Capítulo Um
Alguns capítulos serão narrados pelos dois pontos de vista pra vcs terem uma experiência mais gostosa 😉
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O Uber rodava pelas ruas de Barcelona, essa cidade me encantava de uma forma inexplicável. Depois da minha terra natal Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, a capital catalã com certeza é o meu segundo lugar favorito no mundo desde que tinha vindo aqui pela primeira vez.
Ver as construções históricas conseguiu desviar meus pensamentos da bagunça que acontecia em minha vida. Eu não sabia o que fazer, qual caminho seguir. Meu primeiro pensamento foi pegar minhas coisas, enfiar o que coubesse nas malas e pegar o primeiro voo rumo à Barcelona onde estava a única pessoa que com certeza ainda me amava e poderia me ajudar, meu irmão.
O carro parou em frente ao condomínio de luxo que ficava em uma área nobre da cidade. A tarde ia caindo e com isso ficava cada vez mais frio e nublado. Talvez até chovesse mais tarde.
O motorista desceu e abriu a porta para mim.
— Muito obrigada. — agradeci em catalão. Eu tinha feito questão de aprender o idioma para quando viesse visitar meu irmão, e também porque gostava de tudo que se relacionava a Barcelona.
Andei até a portaria enquanto esfregava minhas mãos geladas uma na outra, não por estar com frio, mas pelo nervoso que me consumia.
— Oi seu Iván. — cumprimentei o porteiro.
— Olá senhorita. Você é a irmã do senhor Raphael, não é?
— Isso mesmo. — assenti sorrindo. — Como o senhor está?
— Estou bem e você como está? — o senhorzinho tinha por volta de cinquenta anos e era super gente boa.
— Bem. — respondi tentando dar um sorriso simpático, na verdade eu estava longe de estar bem, mas ele não precisava saber disso. — Pode liberar minha entrada, por favor?
— Claro. Quer que eu interfone para o seu irmão?
— Não precisa, eu quero fazer uma surpresa pra ele.
— Está certo. Eu vou ajudá-la com essas malas.
— Obrigada.
Os dois homens colocaram minhas malas para dentro e agradeci ao motorista do Uber.
— Pode ficar com as minhas malas um pouco, eu já volto para buscá-las. — pedi ao porteiro que sorriu assentindo.
— Claro, pode ir lá.
Agradeci mais uma vez e fui em direção a área externa do condomínio onde ficavam as casas.
Me lembro de ter ficado encantada quando vim aqui pela primeira vez no ano passado, durante as férias da faculdade. Rapha tinha acabado de comprar a casa e queria muito que eu viesse vê-la, já que segundo ele, minha opinião profissional era muito importante.
As casas iguais, na verdade eram verdadeiras mansões. Todas lindas, com fachadas incríveis e na cor branca. Não conseguia esconder meu entusiasmo quando encontrava alguma construção desse tipo e sempre gostava de imaginar o que eu poderia fazer para deixá-las ainda melhor. Fazia isso desde quando eu era criança.
Isso estava em meu sangue, sempre fui apaixonada por desenhar plantas de imóveis, construir maquetes e tirar fotos dos prédios que eu gostava. Eu nasci para isso e não hesitei em entrar na faculdade de Arquitetura. Amava o que estava aprendendo a fazer e tinha o dom para a coisa.
Andei mais um pouco e parei em frente a segunda casa do lado esquerdo, subi os degraus de mármore branco com o coração disparado no peito.
Ergui a mão para tocar a campainha, mas parei ao ouvir uma música tocando dentro da casa. Notei também pessoas rindo e conversando. Aparentemente estavam dando uma festa e nesse momento me recriminei por não ter avisado que eu estava vindo, mas agora era tarde.
Respirei fundo e toquei a campainha. Passei a mão pelos meus cabelos negros longos e lisos em um gesto nervoso enquanto esperava.
Não apareceu ninguém e imaginei que não escutaram devido ao barulho que vinha lá de dentro e toquei de novo.
Tirei os óculos escuros que cobriam meus olhos castanhos e os pendurei na gola da blusa, espero que meu rosto não esteja muito inchado depois de ter chorado o tanto que eu chorei. Tirei também o boné branco e alisei meus cabelos.
Esperei por alguns segundos e novamente ninguém atendeu, então eu decidi entrar. Respirei fundo mais uma vez tentando manter a calma e pressionei a maçaneta preta para baixo devagar.
A primeira coisa que registrei foi a música que tocava, era Chantaje da Shakira. O clima parecia divertido já que a galera estava sorrindo e conversando, e quase todos tinham garrafas de cerveja na mão ou algum copo.
Fechei a porta atrás de mim e dei alguns passos olhando ao redor procurando por um rosto conhecido, mas não encontrei. Percebi que estava chamando atenção e fiquei um pouco envergonhada, principalmente porque eu estava desarrumada, usando calça legging, moletom e tênis.
