Capítulo 9- Invasão no Baile
"Quando não tiver palavras para orar, apenas ajoelhe-se em silêncio e Deus ouvirá seu coração."
-Autor desconhecido.
🔹✴🔹
-Onde você estava?- pergunto para o Noah, todos estamos curiosos.
-Eu fui no banheiro- Noah diz- algum problema?
Continuamos encarando ele, que se mantém de braços cruzados tentando entender o que há de errado.
Meus amigos desistem de insistir, mas eu não. Eu o encaro seriamente, ele fica nervoso com o meu olhar:
-Me conta agora- digo me aproximando e o olhando com firmeza.
Ele se aproxima também, me deixando um pouco sem graça e me fazendo olhar mais de perto seus olhos.
-Eu te disse, eu sou uma caixinha de surpresas.
[...]
Fico pensando por muito tempo em várias coisas:
-Onde Noah estava?
-Ele é o @70×7?
-Em quem eu não posso confiar dos meus amigos?
-Por que o que o @70×7 disse me tocou tanto? E porque ele (ou ela) tem tanta certeza de que eu acredito em Deus?
-O que os três toques significam?
Fico pensando nisso, e nem percebo que estou fazendo caretas enquanto penso:
-Você está me assustando- meu pai diz rindo.
-Desculpa... - disfarço- problemas na escola.
Ele sorri, mas logo sua expressão muda quando chegamos ao quarto de hospital em que minha mãe está.
-Filha, vou deixar vocês duas conversarem- ele coloca a mão sobre os meus ombros- Mas vá com calma, ela se sente mal pelo que fez...
Ele beija minha testa e vai conversar com um dos médicos. Eu entro no quarto e minha mãe está deitada, olhando para a parede. Inicialmente ela não tem coragem de me olhar ou de dizer nada.
Me sento em uma cadeira perto de sua cama, a janela está ligeiramente aberta e isso faz seus cabelos balançarem suavemente sobre o travesseiro.
-Oi mãe... -digo receosa.
Ela não responde, mas vejo seus olhos marejados.
-Não precisa dizer nada se não quiser, mas eu não vou embora daqui... -digo em um tom baixo, porém de maneira firme.
Alguns minutos se passam e ela percebe que eu realmente estou falando sério, então diz com uma voz fraca:
- Deve estar se perguntando o porquê de eu ter feito isso- diz- o porquê de eu ter tomado uma decisão tão egoísta e insensata.
Cruzo os braços.
-Eu não estou pensando nada- digo de maneira calma- Eu sei o porquê, só não sei como não percebi os sinais antes.
Ela dá um sorriso irônico.
-Eu sempre soube disfarçar bem as minhas intenções- diz.
Ficamos em silêncio de novo, até que ela fala novamente.
-Já se perguntou porque a Faith tinha esse nome?
-Faith significa Fé, certo?- pergunto curiosa- Eu sempre quis saber.
-Bom, digamos que nem sempre eu fui cética- ela suspira- Seu pai me deixou escolher o nome, em homenagem a minha mãe que também se chamava Faith... Porém ele não acreditava como eu, ele pensava como o Mark e acho que ainda pensa. Mas eu ensinei a Faith a ter fé, não consegui fazer o mesmo com a Lays porque ela é muito ligada ao pai, não esconderia nada dele. Não fiz isso com você também pelo mesmo motivo.
Eu fico sem palavras, não sei nem o que pensar.
-Faith prometeu guardar segredo, mas foi descoberta... - ela começa a chorar- Então eu comecei a me questionar sobre tudo, eu clamei, pedi, mas não houve resposta... Então me lembrei que eu nunca tinha visto nada de sobrenatural acontecer, nunca tinha me sentido especial ou sentido algo forte como a bíblia dizia. Então eu entendi que eu estava errada, eu estava servindo alguém que não existia e que se existia não dava a mínima para mim.
Minha mãe começa a chorar com muita angústia, eu me aproximo e a abraço. Ela continua chorando e eu tento me manter forte. Fico ali com a cabeça apoiada na lateral da cama dela enquanto ela mexe em meus cabelos.
-Filha... - ela diz me chamando e segurando meu rosto- Prometa para mim que não cometerá o mesmo erro que o meu e o da sua irmã... Foi culpa minha, não quero que aconteça o mesmo com você.
Eu a encaro, eu devo seguir seu conselho, ou devo lutar por algo que só tem me causado vários problemas?
-Prometa Zoe... -ela me olha com mais firmeza.
Eu balanço a cabeça positivamente. Mas no fundo, eu sei, com absoluta certeza, que essa promessa não poderá ser cumprida.
-Agora me diz- ela sorri- A Lays me falou sobre o baile, você vai com qual vestido?
-Eu não vou, ficarei aqui com a senhora... - digo.
-Não, não, não... - ela começa a rir- Vai e aproveite a festa, Ketsy nunca teve muitos bailes...
