Renascimento
A vida depois daquilo passou como... uma terapia? Eu não precisava mais ignorar as pessoas como eu fazia antes, eu poderia olhar nos olhos dela e ouvi-las, sem estar imerso apenas em meus próprios pensamentos. Os rostos não eram apenas desenhos tampados para mim, tudo era calmo e pacífico, como nunca foi antes. Acho que era por causa dela.
Eu e Nishimiya nunca mais nos separamos, tanto quanto nossos amigos, mas Ueno sempre estranhou nossa proximidade e sempre jogou piadinhas à respeito de nós, por eu ter sido tão cruel antes de "conhecê-la". Eu não poderia apenas ignorá-la novamente, eu queria encarar as pessoas, mas era difícil quando algo me incomodava.
Era Ano Novo e eu tinha combinado de Nishimiya passar aqui comigo. Ela era a pessoa que mais me deixava confortável no nosso grupo, por incrível que pareça. Eu entendo como eu me sentia vazio antes de tê-la por perto, na minha antiga vida. Ela é a coisa que mais me deixa bem, atualmente. Mas, ainda assim, eu me sinto culpado. Eu não cheguei a pagar nada que eu fiz à ela.
De qualquer forma, não adiantava ficar apenas pensando sobre tudo isso. A verdade era que ela estava demorando muito, estava quase na hora da virada, e eu não conseguia ficar muito tempo sozinho, ultimamente. Eu resolvi ir à sua casa, checar se ela estava bem, talvez não pudesse vir mais, mas eu queria saber como ela estava. Na verdade, eu já tinha percebido que ela estava mais distante e desanimada nas últimas vezes que nos vimos. Talvez o ensino médio estivesse esgotando suas energias, mas, não sei, não me parecia ser isso.
Chegando lá, eu toquei a campainha e fui atendido por Yuzuru, com uma cara nada agradável, mas isso não era novidade para mim, ela nunca gostou de mim. Mas, é claro, não é possível julgá-la.
— Olá... — digo, já que ela apenas continuou me encarando, sem dizer uma palavra sequer. — Posso ver a Nishimiya? — peço.
— Ela não está muito bem. — diz, sem sair da minha frente.
— É por isso mesmo que vim, estou preocupado com ela. — explica, sentindo minha respiração aumentar novamente. Não suportava a ideia de que ela pudesse estar mal, com tantas coisas ruins que já havia lhe dito antes.
Ela apenas sai da minha frente e eu entro, olhando aquela casa tão bem organizada. Eu me pergunto onde eu poderia encontrá-la.
— É no final do corredor. — ela diz, pegando uma caixinha de suco e bebendo.
Eu suspira e me preparo mentalmente para fazer isso. Vou até o local indicado e bato na porta. Nenhuma resposta. Eu começo a ficar nervoso e me desesperar, enquanto minhas mãos suam e eu bato novamente. Uma sensação de tontura me invade e eu levo a mão à maçaneta, girando-a.
Assim que eu abro a porta, a cena que eu vejo dilata minha pupila e faz meu coração disparar em um ritmo completamente absurdo.
— Nishimiya! — um grito sai dos meus pulmões, enquanto eu a vejo em pé na janela do quarto, com seus cabelos ao vento e os fogos sendo soltos, exatamente à meia-noite. Ela me olha e a única coisa que eu consigo pensar é em correr para salvá-la.
Ela se joga de qualquer forma, mas minha mão alcança a sua, me deixando pendurado na janela do quarto, segurando-a para não cair lá em baixo, onde os carros passavam. Ela me olhava, com olhos que não entendiam o porquê eu estava fazendo isso. Por que eu estava salvando-a. Mas a verdade é que eu precisava dela. Precisava dela na minha vida. Ela era a parte de mim que precisava de perdão. Ela já fazia parte de mim. E, agora, mais do que nunca, eu precisava dela para me manter bem.
— Deus, por favor, me dê só um pouco mais de força agora. Prometo não fugir mais do que me causa desconforto. A partir de amanhã, prometo olhar nos olhos e nos rostos de todos. A partir de amanhã, prometo ouvir as vozes de todo mundo, até das pessoas que não falam. A partir de amanhã... prometo fazer tudo certo. Mas me deixe salvá-la! — peço, de olhos fechados, enquanto a única coisa que me importava, era manter a minha mão junto à dela.
Era como se eu vivesse a vida toda por aquele momento. O passado, o que foi mudado no passado, o presente... tudo se juntou naquele momento e não era mais nada. Era apenas eu tentando salvar ela. E eu não podia falhar, pois seria como se nós dois morrêssemos.
Enquanto eu dava tudo de mim, Nishimiya estendeu a mão e segurou minha outra mão, que juntava forças para segurá-la. Eu a agarrei com toda força e puxei-a de volta para o quarto. Eu não podia acreditar, eu tinha a salvado!
Ofegante, eu a soltei no chão, enquanto ela se senta joga uma coberta por cima de si. Eu nem percebi, mas estávamos sentados um de frente para o outro. Eu a olho, enquanto ela parecia confusa.
— Por que me salvou? — ela pergunta.
— Nishimiya... Eu preciso de você para viver. — digo e ela me olha assustada.
— Podemos... voltar a ser amigos? — ela me pergunta, com os olhos marejados.
Eu sorrio e assinto, puxando-a para um abraço. Os fogos continuam lá fora, enquanto a única coisa que eu prezo em ouvir, é a batida de seu coração, que falava comigo. Eu não tinha dúvidas. Eu a amava. Precisava dela. Por que, agora, ela era uma parte de mim.
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