Pedri perguntou ao meu lado.
— Eu... eu não sei... — ela parecia confusa e eu a encarei.
— Aurora você tá bêbada?!
— Eu acho... eu acho que... eu bebi um...pouquinho...
Ela parecia confusa e atordoada, e deixei pra lidar com isso depois.
— Elas tão ali! — Ferran gritou chamando nossa atenção e virei o rosto vendo Abby sendo segurada por Babi e Sira.
Ela parecia discutir com uma garota e se não fossem as meninas a segurando, acho que ela já teria voado no pescoço da outra.
— Fica aqui! — falei para Aurora que apenas assentiu me encarando e fui atrás dos caras.
A gritaria continuava, mas os seguranças da boate já estavam colocando ordem, separando os conflitos individuais.
— Gavi?! — Babi disse surpresa ao me ver assim como as meninas também estavam.
Ferran segurou Abby conseguindo afastá-la da outra garota que também foi levada pelos amigos.
— EU VOU TE ENCONTRAR SUA VACA! — a loira gritou me fazendo olhar surpreso pra ela.
— Abby para! Já deu! — Sira gritou irritada.
— Será que alguém pode me explicar o que aconteceu aqui?! — Ferran pediu ainda segurando Abby que se debatia. — Para garota, sossega!
— A gente tava se divertindo de boa. — Sira começou a explicar. — De repente do nada essa doida aí começou a gritar e empurrar aquela...
— Hei! Ela me empurrou primeiro quando eu fui pedir algo pra beber no bar! — Abby gritou apontando o dedo para Sira e eu senti o bafo de cachaça dela daqui.
— Tá legal, já chega! — Pedri ficou entre as duas. — Vamos embora, já deu por hoje.
— Por que vieram até aqui? Como encontraram a gente? — Babi perguntou chegando perto de mim e olhei pra ela.
— Em casa a gente conversa.
As pessoas começaram a ir embora depois que a situação acalmou. Fomos para o estacionamento, Aurora se apoiou em mim enquanto Pedri e Ferran levavam Abby que já estava quase dormindo devido a embriaguez.
Ferran e Sira começaram a discutir e olhamos ao redor torcendo pra não ter ninguém filmando isso. O carro que elas vieram, que era o Corolla Cross de Ferran não estava tão longe do Lexus. Ele, Pedri e Abby foram para o Corolla depois de me entregar a chave do Lexus.
Coloquei minha irmã no carro e Babi entrou atrás junto com ela. Sira que ainda estava brava com o namorado veio comigo, sentando ao meu lado na frente.
Primeiro deixamos Abby na casa de Araújo, ela morava sozinha em um apartamento perto da universidade, mas devido ao seu estado, era melhor deixá-la com alguém. Em seguida foi a minha irmã, eu preferi deixá-la com o namorado do que levá-la pra casa e enfrentar minha mãe a essa hora da madrugada.
— Quer ir pra sua casa? — perguntei olhando pra Sira quando voltamos as ruas pouco movimentadas.
Esse era o lado bom de sair de carro a essa hora, não tinha trânsito.
— Tá muito longe pra ir pra minha casa ou pro haras. Me leva pro apartamento mesmo, eu durmo no sofá.
— Tá bom. — falei tentando não dar risada.
Quando finalmente chegamos em casa, já passavam das duas horas da manhã.
Subimos no elevador em um silêncio inquietante e eu encarei minha namorada que tinha encostado na parede de metal e fechado os olhos. Ela prendeu os cabelos em um coque no alto da cabeça e tirado as sandálias de salto, preferindo andar descalça.
As portas se abriram e Sira foi a primeira a sair indo para o sofá e se jogando sobre ele de bruços. Babi foi direto para a escada. Eu ia deixar ela tomar banho primeiro, depois a gente conversava.
— Anda Sira, vai tomar banho e tirar essa roupa que tá fedendo a vodca. — Ferran mandou, mas ela nem se mexeu.
Olhei de relance para Pedri que balançou a cabeça em negação e foi para a cozinha.
