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Capítulo Dois

Oie gente, voltei!!!! 

· · • • • ✤ • • • · ·

Me virei na cama e vi pelas frestas da cortina o dia nublado lá fora. Lá no Brasil estávamos no verão, aqui na Europa era inverno. Se bem que na região sul as temperaturas eram sempre mais baixas, então eu já estava acostumada com o frio.

Desde quando eu cheguei anteontem, eu basicamente não saí do quarto. O clima frio e nublado já me deixava preguiçosa por natureza, e cansada do jeito que eu estava, só queria dormir pra esquecer toda essa merda. Dormir também me ajudava com os enjoos que eu estava começando a ter com frequência pela manhã, isso era bem chato.

A Dani ligou à tarde e ficamos conversando por um bom tempo, ela estava super preocupada comigo, mas eu lhe garanti que estava tudo bem. Mas quando ela me perguntou se eu já tinha decidido o que fazer, eu simplesmente não sabia o que dizer. Tô me sentindo perdida e à deriva em um mar revolto.

Eu planejei minha vida inteira com toda a calma e as coisas sempre deram certo pra mim. Sempre fui a filha perfeita, a aluna inteligente e com as melhores notas, tanto no colégio quanto na faculdade, e agora de uma hora para a outra, tudo simplesmente desabou e eu ainda tô tentando entender como isso aconteceu.

Toda vez que fecho os olhos, eu revivo aquela cena em minha mente e consigo sentir novamente toda aquela angústia e aquele desespero. Ver meu namorado me traindo com uma garota que eu sempre acreditei ser minha amiga, despedaçou meu coração em milhares de pedacinhos e eu não sabia como catá-los e colocá-los de volta no lugar.

A porta foi aberta devagarinho vi Raphinha sorrindo.
— Bom dia. — ele disse entrando. — Vim ver se já tinha acordado. Ontem quando cheguei você tava dormindo e eu não quis te acordar.
— Bom dia. — falei me espreguiçando e depois sentei encostada na cabeceira da cama. — Eu dormi o dia inteiro ontem, comecei a arrumar minhas coisas, mas desisti.

Apontei para minhas malas abertas e reviradas no chão.

Raphinha sorriu de novo balançando a cabeça e veio sentar ao meu lado.
— Como você está maninha? — ele perguntou abraçando meus ombros e recostei no seu peito, ouvindo as batidas do seu coração. Seus lábios beijaram os meus cabelos.
— Mais calma um pouco.
— Isso é bom. Babi eu sei que você me pediu pra não fazer nada, mas eu não consigo ficar indiferente a tudo isso. Eu liguei pra minha mãe ontem no meu horário de almoço.

Me afastei um pouco para encará-lo, meu coração disparado no peito.

Quando contei tudo que tinha acontecido, Rapha queria ligar para os meus pais imediatamente, mas eu não deixei e o fiz jurar que não falaria com eles. Era óbvio que ele não ia fazer isso.
— Eu pedi pra você não falar nada. — murmurei chateada voltando e me recostar na cabeceira da cama e abracei meus joelhos.
— Babi não tem como ficar quieto de braços cruzados. O que seus pais fizeram com você é absurdo demais, insano. Eles te viraram as costas no momento que você mais precisa.
— Até parece que você não conhece os tios que tem.

Uma lágrima desceu pela minha bochecha e tratei de limpá-la, eu estava cansada de tanto chorar. Fiz uma promessa a mim mesma que não choraria por mais ninguém.
— Eu conheço, e conheço bem, mas ainda assim não consigo acreditar. Minha mãe não sabia de nada, eles não contaram a ninguém, passaram a agir como se você simplesmente não existisse mais.

Doeu ouvir aquilo, mas eu disfarcei.
— Não me surpreende. — soltei uma risada amarga e debochada. — Típico dos meus pais, sempre vivendo de aparências.
— E o seu namorado? Quando vai falar com ele?
— Pra começo de conversa, é ex-namorado. — dei ênfase na palavra "ex". — E eu não vou falar nada, ele perdeu todo o direito quando me traiu com aquela ordinária que um dia eu chamei de amiga. Eu nunca mais quero ver os dois na minha frente!

Raphael me encarou e deu risada com vontade.
— Que foi? — perguntei tentando manter a pose séria, mas falhando miseravelmente e rindo também. — Que foi caralho?
— Você aí toda brava e cheia de marra.
— Seu idiota. — empurrei seu ombro e rimos mais ainda.
— Minha mãe tá tentando falar com eles, ver se eles caem na real.
— Isso não vai acontecer Rapha, e você sabe disso. — murmurei o olhando e ele também me olhou fazendo um carinho em meu rosto.
— Pior que eu sei sim.

Novamente ele me abraçou querendo me confortar.
— E a faculdade? E o estágio que você tinha conseguido com aquela arquiteta lá?

Soltei um gemido frustrado.
— Nem me lembre disso, eu ralei pra caramba pra conseguir aquele estágio.
— Vai desistir?
— Eu não quero. — respondi me afastando um pouco, mas ainda estava abraçada a ele. — Mas não tenho condição nenhuma de voltar para o Brasil agora, pelo menos não até decidir o que fazer.
— Eu sei disso e eu tava pensando ontem, até comentei com a Taia.
— Sobre? — perguntei inclinando um pouco a cabeça para trás tentando encará-lo.
— Sobre você e tudo isso. A gente sabe que vai ser difícil você continuar na faculdade com tudo isso acontecendo, em relação a dinheiro não se preocupe, eu poderia pagar um apartamento pra você sossegado e te dar uma mesada enquanto você terminava o curso e até arranjar trabalho...

Abri a boca pra falar, mas ele ergueu o dedo indicador em riste.
— Espera aí que eu não terminei. Eu iria pagar sim e deixa de ser chata.

Acabei dando risada.
— Mas você não pode ficar sozinha agora Babi e vai precisar de ajuda, dependendo de qual decisão tomar.
— Eu sei.
— Portanto, como eu já tinha dito antes, a casa é sua e fique o tempo que precisar, se mude pra cá se você quiser. Garanto que eu e a Taia vamos adorar.

Meus olhos ficaram marejados, mas dessa vez de alegria. Eu já era uma boba para chorar e com os hormônios a flor da pele então...
— Você não existe Raphael... — murmurei emocionada. — Quando eu descobri, não sabia o que fazer e nem pra onde ir, até hesitei em te procurar.
— Ainda bem que pensou melhor e veio bater de surpresa na minha porta. Se não tivesse feito isso, eu com certeza teria ficado chateado.

Ele fez uma expressão de puro drama e acabamos rindo de novo. Com o Rapha era sempre assim, não tinha tempo ruim e isso era uma das coisas que eu mais gostava nele, seu bom humor e sua alegria contagiante.
— Nunca hesite em pedir minha ajuda quando precisar Babi, já te disse isso antes e torno a repetir pra você não esquecer.
— Não vou. — garanti com um sorriso e ele beijou minha testa carinhosamente.
— Ótimo, se você resolver ficar, depois vamos resolver a questão do seu visto.