Antes que eu me movesse novamente, meu irmão apareceu vindo da cozinha trazendo duas garrafinhas long neck, uma em cada mão. Ele estava sorrindo e parecia bem feliz e meu coração se apertou de saudades, e também de vergonha e medo pelo motivo de eu estar aqui.
Rapha entregou as garrafinhas para dois rapazes e se virou, foi então que ele me viu e sua expressão, antes sorridente, foi substituída por uma de espanto.
— Babi... — ele balbuciou ainda surpreso.
— Oi Rapha.
Não pensei em nada e corri me jogando em seus braços que sempre foram o meu refúgio e o meu porto seguro desde criança. Ele me apertou de volta e segurei a vontade de chorar.
— O que você tá fazendo aqui garota? — ele perguntou ainda abraçado a mim. — Por que não me disse que vinha? Eu ia te buscar no aeroporto.
Me afastou ainda sorrindo, mas não consegui segurar a emoção e meus olhos ficaram marejados. Percebi a preocupação e o temor em seu olhar antes dele me abraçar novamente com seu instinto protetor.
— O que aconteceu Babi?! — perguntou nervoso. — Alguém te fez alguma coisa?
Antes que eu pudesse dizer algo, senti alguém tocar meu ombro e me virei vendo o rosto de uma das minhas melhores amigas, a esposa de Rapha.
— Babi o que aconteceu? — ela perguntou também surpresa e não hesitei em abraçá-la também.
— Oi Taia... — murmurei agarrada a ela. Seu nome era Natália, mas sempre a chamamos pelo seu apelido.
— Amiga o que aconteceu? — ela perguntou novamente e percebi que todo mundo olhava pra gente.
Meu olhar cruzou com o de um cara sentado no braço do sofá que ficava ao lado da escada, ele estava de braços cruzados e senti que me encarava com curiosidade.
Desviei meu olhar do dele e me afastei de Taia me sentindo ainda mais envergonhada por estar chamando atenção daquele jeito.
— Desculpa aparecer assim, eu...
— Não Babi, não se desculpa. Vem, vamos conversar lá em cima. Amor você cuida de tudo?
— Claro, vai lá.
Rapha abraçou meus ombros e fomos em direção a escada. Não tive coragem de erguer a cabeça e encarar as pessoas, me percebi ele dar um leve aceno para eles.
Sequei os olhos com a manga da blusa enquanto Rapha me conduzia pelo corredor no andar de cima, até que ele parou em frente a porta da sua suíte e de Taia.
— Rapha me desculpa mesmo, eu não imaginava que você tava dando uma festa. — falei quando ele abriu a porta e nós entramos. Eu com certeza devo ter assustado os seus convidados.
— Relaxa maninha, tá de boa, são meus colegas de time.
Rapha era jogador de futebol e atualmente defendia o Futbol Club Barcelona depois de ter assinado contrato ano passado.
— Mas se você tivesse me avisado que tava vindo, isso não teria acontecido né dona Bárbara. — ele continuou e eu dei um sorrisinho sem graça.
— Foi meio que em cima da hora. — falei tirando minha bolsa e deixando em cima de uma poltrona junto com o boné.
— Percebi. Agora me explica, por que você veio pra Barcelona assim sem me avisar? E por que esse choro Babi? A gente conversou ontem de manhã e tava tudo bem.
Sorri tristonha comigo mesma enquanto secava meu rosto novamente com a manga da blusa.
— Até ontem à tarde eu não sabia que minha vida ia virar do avesso. — comecei a explicar toda aquela bagunça e sentei na enorme cama de casal cruzando as pernas. Rapha veio se sentar ao meu lado.
— O que foi maninha? — perguntou carinhosamente abraçando meus ombros e apertando de leve.
Antes que eu abrisse a boca, a porta foi aberta e Taia entrou trazendo uma xícara nas mãos. Antes mesmo que ela se aproximasse, eu reconheci o cheiro e meu estômago virou do avesso novamente.
— Toma, vai te fazer bem. — disse me entregando a xícara com o líquido fumegante, mas eu recusei.
— Não dá... — murmurei tentando controlar a náusea que veio com tudo e respirei fundo fechando os olhos.
— É chá de camomila, você sempre gostou. — Taia disse colocando a xícara em cima da mesinha e eu quase pedi para ela levar aquele chá pra bem longe de mim.
— Babi o que aconteceu? Eu to ficando preocupado de verdade. — Raphinha perguntou de novo e olhei para ele respirando fundo mais uma vez.
— Eu estraguei minha vida Rapha.
Ele e Taia trocaram olhares preocupados e depois me encararam novamente.
Me olhei mais uma vez no espelho e passei a mão nos cabelos tentando ajeitá-los, eu realmente não me importava muito com esse negócio de aparência, me considero um cara comum, nada demais. Peguei o celular, carteira e chaves do carro antes de sair do quarto.
