Capítulo Catorze
Hola culers💙💙
Tô triste, fomos eliminados da Liga Europa 🥺💔
Hoje ficou mais do que comprovado o quanto Gavi e Pedri fazem falta no time 🤦🏻♀️
Focar na La Liga agg e na recuperação dos nossos meninos 🤞🏻
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Quando o juiz apitou encerrando a partida eu só conseguia pensar no quão ruim as coisas estavam.
Conseguimos empatar e levar a decisão para Old Trafford, em Manchester no sufoco. Se o Koundé não tivesse feito um gol contra a vitória seria nossa. Mas não posso colocar a culpa inteiramente nele, já que eu também fiz merda.
Eu sabia que se cometesse qualquer deslize e tomasse um cartão amarelo, estaria fora do jogo de volta. Não sei o que passou na minha cabeça naquele momento, mas quando me toquei já tinha agarrado Fred pela camisa e jogado o rival no chão. Foi um cartão bem aplicado.
Só para piorar, Pedri tinha sentido uma fisgada na perna direita e teve que sair antes do fim do primeiro tempo. Conversamos rapidamente enquanto ele era atendido ainda dentro de campo e a situação não era nada boa. Chutando por cima, pelo menos uns vinte dias ele ficaria afastado, o que significa não estar disponível para a partida na Inglaterra.
O Camp Nou estava lotado e bati palmas enquanto saía do campo, agradecendo o apoio da nossa torcida.
Fui diretamente para o vestiário necessitando urgentemente de um banho, eu queria, na verdade eu precisava ver a Babi.
Depois de ela ter passado o Dia de São Valentim comigo, eu achei que as coisas estavam indo bem, mas ela estava distante, até um pouco fria e eu não fazia ideia do que tinha acontecido. Quis muito ir até a casa do Raphinha para vê-la, saber o que estava acontecendo, mas Pedri me aconselhou a lhe dar um tempo e deixar para conversar depois do jogo, o que foi na verdade uma péssima ideia.
Eu estava preocupado com essa situação, tenso e tenho certeza de que isso influenciou no meu desempenho em campo. Pior que eu também não sei se o Rapha já sabe sobre a gente, treinamos de boa e me parecia tudo normal.
Fiquei surpreso quando mais cedo ela me mandou uma foto usando a minha camisa e dizendo que iria assistir ao jogo. Perguntei se podíamos nos ver lá em casa depois e ela disse que sim, o que só me deixou mais ansioso e nervoso.
Xavi conversou conosco dizendo que apesar de tudo, nós fomos bem e teríamos que focar em Old Trafford, pelo menos os que iriam jogar. Eu pedi desculpas pelo meu erro e ele disse que estava tudo bem, também era impulsivo na minha idade. De certa forma aquilo não me agradava, porque eu não queria mais ser visto como um moleque sem noção, mas eu tinha ciência de que somente eu mesmo podia mudar isso. Preciso mudar esse comportamento e evoluir. O que eu fiz puxando o Fred daquela forma é inadmissível para um jogador responsável de um grande clube.
Antes de ir tomar banho, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Babi. Os outros jogadores já foram saindo, Ferran disse que iria falar com Sira que estava esperando por ele e encontrava a gente em casa.
Pedi a ela que fosse para o apartamento e me esperasse lá, pois eu iria esperar por Pedri já que viemos juntos.
Tomei banho o mais rápido que pude e quando tava terminando de vestir a roupa, meu amigo ia entrando no vestiário. Ele tinha ido fazer alguns exames rápidos no departamento médico. Os jogadores que ainda estavam por lá falaram com ele e depois saíram.
— E aí cara, como cê tá? — perguntei quando Pedri sentou em um dos bancos devagar e com uma careta de dor.
— Tá de boa, me mandaram ir pra casa e repousar, me deram alguns remédios pra dor. Amanhã vão fazer exames mais detalhados pra saber o que foi. Você falou com a Babi?
— Pedi pra ela me esperar lá no apartamento. Você consegue tomar banho?
— Acho que consigo.
Pedri levantou ainda um pouco mancando e foi em direção aos chuveiros.
Eu aproveitei para dar uma olhada em meu celular, Babi tinha respondido minha mensagem. Ela avisou que estava indo junto com Sira e Ferran e perguntou como Pedri estava.
Enquanto eu digitava, o celular de Pedri começou a tocar, era o irmão dele.
— Seu irmão tá te ligando! — gritei chegando perto dos chuveiros.
— Atende aí! — Pedri gritou de volta.
— Alô.
— Pedri?
— Não Fernando, é o Gavi. Pedri tá tomando banho.
— Ah sim, e aí cara. Como ele tá?
— Sentindo um pouco de dor, mas ele tá bem. Daqui a pouco a gente tá indo pra casa.
— Beleza, eu tô esperando vocês no estacionamento.
— Tá bom, a gente tá quase saindo.
— Beleza.
Encerrei a ligação e deixei o celular onde estava antes e enviei a mensagem que eu tinha digitado para Babi.
Pedri saiu enrolado de toalha e guardei meu celular no bolso da calça.
— Meu irmão queria o quê?
— Saber como você tá, ele disse que tá esperando a gente no estacionamento.
Pedri assentiu e começou a vestir a roupa.
Quando chegamos ao estacionamento, Araújo estava lá conversando com Fernando. Acabou que ele também veio com a gente.
...
Pedri se apoiou em mim e no irmão enquanto subíamos no elevador. Eu conversava com eles de boa, mas meus pensamentos sempre voltavam para Babi. Estava ansioso para vê-la de uma forma como eu nunca senti antes.
As portas abriram e entramos no apartamento. Babi, Ferran e Sira estavam na sala conversando e levantaram vindo ao nosso encontro.
— E aí cara, como você tá? — Ferran perguntou assumindo meu lugar e me afastei encarando a garota morena.
— Eu tô bem, agora não tô sentindo dor por conta dos remédios.
Eles engataram em uma conversa que eu tentava dar atenção, mas só conseguia olhar para Babi. Ela me encarava as vezes, mas sempre desviava.
— Agora você tem que ficar de repouso e seguir as recomendações dos médicos, é uma ordem Pedri González. — Babi disse mandona fazendo todo mundo dar risada.