— Sira Martínez eu tô falando com você!
— O que é caralho?! — ela gritou de volta erguendo a cabeça e olhando pra ele. — Vai dormir e me deixa em paz.
— Eu não vou deixar você ficar nesse sofá desse jeito. Ou você levanta e sobe por vontade própria ou eu vou te jogar no ombro, e te carregar igual a um saco de batatas.
— Não se atreva! — ela murmurou irritada ainda o olhando e Ferran deu risada arqueando uma sobrancelha.
— Quer pagar pra ver?
Sira levantou soltando mais um grito de raiva e marchou escada acima pisando duro.
— Boa sorte. — murmurei para o meu amigo passando por ele e indo também para a cozinha.
— Nada, isso aí é só birra. — ele disse rindo e me fazendo rir também.
Pedri estava bebendo água e fiz o mesmo. Olhamos um para o outro e começamos a rir.
— Cara, a Abby de patricinha só tem o jeito. Ela desceu o sarrafo na outra menina legal.
— Pois é. Tá explicado porque o Araújo gosta dela, é tão doida quanto ele.
— Isso aí. — Pedri concordou rindo e terminando de beber o restante de água que estava no copo. — Eu vou dormir.
Ele ia saindo, mas pareceu se lembrar de algo e parou na porta, virando e me encarando.
— Aí cara, vê se não briga com a Babi, elas não tiveram culpa.
— Não vou fazer isso.
Pedri fez um joinha e saiu indo para a escada. Eu terminei de tomar minha água também e fiz o mesmo, acho que ela já tinha terminado o banho.
Subi os degraus devagar ouvindo as vozes que vinham do quarto de Ferran, parece que ele e Sira resolveram continuar a discussão. Abri a porta do meu quarto não querendo fazer barulho, talvez ela já tivesse adormecido.
Babi estava sentada na cama penteando os cabelos úmidos. Ela usava um dos seus pijamas coloridos que eu tanto gostava. O de hoje o short era vermelho e a camiseta branca com um tomate desenhado.
— Tá bravo comigo? — ela perguntou me olhando e eu tirei meus tênis e a camisa em seguida.
— Não tô chateado Babi, eu fiquei preocupado. O que foi que a gente combinou?
— De eu te mandar mensagens falando que tá tudo bem.
Encarei ela cruzando os braços e Babi levantou vindo até mim.
— Eu tava dançando com as meninas e esqueci completamente do meu celular, logo depois começou a briga e... e virou aquele caos. A Abby do nada começou a discutir com a garota e parece que a boate inteira se envolveu na briga...
— Hei, tá tudo bem amor, tá tudo bem. — falei acariciando seus braços e beijando seus lábios de leve.
— A gente tava se divertindo sabe, eu não tava bebendo é óbvio, a Sira também não porque ela era nossa motorista, mas tava tão bom.
— Eu sei, você precisava disso, sair um pouco com suas amigas pra se distrair.
— Gavi, tá tudo bem, não precisa fingir. Eu sei que você nunca concordou com isso, mas não disse nada, respeitou minha decisão.
— E é o que eu sempre vou fazer linda, respeitar suas decisões, mesmo que não concorde com elas.
Ela sorriu abraçando meu pescoço com uma mão e a outra tocando em meu rosto. Eu enlacei sua cintura nos deixando mais próximos.
— Eu só quero que você fique segura, que você fique bem. Que o nosso filho fique bem. Não acho uma boa ideia você ir pra uma boate, olha só o que aconteceu hoje, alguém podia ter te acertado, não quero nem pensar nisso.
— Você tem razão lindo, não é o tipo de lugar que uma grávida deve frequentar.
— Prometo que depois que você tiver o João e passar o período de amamentação, a gente vai pra uma boate e você pode encher a cara até cair. — falei baixinho e ela gargalhou com gosto.
— Eu vou cobrar hein Pablo Gavi.
— Pode cobrar. — sussurrei beijando seus lábios. — Eu vou tomar um banho rápido e já volto.