Desci a escada de dois em dois degraus e vi minha mãe sentada no sofá com o tablet na mão.
— Tô saindo. — falei passando direto não querendo me estressar.
— Vai pra onde filho?
— Tchau mãe.
Saí sem olhar pra trás ouvindo ela reclamar. Minha mãe sempre foi superprotetora em relação a mim e a minha irmã, mas ultimamente ela tem passado dos limites comigo e isso vem causando discussões feias entre nós dois, com meu pai e Aurora entrando no meio as vezes.
Eu já tenho dezoito anos, acabei de tirar minha carteira de motorista, tenho minha independência financeira com o meu trabalho, estou sempre os ajudando, e eu só quero liberdade pra curtir minha vida do jeito que eu quiser e sem dar satisfações a ninguém.
Eu amo minha mãe demais, mas ela está me sufocando agindo desse jeito e me afastando dela. Dona Belén não sabe o que é respeitar limites. Eu tô pensando seriamente em aceitar a proposta que Pedri e Ferran me fizeram de ir morar junto com eles na cobertura que os dois alugaram. Além de ter minha liberdade, vou ficar mais perto do Camp Nou e do centro de treinamento.
Eu e minha família nos mudamos de Sevilha onde eu nasci quando entrei no Barcelona ainda criança, mas sempre íamos pra lá em alguns finais de semana e feriados rever a família e os amigos. A casa de lá tá fechada e meu pai conversou comigo sobre a possibilidade de ele e minha mãe voltarem pra lá, ficar perto dos meus avós, agora que eu já sou adulto.
Eu imagino que ela vai surtar já que eu vou ficar aqui e com certeza Aurora também, já que ela trabalha como modelo e quer começar a faculdade de Fotografia, além claro do fato de seu namorado estar aqui em Barcelona. Até pensei de a gente alugar um apê juntos, mas ela vive grudada naquele namorado dela. Eu gosto do cara, mas me dá nos nervos os dois juntos, é tanto chamego que me deixa enjoado.
Entrei na garagem e fui até o meu bebê, o primeiro de muitos.
Desativei o alarme e o Aston Martin DB9 branco piscou os faróis.
Entrei colocando o cinto de segurança e manobrei pra fora da garagem, o portão eletrônico se fechando logo depois que passei. O trânsito de Barcelona estava tranquilo, o que chegava a ser raro esse horário e em dia de semana.
O semáforo fechou e liguei o rádio conectando com minha playlist de músicas no spotify. 2step do Ed Sheeran começou a tocar e bati os dedos no volante seguindo a batida da música.
O sinal abriu e peguei a faixa da direita dando seta que iria virar na próxima saída.
Meu celular começou a tocar e atendi pausando a música. Era Pedri.
— E aí.
— Tá onde Gavira?
— Indo pra casa do Raphinha, vocês já saíram?
— Já sim, Ferran vai passar na casa da Sira antes pra pegá-la, daqui a pouco a gente tá lá.
— Falou, té mais.
— Beleza.
A ligação foi encerrada e a música voltou a tocar.
Eu espero que já tenha alguém lá quando eu chegar, não gosto de chegar sozinho em lugares que eu não conheço. Raphinha é gente boa demais, mas é a primeira vez que ele chama a galera pra ir à casa dele.
Alguns não puderam ir por já ter compromissos, eu até pensei em não ir também e descansar, Xavi tá arrancando nosso couro nos treinos. Mas distrair a mente é sempre bom.
O condomínio onde Raphinha mora não é longe e assim que eu dobrei a próxima esquina, um carro emparelhou comigo e buzinou. Olhei e vi a Ferrari preta de Ansu.
Ele acenou e eu abaixei o vidro acenando também. Ele passou na minha frente e buzinou de novo, eu buzinei em resposta e o segui.
Dois minutos depois paramos na entrada de visitantes do condomínio. O porteiro liberou nossa entrada e indicou o estacionamento para visitantes.
Estacionamos lado a lado e desci indo até ele.
— Qual é a casa mesmo? — Ansu perguntou me olhando e dei risada balançando a cabeça. Esse é distraído por natureza. Raphinha disse pra gente e ele não deu a mínima atenção.
— A segunda do lado direito. — respondi enquanto guardava a chave do carro no bolso da minha calça jeans.
Chequei meu celular enquanto a gente andava e já tinha um monte de mensagem da minha mãe. Não respondi e coloquei no modo silencioso antes de guardá-lo no meu bolso.
Subi na frente e toquei a campainha. Cinco segundos depois a porta abriu e uma loira estonteante apareceu sorridente.
— Pablo Gavi e Ansu Fati, certo? — ela perguntou divertida e a gente só balançou a cabeça assentindo. — Eu sou a Natália, esposa do Raphinha. Entrem e fiquem à vontade.