Eu não sabia quanta falta estava sentindo dela até vê-la de novo. Falta dos seus beijos, seu cheiro, seu carinho.
Babi e Sira tiveram a ideia de pedir pizzas pra gente e estavam escolhendo os sabores em uma discussão divertida.
— Ainda tem aquele molho três em um que eu gosto? — Sira questionou encarando o namorado que deu de ombros.
— A gente pode fazer o nosso próprio molho, eu aprendi a fazer uma maionese caseira temperada maravilhosa.
— Você vai fazer agora garota! — Sira praticamente arrastou Babi até a cozinha fazendo a gente dar risada.
As duas estavam na cozinha preparando a tal maionese temperada enquanto esperávamos pelas pizzas.
— A Babi é irmã do Raphinha, não é? — Fernando perguntou e olhei pra ele enquanto tomava um gole da minha cerveja.
— Na verdade é prima dele, mas é como se fosse irmã. — Araújo explicou.
— Ela é gata pra caralho. — o irmão de Pedri disse e eu só continuei olhando pra cara dele.
Pedri e Ferran me encararam preocupados.
— Vocês sabem se ela tem namorado ou tá ficando com alguém?
Esse moleque tá pedindo!
— Ela tá ficando com alguém sim. — falei levantando e atraindo a atenção deles. — Comigo.
— Como é que é?! — Araújo exclamou surpreso enquanto Ferran e Pedri davam risada.
Já de saco cheio de ver aquele idiota babando em cima dela, marchei até a cozinha, as duas davam risada de alguma coisa e pararam ao me ver.
— O que foi Gavi? — Sira perguntou e Babi me encarou.
Ela havia tirado o moletom que usava, revelando a camisa dourada do Barcelona que eu tinha lhe dado de presente. Aquilo aqueceu meu coração de uma forma inexplicável.
— Será que a gente pode conversar? — pedi sem deixar de olhá-la.
— Vai lá amiga, eu me viro aqui. — Sira disse olhando de um para o outro e Babi sorriu para ela antes de vir até mim.
Peguei sua mão entrelaçando nossos dedos e ela tentou se soltar quando passamos pela sala, mas eu não deixei e ainda abracei sua cintura com a outra mão.
— Ih rapaz, eles tão ficando mesmo. — Araújo soltou e Babi olhou pra eles antes de me encarar de novo.
Ela balançou a cabeça em negação e virou as costas subindo a escada. Olhei para os caras, Ferran e Pedri davam risada, Araújo ainda estava surpreso e Fernando me encarava sem graça. Dei risada também e subi atrás dela.
Babi me encarou séria quando entrei no quarto.
— O que foi aquilo na sala? — ela perguntou cruzando os braços e fechei a porta também a olhando.
— Fernando disse que acha você muito gata e perguntou se você tava ficando com alguém, falei que tava ficando comigo. — falei sem hesitar vendo a marra dela sem desfazendo.
— Ele disse isso?
— Ah disse, e eu não gostei nenhum pouco. — respondi andando até ela.
— Você tá com ciúmes Gavi? — Babi perguntou rindo e parei na frente dela doido pra beijar aquela boca.
— E se tiver? Qual o problema? — perguntei de volta baixinho abraçando sua cintura e beijando seu pescoço. — A culpa disso é sua.
— Por que minha?
— Se todo mundo soubesse que a gente tá junto, eu não ia ficar preocupado com esse bando de otário dando em cima de você.
Babi se afastou um pouco me encarando.
— Tá querendo dizer o que com isso Gavi?
— Por que você é sempre tão desconfiada?
— Eu não sou desconfiada. — ela ficou na defensiva e eu também me afastei um pouco soltando sua cintura.
— Ah você é sim.
Sentei na minha cama e ela ficou em pé me olhando.
— O que tá acontecendo Babi? A gente passou o dia juntos e eu achei que tava tudo ótimo, tudo bem e do nada você fica distante, fria, mal me responde. Eu só não fui na sua casa porque Pedri me convenceu a não fazer isso por conta do Rapha.
— Ele já sabe sobre a gente. — ela disse me deixando surpreso.
Babi sentou ao meu lado tirando os tênis e cruzando as pernas.
— O que ele disse? — perguntei deitando de lado e apoiando minha cabeça com o braço direito.
Tive um pressentimento de que aquela conversa não foi boa e por isso ela estava agindo assim comigo.
— Que festinhas são essas que você e o Ansu estão indo? É por isso que o rendimento dele tá baixo no time?
A pergunta direta me deixou ainda mais surpreso. Raphael deve ter dito algo a ela sobre isso, todos os jogadores sabiam sobre as nossas saídas. Até porque Ansu era um bocudo do caralho que ficava chamando quase todo mundo.
— Não tô te cobrando nada, eu só quero entender.
Se tem uma coisa que eu aprendi na minha vida é que em qualquer situação, a verdade é sempre a melhor opção, mesmo que machuque naquele momento.
— A gente costumava sair sim de vez em quando, Ansu fez amizade com uma galera filhinha de papai aqui da cidade e sempre era convidado pra essas festinhas "exclusivas". — expliquei fazendo aspas com os dedos.
— O que rola nessas festas?
— De tudo que você imaginar. — respondi sustentando seu olhar. — Bebidas, drogas, sexo. Uma vez rolou até um racha.
— Você sabe que isso é ilegal, né?
— Eu sei.
— E se pegam vocês lá? Imagine os sites de fofocas no outro dia? Gavi sinceramente eu não esperava isso...
Ela tentou levantar, mas eu não deixei segurando seu braço.
— Eu parei de frequentar esses lugares.
— Quando você parou?
— Depois que eu te conheci, mas eu já não me sentia mais à vontade a um bom tempo.
— Ah por favor, Gavi!
Novamente ela tentou se levantar e eu não deixei. Sentei na cama encarando-a olho no olho.
— Da pra me escutar caralho! Só me escuta.
Soltei seu braço e Babi assentiu em silêncio.
— Eu comecei a perceber uma coisa toda vez que chegava em casa depois de ir nessas festinhas. — falei decidindo ser totalmente sincero com ela.
— O quê?
— Eu sempre me sentia vazio depois, sozinho. — confessei encarando meus próprios pés. Não queria encará-la e ver o julgamento em seu olhar. — Eu ia pra sair com alguma garota, beber, me distrair um pouco, mas perdeu a graça. Percebi que eu queria mais do que aquilo e não encontraria naquele tipo de lugar.