Assenti balançando a cabeça positivamente.
— Por enquanto, eu quero que você descanse e reflita com calma, não precisa decidir nada agora e seja qual for a sua decisão, você tem meu apoio Babi, incondicional.
— Você é o melhor irmão do mundo, sabia? — sussurrei baixinho como se estivesse lhe contando um segredo e ele sorriu beijando a pontinha do meu nariz.
— Sabia, mas não deixa o Bruno ouvir isso ou ele vai ficar com ciúmes. — ele sussurrou de volta e demos risada.

Bruno era o irmão mais novo do Rapha, ele era um ano mais velho que eu e a gente vivia brigando na adolescência, e talvez até hoje, pela atenção do nosso irmão.

Ele ia se levantando na cama, mas pareceu se lembrar de algo e me encarou de novo.
— Ah, e eu não quero você enfiada dentro desse quarto o tempo todo, vai procurar o que fazer. — mandou autoritário e contive a vontade de lhe mostrar a língua. — Você adora Barcelona, vai passear pela cidade, bater perna por aí. Ir junto com a Taia para o trabalho dela, tanto faz, só quero você nesse quarto pra dormir, ouviu Bárbara?

Rolei os olhos fazendo uma careta. Sempre foi assim, ele vivia implicando com o fato de eu ser preguiçosa.
— Sabia que a partir de agora eu preciso dormir e descansar mais? — perguntei de volta o olhando e arqueando uma das minhas sobrancelhas.
— Tô nem aí, não quero você enfurnada aqui dentro.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos e logo depois suspirou, como se estivesse decidindo algo em sua mente.
— Não acredito que eu vou dizer, talvez eu até me arrependa.
— Não entendi nada. — falei tentando não dar risada.
— Apesar de ser um bicho-preguiça, você sempre foi muito sociável e fazia amizades com facilidade, faça amizade com aqueles malucos que jogam comigo no Barcelona.

Olhei para meu irmão dando risada e achando aquilo estranho.
— Anda, desembucha Raphael. — mandei sabendo que tinha mais aí.
— Pedri e Araújo tem perguntado de você, e o Ferran me disse que a namorada dele, Sira também quis saber se você estava bem.
— Sério? — perguntei surpresa. Eu realmente achei que esse povo fosse, tipo sei lá, metido. Principalmente os que nasceram em solo europeu.
— Sim. No próximo domingo tem jogo, a Taia sempre costuma ir, vai com ela, posso te arranjar uma camisa oficial com a minha numeração.
— Vou pensar nisso.
— Tá bem. Mais uma coisa que eu queria falar, acho que é a última. Eu não sei como você está em relação a dinheiro, sei que recebia uma mesada dos seus pais.

Esse foi o nosso combinado, eles continuariam me dando uma mesada para que eu me dedicasse somente aos estudos e até conseguir um estágio remunerado.
— Eu ainda tenho algum dinheiro, a passagem pra cá custou uma fortuna, mas eu nunca fui de gastar muito.
— Eu sei, mas vou deixar um dos meus cartões com você. — ele já foi logo pegando a carteira no bolso e abrindo.
— Rapha não precisa, eu tô bem.
— Eu não quero você andando sozinha pela cidade sem dinheiro, toma.

Ele me estendeu o cartão dourado e pensei em não aceitar.
— Rapha não precisa...
— Deixa de ser teimosa garota. — ele me interrompeu enquanto colocava o cartão na minha mão. — Você vai ficar com ele e pronto.
— Tá bom, só para o caso de alguma emergência. Não vou estourar o limite dele que deve ser altíssimo.

Raphael deu risada e eu o olhei sem entender.
— Compre o que você quiser Babi, e outra, nem se você quisesse ia conseguir estourar o limite, porque ele não tem.

Abri a boca chocada e ele me deu um beijo na testa antes de sair do quarto dando risada.

Mesmo com vontade de permanecer na cama, eu levantei e fui tomar banho.

Quando desci pra tomar café, tinha praticamente um banquete me esperando. Tinha de tudo um pouquinho.
— Olha, caso você não saiba, eu nunca fui de comer muito pela manhã. — comentei pegando um pãozinho doce e mordendo um pedaço, estava uma delícia.

Taia deu risada com vontade e veio me abraçar.
— Acho melhor começar a mudar esse hábito dona Babi, toma seu café com calma, depois você vai se arrumar e a gente vai sair.
— Pra onde? — perguntei enquanto puxava uma cadeira e sentava.
— Eu tenho uma sessão de fotos hoje, depois podemos almoçar na rua mesmo e ir bater perna no shopping.

Fiz uma careta e ela me encarou.
— Que foi Babi?
— Se importa se eu ficar aqui? Não tô a fim de sair hoje.
— Você não pode ficar trancada dentro de casa, sabia?
— Eu sei, eu sei. Seu marido já me passou um sermão sobre isso ok, não preciso ouvir de novo.
— Ainda bem. — ela disse me encarando e cruzando os braços na altura dos seios.
— Só hoje tá, eu vou ligar pra Dani e arrumar minhas coisas que tá tudo jogado. E eu também tô um pouco enjoada.

Seu olhar se suavizou e ela sorriu.
— Lembrei, preciso marcar um médico pra você. Vou até anotar pra não esquecer.

Taia caminhou até a sala onde estava sua bolsa, em cima do sofá. Ela tirou um caderninho rosa de dentro, imaginei que fosse uma agenda e anotou alguma coisa.
— Bom, já que a senhorita não vai comigo hoje, então eu já vou indo.

Natália pendurou a alça da bolsa no ombro e veio me dar um beijo na testa, eu abracei sua cintura.
— Qualquer coisa me liga, ou liga para o Rapha.
— Pode deixar.
— Mais tarde eu vou pedir pra entregarem seu almoço, eu dispensei a cozinheira hoje.
— Eu mesma peço, não se preocupe.

Ela me olhou com desconfiança e rolei os olhos.
— Eu não vou ficar com fome Natália.
— Ficar com fome não, mas comer besteira eu não duvido. Eu vou ligar pra saber se você realmente vai almoçar.
— Tá bom mãe. — assenti antes de dar um gole no meu leite com achocolatado.
— Engraçadinha. Tchau.
Adéu. — falei em catalão e ela deu risada antes de sair.

Tomei meu café com calma e depois arrumei tudo. Guardei tudo de volta nos armários e na geladeira, e lavei a louça que sujei.

Voltei para o quarto e já me deu canseira só de ver as malas reviradas. Se eu estivesse fazendo uma viagem rápida, com certeza deixaria desse jeito mesmo, mas como pretendo ficar aqui por um tempo, melhor arrumar.

Abri todas as portas e gavetas do guarda-roupa e da cômoda pra ficar mais fácil.