Ela cumprimentou nós dois com apertos de mãos e deu licença pra gente passar. Bonita e cheirosa pra caramba!
— Porra! Que gata! — Ansu murmurou e dei uma cotovelada nele antes de olhar pra trás e me certificar que Natália não tinha ouvido.
— Deixa de ser sem noção.
— Só tô falando, ela é bem gata mesmo. Preciso ir no Brasil conhecer a mulherada de lá.
Dei risada balançando a cabeça enquanto ia falando com a galera. Araújo como sempre fazia algumas de suas gracinhas.
Raphinha veio falar com a gente e ofereceu bebidas, mas eu recusei por estar dirigindo. Ansu pegou uma Budweiser e disse que ficaria somente naquela, coisa que eu duvido muito.
Aos poucos outros jogadores foram chegando, alguns traziam esposas e namoradas. A galera da comissão técnica também foi convidada, mas poucos vieram.
Vinte minutos depois que a gente chegou, Sira, Ferran e Pedri chegaram, este último tava com uma cara feia e emburrado.
— O que aconteceu? — perguntei quando eles chegaram até mim.
— Ele tá com raiva porque eu fiz ele descer e ir no banco de trás. — Sira explicou divertida e Pedri a encarou com cara de poucos amigos.
Eu e Ansu demos risada e ele ficou furioso.
— Eles ficaram quase dez minutos discutindo pra ver quem vinha na frente, por isso a gente demorou. — Ferran explicou fazendo a gente rir ainda mais.
— Se você tivesse aceitado minha carona, não teria vindo no banco de trás. — falei antes de dar um gole na minha garrafinha de H2O limão.
— Vou me lembrar disso na próxima vez. — Pedri murmurou ainda fuzilando Sira com o olhar e ela deu de ombros pra ele ainda rindo.
— Alguém viu a Taia? Eu queria falar com ela. — a garota perguntou e olhamos pra ela.
— Quem? — Ansu perguntou antes que eu abrisse a boca.
— A esposa do Raphinha, eu a conheci no CT e gostei muito dela.
Entendemos que Taia é o apelido da Natália.
— Ela tá na cozinha. — Ansu explicou apontando para trás com o polegar.
— Eu vou até lá. Amor segura minha bolsa.
Sira beijou o namorado antes de se afastar e entregou a bolsa pra ele. Ferran pegou o objeto preto e passou a alça pelo pescoço pendurando ela de modo transversal no corpo. Eu confesso que não entendo por que as mulheres saem de bolsa e fazem os namorados carregarem, minha irmã faz a mesma coisa com o namorado dela. Isso não vai rolar comigo não.
— Até que veio muita gente. — Pedri comentou olhando ao redor e fiz o mesmo.
Araújo chamou Ansu na rodinha que ele tava junto com Marcos Alonso, Iñaki Peña e Sarah, a namorada de Peña.
Tinha um sofá ao lado da escada e fomos sentar lá. Pedri e Ferran se sentaram nos dois lugares disponíveis e eu me sentei no braço ao lado de Pedri.
— Aí Gavira, cê sabe da última fofoca que tá rolando lá no CT? — Pedri perguntou rindo e olhei pra ele balançando a cabeça.
— Eu não, o que foi?
Ele e Ferran deram risada e eu acabei rindo também, mas sem nem saber do que. Com a gente era assim. Desde quando os conheci, os dois se tornaram meus melhores amigos dentro e fora do Barcelona. Era só um olhar pro outro e sabia que tinha coisa errada.
— Para de rir caralho e conta logo! — falei o empurrando de leve e ele deu mais risada ainda.
— Parece que tem um jogador casado traindo a mulher e a amante tá grávida. — Pedri revelou em voz baixa e a gente riu de novo.
— Eita porra!
— Começou pelo Piqué e tem gente dando continuidade. — Ferran comentou entre risos e dei risada bebendo mais um gole da minha H2O.
Eu não concordava com esse negócio de traição. Uma tia minha, irmã do meu pai foi traída pelo ex-marido e sofreu pra porra com isso, até depressão ela teve. Eu tinha uns doze anos na época e fiquei super mal vendo ela daquele jeito. Jurei a mim mesmo que eu não faria aquilo com ninguém, prefiro terminar antes do que fazer esse tipo de coisa.
Por enquanto eu não queria saber de relacionamento sério, minha vida pessoal já era especulada o bastante pela mídia. Ano passado inventaram que eu e a princesa Leonor, herdeira ao trono, estávamos juntos, o que era uma baita mentira. Nunca conheci a garota e nem pretendo, sei mais ou menos como funcionam as coisas na realeza e não quero isso pra mim. Se ela tem um caderno com fotos minhas e é a fim de mim, eu fico lisonjeado, mas não posso fazer nada e nem quero.