Ela diz fazendo a mesma cara que a Lays fez para me convencer a ir.
Reviro os olhos rindo, em sinal de concordância e ela ri também.
-Agora me diz... - ela faz uma cara engraçada- Com quem você vai?
Desanimo, olho para as minhas mãos e fico sem graça.
-Ninguém me convidou...
Ela se espanta e fica indignada:
-Mas você é a garota mais bonita daquela escola! E sem dúvida a mais interessante!
Mães.
-E aquele menino com os olhos peculiares?- ela diz me cutucando
-Ele já tem um par... - respondo.
Ela levanta a cabeça, e fica com uma expressão firme.
-Ele é quem está perdendo- diz- você é linda minha filha, e vai ser a mais bonita amanhã. Todos vão cair aos seus pés.
Só se for de tédio. Penso sozinha.
Dou um beijo em sua bochecha e me despeço, preciso dormir o mais rápido possível.
[...]
Sabe o que eu falei sobre dormir? Foi em vão. Eu não consegui.
Fiquei olhando para a minha prateleira por quase uma hora, tomando coragem para ler o diário da Jasmim. Eu sei que não deveria e ao mesmo tempo estou curiosa para ler.
Por fim, sou vencida pela curiosidade e pego o diário. Meu pai está no hospital e Lays está estudando para a prova importante que ela tem. Isso significa que eu não a verei tão cedo.
Angel aparece latindo, percebo que sentiu falta de mim, então o deixo entrar. Ele se acomoda um um tapete perto da minha janela e fica quietinho lá aproveitando a companhia de sua dona.
-Trancar porta- digo, e a mesma se fecha em cliques silenciosos.
Pego o diário, observo-o mais uma vez pensando se realmente devo ler.
-Só uma página, e nada mais- digo a mim mesma.
Mas logo são duas, três, quatro, dez, vinte...
Eu não consigo parar de ler, rir, chorar... A Jasmim passou por coisas incrivelmente engraçadas, tristes e inspiradoras. Parece um livro de ficção, porque sempre acontecia algo fantástico para salvá-la de qualquer apuro.
Quando estou quase terminando, percebo o quanto Jasmim mudou, ela não era a menina insegura e perdida da primeira página. Agora ela era decidida, forte, corajosa e não tinha essa força baseada em nada que ela podia fazer, mas no que Deus podia fazer.
Eu chorei em vários momentos, por imaginar como podia ser minha vida se as coisas fossem assim e eu tivesse um ser Todo-poderoso que estivesse sempre ao meu lado.
Li vários "versículos", é assim que ela chama, e eles eram muito interessantes. Não eram como frases de livros, eram coisas que me faziam pensar e possuíam vários significados diferentes.
Então leio a última frase do diário que diz assim:
-Eu entendi que estava errada. Sempre achei que Deus só poderia me amar e me abençoar se eu fizesse tudo perfeitamente. Me comparei tanto com os outros, isso me desanimava porque eu pensava "Deus vai ajudar essa pessoa porque ela realmente merece mais do que eu", mas que tipo de Deus seria esse? Eu conheci um Deus que tem coisas diferentes para cada filho, e o dom que ele dá a um não anula o dom do outro. Eu lutei tanto, corri tanto, sempre parava no meio do caminho por esgotar minhas forças tentando impressioná-lo ou ser digna de amor, que nem percebi que sempre esteve bem pertinho. E quando eu me joguei aos seus pés, implorando por ser pelo menos uma serva em seu grande reino, Ele me olhou, sorriu e disse: Antes de ser minha serva, entenda que e minha filha... Eu conheço você, sei sua capacidade e sua fraqueza, mas eu não vou medir você por nenhum dos dois, porque você é minha filha amada, em quem tenho prazer de Pai.
Uma lágrima cai, sozinha e solitária e acabo adormecendo em meio ao silêncio e emoções descobertas.
[...]
Acordo com as batidas fortes de Lays na porta do meu quarto. Até o Angel acorda no susto, coitadinho.
O sol que entra pela janela é forte e quente. Tento me levantar apesar da dor nas costas, e destravo a porta com a voz.
Escondo o diário rapidamente ao me lembrar que dormi em cima dele.
-Achei que você estava morta!- Lays entra indignada no quarto. Ela está muito engraçada.
Está com um cinto cheio de pinceis de maquiagem, escovas e presilhas. Uma maleta de maquiagem, secador e produtos de cabelo e logo atrás dela Filipe entra segurando o que parece ser um vestido em uma capa preta.
Ele parece estar sendo obrigado, o que me faz rir.
-Em que guerra você vai lutar?- começo a rir, zombando dela.
Ela me olha sério e diz:
-Eu tenho uma missão para cumprir- ela diz estreitando os olhos, eu paro de rir aos poucos até ver que a coisa é séria.
-Filipe, diga aos meus pais que eu os amo- digo e ele faz uma cara compreensiva e coloca a mão no coração, logo começa a rir.