Peguei o celular pra ver as horas e calculei que horas seriam no Brasil agora. Aqui na Espanha são quatro horas a mais que lá, então se aqui é nove e quarenta e cinco da manhã, lá ainda são cinco e quarenta e cinco também da manhã. Muito cedo pra ligar pra Dani, ela deve estar dormindo ainda.

Coloquei minhas playlists favoritas pra tocar e me concentrei na tarefa de arrumar minhas coisas.

...

Natália realmente fez uma chamada de vídeo pra saber se eu tinha pedido comida e eu percebi que a minha palavra não valia mais nada. Felizmente, na hora que ela ligou, o pedido tinha acabado de chegar. Pedi uma comidinha bem leve, acompanhada de legumes e verduras.

Raphael também me ligou pra saber como eu estava e pra perguntar por que não fui com ela. Ele prometeu que se eu inventar uma desculpa amanhã, vai me arrastar pelo pé pra fora de casa.

Eu me fazia de brava e a gente acabava rindo, mas eu sabia o significado por trás de tudo isso. Quando perdemos nosso avô eu tinha dezesseis anos e sofri muito, eu o adorava, assim como o Rapha e o Bruno também, mas eu senti mais o baque. Depois disso eu não quis mais sair de casa, só queria passar o dia todo deitada chorando.

Minha mãe me levou ao psicólogo e fui diagnosticada com começo de depressão. Fiz tratamento com medicação e terapia e aos poucos fui me recuperando e voltando a ser a mesma garota alegre e divertida de antes.

Então, quando o Rapha age dessa forma comigo, eu sei que é medo de que eu volte a agir daquele jeito novamente por conta de tudo que está acontecendo.

Depois de almoçar, ajeitei tudo novamente e voltei ao quarto para terminar de arrumar minhas coisas, já estava quase acabando. Estava marcando quase duas da tarde no relógio, então no Brasil era dez da manhã. Acho que a Dani já acordou, não é possível ela estar dormindo até essa hora.

Eu e Daniella somos amigas a anos, desde o ensino fundamental. Sabemos tudo sobre a vida uma da outra, desde os maiores segredos inconfessáveis até os piores micos e vergonhas. Nos desgrudamos um pouco agora na faculdade já que eu escolhi Arquitetura e ela optou por Psicologia, mas nossa amizade é a mesma. Ela foi a primeira pessoa a saber de tudo que aconteceu.

Fiz uma chamada de vídeo e esperei ela atender, o que não demorou muito.
Oi Florzinha! — ela atendeu com seu jeitinho meigo e alegre de sempre. Dani parecia uma boneca de tão fofa que era.
— Oi Lindinha.

Enquanto ela era meiga, fofa e supertímida, totalmente a personalidade da Lindinha do desenho As Meninas Superpoderosas, eu já era uma mistura da Florzinha com a Docinho, mas prefiro a Florzinha.
E aí como você tá amiga?
— Eu acho que tô bem, agora que tô aqui em Barcelona, parece que as coisas são diferentes.

Daniella deu risada balançando a cabeça.
— O Rapha falou com a mãe dele ontem e minha tia não sabia de nada.
Seus pais não contaram? — ela perguntou surpresa e neguei com a surpresa. — Mas que filhos da puta!

Dani podia ser meiga e fofa, mas também tinha o seu lado Docinho. Vê-la falando palavrão era divertido, não combinava nada com a sua aparência.
— Eles simplesmente passaram a agir como se eu não existisse mais.

Eu tentei segurar, tinha prometido a mim mesma que não choraria mais, que não me deixaria abater, mas era difícil saber que seus pais estavam agindo desse jeito em relação a você.
Poxa amiga, isso não é justo com você cara. Você sempre foi uma filha maravilhosa, não fez nada de errado.
— Dani a gente sabe que o problema não é o ato em si, mas o meu ex, eles nunca aceitaram o André. E o pior que lá no fundo eles tinham razão.
Nem me fala nesse cara Babi, eu tenho vontade de furar os olhos dele com as minhas unhas cada vez que vejo ele!
— Você o vê com frequência? — perguntei a encarando e Dani soltou um suspiro.
Ele tá sempre nos barzinhos acompanhado daquela piranha anã.

Não aguentei e dei risada. Dani falava isso pelo fato de Mirela, a amiga da onça que saiu com ele quando ainda tava comigo, ter apenas um metro e cinquenta de altura.
Garotazinha insuportável! Metida a besta! Da vontade de jogar umas verdades na cara dos dois.
— Você não tá nem doida Daniella.
Relaxa que não vou falar nada, é só vontade mesmo. Mas e você, me conta de você.
— Não tem muito pra falar. — falei dando de ombros e rindo.

Ela também deu risada, mas percebi que queria falar alguma coisa e estava sem jeito. Eu a conhecia bem demais, assim como ela também me conhecia.
— Fala.
Eu tava conversando com uma tia minha ontem sobre você e toda essa situação e ela me disse uma coisa que me fez refletir.
— O que ela te disse? — perguntei curiosa.
Você ainda é muito nova Babi, pra aguentar uma barra dessa, nós duas somos. Você tem o seu irmão, tem a mim, mas será que é o suficiente?

Fiquei parada em silêncio, olhando para a tela do celular.
Ainda tá no início e você tem opções. — eu entendi do que ela tava falando.

Dei um sorriso triste e desviei o olhar para a janela e a tarde fria e nublada de Barcelona.
— Eu confesso que já pensei nisso também.
Já?! — ela indagou surpresa e voltei a encará-la.
— Já sim, passou pela minha cabeça quando eu estava no avião vindo pra cá. Mas ali eu tava nervosa, ansiosa, com medo, agora tô mais calma, tranquila, sei que vou ter o apoio do Rapha incondicionalmente.
E o que mudou? Chegou a alguma decisão?
— Cheguei sim, pensei bastante essa noite e hoje também. Eu sei que tô muito ferrada e não faço ideia do que vai acontecer, porque até alguns dias atrás, eu já tinha minha vida toda planejada e do nada caiu essa bomba no meu colo. Mas de uma coisa eu tenho certeza Dani, eu não tenho coragem de tirar o meu bebê.

Levei minhas mãos a minha barriga e ela sorriu.
— Meus pais viraram as costas pra mim, meu ex-namorado me traiu, só me restou ele, ou ela. Não posso e nem vou me desfazer como se não significasse nada.
Eu entendo amiga e respeito sua decisão, mas e a faculdade? E o estágio que você tinha conseguido?
— A faculdade eu posso trancar e retornar depois, e o estágio eu vou ralar mais ainda e conseguir outro melhor. Não estou desistindo dos meus sonhos, apenas adiando um pouco.
Eu tô muito orgulhosa de você Babi e tenho certeza de que você vai ser uma mãe maravilhosa pra esse bebê.

Sorri agradecida e do nada ela ficou séria, fiquei preocupada e já ia abrir a boca para perguntar, porém ela foi mais rápida.
Espera, eu vou ser tia?

Dei risada com vontade encarando minha melhor amiga.
— Não, você não vai ser tia Dani.