Senti a mão dela tocando em meu ombro e levantei a cabeça, encontrando seu olhar carinhoso. Um olhar que fez meu coração disparar de uma forma inesperada. Senti um frio na barriga e uma sensação de expectativa misturada com uma empolgação inexplicável. Eu já tinha me sentido assim antes quando passamos o dia juntos na terça-feira, porém hoje foi mais forte, mais intenso.
— E o que você quer? — Babi perguntou e eu me aproximei dela.
— O que tô encontrando em você.
Ela sorriu mordendo o lábio inferior antes de segurar meu rosto com as duas mãos e me beijar.
O gosto do seu beijo me invadiu como um afrodisíaco que me despertava e ao mesmo tempo me colocava no mais doce dos sonhos. Trocamos mais alguns beijos quentes e me senti aliviado por estar tudo bem entre a gente.
— Promete que não vai mais fazer isso? — pedi a abraçando e deitando minha cabeça em seu ombro, sentindo o cheiro maravilhoso do seu perfume.
— Fazer o quê? — ela perguntou de volta, sua mão fazia um carinho gostoso nas minhas costas.
— Se afastar assim do nada, ficar chateada e não me falar o motivo. Era só ter me perguntado sobre isso e eu ia explicar pra você.
Babi se afastou e levantei a cabeça para olhá-la.
— Você é real? — ela perguntou rindo e eu dei risada também, sem entender a pergunta.
— Como assim?
— Geralmente os homens não gostam de fazer isso, tipo sentar e conversar, explicar as coisas.
— Entendi. — assenti rindo voltando a deitar a cabeça no seu ombro. — Vejo minha irmã e o namorado fazerem isso, Sira e Ferran, meus pais e costuma dar certo.
— Sim, eu sei que dá certo. Taia e Rapha também são assim, o que eu quero dizer é que é difícil vocês homens gostarem disso.
O fato de ela ficar surpresa por uma atitude minha que deveria ser uma regra em qualquer relacionamento me fez imaginar o tipo de cara com quem ela já se envolveu. O que me levava de volta ao seu segredo que tanto me tirava o sono.
Eu tava criando coragem pra perguntar sobre isso quando bateram na porta do quarto.
— Hei casal, as pizzas chegaram! — Sira gritou do outro lado.
— A gente já vai! — Babi gritou de volta e me afastei um pouco para que ela pudesse calçar o tênis.
— Então você tá surpresa com a minha atitude em querer sentar e conversar? — perguntei a encarando.
— Um pouco, ainda mais você sendo tão...
Ela deu risada e parou de falar. Eu percebi que ia citar algo sobre a minha idade.
— Você adora jogar na minha cara que eu sou mais novo que você. — falei levantando e ela deu risada de novo.
— E não é verdade?
Abri a porta do quarto e ela passou ainda rindo.
— Eu adoraria ser mais velho que você, na moral.
Babi parou na minha frente e eu abracei sua cintura puxando-a pra mim. Ela levou as mãos até os meus ombros massageando de leve.
— Eu sei que não tenho o direito de te pedir nada...
— Claro que tem. — interrompi fazendo ela sorrir surpresa. — Por que não teria?
Babi se aproximou beijando meus lábios de um jeito meigo e romântico. Eu gostava demais quando ela me beijava assim.
— Não frequenta mais essas festinhas, esse tipo de lugar não traz nada de bom. Se vazar alguma imagem de vocês nesse ambiente...
— Eu sei linda. — falei baixinho escondendo o rosto no seu pescoço. — Não vou mais.
Descemos a escada ainda rindo e abraçados. Araújo ficou olhando pra nós dois enquanto Pedri, Ferran e Sira rachavam o bico.
— Que foi? — perguntei sentando no sofá e Babi sentou no chão, assim como Sira.
— Eu tô me perguntando em que exato momento isso aconteceu. — o uruguaio disse antes de morder mais um pedaço da fatia de pizza.
— Não é da sua conta. — respondi pegando uma fatia também e Babi bateu na minha perna.
— Gavi! — ela me encarou e dei de ombros. Araújo é curioso demais. — Pedri cadê o seu irmão?
Reparando bem, agora que eu notei que ele não tá presente.
— Ele ficou sem graça e foi embora.
Babi me encarou de novo fazendo todo mundo dar risada.
— O que foi agora amorzinho? — perguntei tentando não rir também, mas adorando vê-la irritada. — Ele perguntou se você tava ficando com alguém, queria que eu fizesse o quê? Ficasse quieto?
— Olha Babi, ele tem razão. — Ferran veio em minha defesa e fiz um joinha pra ele quando minha marrentinha focou a atenção nele. — Qualquer um de nós teria feito a mesma coisa, inclusive o próprio Fernando se a situação fosse ao contrário.
Babi se deu por vencida, mas pediu a Araújo que não comentasse nada com ninguém por enquanto. Oh mulher teimosa!
Mas se ela acha que eu vou desistir tá muito enganada, pouco a pouco eu vou vencendo essa resistência. Não costumo ser muito paciente, mas pra ela eu tenho toda paciência do mundo.
Mudamos de assunto, Araújo agora falava da garota que ele tava ficando. Babi e Sira ainda continuavam no chão. Babi sentada no tapete e encostada nas minhas pernas, a cabeça apoiada nos meus joelhos. Sira estava deitada, a cabeça no colo de Babi e as pernas em cima do namorado. Pedri estava deitado no sofá, uma bolsa de água quente na perna e Araújo sentado em uma almofada grande no chão.
— E por que você não a chama pra sair? Tipo pra jantar. — Sira indagou e nosso amigo fez uma careta.
— E se ela disser não? — Araújo perguntou de volta fazendo a gente cair na risada.
— Cara vocês ficaram na festa da Sira, no aniversário do Sergi, você levou ela pra um motel duas vezes já. — Ferran disse. — Por que ela vai te dar um não?
Eu nunca fui em um motel, mas tenho vontade. Encarei Babi de relance me perguntando se ela aceitaria ir comigo em algum momento.
— Sei lá cara, mulher é um bicho complicado.
Sira e Babi começaram a reclamar fazendo a gente rir de novo.
