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001| Tão Tarde


So will you wait me out

Or will you drown me out?

— Bad Omens

Tochigi, 1984.

Revolve-me. O silêncio parece desordenar cada pedaço do meu âmago, quebrá-los em fragmentos subatômicos e lançá-los para longe de mim. Sinto-me vazio, tal qual um náufrago à deriva em alto mar. Desejo poder gritar, vociferar contra o destino, mesmo que o sentimento de pequenez e ingenuidade se aposse de mim como se eu nunca tivesse deixado de ser uma criança indefesa.

Apoio-me contra o tronco da primeira árvore que alcancei. O silêncio me acompanha, paira sobre mim, engole-me. Aproximo-me o suficiente para descansar a cabeça na superfície, o farfalhar das copas surge como um oásis, assim como a repentina aragem que parece lutar contra a gravidade para levar-me daquele lugar. Eu agradeceria, assim não seria obrigado a presenciar o pesadelo que acontece diante dos meus olhos.

Ouço passos aproximando-se de mim cada vez mais altos e desesperados. A voz se perde na mesma distância que me impede de desabar.

— Pensei que ficaria feliz com a notícia — ele diz, concentro-me em suas palavras para afogar meus pensamentos. — Saiu tão rápido, o que aconteceu?

Minha mãe sempre me disse que a sinceridade era a solução, mas acredito que ela seja muito mais que isso. A verdade saindo da boca de Shisui foi como uma arma.

— Precisava tomar um ar — respondo. Evito olhá-lo nos olhos, temo que eles me traiam. — E estou feliz por você, apesar de surpreso. Eu acho.

Ele resmunga algo e então se aproxima, é o suficiente para eu começar a sentir aquele sentimento estranho que me acompanha a mais tempo do que fui capaz de suportar. Mikoto, com certeza, diria que é amor, paixão, mas por que um sentimento tão puro me afogaria em minhas próprias mentiras?

— Sei que é de repente, apenas queria que fosse o primeiro a saber — explica, e eu rio nasalado. Minhas mãos cobrem o meu rosto, escondo-me, obscureço a minha própria visão, esquivo-me de qualquer toque que Shsiui tenta oferecer, todavia, nada disso é o suficiente para impedir-me de ansiar por tudo que vem dele. Desejo teu toque, calor; almejo possuir tua essência como ele detém a minha. Questiono-me se Shsiui sabe que me tem por completo, no entanto, o faço sob o toque grosseiro do silêncio que ainda paira sobre o ambiente desde a sua última fala.

Inspiro, o ar parece queimar quando passa por minhas narinas. Logo, juntando todas as minhas forças, fico frente a frente com o homem que mais amei na minha vida. Nunca pensei que seria uma tarefa tão árdua; seus olhos entregam a sua aflição, a respiração fica mais ofegante a cada segundo.

— Agora eu sei, Sui... — Posso sentir o amargor em minhas próprias palavras, e Shisui, o peso. — Eu não o culpo, são as escolhas que você decidiu fazer, apenas espero que esteja feliz com tudo isso, que seja feliz com ela. — Ele se aproxima. Seu blazer dança com o vento, assim como seus fios de cabelo cacheados. Sua pele toca a minha, seus olhos se encontram nos meus, e eu me encontro em seu olhar.

As orbes que me têm como foco carregam um certo desespero, o mesmo que o aprisiona nesse momento.

— Eu sinto muito — diz. Shisui aperta a minha mão antes de me puxar para mais próximo de seu corpo. Seus braços rodearam os meus ombros, posso sentir a palma de sua mão contra a minha nuca.

Torno o ato recíproco quando pressiono o homem contra a minha derme, o abraço se intensifica à medida que o tempo passa, entretanto, como tudo que um dia foi criado, tem um fim; ele dedica um olhar para mim uma última vez.

— Eu amo você. — A frase escapa, mas não me arrependo. Se não fosse tarde demais, ousaria proferi-la mais vezes do que sou capaz de contar.

Nos afastamos, sinto-me perdido novamente.

— Nos vemos? — ele indaga, ansiando por uma resposta. Um sorriso pequeno se desenha em meus lábios, a resposta de sua pergunta também se perde dentro de mim por um tempo, mas posso ouvir seu eco.

— Talvez. Quando não formos tão diferentes — respondo, ajeitando a camisa de manga curta que estou trajando. — Felicidades pelo casamento.

Antes de ouvir uma resposta, viro-me e sigo o meu caminho de volta para casa. Ele não argumenta, e eu não volto atrás.

A dúvida martela em minha mente, espero pelo dia que ela não seja uma barreira. 

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