E teve também a parada com a Ana, uma antiga amiga minha lá de Sevilha. A gente ficou algumas vezes, nada além disso, mas algumas fãs minhas começaram a persegui-la no Instagram e eu resolvi colocar um ponto final e ela estava de acordo, já que não queria essa exposição toda. A gente se fala as vezes, mas não vai rolar mais nada.
Pedri e Ferran estavam tentando descobrir quem era o jogador casado que estava tendo um caso e foquei na conversa, dando minha opinião também.
Sira veio da cozinha e se sentou no colo do namorado.
— Gente eu adoro a Taia, sério, ela é maravilhosa.
Sou obrigado a concordar. Pensei comigo mesmo.
— Já me sinto amiga íntima dela. Amor ela chamou a gente pra ir pro Brasil nas férias, eu já quero.
— Você que manda. — Ferran disse parecendo um bobo e eu e Pedri olhamos pra ele. Parecia que eu tava vendo uma cópia de Aurora e o namorado.
Voltamos ao assunto da traição.
— Quem são os jogadores casados mesmo? — Sira perguntou decidida a nos ajudar na investigação. — Lewandowski, o Alba...
— Lewa não é. — Pedri opinou. — Ele é doido pela mulher.
— Também acho que não é ele. — concordei com ele. — Tem o Stegen.
— Busquets também é casado. — Ferran disse pensativo. — Dembélé.
— São muitas opções. — Sira comentou olhando pra nós três. — Vocês têm que ficar de olhos e ouvidos bem abertos pra descobrir quem é.
Pronto, viramos repórteres procurando a próxima notícia bombástica.
Eles continuaram conversando e dando risada até que meu olhar foi atraído para uma garota que tinha acabado de chegar.
Ela entrou devagar e olhava ao redor como se estivesse procurando alguém. Vasculhei minha mente a procura de alguma lembrança com ela, mas não veio nada. Eu com certeza nunca a vi, se tivesse visto, jamais esqueceria.
Meu olhar varreu cada centímetro dela, percebendo seus dedos torcerem levemente o boné branco em uma atitude nervosa, era óbvio que ela estava tensa.
Aos poucos, todo mundo foi percebendo a sua presença e isso com certeza a deixou sem graça.
— Quem é? — Pedri perguntou e ouvi vagamente Sira responder alguma coisa, mas não dei atenção.
Meu olhar caiu em seus longos cabelos negros e lisos, decididamente eu tinha um fraco por morenas. Ela era absurdamente linda e a calça legging que usava detalhava perfeitamente seu corpo, e que corpo. Nem mesmo o moletom que cobria seu tronco até os quadris conseguia disfarçar.
Então de repente ela abriu um sorriso para o nosso anfitrião e se jogou em seus braços. Raphinha a abraçou de volta nos deixando ainda mais curiosos.
Ouvi ele perguntar alguma coisa, mas não entendi, acho que eles estavam falando em português.
Raphinha parecia nervoso e Natália se aproximou tocando no ombro da garota que também a abraçou.
As expressões do nosso colega de time e da mulher dele deixavam claro que nenhum dos dois esperava por essa visita.
O olhar da garota cruzou com o meu por um instante e eu não consegui desviar. Eles me pareciam castanhos claros, mas foi tão rápido que não dá pra ter certeza.
Eles conversaram mais um pouco o que me parecia ser ainda em português e Raphinha a abraçou antes de conversar algo com a esposa. Ele veio em nossa direção e acenou para nós com a cabeça antes de subir as escadas abraçado a garota morena.
Era óbvio o clima de curiosidade presente na sala e Natália escapuliu para a cozinha antes de alguém perguntar alguma coisa. Sira se levantou e foi atrás dela.
— O que será que aconteceu? — Pedri perguntou levemente surpreso, acho que todos nós estávamos assim.
Ferran deu de ombros, seu olhar focado na porta de ligação com a cozinha, para onde Sira tinha ido.
— O que cê acha que aconteceu? — Pedri perguntou novamente me empurrando com ombro e olhei para ele.
— Sei lá. — respondi dando de ombros. — Tu é curioso Pedri, parece aquelas velhas fofoqueiras.
Ele me encarou fazendo uma expressão de ultraje.
— Eu não sou fofoqueiro, eu só gosto de saber das coisas.
— E qual é a diferença? — indaguei tentando não dar risada.
— A diferença é que eu não saio por aí espalhando o que eu sei. — Pedri explicou como se aquilo fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Araújo se aproximou de nós enquanto bebia sua cerveja Heineken.
— Rapaz sei nem quem é, mas apaixonei. Tremenda gata.
A gente não aguentou e começou a dar risada.
— Cara, tu não pode ver um rabo de saia que já vai atrás. — Pedri o provocou ainda rindo.
— O que eu posso fazer se eu sou irresistível? — perguntou fazendo a gente rir novamente.