— Ai caralho! Cada vez que eu dou risada, eu sinto uma fisgada de leve! — Pedri disse com os olhos marejados de tanto rir.
Araújo causava esse efeito nas pessoas. Nosso amigo era uma figura. Dentro de campo ele era uma muralha, não deixava passar nada, mas em sua vida pessoal era um cara meio confuso e atrapalhado.
— Você já chegou pra ela e perguntou o que rola entre vocês? — Babi indagou e Araújo negou balançando a cabeça.
— Eu não. Como é que vocês conseguiram engatar esse rolo aí? — ele perguntou apontando pra nós dois. Agora pronto.
Eu e Babi trocamos olhares dando risada e ela deu de ombros tentando explicar.
— Ah rolou, eu queria, ele também.
Eu ia sair daqui com a barriga doendo de tanto dar risada.
— Vem cá, não é querendo ser estraga prazeres, mas o Ansu sabe que vocês tão juntos?
O clima alegre se desfez, Sira e Ferran que não sabiam de nada olharam pra todo mundo.
— Gente o que aconteceu? — ela perguntou. — Tô perdida.
— Ansu tava a fim da Babi. — Pedri explicou. — Ele chegou a dizer pro Gavi na festa na sua casa que ia tentar se aproximar dela.
— Vixi! — Sira soltou me olhando. Pra quem olhasse de fora ia ficar parecendo que eu realmente tinha passado a perna no meu amigo. E pra Araújo ter perguntado aquilo, ele talvez saiba de algo que a gente não.
— Mas o Gavi já tava a fim da Babi nessa época. — Ferran comentou e todo mundo concordou com ele.
— Mas ninguém sabia, só a gente. — Pedri disse e olhei para Babi notando o quanto ela estava desconfortável com aquele assunto.
— Gente já chega desse assunto né. — pedi apontando discretamente pra ela e todo mundo entendeu. — Depois eu me resolvo com o Ansu, tá tudo bem.
— Mudando de assunto, mas ainda falando sobre isso, o que tá acontecendo com ele no clube hein? — Sira fez a mesma pergunta que todos nós estávamos nos fazendo. — Mesmo antes dessa parada aí, o rendimento dele já vinha baixo.
— Eu acho que são essas festinhas que ele costuma ir. — Araújo respondeu esticando as pernas. — Já falei pra ele parar.
— O Gavi tava indo no mesmo barco. — Pedri apontou o polegar pra mim e olhei pra ele. — O quê? Você vivia indo junto com ele. Babi fica esperta viu.
Mas olha a audácia desse filho da puta!
— Relaxa Pedrito, já conversei com ele sobre isso. — ela disse rindo e os meninos começaram a me zoar.
— Isso aí Babi, bota essa praga na linha! — Ferran jogou uma almofada em mim e olhei pra cara dele querendo socá-lo.
Ficamos conversando até mais tarde e depois eu fui levar Babi em casa.
— Eu não quis te perguntar antes, mas o Rapha não gostou muito de saber que a gente tá se conhecendo melhor, não é? — perguntei quando parei o carro em frente a portaria.
Babi ficou sem graça abaixando a cabeça e toquei em seu queixo de leve fazendo com que ela olhasse pra mim. Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
— Eu vou falar com ele, explicar que...
— Não, por favor não faz isso. Deixa que eu resolvo esse assunto com o meu irmão.
— Tem certeza?
— Tenho sim, eu prefiro dessa forma.
— Tudo bem.
Eu vou respeitar e aceitar a decisão dela, não iria procurar Raphinha pra conversar, mas caso ele viesse até mim, eu não ia fugir dessa conversa.
Trocamos mais alguns beijos e fiquei esperando Babi entrar na portaria para poder ir embora.
Almocei rapidamente, Pedri já estava a caminho para me levar até a consulta com a médica obstetra. Eu disse a ele que estava tudo bem caso não conseguisse ir, por conta de ter que fazer exames para identificar e tratar a lesão, mas ele me disse que estaria livre pelo resto da tarde.
Percebi sua voz triste na ligação e imaginei que teria a ver com os resultados desses exames.
— Já tá pronta? — Taia perguntou aparecendo na porta da cozinha e assenti terminando de mastigar e engolir.
— Sim, vou só escovar os dentes e esperar pelo Pedri.
— Gavi que deveria tá indo nessa consulta com você, não o Pedri.
Olhei pra cara de Natália e ela deu risada.
— Você não está ajudando cunhadinha.
— Desculpa. — ela pediu ainda rindo. — Eu não concordo com o que o Rapha fez, nenhum pouco. Idade não define maturidade. E daí que ele gosta de frequentar festinhas? Normal.
— Ele não tá indo mais.
— Olha aí, tá vendo. Só ia porque tava sozinho.
Dei risada pensando o que ela iria achar se soubesse que tinha acertado na mosca ao dizer isso. Gavi me disse com todas as letras que percebeu que aquilo que estava procurando não encontraria naquele ambiente. E mais ainda, acrescentou que está encontrando o que buscava em mim.
Meu coração disparou naquela hora, eu jamais poderia ficar indiferente a tudo isso que tá acontecendo entre a gente. Gavi é sincero, intenso, carinhoso, uma combinação perfeita, e perigosa.
— Eu acho que vou ter que te internar Babi. — Natália disse e olhei pra ela sem entender.
— Por quê? — perguntei levantando e indo colocar o prato na pia.
— A bem pouco tempo atrás, eu comentei que aquela raiva toda entre vocês significava algo a mais e você me disse com todas as letras que estaria louca caso isso acontecesse e que eu poderia te internar.
Eu sabia que ela ia jogar aquilo na minha cara.
— Pode debochar. — falei ouvindo sua gargalhada.
— Desculpa amiga.
Balancei a cabeça em negação e fui escovar os dentes e pegar minha bolsa.
Quando voltei, ela estava fazendo posições de yoga enquanto assistia aulas dessa prática na TV.
— Você vem pra casa depois ou vai com ele pra algum lugar?
— Ainda não sei, qualquer coisa eu te aviso.
Pedri tinha mandado mensagem avisando que já estava me esperando.
— Ele já chegou, tô indo.
— Babi? — Taia me chamou e olhei pra ela.
— Oi.
— Não importa o que aconteça, eu tô do seu lado sempre. Se quiser contar ao Gavi, conte, se não quiser, não conte. Se quiser continuar com ele, você tem meu apoio.