— Tá bom. — ela assentiu me beijando. — Enquanto você toma banho, eu vou procurar o que comer, tô cheia de fome.
— Vai lá. — falei rindo. — Tem um bolo que a Rosa fez pra gente.
— Hum, delícia.
Fiquei olhando enquanto ela pegava o celular e saía do quarto. Tirei o restante da roupa jogando no cesto de roupas sujas e fui tomar banho.
...
O treinamento de hoje era apenas para recuperação após o jogo de ontem. Pedri e de Jong também foram liberados pelo departamento médico para treinar junto com a equipe e se tudo corresse bem, já poderiam jogar no domingo.
Treinamos a manhã inteira e depois do almoço, Xavi me chamou para conversar. Ele me deu um esporro por conta do que aconteceu no vestiário em Getafe e eu simplesmente o encarei e disse que não estava arrependido e faria de novo para defender minha mulher. Ele acabou rindo e me mandou criar juízo.
Depois da nossa conversa, voltei para o vestiário e fui tomar um banho rápido. Ia ver a minha marrentinha agora, já estava morrendo de saudades dela. Queria muito poder levá-la para sair, andar de mãos dadas ou abraçados por aí, sem se preocupar se tem alguém com uma câmera ou um celular apontado pra gente.
Quando saí usando uma toalha em volta dos quadris e fui até onde ficava o meu armário, notei que meu celular chegava uma notificação atrás da outra. Eram mensagens e ligações, todas da Aurora.
Meu coração gelou. Pra ela me ligar daquele jeito era porque algo muito sério tinha acontecido.
Entrei no whatsapp para ouvir seus áudios e tomei cuidado para que os outros jogadores que também estavam no vestiário não escutassem.
— Gavi! Me desculpa, eu juro que não queria... — minha irmã estava nervosa e atropelava as palavras. — Ela parecia desconfiada e foi xeretar a caixa que eu tinha recebido! Eram coisinhas para o bebê! Ela perguntou se era pra mim, se eu tava grávida...
Aurora já estava chorando no áudio e eu quase tendo um treco.
— A mamãe já sabe de tudo irmãozinho! Me desculpa! Eu não queria que ela descobrisse assim...
Eu já não escutava mais o que ela falava, ou praticamente berrava na gravação. Eu só conseguia pensar na merda que tinha acabado de acontecer. Minha mãe descobriu sobre a gravidez da Babi, e da pior forma possível.
Puta merda Aurora, que vacilo do caralho!
Joguei o celular pra lá e vesti minha roupa o mais rápido possível. Eu precisava ir até a casa dos meus pais.
— Tá tudo bem Gavi? — Eric perguntou e parei olhando pra ele.
Todo mundo me encarava e notei que minhas mãos estavam tremendo.
— Tô... eu tô sim...
— Cê tá branco cara. Tá bem mesmo? — Eric se aproximou e eu assenti balançando a cabeça várias vezes.
— Tô sim.
Saí dali o mais rápido possível indo para o estacionamento. Eu só conseguia pensar na catástrofe gigantesca que estava se formando como uma nuvem negra pairando acima da minha vida.
Enquanto eu dirigia feito um louco pelas avenidas de Barcelona, meu celular que estava em cima do banco do passageiro tocou e vi o nome do meu pai na tela. Preferi deixar tocar e não atender, já estava nervoso o suficiente.
Furei alguns faróis vermelhos e devo ter levado umas duas ou três multas, mas cheguei na casa deles em tempo recorde e estacionei de qualquer jeito antes de sair praticamente correndo. Do portão já dava para ouvir a gritaria e respirei fundo enquanto subia rapidamente a escada que levava até a porta de entrada.
Não toquei a campainha e nem bati na porta, já fui logo entrando. Meus pais e Aurora olharam pra mim e fiquei com pena da minha irmã ao ver o rosto dela banhado pelas lágrimas, em seu olhar ela demonstrava o quanto se sentia culpada.