Ele se achava demais, essa era a verdade.
— Você sai atirando pra todo lado, isso sim. — Ferran apontou o dedo indicador pra ele. — Deu em cima até da minha namorada.
— Em minha defesa, eu não sabia que vocês estavam namorando. — Araújo se defendeu levando a mão ao peito fazendo eu e Pedri cair na gargalhada.
Ferran balançou a cabeça em negação olhando pra ele e tentando não dar risada também.
Natália e Sira vieram juntas da cozinha, a loira subiu a escada levando uma xícara e Sira se sentou novamente no colo do namorado.
— Conta tudo! — Araújo pediu tentando sentar no sofá de dois lugares apertando Pedri que reclamou.
— Ai caralho! Você é cego porra?! Tá vendo que só cabem duas pessoas aqui!
Araújo fez um gesto de mão como se estivesse o dispensando e Pedri o empurrou fazendo com que ele esbarrasse em Sira e Ferran que o empurraram de volta para Pedri, que quase esbarrou em mim também, mas meu reflexo foi rápido e me inclinei pra trás a tempo.
— Gente para! — Sira pediu séria. — Tá todo mundo olhando pra cá!
— Sair com esse povo dá nisso! — Ferran comentou enquanto acariciava as costas da namorada.
Pedri e Aráujo se olharam e viraram a cara um para o outro, parecendo duas crianças birrentas.
— E aí, quem é a garota? — o uruguaio perguntou e Pedri olhou também, pois estava interessado na fofoca. Eu também tava, porém jamais admitiria isso.
— O nome dela é Bárbara e ela é irmã do Raphinha. — Sira revelou baixinho nos deixando surpresos.
Então o nome dela é Bárbara.
— Mas ele não tem irmã, só um irmão mais novo. — Ferran comentou a encarando.
— Na verdade amor, essa garota é prima dele, mas é como se fosse uma irmã caçula. — Sira explicou e assentimos entendendo. — Taia disse que ele a protege e defende de tudo.
— Por que ela tava chorando? — Pedri indagou e eu também queria saber o motivo da sua expressão tristonha.
— Isso eu não sei. — Sira respondeu. — E acho que nem a Taia e nem o Rapha sabem, já que eles não tinham ideia de que ela tava vindo pra Barcelona. Ela disse que elas se falam todo dia e estranhou o fato de a Babi, como ela é carinhosamente chamada, não ter respondido hoje de manhã.
— Porque ela tava no avião vindo pra cá. — Araújo concluiu e Sira assentiu.
— Isso mesmo.
— Será que não é melhor a gente ir embora? — Ferran perguntou encarando a gente e a namorada. — Vai que eles tão conversando alguma parada séria e a gente aqui atrapalhando.
— Taia disse que a gente podia ficar à vontade. — Sira disse dando de ombros. — Vamos esperar um pouco pra ver.
Eles concordaram e eu fiquei quieto. Continuaram o assunto sobre a misteriosa "irmã" do Raphinha.
Ansu se aproximou parando ao meu lado.
— E aí moleque, tu vai pra onde depois daqui? — ele me perguntou baixinho.
— Acho que pra casa, amanhã tem treino. — respondi no mesmo tom de voz. — Por quê?
— Bora dar um pulo na casa de uma conhecida minha? Tá rolando uma festinha lá, aniversário de uma amiga dela.
Um sorriso surgiu em meu rosto. Essas saídas com o Ansu até que tão rendendo, sempre tinha alguma gata gostosa disponível. Eu realmente tava precisando daquilo, os treinos estão puxados. Xavi está querendo arrancar o nosso couro, isso sem contar minha mãe enchendo minha paciência.
— Bora. Daqui a pouco a gente sai.
— Fechou. — Ansu concordou e fizemos um toque. — Vou avisar pra ela que a gente vai.
Ansu se afastou digitando algo no celular e eu voltei minha atenção para os malucos ao meu lado.
— Sai caralho! — Pedri gritou empurrando Araújo e quase o derrubando do sofá fazendo todo mundo dar risada. Esses dois não tem jeito.
Eu me levantei para ir ao banheiro e quando voltei Raphinha estava conversando com meus amigos.
— Mas ela tá bem? — ouvi Pedri perguntar quando ia me aproximando e olhei para o brasileiro esperando sua resposta.
— Tá sim, foi só um susto. — ele respondeu sorrindo.
Pelo modo como ela chegou aqui eu tinha certeza de que não foi somente um susto, tem mais nessa história.
— Fiquem à vontade e se precisar de qualquer coisa falem comigo ou com a Taia. — Raphinha continuou. — Eu vou até a portaria pegar as malas da Babi, ela deixou lá com o porteiro.
— Aí cara quer ajuda? — Araújo se ofereceu e Pedri olhou para ele.