O brilho dela foi sumindo e eu não aguentei sorrindo mais ainda.
— Você vai ser dinda.

Daniella arregalou os olhos e soltou um grito que deve ter assustado sua casa inteira.
— Que é isso Daniella sua maluca?! Até eu tomei um susto.
EU VOU SER MADRINHA CARALHO!

Soltei uma gargalhada escandalosa e foi assim o resto da minha tarde, ficamos conversando, dando risada e comentando coisas sobre o meu bebê e a gravidez, e principalmente escolhendo nomes.

Quando Taia chegou já estava escurecendo, eu já tinha tomado banho e estava sentada, ou melhor, enrolada em um cobertor bem quentinho no sofá e assistindo um filme no HBO Max.

Ela também foi tomar um banho quente e depois fomos preparar o jantar. Claro, entre muitos risos e brincadeiras, e relembrando histórias antigas.

Rapha chegou minutos depois e encontrou nós duas na cozinha rindo que nem bobas. Deu um beijo em cada uma e foi tomar banho.

O jantar ficou pronto e assim que ele desceu, eu ajudei Natália a arrumar a mesa.
— Como foi o treino hoje amor? — Taia perguntou e ele deu de ombros enquanto se servia.
— Normal como sempre. O Xavi tá pegando no nosso pé porque estamos em primeiro lugar na La Liga, mas não podemos nos contentar com isso, até porque o Real tá ali colado.

Olhei de um para o outro sem entender quase nada.
— Quem é Xavi e o que é La Liga?

Os dois deram risada e eu rolei os olhos.
— Vão explicar ou rir da minha cara?
— Calma marrentinha. O Xavi é o nosso treinador e a La Liga é o campeonato mais importante da Espanha, assim como o Brasileirão lá no Brasil, entendeu?
— Perfeitamente, e vocês estão em primeiro lugar na liga?
— Isso mesmo, já estava assim antes de paralisar os jogos para a Copa do Mundo e o Xavi quer manter a qualquer custo, até porque o nosso maior rival está na nossa cola.
— Isso aí até eu sei, uma das maiores rivalidades da Europa, Barcelona e Real Madrid.
— Olha, ela não é tão leiga assim. — Raphael me zoou e joguei uma ervilha nele que deu risada. — Essa rivalidade entre os dois clubes paralisa praticamente a Espanha inteira em dia de jogo, a capital Madri e a região aqui da Catalunha principalmente. É chamado de El Clásico e o estádio onde acontece o jogo, seja o Camp Nou aqui em Barcelona ou o Santiago Bernabéu em Madri, vai estar lotado. Os torcedores madridistas e os culés são rivais ferrenhos.
— Então não é tão diferente de Porto Alegre em dia de Grenal.
— Não, não é. — Rapha concordou e fiz uma expressão debochada. Eles deram risada.

Eu nunca fui muito ligada em futebol, de acompanhar todos os jogos e tal. Gostava de assistir os jogos do Brasil durante a Copa do Mundo e também aos jogos do Grêmio, o time que eu, meu pai e meu ex torcíamos. Já fui ao estádio algumas vezes, mas apenas por diversão e para acompanhá-los.

Nunca fui aquele tipo de torcedor que arruma briga porque perdeu ou vai chorar, exceto pelo Brasil ser eliminado na copa pela quinta vez e não ganharmos o hexacampeonato. Isso tá engasgado.

Depois de jantarmos, Rapha veio lavar a louça e nós ficamos por ali mesmo conversando.
— Gente, eu quero conversar com vocês. — falei e os dois me olharam.
— O que foi Babi? — Taia perguntou parecendo um pouco preocupada.

Dei um sorrisinho de leve e puxei uma cadeira pra sentar, indiquei a mesa pedindo que eles também se sentassem e assim os dois fizeram. Trocaram um olhar e logo depois me encararam de novo.
— Eu só tenho que agradecer muito a vocês dois por tudo, por todo carinho e apoio. Até quatro dias atrás, eu tava em Porto Alegre, seguindo os planos que eu tinha para a minha vida e achando que tudo sairia exatamente daquele jeito. Tava desconfiando que tinha algo errado, mas me recusava a acreditar que eu poderia ter dado uma mancada dessa, e quanto eu fiz aqueles três testes e os três deram positivo, eu senti as estruturas da minha vida serem abaladas.

Meus olhos ficaram marejados e inspirei fundo enquanto levantava a cabeça, não queria chorar agora.

Rapha pegou minha mão que estava em cima da mesa e apertou em um gesto de carinho. Eu sorri para ele em agradecimento.
— Então contei para os meus pais e eles me disseram coisas horríveis, rejeitaram a minha gravidez e mandaram eu me virar porque não me ajudariam em nada. Fui procurar o pai do meu bebê e encontrei aquele infeliz transando com uma amiga, isso me tirou o chão.

Controlei a raiva ao me lembrar daquela cena nojenta.
— Eu estava grávida, sozinha e completamente sem rumo. Fiz a primeira coisa que passou pela minha mente, comprei uma passagem só de vinda para Barcelona e arrumei as malas. Vocês me acolheram, não me julgaram e prometeram me ajudar no que eu precisasse.

Raphinha e Taia sorriram e eu também sorri.
— E isso foi fundamental para eu chegar a uma conclusão.
— Que conclusão? — meu irmão perguntou curioso.
— Eu pensei em interromper a gravidez.

Os sorrisos morreram em seus rostos e pude sentir o baque que eles levaram.
— Babi você não...
— Espera Rapha, eu ainda não terminei. — ergui a mão para fazê-lo parar e ele assentiu entendendo. — Esse pensamento foi apenas um desespero momentâneo, eu vou ter o meu bebê e eu vou precisar muito da ajuda de vocês.

Natália sorriu empolgada e correu para me abraçar.
— Ai meu amor, eu fico tão feliz por você! Eu sei que não vai ser fácil ter ele sozinha Babi, mas você sempre vai ter a gente.
— Obrigada Taia. — agradeci emocionada ainda agarrada a ela.

Rapha também veio nos abraçar.
— Você vai ter tudo que precisar minha irmã, você e esse neném, sempre. Eu te prometo isso. — ele disse beijando meus cabelos.
— Em relação àquele apartamento no Brasil e uma mesada, ainda tá de pé? — perguntei um pouco constrangida me afastando e olhando para ele.
— Claro que sim, mas por quê?
— Porque eu vou precisar né Rapha, pelo menos até conseguir um emprego. Vou ficar mais um tempo aqui em Barcelona e depois volto para Porto Alegre, fico na casa da Dani até alugar o apartamento.
— Babi por que você não tem o bebê aqui? — Taia indagou e olhei para ela.
— Ela tem razão. — Rapha concordou com a esposa. — Você não pode ficar sozinha com um bebê, aqui você vai ter todo o suporte que precisa, podemos contratar uma enfermeira quando ele nascer pra te ajudar e ensinar.
— Gente eu não quero dar trabalho...
— Para com isso. — Raphael me interrompeu. — Muito melhor você ter ele ou ela aqui, além de me deixar mais tranquilo. Depois pode tentar transferência do seu curso pra uma universidade aqui em Barcelona, pode conseguir um estágio ou até mesmo emprego em algum escritório de arquitetura.