— Ótimo que você está aqui! — minha mãe gritou apontando o dedo pra mim. — Imaginei que a sua irmã tivesse avisado e eu estava certa!
A voz dela estava carregada de raiva e ódio.
— Que ideia idiota é essa Pablo de assumir o filho daquela aproveitadora?!
Fechei minhas mãos em punho e apertei com força para me manter no controle. Ouvir alguém falar dessa forma da Babi me tirava do sério, mesmo que essa pessoa fosse minha própria mãe.
— Mamãe, vamos conversar, com calma...
— Não me peça para ficar calma seu irresponsável! — ela esbravejou e meu pai se aproximou.
— Belén vamos deixar ele explicar, por favor. Fale Pablo.
— Não tem o que explicar pai, é meu filho, eu vou assumir.
— Assumir?! Você não vai assumir nada! Eu não permito!
Eu sabia que seria difícil lidar com ela quando soubesse e tentei me manter racional. Por mim, pelo meu filho e pela mãe dele.
— Belén, por favor! — meu pai pediu a olhando de novo. — Aurora não disse muita coisa, esse bebê que a Babi está esperando, é seu?
Encarei os dois, e também minha irmã que permanecia sentada em silêncio no sofá. Eu tinha uma decisão a tomar naquele momento, uma decisão que mudaria tudo. Eu poderia dizer que o João é meu filho de sangue, posso conversar com Babi depois e convencê-la. Tenho certeza de que nenhum dos nossos amigos que sabe de tudo, jamais diria nada.
Mas apesar de querer muito fazer isso, eu sabia que não podia. No fundo da minha mente, uma vozinha insistente me dizia para ser sincero, como eu sempre fui a minha vida toda. Que apesar de tudo, seria melhor assim.
Com o coração pesado e sabendo que de agora em diante as coisas seriam ainda mais turbulentas, eu me obriguei a contar a verdade.
— Não, ele não é meu filho de sangue.
— Você está vendo?! — minha mãe gritou apontando para mim de novo, mas olhando para o meu pai. — Olha a burrice que ele quer fazer Pablo! Jogar a vida dele fora para assumir o filho de outro cara que deve ter caído fora ao descobrir quem é aquela garota! Uma vadiazinha interesseira, isso sim.
— Belén!
O restinho de calma e racionalidade que eu ainda tinha, foi pelo ralo ao ouvi-la se referir assim da Babi.
— Mãe, pelo respeito que eu ainda tenho por você, eu te peço que nunca mais se refira assim a minha mulher. — falei com uma voz surpreendentemente calma, já que por dentro eu estava fervendo.
— Sua o quê seu moleque?! — ela fez menção de vir até mim, mas meu pai não deixou. — Você mal completou dezoito anos seu irresponsável e acha que já pode decidir algo desse nível!
— A vida é minha mãe e eu faço o que quiser com ela!
— Eu sabia que tinha algo de errado com aquela garota, sabia! Minha intuição não falha! Desde quando você contou que estava saindo com ela, eu percebi que algo não estava certo!
— Mamãe, por favor! — Aurora levantou tomando a frente dela. — Se você a conhecer, vai ver que não é nada disso que você pensa, ela é...
— Cale a boca e saia da minha frente! Você sabia de tudo e ajudou seu irmão a nos enganar! Eu não quero nem olhar pra sua cara nesse momento Aurora!
Minha irmã se afastou em silêncio e subiu correndo as escadas.
— Eu não vou aceitar isso nunca Pablo, você me ouviu?! Nunca!
Um flashback foi passando na minha mente, de todas as nossas discussões, todas as brigas. De alguma forma eu sabia que essa frágil trégua não iria durar, que ela não tinha se tratado, nem estava tentando melhorar. Estava enganando a si mesma, ou talvez fingindo para todos nós.
— Você não sabe o que aconteceu com a Babi, não faz ideia.
— EU NÃO QUERO OUVIR O NOME DAQUELA INFELIZ NA MINHA CASA!!!!