Sorri agradecida pra ela e corri para lhe dar um abraço.
— Obrigada cunha.
— De nada meu bem.
Andei apressada até a portaria porque a consulta tinha hora marcada. A BMW de Pedri estava parada e corri para entrar.
— Oi amigo.
— Oi morena.
Trocamos um abraço apertado.
— Tudo bem? — ele perguntou manobrando o carro de volta à avenida e coloquei o cinto.
— Tudo ótimo. E você?
Deixei a pasta com os exames e a bolsa em meu colo.
— Tô ansioso pra ver como meu afilhado tá.
Sorri como uma boba olhando pra ele. Pedri era um amigo maravilhoso.
— E aí, me conta, como foram os exames? É grave a lesão? — perguntei ansiosa e seu sorriso se desfez.
— Eu vou ficar fora pelo menos um mês.
— Ai que chato Pedri, sério?
— Sério. Foi uma lesão no reto anterior da minha coxa direita. Logo agora que as coisas estavam indo tão bem, toda partida eu tava marcando.
Percebi o quanto ele estava chateado e afaguei seu braço.
— Infelizmente são coisas que acontecem, não da pra controlar.
— Meu irmão me disse a mesma coisa.
— Falando no seu irmão, ele não ficou chateado com o que Gavi disse?
— Nada, ele entendeu de boa. Falando em Gavi, não é querendo te pressionar Babi, mas você precisa contar logo a ele que tá gravida e vai ficar aqui em Barcelona. Ele tá fazendo planos e incluindo você neles.
Esse assunto tava tirando a minha paz, e isso não me fazia bem de jeito nenhum.
— Não é querendo te pressionar Babi, mas você precisa contar logo ao Gavi que tá gravida e vai ficar aqui em Barcelona. Ele tá fazendo planos e incluindo você neles.
— Eu sei, eu sei. — falei com os olhos marejados e ele pegou minha mão apertando.
— Você tá gostando dele. — não era uma pergunta, mas eu senti necessidade de afirmar.
— Demais. Não pensei que fosse ser assim.
— Ele também tá gostando de você, muito. Nunca vi meu amigo assim por ninguém. A melhor coisa que você pode fazer é abrir logo o jogo com ele e deixar o resto na mão do destino.
— Eu vou fazer isso.
A consulta foi tranquila. A doutora Cecília disse que estava tudo ótimo com o meu bebê e na próxima eu já poderia escutar o seu coraçãozinho. Pedri parecia um bobo rindo à toa.
Ele me trouxe de volta pra casa e resolvi ligar para a Dani. Rapha ainda não tinha chegado do treino e Gavi também não tinha respondido a mensagem que mandei mais cedo.
— Oi Florzinha, tudo bem?
— Oi Lindinha, tô bem e você?
— Tô ótima. Como foi a consulta? Meu afilhado tá bem?
— Tudo perfeitamente bem, Pedri foi comigo.
— Não vou mentir, tô com inveja dele. — Dani comentou me fazendo rir. — E o Gavi, já decidiu quando vai contar a ele?
— Não, mas sei que não vou conseguir ter paz enquanto não contar.
— Você tá gostando dele de verdade, não é?
— Não posso negar que ele mexe muito comigo e isso me deixa em estado constante de tensão.
— Eu imagino, gostando de um cara mais novo que você e famoso, e grávida de um babaca que te abandonou. Não é fácil.
— Não mesmo. Eu tô decidida a contar tudo a ele.
— É a melhor coisa que você pode fazer amiga.
— Eu sei. Não dá pra continuar fingindo que não tá acontecendo nada. — soltei um longo suspiro e mudei de posição tentando ficar mais confortável. — Se ele quiser continuar comigo depois disso, vai ser ótimo. Mas se preferir se afastar, melhor que isso seja logo agora.
— Concordo plenamente. Eu estarei aqui, para o que precisar, você sabe disso.
— Sei sim amiga e te agradeço muito por isso.
Conversamos mais um pouco. Dani me contou que as aulas já tinham voltado e algumas pessoas perguntavam por mim, ela disse que eu precisei viajar urgente e não sabia quando eu ia voltar. Já enviei um e-mail a reitoria pedindo que trancassem minha matrícula por tempo indeterminado. Meu foco agora era aqui, em Barcelona.
...
Me arrumei para ir assistir ao jogo do Barcelona contra o Cádiz me sentindo aflita, nervosa, ansiosa. Hoje eu contaria a Gavi sobre a minha gravidez, estava decidida.
Ontem ele havia me chamado para dar uma volta, ver um filme, mas eu não quis. Disse que estava com dor de cabeça e que era melhor deixarmos pra hoje. Do jeito que eu estava uma pilha, provavelmente acabaria contando tudo ontem e eu não queria atrapalhar seu desempenho no jogo de hoje.
Vesti uma das camisas que ele me deu e por cima uma jaqueta jeans de lavagem clara. Peguei minha bolsa preta pequena da Gucci que Rapha havia me dado de presente de aniversário e meu celular, e desci.
Peguei uma maçã pra comer e voltei a sala no exato momento que Rapha e Taia desciam.
— Já tá pronta? — ela perguntou surpresa e sorri assentindo. — Eu ainda vou tomar banho.
— Relaxa.
— Eu já vou indo, vocês duas vão de Uber e nós voltamos juntos. — Rapha disse colocando o celular no bolso frontal da calça e olhei pra ele.
— Eu vou contar hoje ao Gavi que tô grávida. — falei decidida e Rapha virou para me encarar.
Natália me olhava surpresa.
— Tem certeza de que quer fazer isso? — meu irmão perguntou se aproximando.
— Eu preciso.
— Eu entendo. Te peço desculpas por ter falado daquele jeito, mas o meu pensamento não mudou.
— Eu sei que não, e sei também que você só quer o meu bem.
— Acima de qualquer coisa. — ele acrescentou.
— Eu não quero que o Gavi seja responsável por nada Raphael, esse filho é meu. Ele está sendo sincero comigo e eu quero ser sincera com ele. Gosto de ficar com ele, me faz bem e podemos continuar curtindo juntos, vai depender dele.