Raphael estava me fazendo vislumbrar um caminho que eu ainda não tinha pensado. O de ficar aqui em Barcelona e recomeçar do ponto que parei depois que tiver meu bebê.

Quase que instantemente, um sorriso se abriu em meu rosto e eles também sorriram.
— Consigo ver daqui as engrenagens do seu cérebro trabalhando. — Taia disse divertida me fazendo rir. — E além do mais, você adora Barcelona.
— Vocês estão me deixando confusa e me dando muito em que pensar, eu não quero decidir isso agora.
— Eu não quero você longe de mim sozinha com um bebê Bárbara, e o que eu puder fazer pra te manter por perto, eu vou fazer.

Encarei meu irmão com os olhos semicerrados e ele sorriu dando de ombros. Raphael sempre foi extremamente protetor e não me surpreendia em nada ele agir assim, muito pelo contrário. Mas confesso que essa ideia de ficar e construir minha vida aqui em Barcelona me agradava demais.



Entrei no carro e bati a porta com força querendo descontar aquela raiva em alguma coisa.
— Hei! — Aurora reclamou indignada. — Eu não bato a porta do seu carro seu folgado! Se você fizer isso de novo, te chuto pra fora!

Soltei um suspiro e esfreguei meu rosto na tentativa de aliviar aquela tensão.
— Foi mal, dirigi aí vai. Eu tô em cima da hora.

Minha irmã me olhou mais uma vez antes de ligar seu Audi R8 vermelho e sair da garagem.
— Põe o cinto. — ela mandou e eu obedeci em silêncio.

Minha mente tava a mil e eu sinceramente não fazia ideia de como ia entrar em campo para jogar daqui a pouco.

Depois de mais uma discussão com a minha mãe, acabei soltando que estou pensando em ir morar com Pedri e Ferran, e ela simplesmente surtou. Pra piorar, meu pai jogou na roda o assunto sobre voltar para Sevilha e ela enlouqueceu, disse que todo mundo queria se afastá-la dos filhos e que eu e Aurora queríamos nos livrar dela.
— Tenta entender o lado dela. — minha irmã murmurou concentrada no trânsito e olhei para ela.
— Ela tá precisando se tratar.
— PABLO! — Aurora exclamou irada me olhando por um momento, mas logo voltando a olhar para frente. — Ela só precisa de tempo pra aceitar, só isso.
— Aurora, você pode se enganar o quanto quiser, mas isso não é normal. Até o papai já sacou que tem algo de errado, esse excesso de proteção, ela sufoca a gente. E não mente dizendo que não te atrapalha, porque eu sei que atrapalha. Quantas vezes você não acabou cancelando algum programa com o Javi por conta de alguma crise da nossa mãe?

Ela ficou quieta, pois sabia que eu tinha razão.
— Rori. — chamei seu apelido de infância e vi uma lágrima escorrer pelo canto do seu olho, mas ela limpou rapidamente com a manga da blusa. — Você sabe que tem alguma coisa errada e ela precisa de ajuda.
— Eu não quero vê-la dessa forma Pablo, é a nossa mãe. — ela murmurou tristonha e apertei seu ombro em sinal de conforto.
— Eu também não mana, é a nossa mãe e eu a amo demais. E é por amá-la que sei que ela precisa de ajuda.

O farol fechou e Aurora aproveitou para pegar um pacote de lencinhos que estava dentro do porta-luvas. Ela tirou um e secou os olhos.
— O que a gente vai fazer? — ela perguntou me encarando e desviei o olhar para o carro ao lado que buzinou e algumas pessoas acenaram me reconhecendo. Acenei para elas de volta.
— A gente precisa sentar e conversar, eu você e o papai, pra decidir o que fazer.

Aurora assentiu colocando o carro em movimento novamente, já que o sinal ficou verde para nós.
— Vai mesmo sair de casa e morar com os meninos?
— Eu preciso disso, ou vai ficar pior. Não consigo mais tolerar esse tipo de coisa, você viu o que ela fez dessa vez.

A discussão mais recente foi porque minha mãe teve a brilhante ideia de ir xeretar minhas coisas e achou algumas embalagens de camisinha. Ela veio com lição de moral dizendo que eu não devia pensar em me envolver com ninguém por enquanto e focar somente no futebol. É óbvio que eu não gostei da invasão e o negócio ferveu. Eu sempre tive o pavio curto, as vezes isso gera problema até no meu trabalho.
— Ela veio me perguntar a alguns dias atrás se você tava saindo com alguém. — Aurora revelou e eu a encarei completamente chocado.
— E só agora você me conta isso?!
— Eu sabia que você não ia gostar, por isso não falei. Eu disse a ela que você não tinha ninguém, tava curtindo como qualquer cara da sua idade, achei que ela tinha aceitado de boa.
— Até parece! — murmurei nervoso encarando o trânsito a minha frente. — Não dá pra ir mais rápido não? Eu já to quase atrasado.

Ela rolou os olhos impaciente e pisou no acelerador cortando alguns carros.
— Se eu tomar uma multa por velocidade excessiva, você vai pagar.

Não demorou muito até vermos o Camp Nou e Aurora manobrou direto até a entrada do estacionamento privado, ela conhecia tudo por aqui, já que veio me trazer várias vezes em jogos antes de eu tirar a minha habilitação.

Após a briga com a nossa mãe, papai pediu pra ela me trazer, eu não estava em condições de dirigir naquele momento.

Saímos do carro ao mesmo tempo.
— Vai voltar comigo ou com os seus amigos? — ela perguntou travando o alarme e andamos juntos até o portão que dava acesso a escadaria.
— Eu nem sei, ninguém disse nada se tinha combinado algo. Quando acabar o jogo eu te mando mensagem.
— Beleza. Pablo?

Aurora me chamou e parei de andar virando de frente para ela.
— Fica calmo e se concentre na partida, esqueça o resto.

Abri um sorriso e abracei minha irmã.
— Valeu Rori.
— Boa sorte maninho. — ela sussurrou e me deu um beijo na bochecha. Beijei ela também e me afastei subindo rapidamente o restante dos degraus. Eu tava atrasado cinco minutos e Xavi iria comer o meu rabo por conta disso.

Caminhei rapidamente em direção ao vestiário e ia cumprimentando quem encontrava pelo caminho.
— Tá atrasado! — alguém gritou e ergui a mão fazendo um joinha sem parar para olhar quem era. Minha vontade era mandar se foder, mas tava sem tempo pra isso.

Ouvia o barulho que vinha do vestiário e ele cessou assim que eu apareci na porta, todo mundo parou o que estava fazendo para me olhar e eu senti o peso do julgamento nas minhas costas.