— VOCÊ NÃO VAI ME DEIXAR TER OUTRA ESCOLHA MÃE! — gritei revoltado por estar ouvindo tudo aquilo da mulher que eu amo.
— Pessoal, vamos conversar com calma...
— Com ela não dá pra conversar com calma pai, não dá. Sabe, eu desisto.
Me virei fazendo menção de ir até a porta, mas ela segurou meu braço e eu a olhei. Ela estava transtornada, quase fora de si. E eu, eu estava cansado de tudo aquilo, toda aquela situação.
— Você prefere ficar com aquela interesseira a ficar com a sua família?!
— Minha família não mãe, você. Se for pra escolher entre você e ela, eu fico com ela.
Minha mãe estava incrédula enquanto me encarava. Como se o golpe tivesse sido duro demais para ela suportar.
— Eu pedi a você! — falei já chorando, eu precisava desabafar. — Eu pedi que você se tratasse! Que você melhorasse! Assim não dá!
— Filho... — ela também já estava chorando e tentou me tocar, mas eu me afastei.
— Você me sufoca! Você quer me manter ao seu lado o tempo todo e sabe o que você consegue com isso mãe? Você me afasta cada vez mais e só você não percebe isso.
Sequei o rosto com o dorso da mão.
— Eu tô cansado disso, dessa situação. Você apronta mais uma, surta, depois pede desculpas e quer agir como se estivesse tudo normal. Não tá mãe, já não tem nada normal nessa família há muito tempo.
Meu pai a amparou, ele também estava emocionado.
— A Babi é a mulher que eu amo, a minha mulher e eu vou me casar com ela. O bebê dela pode ser de outro cara, pode não ter o meu sangue, mas é meu filho e eu vou assumir, você gostando ou não. Espero que você acorde e perceba o que está fazendo, ou vai acabar sozinha.
Virei as costas e saí sem olhar pra trás. Eu sabia que seria uma conversa difícil, mas não tinha ideia de que seria tão dolorosa.
Entrei no carro e liguei manobrando pra voltar a avenida principal. Eu precisava da Babi, precisava vê-la agora.
Raphael estava me dando uma surra no FIFA. Ele simplesmente conseguia cortar e desarmar todas as minhas jogadas.
Eu era melhorzinha em jogos de luta, futebol é melhor ficar só na torcida por eles mesmo.
— Joga a toalha? — perguntou me provocando e mostrei a língua fazendo ele dar risada.
— Você se acha demais, isso sim.
— Eu não diria isso irmãzinha, eu sou bom, isso é um fato.
Humildade passou longe desse aí.
— Se quiser apanhar mais um pouco, a gente joga de novo. Eu vou pegar alguma coisa pra comer e ver o que a Taia tá fazendo.
Fiquei observando enquanto aquele xarope ia para a cozinha.
— Convencido. — murmurei comigo mesma enquanto mexia no controle do Xbox. Acho que eu ia mudar de time pra ver se me dava sorte.
Thor que estava deitado perto de mim, levantou e correu até a porta. Logo depois a campainha tocou e fui abrir já sorrindo, eu tinha certeza de que era Gavi.
Minhas suspeitas se confirmaram ao vê-lo, mas meu sorriso se desfez ao notar sua expressão desolada, os olhos vermelhos e inchados. Ele parecia ter chorado e estava prestes a fazer isso de novo.
— Hei lindo, o que foi? — perguntei preocupada e Gavi deu um passo me abraçando com força enquanto seu corpo era sacudido por soluços.
— Me abraça Babi! Só me abraça! — ele pediu escondendo o rosto em meu pescoço e eu o abracei de volta, pensando no que poderia ter acontecido para deixá-lo desse jeito.
Levei ele para o meu quarto e fiquei ao seu lado o tempo todo. Ele deitou a cabeça em meu colo e fiz cafuné em seus cabelos, aos poucos ele foi se acalmando.