— Na verdade, eu vou querer sim, se você não se importar é claro. Não sei quanto bagagem ela trouxe, esqueci de perguntar.
— Imagina, bora lá.
— Também vou ajudar. — Pedri também se ofereceu, percebi Ferran e Sira tentando segurar a risada e fiz o mesmo.
Fiz um sinal para Ansu avisando que já estava na hora. Iria aproveitar que Raphinha tava saindo e já ia embora. Meu amigo entendeu e se aproximou.
— Rapha eu já to indo cara, eu tenho umas coisas pra fazer hoje ainda. Valeu pelo convite.
Pedri e Ferran me encararam com curiosidade e nem dei atenção aqueles dois fofoqueiros.
— Imagina cara, eu agradeço por ter vindo. — Raphinha disse e trocamos um abraço rápido. Ansu também agradeceu a ele pelo convite e se despediu.
Saímos todos juntos da mansão e esfreguei meus braços sentindo frio. A temperatura estava caindo bastante a noite. Ainda bem que eu sempre deixava um casaco no carro. Eu e Ansu fomos para o estacionamento, Raphinha, Pedri e Araújo foram em direção a portaria.
Me aproximei do meu carro e destravei entrando rapidamente por causa do frio.
Peguei o casaco que estava no banco de trás e vesti. Me olhei no espelho retrovisor ajeitando meu cabelo e abri o porta-luvas, peguei minha carteira e conferi se tinha camisinha, ainda tinha três pacotinhos.
A verdade é que não faz tanto tempo assim que eu perdi a virgindade, mas meus amigos jamais poderiam saber disso, ou eu seria zoado para o resto da minha vida. Ainda tô aprendendo, mas acho que até agora eu me saí bem, ninguém reclamou. Descobri que tentar aprender com vídeos pornôs é uma péssima ideia, a vida real é bem diferente. Eu nunca fui muito fã daquilo, assistia alguns só pra ter uma noção mesmo, mas não foi legal.
Guardei as camisinhas no meu bolso e coloquei a carteira de volta onde estava.
Enquanto esperava Ansu, conferi meu celular e minha mãe já tinha mandado quase umas trinta mensagens.
Rolei os olhos irritado e decidi gravar um áudio em resposta.
— Só vou chegar mais tarde mãe, e por favor, não fica ligando ou mandando mensagem.
Sabendo que provavelmente ela faria exatamente o contrário do que eu pedi, guardei o celular junto com carteira. Eu realmente tô de saco cheio disso.
A Ferrari de Ansu acendeu os faróis e passou ao meu lado buzinando. Buzinei de volta e liguei meu carro enquanto colocava o cinto de segurança.
Manobramos pra fora do condomínio e segui meu amigo pelas ruas de Barcelona.
Taia tinha me trazido até o quarto de hóspedes e desceu para me preparar algo para comer. Eu não tava com fome, mas ela insistiu dizendo que eu precisava me alimentar bem, ainda mais agora.
Coloquei meu celular pra carregar e me sentei na poltrona cinza que ficava ao lado da porta. Olhei para o quarto reparando em todos os detalhes, eles tinham reformado todo o andar superior depois que eu vim aqui a última vez.
A enorme cama de casal no centro do quarto estava coberta por uma colcha branca com detalhes na cor salmão, as fronhas dos travesseiros e almofadas decorativas também eram nessa mesma cor, ao lado dela ficava a porta para o banheiro. Do lado direito do quarto ficava um guarda-roupa de casal branco, uma de suas portas era toda espelhada. De frente para a cama tinha uma cômoda de seis gavetas também branca e em cima dela, uma Smart TV.
Do lado oposto ao guarda-roupa ficava a janela com sacada, as cortinas estavam parcialmente abertas e as portas de vidro fechadas, impedindo o vento frio de entrar. A vista era para a noite iluminada de Barcelona, para onde eu estou olhando agora.
Eu tô me sentindo perdida, não faço ideia de qual caminho seguir. Sinto que minha vida toda tá descendo pelo buraco de um ralo e não posso fazer nada pra impedir.
Sequei os olhos úmidos com a manga da blusa e fui olhar meu celular que estava carregando em cima da cômoda. A bateria já tinha carregado sessenta por cento e decidi ligá-lo.
As notificações foram chegando e entrei no whatsapp. Tinham mensagens de alguns amigos, grupo da faculdade, da minha melhor amiga que é minha irmãzinha do coração. E uma do escroto do meu ex-namorado, mas nada deles. Daqueles que mais deveriam me apoiar nesse momento difícil, os meus pais.
Eles simplesmente decidiram me expulsar da vida deles quando eu contei, como se eu fosse um pacote indesejado e sem serventia, isso doeu demais e tá doendo ainda.
Entrei no contato da Dani, minha melhor amiga, ela tinha mandado dois áudios.