E o trabalho começa, eu tomo banho e tomo café rapidamente. Hoje não haverá aula por conta dos preparativos da festa, eu poderia aproveitar esse dia inteirinho fazendo algo produtivo, mas...
-Me passa a escova- Lays ordena para o Filipe, ele está parecendo um auxiliar de cabeleireiro hoje. Fico me perguntando o porquê de ele não se declarar, afinal, eu vejo o sentimento mútuo no rosto da minha irmã.
-Secador- diz.
-Bisturi... -ironinizo e Filipe ri, mas Lays lança um olhar que o faz prender o riso.
Se passam horas de arrumação. Cabelo, unhas, maquiagem (isso eu não deixei ela exagerar, eu não queria parecer um palhaço).
Eu insisti para que ela não prendesse meu cabelo e não me deixasse tão diferente.
[...]
Não vou mentir, o dia foi extremamente divertido. Fazia tempo que eu não ria tanto. Filipe fazia gracinhas, assistimos filmes durante a arrumação, falamos sobre coisas engraçadas e por um segundo, me esqueci de tudo que estava confuso e bagunçado na minha vida.
Por fim, Lays pega a capa com o vestido dentro e o abre. Para a minha surpresa, é do jeito que eu queria... Verde escuro, longo e não muito estravagante.
Visto e quando saio, eles dois abrem um enorme sorriso.
-Espelho... - digo e uma parte na minha parede revela um espelho. Me analiso, sou eu, mas ao mesmo tempo diferente.
-Você está incrível!- Lays diz com os olhos marejados.
Ela me dá um abraço e Filipe faz o mesmo.
-Esses garotos são muito burros de não terem te convidado- ele diz. Eu apenas sorrio.
Suspiro e me preparo para sair. Eles me levam até a porta e eu entro no carro que o meu pai mandou para me buscar.
[...]
Quando chego no salão da Ketsy school, eu fico admirada com a decoração. Vários hologramas por toda parte ilustrando o símbolo de Ketsy.
Há várias luzes e uma música calma, sendo tocada por um grupo de violonistas. Acho que não haverá nada agitado hoje, não me surpreende, o próprio Mark deve ter escolhido os estilos musicais.
Entro e procuro os meus amigos no meio da multidão. Avisto Sol e Luna de longe. Acompanhados por Tyler e Júlia.
Eles estão extremamente elegantes, cada um. Acho que estou tão acostumada a vê-los de manhã com sono, que mal os reconheci.
-Você está maravilhosa!- Sol e Luna falam juntos.
Júlia e Tyler me cumprimentam.
-Uau, Zoe, eu mal te reconheci... - Júlia diz com um sorriso enorme- Você está linda! Mas não de um jeito exagerado.
-Ela tem razão Zoe, você está bem bonita- Tyler dá um sorriso de lado.
Agradeço com um sorriso.
Olho em volta e não encontro Naimy e Noah, meus amigos também não sabem aonde eles estão.
Logo, uma música lenta começa a tocar e meus amigos resolvem dançar. Eu fico parada ali vendo todo mundo dançar, me sentindo uma tonta.
Então sinto uma mão no meu ombro, me viro e encontro o Gabriel. Ele está parecendo o pai dele: postura perfeita, elegância e ele está muito bonito. Pena que a arrogância estraga tudo.
-Aproveitando a festa burrinha Ross?- pergunta com um sorriso- Nem parece você... - diz me analisando de cima a baixo.
Eu não o respondo, apenas o encaro.
-Não está para brincadeiras hoje?- diz me provocando.
Uma menina vem apressada até ele e gruda em seu braço direito.
-Vamos?- ela pergunta e me olha com desgosto.
Ele me olha mais uma vez, eu poderia dizer que estava pedindo socorro, mas não vou me precipitar.
O observo indo para a pista de dança e sinto outra mão em meu ombro.
Quando me viro, é o Noah. Ele com certeza está muito elegante hoje, sem dúvidas.
Ele segura minha mão sem dizer nada e me puxa para dançar, olhando diretamente em meus olhos.
-E a Naimy?- pergunto.
Ele coloca uma das mãos em minha cintura e segura a outra na altura dos nossos ombros.
-Ela é muito bipolar- ele ri- Ela está na mesa comendo bolinhos e vendo uns tutoriais de programação.
Começo a rir também, então ele diz em meu ouvido:
-Você está muito bonita hoje Zoe...
Eu não sei bem como reagir ao seu elogio, então apenas dou um sorriso.
-Sinto muito por não ter te convidado, eu queria mas... - ele começa a dizer.
-Tudo bem... - sorrio.
Então somos interrompidos por Mark, subindo no palco em um terno branco e com um sorriso enorme.
-Sejam todos bem vindos ao nosso Baile de boas vindas! Eu gostaria de dizer que... - ele diz, mas as luzes se apagam.
Tudo se apaga, ficamos no completo escuro. Logo os refletores de hologramas se acendem e formam um nome:
70×7
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