Fui buscar um copo de água e também falar com Rapha. Falei ao meu irmão que Gavi estava com dor de cabeça, por isso subimos direto para o quarto sem ele falar com ninguém. Menti que ia lhe dar um remédio, por isso a água.
Entrei no quarto fechando a porta e o encontrei na mesma posição que deixei. Deitado de costas na cama, encarando o teto.
— Trouxe água, bebe um pouco.
Gavi sentou na cama em silêncio e lhe entreguei o copo, ele bebeu mais da metade do líquido transparente. Deixando o restante em cima da mesinha de cabeceira.
— Se sente melhor? — perguntei indo sentar ao seu lado e ele me olhou, sua mão fazendo um carinho em meu rosto.
— Eu amo você, só isso importa. — Gavi sussurrou antes de beijar meus lábios e aquilo me preocupou.
— O que aconteceu? — perguntei quando se afastou e seus olhos desviaram dos meus. Realmente tinha acontecido algo, e algo sério pelo visto.
Ele suspirou recostando na cabeceira da cama e fiz o mesmo, seu braço passando sobre os meus ombros e me puxando para mais perto dele.
— Não queria te colocar no meio disso linda.
— Hei. — toquei em seu rosto fazendo com que ele olhasse pra mim. — Estamos juntos, lembra? Você é meu namorado, pai do meu filho, a gente vai até morar junto. — brinquei fazendo ele dar risada. — Seja lá o que for Pablo Gavi, se for relacionado a você, eu já estou no meio.
— Eu sei amor, só não queria deixar você estressada, preocupada.
— Você vai me deixar preocupada se não me contar.
Ele me olhou e me beijou com carinho, seus dedos tocando com delicadeza em meu rosto.
— Eu vou te contar por que não quero esconder nada de você, mas quero que fique calma porque já está resolvido.
Automaticamente eu já estava nervosa e preocupada, mas tentei disfarçar o máximo possível e sorri assentindo.
Gavi suspirou profundamente mais uma vez.
— Minha mãe já sabe que você tá grávida e que eu vou assumir o bebê.
Então finalmente aconteceu aquilo que eu mais temia, ela descobriu. E pra ele chegar aqui desse jeito, a coisa foi feia. Não conseguia deixar de me sentir culpada por toda essa situação.
— Como ela descobriu? — perguntei tentando manter a calma.
— Minha irmã vacilona comprando mais coisas para o bebê.
Puta merda! Tadinha da Aurora, ela deve tá se sentindo extremamente culpada.
— Minha mãe viu, perguntou se era dela, se ela estava grávida e ela nervosa acabou falando parte da história. Me ligou desesperada e corri pra lá, mas o estrago já tava feito.
Eu conseguia sentir a amargura e a mágoa em sua voz enquanto ele explicava.
— Vocês brigaram? — perguntei baixinho mexendo em seus cabelos.
— Ela ultrapassou um limite que não tem mais volta.
— Não amor, não fala assim. É a sua mãe.
— Uma mãe que não me escuta Babi, não respeita minhas decisões, não me entende. Ela nem se esforça pra tentar mudar. Eu sempre soube que tudo aquilo, aquele bom comportamento que ela tava tendo era frágil, passageiro. Ela faz e fala merda, pede perdão, diz estar arrependida, a gente perdoa e depois faz tudo de novo. Virou um círculo vicioso já, pra mim basta.
— Ela não aceita você assumir o João como seu filho, não é?
Gavi me encarou, seus olhos tão meigos e gentis estavam tristes. E aquilo cortou meu coração, vê-lo daquele jeito por algo relacionado a mim.
— Não. Eu deveria ter dito que ele é meu filho de sangue e pronto, ninguém iria contestar isso.
— Eu não aceitaria Gavi e você sabe disso. — afirmei e ele me olhou de novo. — Para o resto do mundo eu não me importo de todos acharem que você é o pai verdadeiro dele, pelo contrário. Mas para a sua família, para os seus pais, eles merecem saber a verdade.