Eu adorava jogar futebol, sempre soube que queria fazer isso para o resto da minha vida desde criança e não hesitei em agarrar todas as oportunidades que apareceram com unhas e dentes, problema era que com isso vinha a atenção focada em mim o tempo todo. A mídia, as multidões de fãs, algumas garotas as vezes me davam medo. E eu sinceramente não gostava disso, esse foco em cima de mim o tempo todo. Me deixava nervoso e a timidez atacava com força nessas horas.

Na maioria das vezes eu acabo passando a impressão errada para as pessoas, porque eu simplesmente não sei como agir quando todo mundo tá olhando pra mim e me fecho em um casulo, isso faz com que eu seja chamado de antipático, arrogante, metido e mais um monte de adjetivos que não combinam nada comigo. Essas pessoas não me conhecem de verdade, não sabem quem é o Pablo Gavi por trás da máscara aparente de frieza.

Entrei no vestiário e fui direto até o armário onde estava o uniforme com o meu nome. Já fui tirando meus tênis e a camisa pra colocar o uniforme de treino antes da partida.

Senti alguém parado atrás de mim e me virei vendo Xavi com uma cara nada boa.
— Você está atrasado Gavi. — disse com voz dura e engoli em seco sustentando seu olhar.
— Eu sei treinador. — mordi a língua para evitar dar uma explicação.

Uma das primeiras coisas que Xavi nos disse quando assumiu como técnico do Barcelona era que ele não tolerava explicações ou desculpas sobre nada. Se nós estavamos errados em alguma coisa, tínhamos que dar um jeito de consertar aquilo e ponto, sem explicações.
— Espero que você não faça disso um hábito garoto.
— Não vou, isso não vai se repetir.
— Eu acho bom. — Xavi disse antes de se afastar e soltei o ar que estava segurando em meus pulmões.

Ferran, Pedri e Ansu me encararam e dei de ombros voltando a tarefa de trocar de roupa.

Cinco minutos depois, nós subimos para o campo para o aquecimento.
— Aí cara cê tá legal? — Pedri perguntou andando ao meu lado e olhei para ele assentindo.
— Tô sim, só a mesma parada de sempre com a minha mãe. Isso já me encheu.
— Eu sei que a barra tá pesada pro teu lado, mas já sabe, a hora que quiser, a terceira suíte é sua.
— Eu sei cara e tô pensando em realmente aceitar, vai ser melhor.
— Fechou, só pegar a bagagem e aparecer por lá.

Fizemos um toque e fomos para perto dos outros treinar.

Eu, Pedri, Araújo, Ferran, Ansu e Raphinha fizemos uma roda e tocamos a bola um para o outro, Araújo era o bobinho da vez.
— Alguém já marcou alguma coisa depois do jogo? — Pedri perguntou chutando a bola para Ansu.
— Que eu saiba não. — Araújo respondeu correndo atrás da bola, Ansu tinha chutado para mim e fiz algumas embaixadinhas e chutei para Raphinha antes que Araújo chegasse até mim.
— Bora comer uma pizza depois? — Ferran propôs e demos risada, se a comissão técnica ouvisse isso eles iam ter um treco, eram bastante rigorosos com a nossa alimentação. — A gente merece, vem treinando duro pra caralho.
— Tô dentro! — Pedri gritou perdendo a bola e passando a ser o bobinho.
— Eu também. — Araújo conseguiu se livrar dele e chutar para Ferran.
— Eu também vou. — Ansu se pronunciou.
— Gavi? Rapha? — Ferran chamou, já que nenhum de nós tinha falado nada ainda.
— Pode ser. — respondi concentrado na bola.
— Eu acho que não. — Raphinha respondeu recebendo a bola e chutando para Ansu. — Vou levar as garotas pra casa, a noite vai esfriar e a Taia tá um pouco resfriada.

O que nosso colega tinha dito, acendeu a curiosidade daquele bando de fofoqueiro.
— Sua irmã veio também? — Araújo fez a pergunta que todos eles queriam fazer.
— Veio sim, tá no camarote com a minha mulher.

Instintivamente todos nós olhamos para a direção do camarote e vimos três garotas debruçadas sobre o balaústre de vidro que cercava a área. Uma era Sira que acenou, a outra era minha irmã e a terceira era a Babi, irmã do Rapha.

Raphinha se afastou porque Memphis o chamou e vi os sorrisos nos rostos dos meus amigos.
— É hoje que a gente vai chamar ela pra sair com o nosso grupo. — Araújo decretou e rolei os olhos impaciente.
— Chuta essa porra! — mandei para ele que tava prendendo a bola. Daqui a pouco Xavi vem saber o porquê estamos parados conversando ao invés de treinar.
— E se ela não quiser ir? — Pedri perguntou encarando ele.

A bola tava com Ansu que chutou para mim e Ferran era o bobinho.
— Ferran você tinha que ter falado com a Sira pra caso ela viesse, sua namorada convencê-la.

O camisa onze parou de tentar tomar a bola de mim e encarou Araújo.
— E como eu ia saber que a irmã do Rapha vinha?

Perdi a paciência de vez e chutei a bola acertando as pernas de Ferran que me encarou chocado.
— Vem cá, será que dá pra vocês se concentrarem no jogo ao invés de decidir quem vai dar em cima da irmã do cara primeiro? — perguntei irritado e me afastei daqueles idiotas sem esperar por uma resposta.

Fui correr pelo campo para aliviar o estresse.

Foi esse assunto a semana inteira, a irmã gata do Raphinha. Durante os treinos, no vestiário, até no nosso grupo de mensagens esse povo só falava dessa menina, sem o Rapha saber, é claro. Aposto que ele ia querer socar um por um se soubesse o que eles andavam falando sobre a irmã caçula dele. Eu tô de saco cheio de ouvir falar nessa Babi.

O juiz apitou indicando o fim do treino e voltamos ao vestiário para vestir o uniforme do jogo.

Xavi repassou algumas lições durante esse tempo e tentei anotar o máximo que consegui na minha mente.

O Real Madrid era um adversário duro, conhecido por surpreender até os últimos minutos. Não podíamos vacilar de jeito nenhum. Apesar de estar se reerguendo aos poucos, o Barcelona ainda estava longe de uma situação favorável e precisávamos de cada vitória, fosse qual fosse a equipe adversária.

Nos juntamos no meio do vestiário e unimos as mãos, gritando em seguida e jogando as mãos para cima.

Saímos do vestiário e encontramos os jogadores adversário já a nossa espera, alguns trocaram cumprimentos com quem já conhecia. Os juízes entraram em campo e nós também.

Foi todo aquele processo que ocorre em todos os jogos. Jogadores posicionados, cantar o hino, cumprimentar o adversário e tirar a foto oficial da partida.

Os dois capitães foram trocar os escudos e sortear quem começaria o jogo. Alba ficou com a bola e os merengues escolheram o campo.

Me posicionei e inspirei fundo para me controlar. Eu sabia que começaria como titular hoje e fiquei com medo de que por causa do meu atraso, Xavi me colocaria no banco, felizmente isso não aconteceu.

