Depois de tantos anos longe do colegial e tudo que ele representava, eu estava trabalhando em um escritório, enquanto estava no ensino médio. Trabalhava noite e dia, quase que sem tempo para pensar em minha vida. E, para mim, isso era maravilhoso, pois odiava lembrar de meu passado... de quem era. E, querendo ou não, isso iria acabar vindo à tona em minha cabeça, por isso, preferia me manter ocupado o tempo todo naquele lugar cheio de correria e pessoas apressadas.

Mas, um dia, não tive tanta sorte, quando encontrou meu caderno da época mais pesada de minha vida, a qual jamais gostaria de me lembrar. Apenas de ver aquele amontoado de folhas velhas e que, para alguns, não tinha significado algum, me lembrei do rosto dela...

Nishimiya Shoko.

É claro que meu arrependimento foi tão forte ao ponto de me fazer aprender linguagem de sinais, para me certificar que jamais seria assim novamente, mas, ainda assim, eu não conseguia esquecer de meu passado.

O tanto que eu fiz aquela garotinha deficiente sofrer não podia ser contado em palavras. Eu sentia tanto... Mas aquele maldito garoto idiota que eu era, não sabia disso. Então, não poderia mudar em nada aquela dor que me atormentava em silêncio, como uma voz silenciosa...

Tudo começa a vir na minha mente, o bullying, as provocações... Não demora muito para o meu rosto estar cheio de lágrimas desesperadas para molhar meu pijama, que eu mal usava pela rotina que tinha.

O desespero percorre minha cabeça e eu peço socorro para sair daquilo. Então, eu resolvo abrir o caderno, encontrando assinaturas de meus amigos na época. Um deles era Miki Kawai, uma das melhores amigas de Shoko, na época.

Eu procuro seu telefone, imaginando que deveria ter. E foi certeiro! Realmente tinha o telefone da garota, que eu mal imaginava como estaria hoje em dia. Eu o digito em meu celular.

Não sabia como aquela garota surda, que eu mal conheci, poderia mexer tanto com minha cabeça ao ponto de estar no meio da noite procurando qualquer tipo de contato para me desculpar pelo imbecil que fui.

— Miki Kawai...? — minha voz vacila ao ver que foi atendido.

— Hum? — uma voz feminina soa do outro lado, fazendo meu coração disparar ao ponto de ter que levar a mão ao local. — Quem está falando? — ela pergunta, impaciente.

— Ishida Shoya, se lembra? É você, Kawai? — pergunto de uma vez, pois a ansiedade apertava em meu peito, para resolver toda essa situação que me oprimia por todos esses anos, enquanto eu fingia que não havia nada.

— Não, não conheço nenhuma "Kawai". Por favor, não ligue mais. — a mulher desliga.

Olho o celular, desacreditando que minha última esperança havia ido embora. Eu solto um suspiro, ficando ali paralisado por alguns segundos.

...

Depois de tanto chorar até meus pulmões implorarem para parar e meu rosto estar completamente inchado, eu acabei por dormir no chão, em cima do carpete branco molhado por minhas infinitas lágrimas.

De manhã, eu acordei com meu relógio que tocava religiosamente às seis da manhã, me fazendo levantar, meio zonzo por ter chorado tanto.

— Droga... — Me apoio no chão, encarando o chão, com um pesar.

Eu sinto a mesma sensação que senti quando percebi que havia sido um completo idiota com aquela garota. A vontade de acabar comigo mesmo voltava à tona...

...

Então, eu saí para trabalhar, como fazia todos os dias. Mas, aquele dia era diferente, pois eu nunca fui trabalhar com vontade de somente chorar ou me ferir.

No meio do caminho, eu parei para comprar algo que não fazia a muito tempo, fumar e tomar um café, tudo que iria ajudar a controlar minha ansiedade.

Mas, para minha surpresa, o que encontrei, ao entrar na cafeteria, era bem melhor do que algo que iria apenas aliviar minha ansiedade. Era algo que podia mudar o rumo de minha vida.