— Você está certíssima Babi. — Taia comentou se aproximando também. — Não é porque está grávida que deixou de ser mulher, pelo contrário. Se o Gavi aceitar esse fato e quiser continuar com você ótimo, senão, vida que segue e que venha o próximo.
Raphael olhou chocado para a mulher e nós duas trocamos um olhar sugestivo antes de encará-lo também.
— Já vi que eu sou minoria nessa história.
— Ah é amor, com certeza. Deixa a Babi resolver a vida dela e ponto, chega de ficar dando palpite e opinião. Você só vai falar se ela pedir, caso contrário, fique quieto.
Raphael adorava dar uma de marrento, mas nós sabemos que quem manda mesmo é a Taia.
Fiquei observando enquanto eles iam até a porta conversando e despediram-se com um beijo. Taia fechou a porta e olhou pra mim fazendo joinha com as duas mãos. Fiz o mesmo gesto e ela sorriu antes de correr escada acima pra ir se arrumar.
Eu me sentia nervosa, mas de certa forma bem, por saber que um peso seria tirado de cima de mim. Nunca gostei de mentir, me sentia mal por fazer isso com as pessoas. Hoje vai ser um divisor de águas nessa minha história com o Gavi, estou indo pronta para tudo ou nada.
Chequei o celular pela terceira vez pra ver se Babi tinha respondido minha mensagem. Ontem ela tinha dito que tava com dor de cabeça e fiquei preocupado, mas hoje disse que tava tudo bem. Perguntei se ela iria assistir ao jogo, mas ainda não me respondeu.
Levantei o olhar e percebi Aurora me encarando com uma sobrancelha arqueada. Fudeu!
Meu pai perguntou alguma coisa e ela olhou pra ele respondendo, mas logo seus olhos claros voltaram pra mim de novo. E neles eu podia ver nitidamente a mensagem, eu não escaparia do seu interrogatório depois.
Terminamos o almoço e minha mãe serviu a sobremesa. Ela estava muito bem, melhor que na última vez que nos vimos. Espero sinceramente que seu tratamento dê certo e ela volte a ser a pessoa maravilhosa que era.
Eu e Aurora lavamos a louça e depois de a gente conversar um pouco com nossos pais, ela praticamente me arrastou até o seu quarto.
— Agora pode ir contando tudo! — mandou me empurrando pra dentro e fechando a porta.
— Contar o que sua doida? — perguntei rindo e ela riu maliciosa.
— Eu te conheço Pablo Gavi, melhor até do que você mesmo. Quem é ela?
— Ela quem? Do que você tá falando? — tentei desconversar deitando na cama coberta com uma colcha vermelha.
— Você é desligado pra celular, a gente manda mensagem, liga e você nem aí. Mas hoje, durante o almoço, você olhou três vezes o seu celular e estava ansioso. Só te vi assim uma vez, quando ainda tava na escola e gostava daquela sua coleguinha de classe. Vocês ficavam trocando SMS.
Fiquei surpreso por ela ainda se lembrar disso, nem me passava mais pela cabeça esse episódio.
— Pra você estar assim, ansioso olhando o celular, tem mulher no meio. Agora fala, quem eu devo chamar de cunhadinha?
Aurora pulou na cama sentando ao meu lado com uma expressão super empolgada no rosto.
— Ou é só uma peguete, um casinho qualquer?
Encarei minha irmã pensando no quanto ela me zoaria por saber que estava certa no dia em que eu e Babi caímos na piscina. Aurora sempre foi minha melhor amiga e sempre me ajudou quando eu precisei, e eu sempre fiz o mesmo com ela.
— Você não vai me deixar em paz, não é? — perguntei e ela riu mais ainda deitando de bruços e apoiando o queixo com as mãos.
— Não! Agora conta tudo!
— Tem uma pessoa aí.
— Quem é?
Encarei Aurora que parecia uma criança curiosa.
— Você já conhece.
Minha irmã me encarou confusa enquanto pensava, até que ela arregalou os olhos e deu risada.
— Não! Não creio Gavi!
Começamos a rir como dois idiotas.
— É a Babi?
— É ela sim.
— EU SABIA! EU SABIA! AURORA GAVIRA NUNCA ERRA!
Ela começou a gritar e a pular como uma alucinada e tentei segurá-la.
— Para caralho!
— Eu sabia, eu sempre soube!
— Sossega Aurora! Daqui a pouco os nossos pais vem perguntar o motivo da gritaria.
— Desculpa, mas é que eu tô mega empolgada!
— Eu tô vendo.
— Cara eu vi de longe as faíscas entre vocês, tinha certeza de que era somente uma questão de tempo até algo a mais surgir. E eu ainda te perguntei seu traste quando vocês voltaram de Tenerife. — ela tacou um travesseiro em mim e quase caí da cama. — E você postou aquelas fotos dela no status.
— Mas é claro que eu não ia te contar nada, eu nem tinha falado nada com ela ainda. — falei rindo e ela riu também.
— Mas você chegou e falou com ela mesmo?
Aurora era uma pessoa ávida por detalhes, em absolutamente tudo. Eu sabia que não ia sair daqui até contar todos eles pra ela.
— O que você acha Aurora?
— Eu sei lá, você é meio mole. Vai que ela chegou em você.
Encarei minha "adorável" irmã tacando um travesseiro nela.
— Ai caralho!
— Eu cheguei nela sim, sua enxerida.
Aurora gargalhou com gosto me fazendo rir também.
— Vou perguntar isso pra ela depois.
— Você não ouse Aurora, é sério.
— Mas é claro que eu vou fazer isso. Que espécie de cunhada eu seria se não falasse os podres do meu irmão pra garota que ele tá ficando?
O tom de voz era doce, mas eu sentia o veneno sendo destilado gota após gota. Eu tô muito ferrado, não posso deixar as duas juntas sozinhas de jeito nenhum.
— Eu disse a você que veria esse momento irmãozinho lindo, você todo apaixonadinho por alguém.
— Eu não tô apaixonado pela Babi.
Afirmar aquilo em voz alta me fez vacilar um pouco, me fez sentir algo estranho. Aurora me encarava com um sorriso de canto nos lábios pintados com um batom cor de rosa.
— Humhum, sei. Pode não tá ainda, mas é somente questão de tempo.