— Babi me avisa assim que você descer do avião em Barcelona, por favor! Eu fico preocupada você viajando desse jeito.
Cliquei no outro que tinha sido enviado depois.
— Bárbara Belloli Ribeiro sua quenga infeliz! Manda notícia ou você vai ter que voltar correndo pra Porto Alegre porque eu vou ter um treco! Não some caralho, eu tô preocupada já e quase avisando a polícia!
Sempre tão dramática minha ursinha, mas eu amo demais.
— Oi Dani. — mandei um áudio em resposta. — Meu celular estava descarregado, eu só liguei agora. Eu cheguei bem, não se preocupe. Estou na casa do meu irmão e tá tudo bem.
Daqui a pouco ela responde me xingando de tudo quanto é nome, já até imagino.
Minha têmpora tava latejando e senti que teria uma crise de enxaqueca, provavelmente porque já fazem duas noites que não dormi direito.
Duas batidas soaram na porta e me virei vendo Raphinha entrando com minhas duas malas grandes.
— Tá aqui. — ele disse e mais dois rapazes entraram atrás trazendo as outras duas malas grandes e uma valise menor.
— Obrigada gente. — agradeci com um sorriso e os dois me olharam de cima a baixo. Um olhar rápido para o meu irmão e vi que ele não gostou nada disso.
— Essa é a Babi, minha irmã. — Rapha enfatizou a palavra "irmã" em um claro sinal de aviso aos dois e travei os lábios tentando não dar risada. — Esses dois malucos jogam comigo no Barcelona, Ronald e Pedri.
Ele tinha falado mesmo que era apenas uma social com seus colegas de trabalho. Ronald tinha a pele morena e os cabelos tingidos de loiro bem claro, quase branco e só faltava me comer com os olhos. Já Pedri tinha uma doçura nos olhos castanhos e um jeito de menino sapeca. Eu instintivamente gostei dele, tenho isso as vezes com as pessoas. Sempre fui boa para fazer amizades.
— Oi meninos, muito prazer e obrigada pela ajuda com as malas. — agradeci gentil e eles sorriram.
— Imagina, não foi nada, e você pode me chamar de Araújo, é como todo mundo me chama. — ele disse dando um passo à frente e estendendo a mão para me cumprimentar.
Aceitei e fui pega de surpresa quando ele levou minha mão até os lábios e deu um beijo suave. Meu irmão com certeza queria chutá-los pra fora do quarto e notei Pedri tentando rir, eu tive vontade também e me contive.
— Oi, muito prazer Babi. — Pedri também estendeu a mão, mas não beijou. — Bem-vinda a Barcelona.
— Obrigada. — sorri para ele que sorriu de volta. — Não queria ter dado esse trabalho a vocês, minhas malas estão pesando mais que chumbo.
— Não foi nada. — Pedri garantiu ainda me encarando. — Mas realmente estão pesadas, você deve ter pagado uma fortuna na pesagem.
Fiz uma careta engraçada e acabamos rindo. Araújo olhou de um para o outro e percebi que não tinha gostado de mim e Pedri interagindo. Não entendi nada.
— Pior que paguei mesmo viu.
A gente riu de novo e dessa vez até Rapha deu risada.
Vi Natália se aproximando antes que ela entrasse pedindo licença a eles.
— Com licença gente. Tá aqui sua sopa amiga.
— Obrigada Taia.
Até que o cheirinho tava gostoso. Ela colocou a bandeja em cima da cômoda e vi a tigela com sopa e uma outra com torradas e pedacinhos de queijo, e também um copo de água.
— Ok, agora vocês dois pra fora. Minha irmã vai tomar banho e descansar, fora. — Raphinha praticamente expulsou os meninos do quarto e tive vontade de brigar com ele, se não estivesse tão cansada, eu faria isso.
— Aí Babi, se precisar de qualquer coisa é só falar.
— Pode deixar Araújo e obrigada.
— Faço minhas as palavras dele. — Pedri disse piscando o olho pra mim e assenti.
— Tá bom. Tchau gente.
Eles acenaram e saíram junto com o Rapha que fechou a porta.
— É cunhadinha, você mal chegou em Barcelona e já está arrasando corações. Acabou de ganhar dois admiradores.
Olhei para Natália com vontade de jogar alguma coisa nela.
— Ai Taia, você é tão sem noção as vezes, sabia.
Minha cunhada gargalhou com vontade indo em direção ao banheiro.
— Eu vou preparar um banho bem gostoso de banheira pra você relaxar. — disse ao passar por mim e me deu um beijo na bochecha.
Comi algumas torradas com a sopa e fui revirar minhas malas procurando um pijama quentinho e minha necessaire com produtos de banho.
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Gente eu espero que vcs tenham gostado, pq eu não tenho a menor noção do que eu to fazendo aqui KKKKKKKKKKKKKKKKK (rindo de nervoso)
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