— E de que adianta essa verdade pra minha mãe? Meu pai eu sei que vai entender, ele só precisa de tempo, mas ela, hoje eu tive certeza de que ela nunca vai aceitar.
Ouvir aquilo também me doía, porque ela era a mãe do homem que eu amava. Eu já estava distante dos meus pais por ter escolhido o meu filho, não queria que o mesmo acontecesse com ele.
— Eu sinto muito que tenha chegado a esse ponto por minha causa...
— Não amor. — ele me interrompeu me olhando. — Nada disso é culpa sua Babi, jamais pense assim. Eu amo você, quero ficar com você, é uma pena que ela não te veja da forma como eu vejo. Você me compreende, me escuta, me ajuda a ser um cara melhor, tem me ensinado muito. Todo mundo fala que eu mudei, que tô mais responsável e me sinto bem com isso sabe, só ela que não vê...
Ele já estava chorando de novo e o puxei para os meus braços querendo consolá-lo. Ver Gavi magoado daquele jeito doía demais em mim, eu me senti da mesma forma quando meus pais me colocaram pra fora de casa. É um sentimento de abandono e perda terrível, uma ferida que vai demorar muito pra fechar, se é que ela fecha algum dia.
...
Gavi dormiu aqui comigo e eu tentei o máximo possível animá-lo. Pedi pizza e sorvete que ele adorava, comemos quase um pote de ambrosia. Fizemos maratona de uma série sobre a dinastia inglesa Tudor, ele era fã de séries e filmes históricos. Mas eu percebia que nada do que eu fizesse iria apagar a tristeza que ele sentia por ter brigado com a mãe.
Terminei de me arrumar a cama e fui tomar um banho rápido, iria para a academia junto com Taia. Antes que eu fosse para o banheiro, meu telefone começou a tocar. Era Dani.
— Bom dia Lindinha
— Bom dia Florzinha. — ela disse animada.
— Oi amiga.
— Que voz triste é essa Babi? O que aconteceu?
Éramos amigas a tanto tempo que uma simplesmente sentia quando a outra não estava bem.
— A mãe do Gavi descobriu sobre a minha gravidez e eles brigaram. — fui direto ao ponto.
— Sério amiga? Deve ter sido horrível.
— Foi sim, ele chegou aqui chorando depois de discutir com ela. Tive que disfarçar para o meu irmão não perceber.
— Eu imagino, essa mulher vou te contar viu. Vontade de dar um sacode nela. Não conheço pessoalmente, mas já odeio.
— Eu tô me sentindo mal com isso amiga, saber que ele brigou com ela por minha causa.
— Não amiga, não fica assim. Gavi fez uma escolha, ele escolheu você e o meu afilhado porque te ama, nunca se sinta culpada por isso. A mãe dele é narcisista, egoísta, quer controlar a vida dos filhos de qualquer forma, Gavi principalmente por ser o caçula e ser homem. Muitas vezes isso não é discutido, as vezes até considerado "normal", mas algumas mães têm uma obsessão com seus filhos homens, assim como os pais têm com as filhas, não aceitam que eles tenham parceiros em suas vidas que se tornem o centro de suas atenções porque eles não querem perder esse posto.
— Meus pais são desse tipo. — comentei e ela sorriu de leve.
— São sim, infelizmente. Concluindo o que eu tava dizendo, a mãe de Gavi, assim como os seus pais, precisam seguir um tratamento com terapia comportamental pra aprender a lidar com essa obsessão e carência pela atenção total dos filhos.
— Ela tava vendo uma psicóloga, mas parece que não valeu de nada.
— Não valeu porque ela não estava sendo sincera em querer mudar, estava apenas fingindo.
— Gavi disse isso.
— E ele está certo. Quanto a você, mantenha a calma e tente ficar distante dessa confusão toda, e não fique querendo saber o que acontece, só vai te fazer mal.
— Tá bom.
— Boa garota. — Dani disse sorrindo.
O difícil seria eu conseguir me manter afastada ou não querer saber o que ela estaria falando sobre mim.
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