Minha irmã me fez pensar algo que eu ainda não tinha parado pra analisar, no quanto eu gosto da Babi e em como classificaria esse sentimento. No momento, a única coisa que eu tenho certeza é de que ela é muito importante pra mim.
— E vem cá, sobre aquele tal segredo dela, você descobriu algo?
Saí da bolha de pensamentos que eu estava e dei atenção novamente a conversa com Aurora.
— Nada, Pedri não vai me contar. Disse que é melhor ela mesma fazer isso.
— De certa forma ele tem razão. Eu fiquei pensando no que poderia ser, mas não me ocorreu nada tão cabeludo assim que tivesse que ficar em segredo absoluto. Pensei na possibilidade de ela ter matado alguém, mas aí a polícia já teria vindo atrás.
Encarei Aurora arregalando os olhos, as vezes ela me assustava.
— Você já perguntou diretamente a ela o que é? O que ela tanto esconde?
— Não, ainda não tive coragem de fazer isso.
— Tô falando, você é meio mole.
— Vai te catar Aurora, na boa, eu nem devia ter te contado nada. — falei irritado levantando da cama e ela segurou meu braço me fazendo sentar.
— Epa, claro que devia, eu sou sua irmã seu fedelho! Só tô tentando te ajudar.
Soltei um suspiro longo e deitei de novo, colocando as mãos atras da cabeça.
— Eu sei mana, é só que tudo isso tá mexendo demais comigo. Eu gosto dela, quero conhecê-la ainda mais, mas fica esse segredo pairando entre a gente. Todo mundo sabe, menos eu, é como se ela não confiasse em mim.
— Eu te entendo irmãozinho, é uma parada bem chata.
— Pra piorar o Raphinha já tá sabendo sobre a gente. Ela não confirmou e ele também não me disse nada, mas eu sei que ele não aprova, não gosta. Sinto de longe que ele fica me observando no CT.
— Será que o fato de ele não aprovar não tem a ver com esse segredo dela?
— Já pensei nisso também, pode ser. Eu não sei o que fazer.
— Vem cá. — Aurora me chamou e deitei a cabeça em seu colo, ela fazia cafuné no meu cabelo.
Eu adorava dormir com ela quando criança por conta disso. As vezes eu acordava com medo no meio da noite e corria pra sua cama, Aurora me abraçava e ficava fazendo cafuné em mim até eu adormecer.
— Você vai ter que tomar uma atitude Gavi. — olhei pra ela que abaixou a cabeça para me encarar também. — Chama a Babi pra conversar e pergunta que segredo é esse.
— E se ela não gostar? Ficar chateada?
Eu realmente tinha medo de tocar nesse assunto e magoá-la.
— Oh que fofo meu irmãozinho. — Aurora apertou minhas bochechas, eu odeio quando ela faz isso e bati em sua mão. — Você vai aceitar ela escondendo algo de você? Todo mundo sabe, Pedri, Sira, Ferran, menos você. Se você consegue aceitar isso...
— Não, eu não consigo.
— Foi o que imaginei. Você vai ter que chamar ela pra conversar Pablo, não tem outro jeito.
O que minha irmã disse ficou rondando em minha cabeça pelo resto da tarde. Por mais que eu goste da Babi, por mais que eu queira ficar com ela, não vou aceitar segredos entre a gente, ela tem que confiar em mim e me contar, seja lá o que for.
Pedi a Aurora que não comentasse nada com nossos pais, principalmente nossa mãe. Ela tava de boa, mas eu não queria quebrar esse frágil equilíbrio por enquanto. Não da pra saber como ela vai reagir se souber que eu tô ficando com alguém.
...
Ganhamos o jogo de dois a zero mantendo nossa invencibilidade e a dianteira na tabela da La Liga. E só pra ficar melhor, um dos gols foi meu. Enquanto corria pelo gramado comemorando, Babi estava no meu pensamento. Aquele gol foi dedicado a ela.
A zoada no vestiário era enorme, alguns comemoravam outros marcavam de sair. Ferran iria jantar na casa da namorada, Araújo ia sair com a garota que ele tava ficando e Ansu praticamente saiu correndo após tomar banho, o desempenho dele foi péssimo hoje de novo. Eu quero muito me aproximar e conversar com ele, mas sinceramente não sei como fazer isso. Ele se fechou totalmente comigo.
Pedri veio assistir a partida junto com Dembélé e Busquets que também estavam lesionados, mas avisou que já tinha ido embora. Ele queria manter repouso o máximo possível.
Tomei banho e me arrumei. Fui andando para o estacionamento e checando meu celular, Babi tinha respondido que veio assistir ao jogo e eu pedi a ela que me esperasse, mas não respondeu, apenas visualizou.
Aurora tinha razão, eu precisava resolver essa situação o quanto antes e seria hoje.
Estava um pouco nervoso, ansioso, apavorado na verdade. Nunca passei por esse tipo de situação, não sei o que fazer.
Balde e meu xará Pablo Torre vinham junto comigo e eu estava de cabeça baixa digitando no celular, mandando mensagem pra marrentinha. Os dois pararam de falar quando chegamos ao estacionamento e Balde me cutucou. Levantei a cabeça sem entender e tomei um susto ao ver Babi encostada ao meu carro. Ela acenou e sorriu.
Tentei não sorrir como um bobo e fui até lá. Ela estava linda demais! Ela era linda demais!
Os caras cumprimentaram ela que foi muito simpática e logo depois se despediram indo para os seus carros.
— Você demora demais pra tomar banho, tô aqui a um tempão.
— Eu fiquei enrolando no vestiário, se soubesse que você tava aqui teria vindo mais rápido. Por que não me avisou?
Babi sorriu e tive vontade de abraçá-la e beijá-la, mas fiquei com um pouco de vergonha. Alguns jogadores ainda perambulavam pelo estacionamento.
— Você me pediu pra te esperar.
— Sim, mas você não me respondeu se vinha. Deveria ter respondido.
— Vai me cobrar marrentinho? — ela me provocou e me aproximei mais olhando para aquela boca que me deixava doido.
— Vou. — respondi baixinho e ela se aproximou segurando no meu moletom, me encarando olho no olho.
— Você sabe que eu não gosto que me controlem Gavi. — Babi disse no mesmo tom de voz e sorri mordendo meu lábio inferior.
— Se você continuar perto de mim assim, eu vou te beijar.