O juiz apitou e Lewa deu o primeiro toque na bola. A torcida catalã foi à loucura e nós fomos pra cima. No começo, aprender a silenciar a torcida e focar no jogo era bem difícil, principalmente quando eles estavam bravos com o time.

Nós fomos avançando pelo campo do Real Madrid e de Jong recebeu a bola de Raphinha, mas não conseguiu se livrar da marcação e o contra-ataque veio com força.

Kroos e Marco Asensio dispararam, tocando a bola um para o outro. Em um passe perfeito, Asensio mandou para Benzema que chutou direto para gol, mas Stegen agarrou a bola caindo no chão.

Nosso goleiro chutou a bola e recomeçamos o jogo tentando armar jogadas, mas os merengues estavam atentos e sempre conseguiam nos desarmar.

Durante os próximos trinta minutos, o jogo foi desse jeito. A bola indo de um lado para o outro, mas sem grandes jogadas e chutes a gol.

Em um lance falho de Kroos, Pedri conseguiu pegar a bola e correu pelo lado esquerdo, corri também sempre de olho nele e Lewa se aproximou. Pedri mandou a bola que veio parar em mim e recebi conseguindo controlar enquanto tentava me livrar da marcação de David Alaba. Chutei a bola para Lewandowski que recebeu com maestria e chutou com força fazendo a rede merengue balançar.

A torcida foi à loucura e corremos pelo campo para comemorar. Pulei nas costas de Lewandowski e ele correu enquanto me segurava, os outros chegaram logo depois e pularam em cima de nós dois.

O jogo recomeçou e tentamos várias vezes furar a defesa merengue, mas eles estavam cautelosos, sempre fechando as brechas.

O primeiro tempo acabou e voltamos para o vestiário. Estávamos ganhando, mas isso não quer dizer que o jogo era nosso, precisávamos ir pra cima de qualquer jeito.

Sentei em um banco e tomei longos goles de água enquanto ouvia Xavi repassando algumas táticas e discutindo quem poderia entrar no segundo tempo.

Os minutos passaram voando e voltamos para o campo, somente uma substituição do nosso lado, Marcos Alonso saiu e Araújo entrou no seu lugar. Relancei o olhar pelo campo do Real e não notei nenhuma substituição, eles iriam continuar com a mesma formação do primeiro tempo.

O jogo recomeçou e percebi logo de cara que os merengues vieram pra briga. Seja lá qual for a bronca que Ancelotti deu em seus jogadores, ela surtiu efeito e eles acordaram para o jogo.

Ferran chutou a bola para Pedri e ele conseguiu pegá-la, mas ao mesmo tempo foi derrubado por Hazard que acertou um joelho em suas costas e meu amigo caiu no chão de bruços levando a mão ao local e gritando de dor.

Não pensei em mais nada e vi tudo vermelho na minha frente. Fui pra cima de Hazard e o empurrei enquanto alguns jogadores tentavam no separar.
— Você tá maluco seu cuzão?! — gritei puto de raiva.
— Eu fui na bola cara, isso acontece! — ele tentou se defender, mas eu sabia que era mentira.
— Para Gavi! — Ferran e Ansu tomaram a minha frente e tentei passar pra chegar no jogador belga, mas eles não deixaram. — Para caralho! Você quer ser expulso?!
— Expulso deveria ser esse filho da puta do caralho!

Os médicos atenderam Pedri e ele levantou devagar, ainda mancando um pouco. O juiz foi falar com ele, perguntar se ele estava bem para voltar ao jogo e meu amigo sinalizou que sim. Ele saiu junto com os médicos para voltar corretamente.

O juiz chamou Hazard e lhe um cartão amarelo que foi merecido. O belga tentou se explicar, mas o juiz não quis nem saber.

O jogo recomeçou e Pedri voltou para partida, mas eu estava de olho em Hazard, na primeira bobeada que ele desse comigo, eu descontava.

A bola rolava e num passe errado de Araújo, Asensio conseguiu roubar e chutou para Hazard. Eu já tava de olho nele e sempre me aproximava quando a bola passava perto, então aquela seria minha chance.

Corri em direção ao meu alvo e cheguei por trás dele acertando suas costas com meu ombro e girando rapidamente o corpo enquanto pegava a bola com o meu pé direito e chutava.

Ele caiu no chão fazendo um belo drama e fiquei encarando a cena com as mãos na cintura, minha vontade era lhe dar um belo chute. O juiz apitou e mandou seguir, nem falta marcou e pisquei para Pedri que me encarou sorrindo.

O jogo entrou nos momentos finais e nós tínhamos que segurar aquele placar ou fazer outro gol, ou de preferência os dois.

Em um chute a gol de Lewandowski que Courtois pegou, o goleiro belga chutou de volta e a bola caiu em Kroos que disparou tocando com Asensio e Hazard. Faltavam menos de cinco minutos fora os acréscimos para acabar o jogo e corri como nunca para impedir um possível empate. A bola estava com Asensio e tentei tomá-la dele de todas as formas.

Em um erro de cálculo, minha perna entrou por entre as suas e ele caiu praticamente em frente a nossa trave, e eu entrei em desespero.

Todos os jogadores merengues vieram para cima do juiz pedindo pênalti enquanto eu tentava explicar que tinha ido na bola, não no jogador. Era impossível entender alguma coisa no falatório e eu suava mais ainda se possível, não conseguia acreditar que eu tinha feito uma merda dessa, já no final do jogo!

Hoje definitivamente não era o meu dia.

O juiz apitou marcando o pênalti e os merengues comemoraram enquanto eu enfiei meus dedos por entre meus cabelos e puxei com vontade de arrancá-los.
— Cara, não foi sua culpa! — Pedri disse parando ao meu lado.
— Não acredito que fiz isso!

Pedri tentava me ajudar, mas eu não ouvia e nem focava em nada, meus olhos estavam na bola em frente ao nosso goleiro.

Benzema se posicionou enquanto o juiz conversava com Stegen. Meu coração batia acelerado em meu peito e levei as mãos ao rosto enquanto tremia de nervoso.

O juiz apitou e Benzema correu para chutar e para o meu alívio, Stegen espalmou mandando para fora. A única coisa que fiz foi cair de joelhos agradecendo aos céus por esse momento. Pedri e Ferran vieram me abraçar, pois eles sabiam o quanto eu me culparia se aquela bola tivesse entrado.

O jogo recomeçou e foram anunciados mais seis minutos de acréscimo. Eu tava doido pra sair logo daquele campo, depois do dia de hoje eu só queria relaxar. Tocamos a bola pelo tempo que restava, não tentamos fazer grandes jogadas, apenas queríamos evitar que os merengues a pegassem.

O juiz encerrou o jogo e tive vontade de cair ali mesmo no campo e ficar deitado até meu corpo parar de tremer.
— Relaxa aí Gavira! — Ansu disse animado e me arrastou em direção a nossa torcida. — A gente ganhou.