— Ainda tem gente aqui. — ela deu um passo pra trás.
— Tô nem aí.
Por um momento a gente ficou se olhando e eu decorei cada detalhe dela. Os olhos castanhos claros que me enfeitiçavam, a boca bem desenhada, tudo nela era perfeito.
— Se você continuar me olhando assim eu é que vou te beijar Gavi.
— Então beija, nada te impede. — provoquei e ela sorriu virando as costas e indo até a porta do passageiro.
— Anda, destrava as portas.
Me aproximei segurando a chave e toquei em sua cintura, ela me olhou tentando me empurrar, mas eu não me afastei.
— Gavi seu doido! Alguém pode ver a gente. — Babi disse rindo e olhando ao redor.
— Já disse que não tô nem aí, me dá só um beijo e eu abro.
— Não, destrava as portas.
— Não, primeiro meu beijo.
— Gavi abre logo a porra do carro.
Eu adorava vê-la irritada enquanto tentava se soltar, mas nem fazia muito esforço pra isso e a segurei com mais força. Ela vacilou por um momento e percebi que estava gostando daquela situação, assim como eu.
— Só um beijo e eu abro.
— Gavi...
— Deixa de ser malvada, eu tô com saudades de você, custa me dar um beijo? — ergui o indicador pra cima e ela sorriu. — Só um beijinho.
— Tá bom, só um beijo e rápido.
Assenti rindo, é claro que eu não ia fazer isso. Quando ela se aproximou pra me beijar, eu enlacei sua cintura puxando seu corpo pra mim e Babi soltou um gritinho surpreso. Aproveitei da situação e a beijei com vontade. Ela tentou se soltar, mas não conseguiu e acabou se rendendo.
— Aquele gol... foi pra... você... sabia... — falei entre os beijos.
— Sério?
— Humhum.
Eu estava louco de saudades dela, sentindo falta do seu cheiro, do seu beijo, de tudo nela.
— Gavi... — Babi tentava falar entre os beijos.
— O que...
— A gente... ainda tá... no estacionamento...
— Quer ir pra onde? — perguntei baixinho contornando a linha do seu maxilar com os lábios e ela gemeu baixinho.
— A gente precisa conversar...
Beijei seus lábios de novo e me afastei um pouco para encará-la. Então eu me lembrei de que realmente precisávamos conversar.
— Tudo bem, quer ir lá pra casa? Acho que só o Pedri tá lá.
— Pode ser.
A vibe gostosa de poucos minutos atrás deu lugar a um clima tenso. Eu queria fazer algo para quebrar aquela nuvem de tensão, mas não conseguia pensar em nada. Enquanto dirigia, parei quando o farol ficou vermelho e olhei pra ela.
— Tá tudo bem? — perguntei a olhando e Babi sorriu de leve.
— Tá sim.
Estendi a mão e ela aceitou entrelaçando nossos dedos. Dei um beijo suave no dorso da sua mão e ela se aproximou beijando rapidamente minha bochecha.
Sorrimos um para o outro e enquanto eu dirigia até o apartamento, mantive a mão dela junto a minha.
O elevador subia devagar e me encostei a parede de metal puxando Babi pra mim e abraçando sua cintura por trás. Ela sorriu e apoiei meu queixo em seu ombro.
— Você tá quieta.
— Só tô pensando. — ela disse colocando as mãos por cima das minhas.
— Pensando em quê? Se quiser contar eu vou gostar muito.
Babi virou de frente pra mim e ficou me olhando, suas mãos entrando em meus cabelos. Eu pude ver o receio em seus olhos e meu coração se apertou, um medo irracional me tomou e não gostei nada daquela sensação. Abracei ela com força e ficamos assim até que as portas duplas se abrissem na cobertura.
O apartamento estava silencioso, Pedri devia estar no quarto dele.
— Quer comer ou beber alguma coisa? — perguntei quando entramos e Babi parou na sala, me fazendo parar também, já que estávamos de mãos dadas.
Encarei ela notando sua expressão séria.
— A gente precisa conversar Gavi.
Naquele momento eu não tinha mais tanta certeza se queria saber que segredo é esse que ela esconde. Meu medo era que aquilo acabasse afastando a gente.
Babi sentou no sofá e fui junto com ela ainda mantendo nossas mãos unidas. Eu não queria quebrar aquele elo com medo de que se soltasse sua mão, eu a estaria perdendo.
Engoli em seco enquanto a via inspirando fundo e seus olhos ficando marejados. Eu realmente não queria saber de mais nada, só queria ela comigo, não me importava o resto! Eu quis gritar essas palavras, mas não consegui abrir a boca e pronunciar nada.
— Eu sei que você sabe que eu tô te escondendo algo.
É claro que ela sabia! Pedri bocudo deve ter falado!
— Babi eu...
— Por favor Gavi, me deixa falar. Eu preciso.
Assenti em silêncio e me senti subitamente vazio quando ela puxou a mão.
— Não tem uma forma fácil de te falar isso, melhor ser logo direta. Você sempre foi sincero comigo em tudo então eu também tenho que ser sincera com você, até porque isso tá me martirizando dia após dia.
Babi já tava chorando e eu tava apavorado!
— Eu vim pra Barcelona porque eu tô grávida do meu ex-namorado.
Eu podia ter imaginado qualquer outra coisa, menos isso! Cheguei a considerar a hipótese que Aurora mencionou de ela ter machucado alguém e fugido pra cá, mas grávida?! Isso nunca me passaria pela cabeça.
Eu não conseguia reagir, não conseguia falar nada, não conseguia pensar direito. O que ela tinha dito ficava ecoando na minha cabeça.
Levantei me sentindo meio tonto e fui em direção a escada, minha visão estava embaçada. Minha mente tava confusa.
Ouvi o barulho da porta do elevador abrindo e a última coisa que vi antes de as portas fecharem, foi o rosto dela, banhado por lágrimas e a expressão de dor. Minhas pernas pareciam chumbo naquele momento e me vi incapaz de ir atrás dela.
· · • • • ✤ • • • · ·
Gavira ciumento e todo fofo contando sobre a Babi para Aurora 😍❤
E veio aí o momento mais esperado do livro, e agg gente???? 😶😶
Beijinhos e nos vemos no próximo 😘😘
Comentários e opiniões deixam essa autora mto feliz 💖
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