Nós realmente ganhamos, mas eu não fiz uma boa partida. E esse pensamento se concretizou mais tarde quando Xavi me chamou de canto e me deu um "pequeno" puxão de orelha. Novamente pelo atraso e também pela minha atuação na partida. Nas palavras do meu treinador, eu estava desatento, estressado e fora de foco. Acho que um tapa teria doído menos.

A cambada fazia uma algazarra enquanto tomava banho e eu só queria um pouco de silêncio, pelo menos hoje.

Quem ia terminando de se arrumar, ia saindo e a gente foi ficando por último.

Vesti minha roupa e passei meu perfume.
— Aí, a gente ainda vai pra aquele lugar? — Araújo perguntou fazendo um gesto em direção ao Raphinha que não percebeu. Na verdade, eles estavam esperando o brasileiro sair pra ir junto com ele e encontrar com a sua irmã, e assim convidá-la para sair.

Até onde eu percebi, Ferran veio correndo para o vestiário a fim de mandar uma mensagem para a namorada avisando sobre tudo e pedindo para que a própria Sira convidasse a garota. Esse povo deveria trabalhar na Interpol ou qualquer outra agência de espionagem.
— Eu passo, vou pra casa. — avisei enquanto guardava minhas coisas e senti todos os pares de olhos em mim.
— Você não vai com a gente? — Pedri perguntou e olhei para ele.
— Fica pra próxima galera, divirtam-se.

Mandei uma mensagem para Aurora e nada daquela criatura responder.

Decidi esperá-la no estacionamento perto do seu carro, ela ia ter que aparecer em algum momento.

Tava distraído respondendo algumas mensagens no celular quando esbarrei em alguém e senti algo gelado no meu peito. Olhei para baixo e meu moletom branco tava todo manchado de amarelo. Era só o que me faltava.
— Ai minha nossa! Me desculpa, por favor! — uma garota disse em um catalão arrastado, claramente com sotaque.

Levantei a cabeça e vi a irmã do Raphinha me olhando aflita e com um copo vazio na mão.
— Eu juro que não te vi! Mil perdões! — a garota continuava tentando se desculpar e passava a mão em mim na tentativa, claramente frustrada de limpar.

Afastei a mão dela com um gesto ríspido e suspirei pesado tentando me controlar.
— Era só o que me faltava! — resmunguei enquanto tirava meu moletom.
— O que você disse? — ela perguntou e parei o que estava fazendo para olhá-la.

Sua expressão era confusa.
— Falei que era só o que me faltava! Meu dia já foi péssimo o suficiente e vem uma maluca e me dá um banho de suco de laranja! — falei em alto e bom som para que ela escutasse.
— Me chamou do que? — a tal Babi perguntou com voz contida e dei uma risada debochada.
— Além de desastrada, é surda.
— Escuta seu molequezinho mal-educado, foi um acidente! Não derramei suco em você porque eu quis não ta!
— Eu tô pouco me lixando pra você garota, você derramou e ponto. Como eu fico agora, hein?
— Dane-se você seu riquinho mimado e metida à besta!

Eu sabia que tava criando caso por uma bobagem, mas quando ela me chamou de mimado e metido à besta, tocou na ferida.
— Escuta aqui garota...
— Hei! Que gritaria é essa?! — Aurora chegou me interrompendo, ela estava acompanhada de Sira e Natália.
— Essa idiota derramou suco em mim! — respondi encarando a morena e percebi seus olhos castanhos brilharem de pura raiva.
— Eu já disse que foi sem querer e pedi desculpas! E idiota é a senhora sua mãe!

Essa garota tá pedindo, hoje não é um dia legal pra me provocar.
— Babi, a mãe dele também é a minha, ok. — minha irmã disse e a garota olhou pra ela surpresa.
— Me desculpa Aurora, mil perdões, eu retiro o que disse sobre a sua mãe. Então você é o Pablo Gavi? — ela perguntou debochada e olhei bem pra sua cara, pra ver o que ela ia falar. — O esquentadinho que adora puxar briga com todo mundo, não é?

Agora ela passou dos limites!
— VAI SE FERRAR GAROTA! VOCÊ NÃO SABE NADA SOBRE MIM! — gritei com ódio enxergando tudo vermelho.
— Tá legal, agora já chega Pablo, vamos embora! — Aurora me empurrou em direção ao carro dela.
— VAI SE FERRAR VOCÊ, SEU MOLEQUE MIMADO!

Aurora me empurrava enquanto eu e a maluca continuávamos aos gritos chamando atenção de todo mundo.
— JÁ CHEGA GAVI! — Aurora gritou furiosa e parei olhando pra ela. — Entra na porra desse carro agora! Eu tô mandando, vai!

Ainda tremendo de raiva, entrei no carro. Meu olhar caindo na garota morena que também me encarava querendo meu sangue.
— O que te deu garoto pra sair partindo pra cima dela assim? Ela não fez de propósito.

Virei o rosto para a janela enquanto Aurora manobrava pra fora do estacionamento. Não respondi a sua pergunta e vi que talvez eu realmente tenha exagerado, foi consequência de um dia estressante, o que não justifica eu ter descontado nela só por causa de um suco.

Mas quando ela me chamou de mimado e metido à besta e citou que eu sou esquentado e arrumo confusão com todo mundo, foi como balançar um pano vermelho na frente de um touro furioso.
— Ela não me conhece pra ficar falando essas coisas a meu respeito. — murmurei ainda com raiva e Aurora me encarou incrédula.
— Ah Gavi, vê se cresce! Você quer ser tão maduro para algumas situações e em outras é inseguro e infantil. Já mandei você parar de se preocupar com o que a mídia e o resto do mundo pensam a seu respeito.

Fiquei quieto ouvindo o sermão.
— A gente te conhece e sabe quem você é, você não precisa provar nada pra ninguém maninho, já te disse isso. Continue fazendo o que você sabe fazer de melhor, jogar bola.

Eu sabia que minha irmã tinha razão e esfreguei meus olhos me sentindo exausto.
— Tá, eu vacilei.
— Ainda bem que sabe, e capriche no pedido de desculpas.
— O que? — indaguei a olhando e Aurora me encarou arqueando uma sobrancelha.
— Você destratou a Babi que é muito gente boa, não foi assim que eu te ensinei como se deve tratar uma garota. — rolei os olhos impaciente e com vontade de mandá-la calar a boca. — Você vai pedir desculpas pra ela, e ao irmão dela também, que é seu colega de trabalho.

Puta merda! Ainda tem mais essa. Raphinha vai querer me comer vivo, do jeito que ele defende e protege aquela irmã, eu tô muito lascado!  

· · • • • ✤ • • • · ·

Primeiro encontro explosivo kkkkkkkkkkk gosto assim 😌
Gente no proximo tem a visão da Babi sobre o jogo ok
Beijinhos e até o próximo 😘

OBS: comentem pra eu saber se vcs estão gostando ou não 🤗


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